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Revista Pan-Amazônica de Saúde

versión impresa ISSN 2176-6215versión On-line ISSN 2176-6223

Rev Pan-Amaz Saude vol.15  Ananindeua  2024  Epub 24-Jun-2024

http://dx.doi.org/10.5123/s2176-6223202401556 

ARTIGO HISTÓRICO

Mulheres na Medicina no início do século XX: o percurso de Olga Maia Paes de Andrade, a primeira médica formada no estado do Pará, Brasil (1928)

Women in Medicine at the beginning of the 20th Century: the trajectory of Olga Maia Paes de Andrade, the first female doctor graduated in Pará State, Brazil (1928)

José Maria de Castro Abreu Junior (orcid: 0000-0001-8679-8890)1  , Aristoteles Guilliod de Miranda (orcid: 0000-0002-1052-9595)1 

1 Universidade Federal do Pará, Instituto Histórico e Geográfico do Pará, Belém, Pará, Brasil

RESUMO

A Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, Brasil, foi fundada em 1919. Entre os seus primeiros alunos, havia sete mulheres de um total de cerca de 50. Ao final dos seis anos de duração do curso médico, em 1924, apenas quatro alunos o concluíram, mas nenhuma mulher. A primeira mulher graduada no curso foi Olga Maia Paes de Andrade, em 1928. Embora seja uma pioneira, sua trajetória não é lembrada nas memórias da Faculdade de Medicina. Este relato é uma contribuição para o reconhecimento desse pioneirismo, importante na trajetória histórica das mulheres amazônidas.

Palavras-chave: Medicina; Educação Médica; História da Medicina; Mulheres

ABSTRACT

The School of Medicine and Surgery of Pará, Brazil, was founded in 1919, and there were only seven women out of 50 students in the class. By the end of the six-year medical course, in 1924, only four students had graduated, but no women. The first woman to finish medical school in Pará State was Olga Maia Paes de Andrade, in 1928. Although she is a pioneer, her journey is not remembered in the memoirs of the School of Medicine. This report is a contribution to the recognition of this pioneering spirit, important in the historical trajectory of Amazonian women.

Keywords: Medicine; Medical Education; History of Medicine; Women

O FAZER HISTÓRIA E A MANCHETE

Para os manuais de redação jornalísticos, um texto deve contemplar questões indispensáveis: o que, quem, quando, onde, por que e como. Respondê-las visa "[...] introduzir o leitor no texto e prender sua atenção."1. Uma chamada de capa do jornal paraense O Liberal, de 3 de setembro de 1978, preenchia esses requisitos: "Acidente no Mosqueiro mata médica e fere três"2, resumindo a notícia, desenvolvida na página dos assuntos policiais ou similares. Na mesma data, o jornal A Província do Pará, estampou manchete semelhante: "Acidente com o táxi em Mosqueiro matou médica", com relato sucinto do ocorrido3.

Notícias envolvendo médicos sempre despertaram a atenção do público, pelo papel desempenhado por esses profissionais na sociedade e a importância a eles atribuída, particularmente se associado a tragédias. A matéria de O Liberal considerava essa "importância", vez que a manchete é bem chamativa: "Desastre na ponte deixa médica morta"4. A médica em questão era a Dra. Olga Maia Paes de Andrade, a primeira mulher formada pela então Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará (FMCP)1.

É sobre essa personagem da História da Medicina, da Saúde e da Educação no Pará que pretendemos discorrer, destacando seu pioneirismo, contribuindo para retirá-la do esquecimento, dando-lhe a merecida importância como mulher em uma época de raras oportunidades profissionais para o sexo feminino, principalmente em uma atividade como a médica, reduto praticamente exclusivo dos homens. Este estudo busca revelar o pioneirismo histórico da Dra. Olga Maia Paes de Andrade na trajetória da Faculdade de Medicina, representando um marco na luta por igualdade de gênero e servindo de inspiração às futuras gerações de profissionais de saúde.

DADOS BIOGRÁFICOS

Olga Maia Paes de Andrade nasceu no município de Curuçá, no nordeste paraense, em 29 de julho de 18992. Era a mais velha dos três filhos - os outros dois, Arnaldo e Romualdo - de Ana Maia Paes de Andrade e Romualdo Barjona Paes de Andrade, promotor público e juiz de Direito substituto de Curuçá, falecido em 1917, aos 47 anos7.

Pelo lado paterno, tinha raízes no Amazonas, onde nascera seu pai, sendo seu avô também juiz de Direito, com passagem pela política, assumindo por diversas vezes o governo daquele estado8.

