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Epidemiologia e Serviços de Saúde

versión impresa ISSN 1679-4974versión On-line ISSN 2237-9622

Epidemiol. Serv. Saúde vol.33  Brasília  2024  Epub 22-Mayo-2024

http://dx.doi.org/10.1590/s2237-96222024v33e2024188.en 

NOTA DE PESQUISA

Detecção de sífilis gestacional e congênita no Paraná, 2007-2021: análise de séries temporais

Giovana Gomes de Oliveira (orcid: 0009-0009-6862-4227)1  , Isadora Gabriella Silva Palmieri (orcid: 0000-0003-2542-1488)2  , Lucas Vinícius de Lima (orcid: 0000-0002-9582-9641)2  , Gabriel Pavinati (orcid: 0000-0002-0289-8219)2  , Vitória Maytana Alves dos Santos (orcid: 0000-0003-1992-3780)2  , Kelly Cristina Suzue Iamaguchi Luz (orcid: 0000-0001-5891-3142)1  , Gabriela Tavares Magnabosco (orcid: 0000-0003-3318-6748)2 

1Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Enfermagem, Maringá, PR, Brasil

2Universidade Estadual de Maringá, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Maringá, PR, Brasil

Resumo

Objetivo:

Descrever as tendências temporais nas taxas de detecção de sífilis gestacional e congênita, por faixa etária materna e macrorregião de saúde do Paraná, Brasil, 2007-2021.

Métodos:

Estudo de séries temporais, utilizando-se dados de vigilância; realizou-se análise de tendência por regressão segmentada, sendo estimadas variações percentuais anuais médias (VPAM) e intervalos de confiança de 95% (IC95%).

Resultados:

Foram identificados acréscimos na detecção estadual de sífilis gestacional (VPAM = 21,7; IC95% 17,7;32,8) e congênita (VPAM = 14,8; IC95% 13,0;19,7); as macrorregiões de saúde registraram incrementos, destacando-se as macrorregiões Noroeste (gestacional, VPAM = 26,1; IC95% 23,4;31,6) e Norte (congênita, VPAM = 23,8; IC95% 18,8;48,9); as tendências estaduais foram crescentes para mulheres jovens [gestacional, VPAM = 26,2 (IC95% 22,4;40,6); congênita, VPAM = 19,4 (IC95% 17,6;21,8)] e mulheres adultas [gestacional, VPAM = 21,3 (IC95% 16,9;31,9); congênita, VPAM = 13,7 (IC95% 11,9;19,3)].

Conclusão:

As taxas de detecção de sífilis materno-infantil foram ascendentes no estado, independentemente da idade materna e da macrorregião de saúde.

Palavras-chave: Sífilis; Gravidez; Transmissão Vertical de Doenças Infecciosas; Sífilis Congênita; Estudos de Séries Temporais; Vigilância em Saúde Pública

Contribuições do estudo

Principais resultados

Foram identificadas tendências crescentes nas taxas de detecção de sífilis gestacional e congênita no Paraná e suas macrorregiões de saúde, inclusive na análise estratificada por faixa etária materna; houve, porém, declínio no período da covid-19.

Implicações para os serviços

Percebe-se a necessidade de atuação estratégica e imediata pelos serviços de saúde do estado, com foco na ampliação do acesso e da vinculação aos cuidados, para assegurar o bem-estar materno-infantil e reverter as tendências crescentes observadas.

Perspectivas

Ações de prevenção e controle para eliminação da sífilis e superação de tais entraves se fazem necessárias direcionando os esforços pelo fortalecimento de educação em saúde, detecção precoce e tratamento adequado para a gestante e sua parceria.

