Introdução
Em 2017, a Epidemiologia e Serviços de Saúde: revista do Sistema Único de Saúde do Brasil (RESS) completa 25 anos de existência. Sua origem remonta ao início dos anos 1990, quando a necessidade de expandir a aplicação da epidemiologia em serviços para as análises de situação de saúde, com objetivo de subsidiar a formulação de políticas, influenciou fortemente a criação do Centro Nacional de Epidemiologia (Cenepi), instituído como departamento da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).1
Nesse contexto, em 1992, foi lançado o Informe Epidemiológico do SUS (IESUS), editado pelo Cenepi/Funasa. Seu primeiro número foi apresentado por Adib Jatene (1929-2014), então Ministro da Saúde, que apontou o IESUS como mais uma etapa para a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), destacou o ineditismo da divulgação de dados epidemiológicos e ressaltou a importância da integração do Ministério da Saúde com diversos segmentos da sociedade.2
Em 2003, o IESUS passou a denominar-se RESS. A modificação do título visou representar melhor sua principal missão: divulgar a epidemiologia aplicada aos serviços de saúde e o conhecimento epidemiológico para os profissionais que atuam no SUS, em consonância com a competência da gestão federal de promover o desenvolvimento da epidemiologia nos serviços de saúde.3
No mesmo ano, foi criada a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), com o intuito de fortalecer as ações da vigilância em saúde. Na ocasião, o Cenepi foi extinto e a recém-criada Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviço (CGDEP), do Departamento de Gestão da Vigilância em Saúde (DEGEVS), da SVS/MS, tornou-se responsável pela edição da RESS.4
No período de 2003 a 2011, a RESS se desenvolveu no âmbito da SVS, com relativa autonomia e estabilidade institucional. O período seguinte foi caracterizado pela profissionalização do processo editorial e ampliação de sua influência na área da Saúde Coletiva.
A partir de 2011, com a ampliação da equipe editorial e a implementação de seu plano de fortalecimento - que previa a execução de diversas ações voltadas ao aprimoramento da revista e à adequação a padrões de publicação para atendimento aos critérios de indexação de bases bibliográficas de alcance internacional -, a RESS posicionou-se entre os principais periódicos brasileiros na área da Saúde Coletiva, com ênfase na epidemiologia.5
Em um curto período de tempo, a RESS logrou as indexações nas coleções SciELO Brasil (2014) e SciELO Saúde Pública (2015),6 assim como nas bases bibliográficas Medline (2016),7 Scopus, Embase (ambas da empresa Elsevier) e Emerging Sources Citation Index (um novo indexador da Web of Science, da empresa Clarivate Analytics).6 Atualmente, a RESS mostra-se um veículo de comunicação e divulgação científica alinhado com os padrões de qualidade internacionais.
Em seus 25 anos de existência, a RESS acompanhou a evolução nos cenários da epidemiologia e da vigilância em saúde, que avançaram como áreas de atuação de políticas públicas e como campos de conhecimento científico, com relevantes impactos sociais. Em sua trajetória, a revista tem se destacado como importante instrumento para apoiar a gestão federal da vigilância em saúde, em sua missão de tornar público o conhecimento epidemiológico.5 É o único periódico científico do Ministério da Saúde e a única revista científica brasileira que privilegia a epidemiologia em serviços e, mais especificamente, nos serviços do SUS.8,9
No ano do jubileu de prata da RESS, é tempo de empreender uma revisão de sua exitosa história, que pode alicerçar as ações futuras, tendo como compromissos o contínuo aprimoramento da qualidade do periódico e o aumento de sua visibilidade. Este estudo tem dois objetivos: (i) descrever os assuntos abordados e a abrangência geográfica das instituições de vínculo dos autores dos artigos publicados no IESUS (1992-2002) e na RESS (2003-2016); e (ii) mapear as políticas e estratégias editoriais da RESS nas seguintes áreas de foco: educação, informação, comunicação, corresponsabilidade e antecipação.10
Métodos
O estudo foi realizado em duas etapas, conforme apresentado na Figura 1: (i) análise bibliométrica; e (ii) mapeamento das políticas e estratégias editoriais.
Na primeira etapa, a análise bibliométrica foi realizada a partir do conjunto de dados composto por elementos bibliográficos coletados manualmente dos artigos publicados nas versões impressa (1992-1996) e on-line (1997-2002) do IESUS e on-line (2003-2016) da RESS.