A família materna era de Curuçá, sendo seu avô o coronel Antônio Maia, líder político na região7. Quando do falecimento do pai, Olga e seus irmãos eram estudantes do Ginásio Paes de Carvalho, em Belém. Para ela, concluinte do curso, tal fato lhe propiciaria vantagem na admissão à Faculdade de Medicina.

TIROCÍNIO ACADÊMICO

Nos primeiros meses de 1919, uma faculdade de medicina foi criada em Belém, cidade que se recuperava da gripe espanhola, tendo as atividades da escola se iniciado em maio daquele ano. Entre seus alunos estava a jovem Olga Maia Paes de Andrade3.

Olga não figurava entre os candidatos que prestaram vestibular naquele primeiro ano, quando foram dispensados dos exames os bacharéis em Direito, engenheiros, farmacêuticos, dentistas, professores normalistas e os que houvessem "[...] completado o seu curso de Humanidades [...]"11. Ela se enquadrava nas exceções por ter sido diplomada pelo Ginásio Paes de Carvalho.

O total de alunos que iniciaram os estudos na recém fundada faculdade era de cerca de 50, dos quais apenas sete mulheres. Em 1925, apenas quatro colaram grau; e entre os primeiros médicos, nenhuma mulher. Olga somente completou o curso três anos depois, em 31 de dezembro de 1928, sendo, portanto, a primeira médica formada pela FMCP. A segunda médica, Cândida Augusta de Jesus e Silva, terminaria o curso meses depois, em 31 de março de 19299.

No acervo do Museu da UFPA, encontram-se algumas placas de formatura de turmas de Medicina que pertenciam ao acervo da Faculdade. A placa alusiva aos médicos de 1928 não exibe o retrato de Olga Paes de Andrade, mas observa-se a presença de três mulheres4. A primazia de Olga como primeira médica está registrada nos livros de ata de formatura, documento oficial e comprobatório dos fatos. Os quadros de formatura, nesse período inicial da Instituição, reuniam grupamentos de formandos, muitas vezes colando grau em datas diversas e até do ano subsequente ao registrado no mencionado painel, nem sempre contando com a participação de todos os concluintes, como é o caso da própria Olga, que não figura em nenhum quadro de formatura.

Embora tenha iniciado o curso médico em 1919, Olga não conseguiu concluí-lo em seis anos. A nova faculdade, sendo uma "faculdade livre"5, precisava de alunos para a sua manutenção financeira, sem descurar da credibilidade para se firmar como instituição de respeito, para tal mantendo um severo regime na avaliação dos seus estudantes. Por isso, além da desistência dos alunos ao longo do curso, os remanescentes não tinham vida fácil no aprendizado médico.

Outro aspecto diz respeito às provas: os alunos se inscreviam ou não para a realização dos exames, pagando taxa de inscrição, além das mensalidades, o que resultava que as provas fossem aplicadas em várias datas; sem contar com reprovações implicando em novos exames. Olga, por exemplo, foi aprovada em segunda época nas disciplinas de Anatomia Descritiva e de Histologia12. Vale ressaltar que algumas matérias exigiam apenas frequência para a aprovação, notadamente no último ano do curso6. Todos esses dados influenciaram no tempo de conclusão do curso. O fato da Faculdade ser particular gerava uma seleção financeira entre os alunos, e ser filha de alguém do judiciário ajudava bastante.

Em meio a sua jornada acadêmica, Olga participou, em 1921, do Centro Acadêmico Gaspar Vianna, a mais antiga agremiação estudantil da FMCP, em sua primeira e única gestão conhecida, ocupando o cargo de 2ª Secretária14. Tal fato é considerado uma conquista em um período de raras mulheres na graduação e, mais ainda, no incipiente movimento estudantil.

Olga Maia Paes de Andrade defendeu sua tese inaugural em 30 de outubro de 1928, e, em 31 de dezembro do mesmo ano, às 10 h, na Secretaria da Faculdade, perante os professores Mario Midosi Chermont, Amanajás Filho, Antonio Marçal e Deusdedit Coelho, o diretor, Dr. Camilo Salgado, conferiu-lhe o grau de Doutora em Medicina9. Naquele momento, Olga estava fazendo história, ainda que não fosse a primeira médica paraense, primazia que coube a Anna Turan Machado Falcão (1862-1940), formada em Nova Iorque, em 188714. Todavia, Olga (Figura 1) foi a primeira mulher que se tornou médica sem precisar sair do Pará.