Palavras-chave: Sífilis; Gravidez; Transmissão Vertical de Doenças Infecciosas; Sífilis Congênita; Estudos de Séries Temporais; Vigilância em Saúde Pública

INTRODUÇÃO

A sífilis, uma infecção sexualmente transmissível, permanece como um desafio para as políticas públicas de saúde no Brasil devido a suas formas gestacional e congênita, que representam grande parte dos casos da infecção registrados em âmbito nacional.1),(2 Em 2021, registraram-se 74.095 casos de sífilis em gestantes e 27.019 em crianças no país; já no estado do Paraná, foram registrados 3.223 casos da infecção em gestantes e 868 em crianças, no mesmo período.3

Fatores programáticos, como início tardio do acompanhamento pré-natal, número de consultas inferior a seis e falha na triagem durante a gravidez, estão associados à incidência dessas formas da infecção.4)-(6 Características sociodemográficas e comportamentais maternas, como uso inconsistente de preservativos, baixa renda mensal, histórico de infecções sexualmente transmissíveis, uso de substâncias químicas e idade superior a 35 anos são descritas como fatores preditores de sífilis gestacional e congênita.4),(5),(7),(8

No Paraná, os principais desafios para o controle da sífilis materno-infantil estão relacionados a mulheres com 20 a 39 anos de idade e baixa escolaridade, cujas parcerias sexuais não são tratadas9 - possivelmente, por fragilidades no pré-natal.10 Em 2023 o estado recebeu o “selo bronze” de práticas rumo à eliminação da transmissão vertical da sífilis,11 sobretudo a partir da implementação da Rede Mãe Paranaense em 2012, visando à captação precoce e à vinculação da gestante ao pré-natal.12

Considerando-se que características maternas, como idade, e contextuais, como local de residência e assistência à saúde, são relevantes para a epidemiologia e podem ser consideradas no monitoramento dos indicadores da sífilis - especialmente quando se busca a eliminação da transmissão vertical -, o presente estudo teve por objetivo descrever as tendências temporais nas taxas de detecção de sífilis gestacional e congênita, por faixa etária materna e macrorregião de saúde do estado do Paraná, Brasil, entre 2007 e 2021.

MÉTODOS

Delineamento e aspectos éticos

O presente estudo de séries temporais consistiu no uso de dados agregados e organizados em função do tempo, sobre as taxas anuais de detecção de sífilis gestacional e congênita no Paraná. Por se tratar de um desenho que incluiu dados agrupados e anonimizados, o projeto desta pesquisa foi dispensado de apreciação por Comitê de Ética em Pesquisa, de acordo com as Resoluções do Conselho Nacional de Saúde no 466, de 12 de dezembro de 2012, e no 674, de 6 de maio de 2022.

Contexto

O Paraná é o estado mais populoso da região Sul do Brasil, conta com 11.444.380 habitantes e apresentou alto índice de desenvolvimento humano, de 0,769, em 2021.13 No âmbito da implementação de programas e ações e da oferta de serviços de saúde, o estado está organizado de forma descentralizada em quatro macrorregiões de saúde: Leste - subdivida em sete regiões de saúde -, Oeste, Noroeste e Norte - estas com cinco regionais cada uma.14

População e fonte de dados

Analisaram-se os registros de sífilis gestacional e congênita referentes ao período de 2007 a 2021, considerando-se a disponibilidade dos dados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) na data de acesso aos dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), 20 de outubro de 2023;15 também foram utilizados dados relativos à população de nascidos vivos obtidos no Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), igualmente via Datasus.15

Variáveis e métodos estatísticos

Foram calculadas as taxas anuais de detecção de sífilis gestacional e congênita, conforme as recomendações e os critérios definidos pelo Ministério da Saúde:3 dividiu-se o total de casos em gestantes e crianças (numerador), segundo o ano de diagnóstico, pelo total de nascidos vivos (denominador), no mesmo local e período; e o resultado foi multiplicado por 1.000. Foram estimadas as taxas por faixa etária materna [em anos: ≤ 19 (jovens); ≥ 20 (adultas)], haja vista a possível diferença entre as tendências desses grupos; o denominador correspondeu à idade materna registrada no Sinasc.