Foram criadas planilhas nos softwares Excel e Statistical Package for Social Sciences (SPSS) para as análises descritivas das distribuições dos principais assuntos dos artigos publicados no IESUS e na RESS bem como da abrangência geográfica dos autores - por Unidade da Federação (UF), nos casos de autores vinculados a instituições brasileiras; e outros países, nos casos de autores vinculados a instituições estrangeiras. Ainda nessa etapa, foram excluídos os editoriais, as erratas, as traduções e as republicações. Os assuntos dos artigos publicados no IESUS foram classificados por uma das autoras (JGR), com base em seus títulos. Por seu turno, os artigos publicados na RESS foram classificados a partir das informações constantes na base bibliográfica Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs). Optou-se por agregar os termos com o mesmo tópico de assunto - por exemplo, “Mortalidade” e “Mortalidade infantil” - e excluir os termos genéricos, como “Saúde Pública”, e aqueles relacionados ao desenho do estudo, como “Epidemiologia descritiva” e “Estudo transversal”.
Para visualização das palavras-chave dos artigos, foram criados dois infográficos, a partir de duas coleções no gerenciador de referências Zotero (https://www.zotero.org/), exportadas em formato Research Information Systems (RIS) para o software livre VOSviewer Visualizing Scientific Landscapes (http://www.vosviewer.com), do Centre for Science and Technology Studies (CWST) da Universidade de Leiden, na Holanda. Como critério de inclusão para compor o infográfico de palavras-chave, utilizou-se a existência de no mínimo dois registros bibliográficos.
Na segunda etapa, o mapeamento das políticas e estratégias editoriais foi realizado a partir do conteúdo disponível no site da RESS (http://ress.iec.gov.br/ress), dos dados disponíveis na página do SciELO Métricas (https://analytics.scielo.org/) e da fanpage da RESS na rede social Facebook (https://www.facebook.com/ress.svs). Em seguida, foram categorizadas as políticas e estratégias nas áreas de foco selecionadas: educação, informação, comunicação, corresponsabilidade e antecipação.10
Resultados
O corpus da pesquisa foi composto por 1.094 documentos identificados no período estudado (1992-2016), após exclusão dos editoriais, erratas, traduções e republicações (n=137). No período de 1992 a 2002, foram publicados no IESUS 49 números, contendo 387 documentos. No período de 2003 a 2016, foram publicados na RESS 57 números, perfazendo um total de 707 documentos. O ano de 1992 apresentou maior número de documentos publicados (n=63) em relação aos anos seguintes do IESUS. Na RESS, de 2003 a 2010, foram publicados de 21 a 40 documentos por ano. A partir de 2011, evidenciou-se crescimento expressivo (Figura 2). A média de documentos por ano no IESUS foi de 35,2, e a mediana, de 30 documentos por ano. Na RESS, a média foi de 50,5 documentos por ano, e a mediana, de 40,5 documentos por ano.
Os principais assuntos abordados estão descritos na Figura 3. Destacam-se as doenças transmissíveis, a mortalidade e os sistemas de informação. Os assuntos com aumentos expressivos, ao serem comparados os períodos do IESUS (1992-2002) e da RESS (2003-2016), foram vigilância epidemiológica, doenças não transmissíveis, Sistema Único de Saúde (SUS), imunizações, acidentes de trânsito, violências e morbidade. Os assuntos com maiores reduções, ao se comparar os mesmos períodos, foram doenças transmissíveis, hospitalização e saúde ambiental. Os assuntos de artigos publicados na RESS que não haviam sido contemplados no IESUS foram: serviços de saúde, atenção básica, avaliação em saúde, fatores de risco e saúde bucal. A transição epidemiológica foi um assunto principal de artigos publicados no IESUS que não esteve contemplado como descritor na RESS.
Na Figura 4a, estão representadas as relações de palavras-chave dos artigos publicados no IESUS, e na Figura 4b, as referentes aos artigos publicados na RESS. É evidente o maior volume e a maior variedade de termos na RESS, em comparação ao IESUS. Na produção do IESUS, destacaram-se seis conjuntos de palavras-chave: vigilância epidemiológica, sistemas de informação, mortalidade, indicadores de saúde, vigilância em saúde e epidemiologia. Interligados na região central, encontram-se envelhecimento, fatores de risco, acidentes, morbidade, causas externas, potenciais de vida perdidos e mortalidade infantil. Na região periférica, mostram-se as palavras-chave tratamento, tuberculose, aids, infecção, causas múltiplas de morte, avaliação de serviços, entre outras. Na RESS, mostram-se sete conjuntos circundados com termos relacionados. Destacam-se epidemiologia descritiva, vigilância epidemiológica, epidemiologia, mortalidade, estudos transversais, atenção primária à saúde e sistemas de informação.