Fonte: A Semana. 1929 jan 5;10(557)15.

Figura 1 - Foto de formatura da Dra. Olga Maia Paes de Andrade 

A formatura mereceu destaque no jornal Folha do Norte16:

Doutorou-se hontem em medicina pela Faculdade desta capital, depois de proveitoso tirocínio tendo alcançado excelentes notas no 6º anno do curso, a senhorinha Olga Paes de Andrade, filha do extincto magistrado dr. Barjona Paes de Andrade.

Hontem a jovem doutora defendeu com brilho a sua these, tendo dissertado sobre a Molestia de Recklinghausen e sido aprovada com distincção.

Nota semelhante foi publicada na revista A Semana, destacando ser Olga a "[...] primeira medica titulada por aquella Escola superior deste Estado [...]"15. O jornal O Paiz, do Rio de Janeiro, referindo-se à então Faculdade de Medicina do Pará como "[...] nascida apenas ha alguns anos, mercê do esforço abnegado e patriótico de um grupo de médicos [...]", destacava a formatura da "[...] primeira doutora em medicina saída daquella instituição de ensino superior [...]"17.

Aloysio de Castro7, famoso professor da Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, na ocasião, dirigente do Departamento Nacional de Ensino, por meio de telegrama, agradeceu o recebimento da tese doutoral, dizendo tê-la apreciado muito e cujo tema era um assunto sobre o qual tinha se especializado e dedicado20.

O feito da paraense chamou atenção do movimento feminista brasileiro, coordenado pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, sob a direção de Bertha Lutz8. A coluna "Feminismo", do jornal O Paiz, do Rio de Janeiro, em artigo denominado "A mulher brasileira e a sciencia medica", ao dizer do já notável número de médicas que exerciam a profissão com amor e competência, menciona profissionais de vários estados da federação dizendo o seguinte sobre a Dra. Olga22:

[...] sendo a primeira diplomada na Faculdade do Pará, logrou logar de merecido destaque pela defesa de sua these: "Molestia de Recklinghausen". Foram unanimes os aplausos recebidos pela joven estudiosa Dra. Olga de Andrade, pois que o seu thema foi desenvolvido com rara segurança, onde patenteou a efficacia de seus estudos e de seu provado preparo, obtendo, por isto, a sagração de notas distinctas e justamente merecidas.

[...] acrescentamos os nossos [aplausos] á novel medica, porque estes exemplos servem de estimulo e de incentivos á mocidade feminina estudiosa e assim podem augmentar o numero das bemfeitoras da humanidade, que lhes amenizam o soffrimento physico e contribuem para o desenvolvimento da sciencia brasileira e para o bem estar geral.

A fôrma da tese segue o padrão da época e seria classificada hoje como revisão da literatura e apresentação de caso, considerada pela própria Olga como um trabalho sem novidade científica, "[...] tampouco, uma these original [...]", objetivando apenas descrever os dois únicos casos, até então diagnosticados no Pará, da doença de Recklinghausen, modernamente conhecida como neurofibromatose. No texto, além das homenagens e agradecimentos aos pais e professores, são mencionados o Governador do Estado, o médico e professor da Faculdade Dionysio Bentes, "[...] a quem tanto devo de favores recebidos [...]", e o secretário da Faculdade, o "[...] bom amigo [...]" Olympio da Silveira, "[...] pelos obsequios e attenções que sempre me dispensou [...]"23. Como o Governo do Estado fornecia algumas bolsas de estudos, e tendo o secretário da escola importante papel na distribuição desses benefícios, mais até do que o diretor9, é possível que Olga tenha obtido alguma benesse em relação às despesas com o curso, justificando os agradecimentos.

A METEÓRICA ATIVIDADE DE DOCENTE

Recém-diplomada, Olga iniciou a carreira profissional como professora do curso de Odontologia. Seu registro de admissão como professora interina de Higiene data de 28 de fevereiro de 1929, poucos meses depois de sua formatura24, permanecendo como professora, posteriormente na cadeira de Patologia e Terapêutica, até 1935, quando pediu demissão25.

Na ata da reunião da Congregação da Faculdade de Odontologia, de 30 de abril de 1933, consta seu nome como catedrática25, não se conseguindo apurar ter ela chegado à cátedra ou se fora apenas um lapso na redação do documento, pois seu tempo de atuação como professora foi de 1929 a 1935. Nos registros de concurso para catedrático nesse período, não encontramos seu nome entre os candidatos. Ao considerar que nos anos iniciais da instituição os professores catedráticos eram nomeados, isso justificaria seu retrato a óleo (Figura 2) fazendo parte da coleção de retratos de professores catedráticos da Odontologia existente no Museu da UFPA.