A análise de tendência foi realizada pela regressão linear segmentada (joinpoint), definindo-se o máximo de dois pontos de inflexão devido ao número de anos analisados.16 As taxas de detecção foram consideradas como variável dependente; e os anos da série, como variável independente. Aplicou-se o método de seleção em grade, transformando a variável dependente no logaritmo natural e ajustando os modelos aos erros-padrão das taxas e à autocorrelação de primeira ordem, verificada a partir dos dados.16

Na análise das séries, foram calculadas as variações percentuais anuais (VPA), que forneceram as tendências crescentes (positivas) ou decrescentes (negativas) em cada joinpoint, as variações percentuais anuais médias (VPAM), que consistiram na média geométrica das VPA, e os intervalos de confiança de 95% (IC95%), que indicaram a significância das VPA ou VPAM quando foram diferentes de zero.16 As análises foram realizadas com o uso do Joinpoint Regression Program® (versão 5.0.2).

RESULTADOS

Entre 2007 e 2021, foram notificados 13.861 casos de sífilis gestacional e 6.643 de sífilis congênita no estado do Paraná, representando taxas de detecção, no período, de 6,0/1.000 nascidos vivos e 2,9/1.000 nascidos vivos respectivamente. As macrorregiões de saúde Leste (6,6/1.000 nascidos vivos) e Oeste (6,9/1.000 nascidos vivos) tiveram taxas médias de detecção de sífilis em gestantes superiores à do estado como um todo (Figura 1A); para a sífilis congênita, somente a macrorregião de saúde Leste (3,4/1.000 nascidos vivos) apresentou taxa média superior à do Paraná (Figura 1B).

Figura 1 Taxas de detecção da (A) sífilis gestacional e da (B) sífilis congênita por 1.000 nascidos vivos, segundo macrorregiões de saúde, Paraná, 2007-2021 

Identificaram-se tendências crescentes na detecção de sífilis gestacional (VPAM = 21,7; IC95% 17,7;32,8) e de sífilis congênita (VPAM = 14,8; IC95% 13,0;19,7) no Paraná, entre 2007 e 2021. As macrorregiões de saúde do estado, tomadas isoladamente, também registraram incrementos, destacando-se a Noroeste, com aumento anual de 26,1% (IC95% 23,4;31,6) na gestacional e de 24,1% (IC95% 18,2;56,1) na congênita; e a Norte, com acréscimo anual de 24,2% (IC95% 19,3;39,5) na gestacional e de 23,8% (IC95% 18,8;48,9) na congênita (Tabela 1).

Tabela 1 Tendência temporal das taxas de detecção da sífilis gestacional e da sífilis congênita por 1.000 nascidos vivos, segundo macrorregiões de saúde, Paraná, 2007-2021 

Localidade Período VPAa (IC95% b) VPAMc (IC95% b)
Sífilis gestacional Paraná 2007-2016 41,4 (30,7;112,3) 21,7 (17,7;32,8)
2016-2019 13,3 (5,7;43,0)
2019-2021 -30,9 (-44,2;-11,5)
Leste 2007-2016 37,7 (13,8;81,7) 20,5 (16,9;27,4)
2016-2019 11,5 (-5,1;47,7)
2019-2021 -25,9 (-41,2;-3,5)
Oeste 2007-2019 33,4 (30,9;44,4) 18,7 (14,6;26,6)
2019-2021 -41,1 (-58,8;-16,7)
Noroeste 2007-2015 55,2 (48,8;72,3) 26,1 (23,4;31,6)
2015-2019 19,2 (12,5;25,6)
2019-2021 -38,6 (-45,7;-32,1)
Norte 2007-2016 54,9 (45,2;117,6) 24,2 (19,3;39,5)
2016-2019 2,2 (-7,7;55,1)
2019-2021 -38,4 (-53,0;-14,5)
Sífilis congênita Paraná 2007-2015 32,8 (29,1;48,0) 14,8 (13,0;19,7)
2015-2019 11,5 (6,2;19,8)
2019-2021 -32,4 (-40,4;-20,0)
Leste 2007-2017 27,2 (23,6;33,5) 13,9 (11,2;17,3)
2017-2021 -13,6 (-24,8;-5,1)
Oeste 2007-2019 28,2 (23,8;44,7) 13,3 (6,8;24,2)
2019-2021 -46,1 (-68,8;-14,6)
Noroeste 2007-2015 44,4 (-3,3;595,4) 24,1 (18,2;56,1)
2015-2019 13,5 (6,0;83,5)
2019-2021 -18,8 (-36,9;3,5)
Norte 2007-2015 44,1 (2,2;381,1) 23,8 (18,8;48,9)
2015-2019 12,5 (4,9;85,5)
2019-2021 -18,2 (-34,1;2,6)

