As ações da vigilância epidemiológica têm sido fundamentais para o monitoramento da evolução da epidemia do vírus Zika no Brasil, bem como para a melhor compreensão das manifestações da doença e suas potenciais consequências, tanto em gestantes e seus bebês como em adultos. O Brasil foi o primeiro país de grande porte a vivenciar a rápida disseminação do vírus Zika, o que fez com que suas autoridades sanitárias fossem pioneiras em comunicar a situação de emergência sanitária à Organização Mundial da Saúde (OMS) e a confirmar o envolvimento deste vírus na causalidade da microcefalia.1,2,3
Desde a confirmação da transmissão autóctone do vírus Zika no Brasil, registrada em abril de 2015, até 9 de julho de 2016 (semana epidemiológica 27), haviam sido registrados 174.003 casos prováveis de febre pelo vírus Zika, distribuídos em 2.251 municípios brasileiros.4 O número de gestantes acometidas também é expressivo. Foram notificados 14.739 casos prováveis de infecção pelo vírus Zika em gestantes, dos quais 6.903 confirmados por critério clínico-epidemiológico ou laboratorial.4
O acompanhamento das gestantes provavelmente infectadas pelo vírus Zika é importante, tendo em vista as potenciais consequências graves resultantes da infecção congênita, em especial a microcefalia e outras anomalias neurológicas. A infecção pelo vírus Zika durante o desenvolvimento embrionário e fetal resulta em um quadro ainda não totalmente delineado e com características distintas daquelas observadas na microcefalia decorrente de outras infecções congênitas, que tem sido descrito como "síndrome da infecção congênita pelo vírus Zika".5
Até 6 de agosto de 2016 (semana epidemiológica 31), 8.890 casos suspeitos dessa síndrome foram notificados no Brasil, dos quais 1.806 foram confirmados para microcefalia e/ou alteração do sistema nervoso central sugestivos de infecção congênita, 2.978 permaneciam em investigação e 4.106 haviam sido descartados.6
Cabe destacar que a febre pelo vírus Zika passou a ser doença de notificação compulsória a partir da publicação da Portaria nº 204, de 17 de fevereiro de 2016, do Ministério da Saúde.7 A atualização da Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública incluiu as classificações "Doença aguda pelo vírus Zika", "Doença aguda pelo vírus Zika em gestante" e "Óbito com suspeita de doença pelo vírus Zika", de modo a fortalecer a vigilância epidemiológica dos agravos relacionados à epidemia do vírus Zika no Brasil.
A despeito do considerável número de trabalhos publicados sobre o vírus Zika, sua epidemiologia e manifestações, desde a detecção da epidemia no Brasil, ainda persistem inúmeras lacunas de conhecimento. Neste cenário, os dados produzidos no âmbito das ações da vigilância epidemiológica constituem importantes subsídios para a melhor compreensão das características da febre pelo vírus Zika e das doenças associadas. No presente número, a Epidemiologia e Serviços de Saúde: revista do Sistema Único de Saúde do Brasil (RESS) destaca a publicação de três artigos que relatam estudos pioneiros com dados da vigilância epidemiológica do vírus Zika no Brasil.
O artigo inicial traz a descrição dos primeiros casos de febre pelo vírus Zika, confirmados por meio de uma investigação realizada em quatro municípios da região Nordeste - Natal-RN, Barra do Corda-MA, São Luís-MA e João Pessoa-PB -, em maio de 2015. Foram observados sintomas compatíveis com a febre pelo vírus Zika e houve confirmação laboratorial da presença deste agente.8
O segundo artigo informa sobre as características dos primeiros casos de microcefalia possivelmente relacionados à infecção congênita pelo vírus Zika, em nascidos vivos na Região Metropolitana do Recife, Pernambuco. O estudo aponta o relato, pela maioria das mães dos bebês com microcefalia, de quadro sugestivo de infecção pelo vírus Zika na gestação.9
Por sua vez, o terceiro apresenta os coeficientes de prevalência e as características dos casos de microcefalia no Brasil, no período 2000-2015, a partir de análise dos dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc). O estudo evidencia o crescimento acentuado no número de casos de microcefalia registrado em 2015, particularmente no Nordeste, e reforça o papel do Sinasc na vigilância de desfechos presentes ao nascimento.10
Esses artigos inauguram a modalidade de publicação Ahead of Print (AOP) na RESS. Trata-se da publicação avançada ou antecipada de artigos, que são disponibilizados na versão eletrônica da revista logo após sua aprovação pelo Comitê Editorial, anteriormente à finalização do número completo do qual fazem parte. Com isso, a divulgação dos resultados dos estudos é realizada de maneira mais rápida, com potencial contribuição para acelerar o avanço científico e auxiliar de forma oportuna na consolidação de evidências que possam fornecer subsídios para a tomada de decisões, tanto na clínica quanto na Saúde Pública.
Cumpre informar que os artigos publicados AOP não contêm dados relativos a volume, número, número de páginas e data de publicação. A atribuição destes dados é feita posteriormente, na edição do número completo. No entanto, o número identificador de objeto digital (Digital Object Identifier - DOI) é atribuído na versão AOP do artigo e mantido em sua versão final.
Com a adoção da modalidade AOP, a RESS reitera seu compromisso com a ética na publicação científica e reforça sua missão de difundir o conhecimento epidemiológico aplicável às ações de vigilância e de contribuir ao aprimoramento dos serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).