Fonte: Acervo do Museu da UFPA. Fotografia de Patrick Pardini.

Figura 2 - Retrato de Olga Maia Paes de Andrade da coleção dos professores catedráticos da Faculdade de Odontologia da UFPA. Pintura a óleo sobre tela assinada por Veiga Santos 

Nos documentos não encontramos referência a outra mulher como professora na Odontologia, nem antes e nem depois de Olga, pelo menos até a década de 1950 e meados da década de 1960, concluindo-se que ela foi a primeira mulher professora da Faculdade de Odontologia, permanecendo a única, pelo menos até os anos de 1950 e 1960.

A atividade docente de Olga Paes de Andrade começou antes de sua formatura em Medicina. Bassalo26, em artigo sobre o ensino da Física em Belém, relata a nomeação dela, em 19 de maio de 1926, como "[...] preparadora da cátedra de Física [...]" no então Ginásio Paes de Carvalho. Pelo menos até 1935, seu nome figura entre os professores do mencionado Ginásio, como subscritora de um Memorial encaminhado à comissão organizadora do anteprojeto da Constituição em discussão naquele momento27. Olga também foi incluída entre os antigos professores homenageados nas comemorações do 127º aniversário desse tradicional estabelecimento de ensino paraense, ocorrido em 196828.

Clóvis Meira, médico e memorialista paraense, em vários textos fala da atuação de Olga como professora em diferentes colégios de Belém, concomitantemente à atividade médica29,30. De toda feita, em 1950, temos o registro de sua nomeação como médica na sessão feminina do Colégio Paes de Carvalho, "[...] sem prejuízo de suas funções [...]"31, possivelmente configurando a manutenção também da atividade didática naquele estabelecimento. Nessa mesma época, Meira a situa como professora do Colégio Santa Rosa29,30, onde atuou também como ginecologista das internas do referido Colégio, de acordo com Luiza Álvares, interna do estabelecimento naquele período32.

Teria sido a professora ofuscada pela médica? Aparentemente, ambas coexistiram até o final; a notícia da morte fala que ela "[...] exercia funções em diversos hospitais e colégios [...]"33. Portanto, a "professora" Olga não deve ser desprezada, sendo importante para o entendimento da "médica" Olga.

A MÉDICA EM SUA LONGA ATIVIDADE

Uma das epígrafes9 da sua tese inaugural23 diz o seguinte:

O medico não vive para si, mas sim para os outros. Este é o principio basico da tua profissão. Não corras atraz da fama nem do dinheiro. Procura trabalhar para salvar os outros, mesmo com sacrificio proprio. Sustenta a vida, restabelece a saude do doente e procura alliviar o soffrimento humano. Não tenhas outro objetivo.

Essa foi a filosofia de vida adotada por Olga Paes de Andrade ao dedicar-se preferencialmente à atividade médica, ainda que mantendo a docência no ensino médio. Para Clóvis Meira, Olga lecionou Física e Química nos Colégios Paes de Carvalho, Gentil Bittencourt, Santa Rosa e Fundação Educacional do Pará. Mesmo exercendo a Medicina em vários locais, não acumulou fortuna. Atuou nos hospitais da Santa Casa, da Beneficente Portuguesa, da Ordem Terceira, além de atendimentos em domicílio. No então Departamento de Saúde do Estado, atual Secretaria Estadual de Saúde, chefiou e desenvolveu o Serviço de Proteção à Maternidade e à Infância, posteriormente ampliado com um Serviço de Hidratação do Centro de Saúde nº 229.

Olga mantinha o consultório na sua própria residência, à rua Ó de Almeida, 25235. Em determinadas ocasiões, ela fazia levar sua mesa obstétrica à casa das pacientes para melhor atendê-las. Nesses momentos, utilizava os serviços de portugueses carregadores de pianos, figuras populares na paisagem da cidade.

Em 1931, Olga participou da fundação do Núcleo Paraense pelo Progresso Feminino, ocupando o cargo de tesoureira. Composto por mulheres de alto nível intelectual, a agremiação tinha entre suas bandeiras o movimento sufragista nacional, que culminaria, no ano seguinte, na promulgação do 1º Código Eleitoral Brasileiro, tornando o voto direto, obrigatório e secreto e permitindo o voto das mulheres32.