A Tabela 1 mostra a distribuição da abrangência geográfica dos autores do IESUS e da RESS, predominantemente vinculados a instituições brasileiras. Entre os autores da produção científica do IESUS, observa-se marcada concentração na região Sudeste (49%), principalmente nos estados do Rio de Janeiro (20%) e São Paulo (22,4%). Também chama a atenção o fato de que, no IESUS, foram encontrados poucos artigos produzidos por autores vinculados a instituições da região Norte do Brasil (1,2%). Por sua vez, a produção científica da RESS apresenta uma distribuição geográfica mais ampla. Embora a região Sudeste ainda represente a maior proporção de autores (38,3%), é expressiva a contribuição dos autores das regiões Centro-Oeste (23,4%) e Nordeste (20,2%). Ainda, evidencia-se a menor representação de autores da região Norte (3%).
Região/Unidade da Federação | IESUS | RESS | |||
---|---|---|---|---|---|
n 709 | (%) 100,0 | n 2.636 | (%) 100,0 | ||
Centro-Oeste | 134 | 18,9 | 618 | 23,4 | |
Distrito Federal | 93 | 13,1 | 453 | 17,2 | |
Goiás | 21 | 3,0 | 78 | 3,0 | |
Mato Grosso | 7 | 1,0 | 64 | 2,4 | |
Mato Grosso do Sul | 13 | 1,8 | 23 | 0,8 | |
Nordeste | 151 | 21,4 | 527 | 20,2 | |
Alagoas | - | - | 10 | 0,4 | |
Bahia | 87 | 12,3 | 107 | 4,1 | |
Ceará | 9 | 1,3 | 41 | 1,6 | |
Maranhão | - | - | 20 | 0,8 | |
Paraíba | - | - | 28 | 1,1 | |
Pernambuco | 48 | 6,8 | 195 | 7,4 | |
Piauí | 5 | 0,7 | 75 | 2,8 | |
Rio Grande do Norte | - | - | 39 | 1,5 | |
Sergipe | 2 | 0,3 | 12 | 0,5 | |
Norte | 9 | 1,2 | 78 | 3,0 | |
Acre | - | - | 2 | 0,1 | |
Amapá | - | - | - | - | |
Amazonas | 1 | 0,1 | 35 | 1,3 | |
Pará | 7 | 1,0 | 22 | 0,8 | |
Rondônia | 1 | 0,1 | 7 | 0,3 | |
Roraima | - | - | 2 | 0,1 | |
Tocantins | - | - | 10 | 0,4 | |
Sudeste | 348 | 49,0 | 1.008 | 38,3 | |
Espírito Santo | 5 | 0,7 | 37 | 1,4 | |
Minas Gerais | 42 | 5,9 | 302 | 11,5 | |
Rio de Janeiro | 142 | 20,0 | 302 | 11,5 | |
São Paulo | 159 | 22,4 | 367 | 13,9 | |
Sul | 59 | 8,4 | 388 | 14,7 | |
Paraná | 29 | 4,1 | 96 | 3,6 | |
Rio Grande do Sul | 14 | 2,0 | 239 | 9,1 | |
Santa Catarina | 16 | 2,3 | 53 | 2,0 | |
Brasil | 701 | 98,9 | 2.619 | 99,6 | |
Outros países | 8 | 1,1 | 17 | 0,4 |
Fonte de dados: IESUS e RESS.
Na Figura 5, apresentam-se as políticas e estratégias editoriais da RESS, categorizadas por áreas de foco, a saber: educação, informação, comunicação, corresponsabilidade e antecipação.
