Prezadas Editoras,
Em relação à nota de pesquisa de Sallas et al.,1 gostaríamos de tecer alguns comentários visando trazer luz à vigilância epidemiológica em âmbito hospitalar e enriquecer o debate sobre o tema.
O artigo corrobora a importância dos Núcleos Hospitalares de Epidemiologia (NHEs) no monitoramento contínuo da situação epidemiológica do país, e sua função estratégica frente às emergências de saúde pública, a exemplo do vigente cenário sanitário. E para que isso continue a ocorrer de forma oportuna e sistemática, são necessárias a manutenção e a instituição de fortalezas político-organizacionais, vide as implantações da Política Nacional de Vigilância em Saúde (PNVS),2 da Rede Nacional de Vigilância, Alerta e Resposta às Emergências em Saúde Pública do Sistema Único de Saúde (VigiAR-SUS),3 da Vigilância Epidemiológica Hospitalar (VEH)4 e da Rede Nacional de Vigilância Epidemiológica Hospitalar (Renaveh).5
Cabe destacar que a recente reorganização da VEH, vinculando os NHEs ligados ao Ministério da Saúde à Renaveh, teve como objetivo central aprimorar a capacidade de detecção, monitoramento e resposta rápida a potenciais emergências de saúde pública no contexto hospitalar e, nesse sentido, tem-se empenhado um grande esforço para o fortalecimento da rede.
Sallas et al.1 concluem que os NHEs são responsáveis, em média, por 8% das notificações gerais registradas no país e que houve uma redução das notificações de doenças, agravos e eventos de saúde pública (DAEs) em 2020. Apesar de o texto não estar claro sobre a informação, ela permite inferir que o número de notificações registradas pelos NHEs (n = 225.081) em 2020 não incluiu os casos de COVID-19 identificados nos respectivos serviços, uma vez que o Brasil teve mais de 7,6 milhões de casos da doença naquele ano. Se este foi o real contexto de análise, talvez fosse prudente informar que, para a análise do período pandêmico, foram consideradas apenas as DAEs que constavam da lista nacional de notificação compulsória no período pré-pandêmico, excluindo-se os casos de COVID-19 (síndrome gripal e síndrome respiratória aguda grave). Um leitor desavisado, ou inconvenientemente, um gestor com recursos reduzidos poderia interpretar que houve uma diminuição da carga de trabalho dos NHEs após o início da pandemia, o que não condiz com a realidade vivenciada pela vasta maioria dos serviços do país.
Por fim, cumpre salientar a importância da divulgação periódica resultante das atividades executadas pelos NHEs no território nacional. Nesse sentido, parabenizamos a todos(as) os(as) autores(as) e à Epidemiologia e Serviços de Saúde: revista do SUS (RESS) pela publicação do trabalho.