Por ocasião da viagem do embaixador japonês à Amazônia, em 1934, em visita às colônias japonesas instaladas em municípios da Região do Baixo Amazonas, Olga foi designada pela Diretoria de Saúde Pública, provavelmente como médica assistente, para acompanhar a comitiva36.

TRAÇOS E PASSOS DE UMA CAMINHADA

Tentamos obter depoimentos de parentes ou alguém mais próximo da Dra. Olga que pudesse nos revelar mais um pouco do ser humano Olga. As notícias do acidente falam em sobrinhos e outras pessoas criadas por ela, posto que não teve filhos; porém, nada conseguimos. Para Halbwachs37, testemunhos fortalecem ou debilitam, mas também completam "[...] o que sabemos de um evento do qual já estamos informados de alguma forma, embora muitas circunstâncias nos permaneçam obscuras.". Por conseguinte, garimpamos vários trechos que acrescentam algumas linhas à memória da Dra. Olga Paes de Andrade.

Do jornal O Liberal: "Fora da vida profissional, a dra. Olga era considerada por seus amigos como uma excelente pessoa, muito caridosa, religiosa o bastante para frequentar, diariamente, a igreja de Sant'Ana para assistir missa."4 (Figura 3).

Fonte: O Liberal. 1978 set 3:244.

Figura 3 - Dra. Olga, segunda em pé da esquerda para direita, em evento com autoridades eclesiásticas 

Um depoimento interessante foi o de Izabel Chaves de Souza, publicado em um site na Internet38, do qual reproduzimos alguns trechos:

Conheci a Dra. Olga como a chamavam... é um dos tipos inesquecíveis. Era médica, obstetra e gineco também. [...] coordenava a distribuição de um leite associado a uma proteína aditada que combatia o raquitismo em bebês. Era distribuído a mãezinhas carentes inscritas no programa.

Ela era muito caridosa vivia para atender os carentes. Morava em uma casa antiga na Rua Ó de Almeida px a Pres. Vargas, com pouco conforto [...]

a casa simples que se engrandecia no Natal quando montava um grande presépio na extensão de sua sala tão pouco mobiliada. [...] Cada ano acrescentava mais alguma coisa regional, incrível.

Falava alto e tinha uma voz rouca. Era médica competente; fez trocentos mil partos, para toda sociedade, da classe alta até o mais carente. Sua competência era garantia de bom parto.

Era solteira, não se casou, andava sempre de branco, as vezes com uma saia meio justa preta, usava meias mais largas que suas canelinhas já alquebradas pelo peso da idade e compleição [...]. Também usava uma peruca, pois seus parcos cabelinhos já precisavam ficar ocultos. [...]

Eu ria muito do jeito dela como falava e administrava as coisas, passei a admirá-la e a querer bem. Era amada por todos. Mesmo com seu jeito diferente, as pessoas já conheciam o seu bondoso coração; mesmo que ela estivesse esbravejando e ameaçando com a sombrinha a enfiá-la sabe Deus onde, rsrsrs ou fazer picadinho da "mãe desnaturada" que vendesse o leite doado ou que esquecessem de aditar as gotinhas de proteínas que eram necessárias. A mulherada ria e corriam para abraçá-la e beijá-la.

Elas já a conheciam e adoravam o seu jeito único de ser.

Carlos Alberto Bragança, médico nascido em 1950 e formado em 1977 pela Universidade Federal do Pará, e que na juventude teve algum contato com a médica, em conversa por aplicativo39 disse o seguinte:

Tive vários contatos com dra. Olga na minha adolescência, morava na rua Ó de Almeida, próximo à P. Vargas. Era caridosa, mas cobradora, com os Clubes de Mães no Estado. Quando [na] secretaria de saúde, fornecia material diversificado e era respeitada por todos.

Imagina a batalha que deve ter tido na época, para ser reconhecida e aceita por seus colegas.

Meu contato com ela era através da minha mãe, que era presidente do clube de mães de Bragança e ficava sob a orientação e apoio dela.

Seu gabinete ficava no segundo andar do prédio antigo da secretaria de saúde, [...] ela era baixinha, voz forte e metálica, sempre com um pano de cabeça usado em faixa que prendia os cabelos grisalhos, parecia morar só e contava com serviçais.

Uma ocasião, deu-me um bilhete manuscrito, com ordem para o depósito da Nestlé entregar-me uma caixa de leite para o clube da mamãe, ocorre que o funcionário negou e ela intercedeu junto ao gerente que ao saber queria dispensá-lo, foi atendida com a manutenção do funcionário.

São só histórias que marcaram a grandeza desta mulher.

