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Revista Paraense de Medicina
versión impresa ISSN 0101-5907
Rev. Para. Med. v.20 n.4 Belém dic. 2006
ARTIGO ESPECIAL
O que é especial …
Cristina Freitas HeringerI; Airle Miranda de SouzaII
IBacharel em Psicologia pela UFPA
IIDra em Saúde Mental pela UNICAMP/SP. Professora Adjunto do DPSE/CFCH/UFPA
O ingresso do aluno de graduação na organização de saúde marca o início de uma nova etapa do viver, no que diz respeito ao campo pessoal e profissional.
Adentrando no hospital novos olhares serão requeridos e relações interpessoais serão estabelecidas, assim como, a integração entre conteúdo teórico e prático. Essa integração harmônica entre a bagagem teórica trazida pelo aluno e a prática que será desenvolvida, exigirá um pensar, olhar e fazer sensíveis ao novo campo que se configura.
Portanto, apresentamos as percepções de uma aluna acerca da psicoterapia de grupo-suporte em enfermaria, ou seja, um espaço de acolhimento, troca de experiências e de expressão dos sentimentos, disponibilizado aos indivíduos internados e seus acompanhantes. Essas remetem a um sentir, pensar e olhar permeados por sensibilidade e disposição...
Começando...
O grupo começou por meio de convite, face a face, feito aos pacientes e acompanhantes de uma enfermaria, alas feminina e masculina.
Eles foram informados acerca dos objetivos do grupo, de forma simples e acolhedora, ficando a decisão de participar ao critério de cada um, segundo sua possibilidade e desejo.
Aos poucos, os pacientes e acompanhantes foram chegando e se acomodando e, ao todo, participaram doze pessoas.
A reunião começou com as boas-vindas e apresentação da coordenadora e das duas estagiárias de psicologia, passando à auto-apresentação espontânea dos presentes, entre esses, pacientes e acompanhantes.
Vivendo...
O grupo foi se realizando através dos depoimentos individuais, fazendo emergir as dificuldades, as compensações, as lutas vencidas, as expectativas, os medos, enfim as angústias predominantes de pacientes e acompanhantes internados.
A dinâmica foi envolvendo uns, mais do que outros, suscitando emoções, descontentamentos, alegrias e reconhecimento de aspectos do viver fora e dentro do hospital, de lidar com a enfermidade própria e com a do outro, com a falta de algo que se considera perdido, ora a família que está longe ora a saúde que se espera recuperar.
Um aspecto da dinâmica que nos chamou a atenção foi a construção ocorrida: o grupo se fez, se conduziu, auto-geriu e se desfez. Um espaço construído onde foram depositadas as angústias e esperanças que, ao se desfazer, desfez também muitas angústias e teve como conseqüência a produção de bem-estar.
É como se, em sendo agrupadas, tais angústias fossem aglutinadas e depois pulverizadas com a volta à enfermaria, possibilitando o resgate emocional do sentido de estar interno como uma etapa a ser vivida, de doente como um estado de paciência e do cuidado de si como o principal passo para cuidar dos demais.
Em termos de referencial teórico, houve predominância de um olhar fenomenológico-existencial para esse grupo, especialmente, a compreensão heideggeriana do Ser-Aí ou Dasein, sendo no mundo a partir da doença e do contexto hospitalar, movendo-se em busca do ser sadio, vivendo na sua casa, com a família, os filhos, dormindo no seu canto que lhe é familiar.
Lidar com a imprevisibilidade do dia de amanhã, não sabendo o que este será, é uma característica do existir humano, apesar de termos a ilusão de que vai ser do jeito que planejamos ou desejamos. A condição humana da temporalidade, representada mais de perto pelas angústias da morte e do adoecimento, se desvela na vivência grupal.
O resgate, no grupo, dos significados, do pertencimento, do sentimento e reconhecimento do outro como alguém que está em mim preenche vazios e renova a energia vital, ajudando a suportar essa luta que é estar doente e internado num hospital.
Finalizando...
Foi muito importante para nós esta vivência, a primeira junto ao paciente e ao grupo de trabalho da Psicologia.
Sentimos, profundamente, o desenvolvimento dos sujeitos e o significado da dinâmica de falar, escutar, ser visto e olhar, no contexto hospitalar.
Conduzida de forma a dar lugar para sentimentos nada fáceis, a fala foi se construindo do sujeito para o grupo e do grupo para o sujeito. E, ao serem compartilhados os sentimentos, houve o acolhimento de cada um dos participantes.
Com o término do grupo, todos saíram, visivelmente, melhores do que entraram, mais amparados em suas angústias e renovados em suas buscas.