a) VPA: Variação percentual anual; b) IC95%: Intervalo de confiança de 95% (limite inferior; limite superior); c) VPAM: Variação percentual anual média.

Entre as mulheres jovens, no mesmo período, foram observadas tendências de aumento na detecção estadual da sífilis gestacional (VPAM = 26,2; IC95% 22,4;40,6) e da sífilis congênita (VPAM = 19,4; IC95% 17,6;21,8) no estado como um todo; outrossim, todas as macrorregiões de saúde registraram crescimento na detecção de sífilis, gestacional e congênita, na idade até 19 anos. Entre as mulheres adultas, com 20 anos ou mais, foram notadas tendências igualmente crescentes para as sífilis gestacional (VPAM = 21,3; IC95% 16,9;31,9) e congênita (VPAM = 13,7; IC95% 11,9;19,3) no Paraná; também nessa faixa etária, as macrorregiões de saúde seguiram o padrão estadual (Tabela 2).

Tabela 2 Tendência temporal das taxas de detecção da sífilis gestacional e da sífilis congênita por 1.000 nascidos vivos por faixa etária materna, segundo macrorregiões de saúde, Paraná, 2007-2021 

Localidade Período VPAa (IC95% b) VPAMc (IC95% b)
Sífilis gestacional (≤ 19 anos) Paraná 2007-2016 49,6 (44,5;155,2) 26,2 (22,4;40,6)
2016-2019 19,1 (11,5;44,6)
2019-2021 -36,0 (-52,1;-16,0)
Leste 2007-2018 41,6 (37,8;50,9) 24,6 (21,4;30,4)
2018-2021 -22,1 (-32,5;-7,1)
Oeste 2007-2019 43,2 (40,4;58,9) 25,3 (21,1;36,3)
2019-2021 -43,7 (-62,2;-16,9)
Noroeste 2007-2016 53,0 (49,9;65,7) 26,6 (23,9;31,6)
2016-2019 15,4 (9,1;32,8)
2019-2021 -38,2 (-48,4;-24,4)
Norte 2007-2014 76,5 (56,4;532,2) 28,5 (20,0;62,7)
2014-2019 18,6 (7,6;36,8)
2019-2021 -48,2 (-70,3;-20,3)
Sífilis gestacional (≥ 20 anos) Paraná 2007-2016 39,7 (18,0;113,3) 21,3 (16,9;31,9)
2016-2019 13,3 (5,8;45,7)
2019-2021 -28,7 (-42,7;-8,2)
Leste 2007-2017 34,4 (29,1;47,6) 21,7 (16,8;28,7)
2017-2021 -5,0 (-27,2;7,3)
Oeste 2007-2019 30,9 (28,6;38,8) 17,1 (13,8;22,6)
2019-2021 -39,9 (-54,3;-18,7)
Noroeste 2007-2014 65,2 (55,7;87,4) 29,1 (26,1;34,7)
2014-2019 23,2 (18,4;27,8)
2019-2021 -38,7 (-45,1;-32,7)
Norte 2007-2015 66,4 (54,2;120,9) 28,5 (23,2;43,8)
2015-2019 9,7 (1,5;33,1)
2019-2021 -37,4 (-53,5;-16,5)
Sífilis congênita (≤ 19 anos) Paraná 2007-2014 41,0 (37,3;49,0) 19,4 (17,6;21,8)
2014-2019 20,8 (16,6;24,9)
2019-2021 -35,4 (-43,1;-28,8)
Leste 2007-2011 61,7 (35,8;291,7) 23,6 (16,1;37,6)
2011-2018 23,7 (14,6;35,7)
2018-2021 -13,7 (-51,0;2,1)