Morava em uma casa antiga, geminada a outras laterais, com porta e janelas ao nível da calçada, rua Ó de Almeida entre Frei Gil e Pte. Vargas [...]. Longo corredor e com pouca iluminação natural.

É provável que tenha exercido obstetrícia concomitante com a pediatria, que não possuíam fronteira para a época. Também por ser da ocupação dos Clubes de Mães, apoiados por ela, o atendimento de mães e filhos.

Como vimos, ela exercia a profissão médica com a experiência também do professorado, mesmo em Ciências da numerológica Física.

A figura humana da dra. Olga era marcante, de estatura baixa para a média, mais próxima de magra, pernas finas e algo genovaro, passos curtos e rápidos, exibia a cor parda da nossa mestiçagem, com rosto arredondado próximo do tronco, mais pra brevilínea, sempre de saia abaixo do joelho e blusas longas que disfarçavam cintura e quadril, um tanto ginecóides.

E complementou40:

Dra. Olga recebia sentada à sua mesa, [no gabinete de trabalho] cumprimentava e raramente nos olhava, assim ela dizia o que tinha a dizer, era de poucos sorrisos o que parecia justificar seus lábios finos e quase sem vermelhão, entretanto prosseguia nas poucas palavras, sempre com expressão simpática de incrível resolução. Saíamos sempre satisfeitos daquela sala.

Nessas idas à casa comprida e escura, excetuando o corredor ao lado da área descoberta, eu sempre saía satisfeito, à semelhança do gabinete na secretaria.

Muito marcante e memorizado, tenho a dra. Olga como modelo a escolher, para tantos que hoje circulam pela nossa área da saúde.

Clóvis Meira10 também nos deixou várias impressões29,30 sobre a médica:

Pessoa humana excepcional, atarracada e gorda, ativa, alegre, jovial e amiga, devotada à igreja e aos pobres, deixou, ao morrer, um largo e inconsolável círculo de amizades. Solteira, dedicou grande parte de seu tempo e de seus recursos à criação de meninas órfãs, suas filhas pelo coração.

[...] Durante 51 anos dividiu suas atividades entre o Magistério Secundário, nos Colégios Paes de Carvalho, Moderno e Gentil Bittencourt, e a obstetrícia, trabalhando na Santa Casa, na Beneficente Portuguesa e na Ordem Terceira, além de manter concorrida clínica domiciliar, principalmente entre os menos favorecidos pela fortuna. [...]

Fazia partos em domicílio e em todas as maternidades do seu tempo, como as da Santa Casa, da Ordem Terceira e da Beneficente. Mesmo em idade provecta, jamais deixou de atender a um chamado, sempre alegre, solicita e irradiando confiança às suas clientes.

Em resumo: uma pessoa simples, despojada de vaidade, prestativa, incansável e sempre pronta a ajudar (Figura 4).

Fonte: A Província do Pará. 1974 fev 20:3;caderno 142.

Figura 4 - Dra. Olga atendendo um de seus pequeninos pacientes no Serviço de Hidratação da Secretaria de Saúde 

A MORTE

Geralmente, nos fins de semana, Olga seguia para a ilha de Mosqueiro, distrito de Belém, distante 70 km do centro da capital, onde possuía uma casa de veraneio e onde costumava descansar. Sem carro próprio, sempre utilizava os serviços do mesmo táxi de um conhecido seu. Naquele sábado, 2 de setembro de 1978, além da médica e de três jovens criadas por ela, viajavam ainda o encanador que iria realizar um pequeno reparo nas instalações hidráulicas da casa, com retorno previsto para o mesmo dia.

Já na ilha, na altura da ponte sobre o rio Murubira, o carro se desgovernou, batendo na amurada da ponte, por pouco não caindo nas águas do rio. Com o impacto, Olga foi arremessada contra o taxímetro, batendo a cabeça, resultando em fratura da base do crânio, causando-lhe morte instantânea, segundo O Liberal4,11. Os demais ocupantes do carro, embora alguns bastante feridos, salvaram-se, sendo socorridos por moradores das proximidades, levados para a Unidade Mista do Mosqueiro e, posteriormente, transferidos para Belém. Pela Dra. Olga, nada pôde ser feito.

Conforme relatos, o motorista teria cochilado no volante e se apavorado quando o carro se dirigia para o rio. Ele ainda teria tentado recolocar o carro na pista, não conseguindo, tendo o pequeno Volks batido na amurada da ponte. O veículo, que teve sua lataria bastante avariada, desenvolvia a velocidade considerada adequada para a rodovia, não apresentava avaria nos pneus e não havia carros em sentido contrário. Nada justificava o acidente além do imponderável.

