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Informe Epidemiológico do Sus
versão impressa ISSN 0104-1673
Inf. Epidemiol. Sus v.10 supl.1 Brasília 2001
http://dx.doi.org/10.5123/S0104-16732001000500010
Participação da comunidade na prevenção do dengue em Catanduva, São Paulo*
Francisco Chiaravalloti NetoI; Ana M. FiorinII; Marisa B. CesarinoII; Angelita A. C. BarbosaII; Margareth R. DiboII; Danaé T. ConversaniIII; Maria S. MoraisIV; Virginia B. ChiaravallotiV; Amena A. FerrazVI; Dirce M. T. ZanettaIV; Marcos BattigagliaII; Ricardo S. RosaVII; Rubens P. Cardoso JuniorII; Sylvia R. A. BonuttiVIII; Maria J. SeverinoVIII
ISuperintendência de Controle de Endemias / Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto-SP
IISuperintendência de Controle de Endemias
IIIInstituto de Saúde
IVFaculdade de Medicina de São José do Rio Preto-SP
VPontifícia Universidade Católica de São Paulo
VICentro Universitário de Rio Preto
VIISecretaria Municipal de Saúde de Catanduva / Faculdade de Medicina de Catanduva
VIIISecretaria Municipal de Saúde de Catanduva
Delineamento do Problema
Estudos mostram a importância do trabalho conjunto da comunidade e dos órgãos governamentais na elaboração de propostas e no desenvolvimento de programas para prevenção do dengue. Nessa perspectiva, o objetivo deste trabalho foi identificar possíveis mudanças de conhecimentos e práticas em relação à prevenção do dengue por meio de desenvolvimento de ações delineadas a partir do diagnóstico da realidade local e da discussão com a comunidade e implementação com sua participação.
Metodologia
Realizou-se o estudo em duas áreas de Catanduva: Área de Trabalho (AT) com 1.524 domicílios e Área Controle (AC) com 1.564 domicílios, localizadas na perifieria e em lados opostos do município. Desenvolveram-se, entre 1999 e 2001: estudo quantitativo inicial, por amostragem de domicílios, para avaliar conhecimentos dos moradores sobre o dengue, prevenção e suas práticas em relação à manutenção de criadouros potenciais do vetor nas casas; estudo qualitativo, na AT, para aprofundar o entendimento sobre conhecimentos e práticas dos moradores; diagnóstico preliminar para apresentação à comunidade, desencadeando discussão que possibilitou a definição e o direcionamento das ações na AT, tendo como base os resultados dos estudos; desenvolvimento das ações propostas na AT, com a participação da comunidade, enquanto que as ações rotineiras continuaram a ser desenvolvidas na AC; realização de estudo quantitativo final, por amostragem de domicílios para avaliação. Nos domicílios sorteados nos estudos quantitativos, aplicou-se o questionário à mulher responsável pelos cuidados da casa, e ao homem, quando da inexistência de mulheres na moradia.
Resultados
Na AT, os tamanhos das amostras foram, respectivamente, nas fases anterior e posterior à intervenção, de 235 e 273 domicílios e, na AC, respectivamente, de 229 e 272 domicílios, totalizando 1.009 domicílios, nos quais 99% das entrevistas foram realizadas com mulheres. A idade, o sexo e a escolaridade dos entrevistados não apresentaram diferenças significantes nas comparações entre áreas e fases da pesquisa. Ações na AT: mudança do trabalho desenvolvido pelos agentes municipais, que passaram a dar orientação aos moradores, com demonstração de medidas preventivas e incentivo ao uso de produtos domésticos para controle larvário; utilização de material educativo específico à realidade do local; atividades relacionadas às prioridades dos moradores e utilização de suas redes locais de interrelacionamento pessoal; atividades com grupos de música e teatro; realização de gincanas e brincadeiras; demonstração dos ciclo do vetor. Na AC, os agentes continuaram a realizar o trabalho de rotina, orientando os moradores, aplicando larvicida temephos e retirando criadouros. Em relação às práticas, foram obtidos nos levantamentos quantitativos inicial e final: aumento do número médio de criadouros potenciais na AC (de 8 para 9) e diminuição na AT (de 11 para 5) (p<0,05); manutenção, na AC, da proporção de casas sem criadouros potenciais em 9% e aumento, na AT, de 9 para 21% (p<0,05). Em relação aos conhecimentos obteve-se o seguinte: na AC, nos levantamentos inicial e final, 30 e 37% dos entrevistados, respectivamente, afirmaram já ter visto as larvas do vetor, enquanto na AT, respectivamente, 25 e 70% afirmaram a mesma coisa (p<0,05); na AT e na AC e em ambos os levantamentos, em torno de 60% dos entrevistados não souberam conceituar dengue hemorrágico.
Conclusões
Os conhecimentos relacionados às medidas de controle de criadouros nas duas áreas nas fases anterior e posterior à intervenção foram bastante satisfatórios, e, com exceção da identificação das larvas do vetor, não apresentaram diferenças significantes na comparação entre as áreas e as fases da pesquisa. O conhecimento da realidade e a discussão com a comunidade da AT sobre as formas de intervenção e a sua participação no desenvolvimento das ações possibilitou nesta área, em relação à AC, o avanço das práticas preventivas, isto é, proporcionou a diminuição significante das quantidades de criadouros potenciais. A ação do poder público em relação aos problemas apontados e à mudança do perfil dos agentes de controle de vetores proporcionaram o aumento da adesão dos moradores da AT às medidas de controle de criadouros, mostrando a importância da articulação da questão do dengue com outras prioridades da população.
Correspondência para:
Francisco Chiaravalloti
Rua Rio Negro, 160.
São José do Rio Preto - SP
CEP: 15.091-390
E-mail: fcneto@famerp.br
* Artigo com parte deste estudo, referente à avaliação qualitativa, foi aceito para publicação nos Cadernos de Saúde Pública, e está programado para o Volume 18 (5) de set-out 2002 (http://www.ensp.fiocruz/esp).
Dengue: Instruções para pessoal de combate ao vetor. Manual de normas técnicas - FUNASA - 2001
Participação comunitária
"Tradicionalmente, o combate ao Aedes aegypti foi desenvolvido seguindo as diretrizes da erradicação vertical, onde a participação comunitária não era considerada como atividade essencial. No entanto, a abordagem ampla e a participação comunitária são fundamentais e imprescindíveis."
"Inicialmente, o Programa de Erradicação do Aedes aegypti no Brasil (PEAa) propõe que o agente de saúde, que há décadas trabalha para a comunidade, passe agora a trabalhar com a comunidade. Essa mudança, se bem conduzida, fará com que a população perceba que o combate ao Aedes aegypti não é só um "programa do Ministério da Saúde" e sim, atividade de interesse comum."
"O agente de saúde deve transmitir as informações de que dispõe e discutir as soluções possíveis com o morador, que pode oferecer alternativas novas e adequadas às suas possibilidades." "É evidente que a participação comunitária no controle do Aedes aegypti envolve a participação do município e o compromisso das autoridades locais, com o atendimento das necessidades apontadas pela comunidade, devendo-se, inclusive, convocar os setores do comércio e indústria, além de associações representativas da comunidade."