Oeste 2007-2019 36,3 (32,4;50,0) 17,8 (10,5;28,4)
2019-2021 -50,9 (-72,0;-16,2)
Noroeste 2007-2019 34,9 (31,1;48,2) 19,3 (13,9;29,0)
2019-2021 -42,9 (-62,3;-13,2)
Norte 2007-2019 24,3 (19,4;56,4) 10,5 (2,1;28,4)
2019-2021 -45,5 (-73,2;9,4)
Sífilis congênita (≥ 20 anos) Paraná 2007-2016 29,9 (27,1;50,0) 13,7 (11,9;19,3)
2016-2019 5,3 (-0,1;24,2)
2019-2021 -29,8 (-38,7;-18,6)
Leste 2007-2017 26,2 (23,6;30,8) 13,0 (11,1;15,5)
2017-2021 -14,3 (-20,1;-7,7)
Oeste 2007-2019 27,3 (24,1;39,4) 14,4 (8,5;23,1)
2019-2021 -39,7 (-61,8;-12,4)
Noroeste 2007-2016 42,4 (33,9;67,6) 26,0 (21,4;36,0)
2016-2021 1,1 (-12,5;10,7)
Norte 2007-2015 36,0 (2,3;443,7) 14,0 (8,3;37,8)
2015-2019 9,0 (-0,7;66,2)
2019-2021 -38,4 (-60,3;-6,1)

a) VPA: Variação percentual anual; b) IC95%: Intervalo de confiança de 95% (limite inferior; limite superior); c) VPAM: Variação percentual anual média.

DISCUSSÃO

Observou-se um padrão de crescimento nas taxas de detecção das sífilis gestacional e congênita do Paraná, no período anterior a 2019, independentemente da macrorregião de saúde e da faixa etária materna. Verificou-se, ainda, tendência significativa de queda em praticamente todas as macrorregiões avaliadas, durante os anos de pandemia da covid-19, possivelmente por fragilidades relacionadas à detecção e à notificação naquele cenário emergencial.17

A presente pesquisa tem limitações inerentes a dados secundários, normalmente sujeitos a situações de sub-registro, incompletude, inconsistência e sub-detecção. Isto ocorre, sobretudo, pela possibilidade de eventual maior ou menor detecção ou notificação, de responsabilidade dos profissionais de saúde, implicar aumento acentuado ou atenuado nas tendências das taxas. Estratégias com vistas a melhorar a qualidade e a completude dos registros podem beneficiar futuras pesquisas e tomadas de decisão baseadas em evidências.

Estudos de séries temporais, com dados do Sinan, têm alertado para as tendências de aumento da sífilis materno-infantil. No estado de Goiás, no período de 2007 a 2017, houve aumento da ocorrência entre gestantes (VPA = 18,0; IC95% 15,3;20,8), bem como nas taxas de sífilis congênita (VPA = 16,8; IC95% 20,1;33,8).18 Em Minas Gerais, também se observou tendência crescente para a detecção de casos na gestação (VPA = 36,7; IC95% 32,5;41,0) e casos da forma congênita (VPA = 32,8; IC95% 28,0;37,8), entre 2009 e 2019.19