Os funerais foram realizados no dia 4 de setembro. Uma coroa de flores "[...] perpetuava o adeus e a saudade da Faculdade de Medicina do Pará, onde se formou em 1926 (sic), sendo a primeira mulher a se formar em medicina em nosso Estado [...]". A médica deixava um único irmão, oito sobrinhos e três filhas de criação33.

Depois da notícia-convite para a missa de 7º dia, foi o silêncio quebrado, algumas vezes, por discretas menções nos textos memorialísticos de Clóvis Meira em que Olga era citada, não havendo nenhum perfil biográfico da mencionada médica entre tantos que o autor publicou nos jornais, posteriormente reunidos em livro. Olga não se adequava bem nos padrões dos médicos comumente biografados pelo referido memorialista, em geral, profissionais de destaque tanto na profissão quanto nos meios sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Historicamente, as mulheres sempre estiveram associadas à prática da arte de curar, vistas como as curadoras populares, as parteiras, detentoras de um saber ancestral, empírico, repassado geracionalmente. Todavia, a História nos mostra que elas nem sempre tiveram reconhecida essa participação e a sua devida importância.

Os relatos iniciais acerca da conquista inédita de Olga Paes de Andrade ao graduar-se em Medicina, saudada por nomes como Aloysio de Castro e Bertha Luz, prenunciavam um futuro promissor, marcado por grandes conquistas e por notoriedade, o que aparentemente não aconteceu, como chegar à docência, por exemplo, na mesma faculdade em que se formou. Por que a Odontologia e não a Medicina? Não houve oportunidade ou convite, por ser mulher? A guisa de informação, a primeira professora no curso de Medicina no Pará foi a Dra. Betina Ferro de Souza, na década de 1950. Isso tudo não significa dizer que a Dra. Olga não tenha sido bem-sucedida. Arriscaríamos dizer que, à sua maneira, certamente o foi.

Para uma profissão ainda muito "aristocrática", Olga era um tipo dissonante, no trajar, no falar e, quem sabe, até na cor da sua pele. Ela viveu sua vida com a autenticidade que desejou, sem grandes preocupações em empunhar bandeiras de alguma representatividade, servindo a todos, particularmente aos menos favorecidos. Nas representações arquetípicas do que se esperava de uma doutora, Olga não estava enquadrada. Uma das médicas por nós entrevistadas afirmou que, quando estava vestida de modo mais informal, suas irmãs, também médicas, jocosamente falavam: "Chegou a Dra. Olga!".

Quanto à memória, à lembrança e ao reconhecimento, Olga é mais uma na extensa legião de personagens relegados ao ostracismo, a despeito da sua contribuição às conquistas femininas naquelas primeiras décadas do século XX. Embora muitos acreditem não haver como modificar esse cenário, perpetuando o silêncio na História, esperamos contribuir para que a Dra. Olga Maia Paes de Andrade saia dessa ingrata lista e tenha o merecido reconhecimento de sua contribuição à Medicina e à sociedade paraense.

Quando realizávamos ajustes para a elaboração deste artigo, ao digitarmos o nome de Olga Paes de Andrade, deparamo-nos com a publicação, no Diário Oficial do Município de Belém, de 21 de setembro de 2021, da Portaria nº 1.171/2021 - GABS/SESMA/PMB, de 10 de setembro de 2021, instituindo uma Comissão Técnica para a "[...] elaboração do Projeto do Hospital da Mulher e da Criança - Dra. Olga Paes de Andrade [...]", do qual não mais ouvimos falar. Tornar-se-á realidade?

REFERÊNCIAS

1 Novo Manual da Redação. São Paulo: Folha de São Paulo; 1992. [ Links ]

2 Acidente no Mosqueiro mata a médica e fere três. O Liberal. Belém, 1978 set 3:1. [ Links ]

3 Acidente com o táxi em Mosqueiro matou médica. A Província do Pará. Belém, 1978 set 3:2;caderno 1. [ Links ]

4 Desastre na ponte deixa médica morta. O Liberal. Belém, 1978 set 3:24. [ Links ]

5 Sarinho CT. Faculdades de medicina do Brasil: as dez mais antigas: resumo histórico. Natal: Nordeste Gráfica; 1989. [ Links ]

6 Conselho Regional de Medicina (Pará). Dados cadastrais de Olga Maia Paes de Andrade; 1958. [ Links ]

7 Lucto. Estado do Pará. Belém, 1917 ago 30:5. [ Links ]

8 Necrologia. A Capital. Manaus, 1917 set 16:2. [ Links ]

9 Miranda AG, Abreu Jr JMC. Memória histórica da Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, 1919-1950: da fundação à federalização. Belém: Ed. Autor; 2009. [ Links ]

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1 Atualmente, Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA), fundada em 1919. Segundo Sarinho5, a 8ª escola médica criada no Brasil.