Diversos fatores podem explicar as variações positivas de sífilis em gestantes, a saber: aprimoramento dos sistemas e serviços de vigilância, contribuindo para a notificação e o registro dos casos;20)-(22 ampliação da oferta de testes rápidos, melhorando o acesso ao diagnóstico;22 fortalecimento das ações de pré-natal no estado, devido à implementação da Rede Mãe Paranaense;12 e aumento das desigualdades socioeconômicas, suscetibilizando as mulheres que vivenciam piores condições.20)-(22

Sem desconsiderar a melhoria das políticas públicas de atenção materno-infantil no Paraná,23 direcionadas à eliminação da transmissão vertical - e reconhecidas com a obtenção do “selo bronze” -, os achados do presente estudo acendem um alerta para a incidência crescente da sífilis congênita. Esta situação pode decorrer, entre outros fatores, das falhas no rastreamento, durante as consultas de pré-natal,24)-(26 do diagnóstico tardio da infecção materna24),(26 e da condução inadequada do tratamento, seja na gestante, seja em sua parceria.24),(26

O predomínio de sífilis gestacional e congênita nas macrorregiões de saúde Leste e Oeste do Paraná já foi relatado.9),(27 A macrorregional Leste engloba a capital Curitiba e sua região metropolitana, de maior densidade populacional; já a Oeste é região de fronteira entre o estado do Paraná, Brasil, a Argentina e o Paraguai. Esse fator deve ser considerado na interpretação das taxas calculadas, uma vez que o nível socioeconômico mais baixo se mostrou associado a maior probabilidade de adoecimento por sífilis no estado.27

Conclui-se que o Paraná apresentou aumento nas taxas de detecção de sífilis gestacional e congênita, independentemente da idade materna. Os incrementos foram mais intensos nas macrorregiões de saúde Noroeste e Norte do estado. Contudo, observou-se declínio durante a pandemia da covid-19. Estes achados apontam para a necessidade de fortalecimento das ações de educação em/na saúde,28 ampliação da testagem e tratamento de gestantes e suas parcerias,29 melhoria do acesso e da vinculação a cuidados materno-infantis eficazes.30

REFERÊNCIAS

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TRABALHO ACADÊMICO ASSOCIADO Artigo derivado de monografia de conclusão de curso, intitulada Tendência temporal dos casos de sífilis gestacional e sífilis congênita no estado do Paraná entre 2007 e 2021, apresentada por Giovana Gomes de Oliveira no Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá, em 2023.

FINANCIAMENTO O presente trabalho foi realizado com apoio financeiro do Programa Institucional de Apoio à Inclusão Social, Pesquisa e Extensão Universitária da Fundação Araucária/Universidade Estadual de Maringá, concedido à autora Giovana Gomes de Oliveira, e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/Ministério da Educação do Brasil, concedido aos autores Isadora Gabriella Silva Palmieri, Lucas Vinícius de Lima e Gabriel Pavinati.

Recebido: 29 de Fevereiro de 2024; Aceito: 08 de Abril de 2024

Correspondência: Lucas Vinícius de Lima. E-mail: lvl.vinicius@gmail.com

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

Oliveira GG, Palmieri IGS e Lima LV contribuíram na concepção e delineamento do estudo, análise e interpretação dos resultados, redação e revisão crítica do conteúdo do manuscrito. Pavinati G, Santos VMA, Luz KCSI e Magnabosco GT contribuíram na análise e interpretação dos dados, redação e revisão crítica do conteúdo do manuscrito. Todos os autores aprovaram a versão final do manuscrito e são responsáveis por todos os seus aspectos, incluindo a garantia de sua precisão e integridade.

CONFLITOS DE INTERESSE

Os autores declararam não haver conflitos de interesse.

Editora associada:

Taís Freire Galvão - https://orcid.org/0000-0003-2072-4834

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