2 Documento manuscrito assinado por ela e endereçado ao diretor do Ginásio Paes de Carvalho, em 1918. No requerimento ao Conselho Regional de Medicina do Estado do Pará, para seu registro, em 14 de outubro de 1958, o ano de nascimento anotado é 19056. A contradição das datas geraria alguma confusão em relação à sua idade no noticiário por ocasião do seu falecimento.

3 Sobre os momentos iniciais da Faculdade de Medicina e sobre a gripe espanhola em Belém, consulte Miranda e Abreu Junior (2009)9 e Abreu Junior (2018)10, respectivamente.

4 São elas: Cândida Augusta de Jesus e Silva, formada em 31 de março de 1929; Eugênia Ferreira de Paiva Hollanda, formada em 11 de outubro de 1929; e Estrella Zagury Benayon, formada em 18 de dezembro de 19299.

5 Conforme legislação à época, além das escolas/faculdades públicas, ditas oficiais, havia as particulares/livres, que precisavam ser equiparadas às primeiras9.

6 Essas disciplinas especializadas, como Otorrinolaringologia, por exemplo, tinham a aprovação apenas por frequência, de maneira que o contato dos alunos com os professores era pequeno, e aqueles que não tinham interesse na especialidade compareciam apenas o suficiente para garantir a aprovação13.

7 Aloysio de Castro (1881-1959), nascido no Rio de Janeiro, foi professor na Faculdade Nacional de Medicina, lecionando Patologia Médica e Clínica Médica, chegando à direção daquela Instituição entre 1915 e 1924. Deixou valiosa obra científica, literária, pedagógica e social18,19.

8 Bertha Maria Julia Lutz (1894-1976), ícone da historiografia feminista no Brasil, com vasta trajetória feminista, científica e política. Fundou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (1922), visando promover a educação e profissionalização das mulheres. Graduou-se em Ciências Naturais (1918) na Sorbonne, e em Direito (1933) no Rio de Janeiro. Consolidou uma longa carreira científica no Museu Nacional, tendo sido, também, deputada federal. Era filha do médico Adolpho Lutz21.

9 De autoria de Koan Ogata (1810-1863), importante médico japonês, destacado por ser caridoso com os pobres, tendo declinado do convite de ser médico do Xogun, o mais alto cargo de um médico da época, para exemplificar sua filosofia de vida sem vaidades. Traduziu também livros médicos holandeses, ajudando a introduzir no Japão a ciência médica ocidental34.

10 Clóvis Olinto de Bastos Meira (1917-2002), paraense, médico formado em 8 de dezembro de 1940 pela então Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará. Catedrático de Medicina Legal da Faculdade de Direito da UFPA, notabilizou-se também como cirurgião. Foi membro da Academia Paraense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Pará. Dentre os vários livros de sua autoria, destacam-se "Médicos de outrora no Pará", "Medicina de outrora no Pará" e "E o tempo passou", todos tendo a Medicina paraense e seus personagens como foco central41.

11 Para o jornal A Província do Pará, a médica morreu enquanto era medicada na Unidade Mista3.

Como citar este artigo / How to cite this article: Abreu Junior JMC, Miranda AG. Mulheres na Medicina no início do século XX: o percurso de Olga Maia Paes de Andrade, a primeira médica formada no estado do Pará, Brasil (1928). Rev Pan Amaz Saude. 2024;15:e202401556. Doi: https://doi.org/10.5123/S2176-6223202401556

Recebido: 04 de Janeiro de 2024; Aceito: 08 de Maio de 2024

Correspondência / Correspondence: Aristoteles Guilliod de Miranda. Trav. 14 de Abril, 1716. Bairro: Guamá. CEP: 66063-475 - Belém, Pará, Brasil - Tel.: +55 (91) 99986-1289. E-mail: guilliod@gmail.com / guilliod@ufpa.br

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

JMCAJR e AGM foram responsáveis pela idealização do trabalho, coleta de dados, redação e revisão do manuscrito. O manuscrito final foi revisado e aprovado por todos os autores.

CONFLITOS DE INTERESSE

Os autores declararam não haver conflitos de interesses que precisam ser informados.

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