A área de foco educação compreende o conjunto de ações que visam criar, promover e estimular oportunidades de ensino e de aprendizagem da comunicação e divulgação científicas, da qualidade metodológica dos relatos de pesquisa, da aplicabilidade da epidemiologia e da vigilância em saúde. Nesta área, destacam-se as séries temáticas de artigos publicadas na RESS: comunicação científica,11-17 aplicações da epidemiologia,18-22 revisão sistemática23-29 e avaliação econômica.30-35 Outras iniciativas nesta área incluem traduções de recomendações internacionais com objetivo de divulgar em língua portuguesa documentos de referência reconhecidos mundialmente, a exemplo das recomendações do Comitê Internacional de Editores de Periódicos Médicos (International Committee of Medical Journal Editors - ICMJE),37 dos guias de redação científica37-39 e da Declaração de Montreal sobre integridade em pesquisa e colaborações em investigações que cruzam fronteiras.40 Iniciativas voltadas à capacitação de autores e revisores incluem a realização de cursos sobre redação científica e integridade em pesquisa, ministrados por membros do Corpo Editorial da RESS junto a programas de pós-graduação da área de Saúde Coletiva, em eventos de alcance nacional e regional, bem como na própria SVS/MS. Além disso, estão disponíveis no site da RESS documentos para a orientação de revisores, a saber, a versão em português das diretrizes éticas para revisores do Comitê de Ética na Publicação (Committee on Publication Ethics - Cope) e o guia para a revisão de manuscritos, elaborado pela equipe editorial da revista.
A área de foco informação compreende o conjunto de ações com a finalidade de garantir o acesso, o uso, a produção e a disseminação da informação com qualidade. Nesta área, a RESS tem adotado procedimentos para aprimoramento da qualidade do conteúdo publicado que envolvem, além da tradução e disponibilização de recomendações internacionais e guias de redação, o incentivo a seu uso. Um exemplo é o uso de checklists e a realização da revisão técnica dos manuscritos como uma etapa prévia ao processo de revisão por pares externa (revisão ad hoc), visando garantir o relato completo dos estudos e a apresentação de informações essenciais para sua interpretação e aplicação de seus resultados. A recomendação para o uso dos guias de redação está indicada nas instruções aos autores da RESS. Além disso, o tema está contemplado em editoriais41-44 e em um artigo da série Aplicações da Epidemiologia, que aborda os guias de redação científica como ferramentas para melhorar a qualidade e a transparência dos relatos de pesquisa em saúde.45
O uso da metodologia Lilacs é pilar fundamental para a qualidade dos dados e a organização da informação. A utilização do vocabulário controlado das Ciências da Saúde para a indexação de artigos corrobora a organização do conhecimento epidemiológico nas especificidades terminológicas da vigilância em saúde e do campo científico da saúde.
Quanto à garantia do acesso, cumpre salientar que a RESS é uma revista de acesso aberto e que não cobra taxas para submissão ou publicação de manuscritos. A revista possui políticas de autoarquivamento e disseminação dos artigos. Ainda com a finalidade de aprimorar a representação do conhecimento, é realizada a avaliação periódica da capacidade de recuperação da informação e da qualidade dos dados em bases bibliográficas e portais indexadores. Até agosto de 2017, foram contabilizados mais de 600 mil acessos aos artigos da RESS disponíveis no Portal SciELO. Nesta área, também se sobressaem a incorporação dos resumos em espanhol (a partir de 2014), além de português e inglês, e a publicação bilíngue (português e inglês) de artigos (a partir de 2015).
A área de foco comunicação compreende o conjunto de ações que busca comunicar e disseminar o conteúdo publicado de forma clara, transparente e acessível. Acredita-se que diferentes formatos de linguagem poderão alcançar variados públicos-alvo e ampliar o alcance para a sociedade. A RESS é publicada em dois formatos: on-line e impresso. No formato impresso, a revista é distribuída gratuitamente para assinantes institucionais e programas de pós-graduação na área da Saúde Coletiva. Na versão on-line, a RESS possui, a par do site próprio (http://ress.iec.gov.br), uma página no Portal SciELO (www.scielo.br/ress), ambos disponíveis nas versões em português, inglês e espanhol.
Ademais, a RESS possui uma newsletter com mais de 6 mil endereços de e-mail e, mais recentemente, tem explorado o uso das mídias sociais para divulgação. A fanpage da RESS do Facebook (https://www.facebook.com/ress.svs/) contava com mais de 5 mil seguidores, até agosto de 2017. Destes, 80% eram mulheres e 33% tinham idades de 25 a 34 anos. Os principais países de alcance eram Brasil, Portugal, Peru, Angola, Estados Unidos, Argentina, Colômbia, Canadá, Paraguai, Chile, Venezuela e México. As principais cidades brasileiras alcançadas eram Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Salvador, Goiânia, Curitiba, Pelotas, Macapá e Niterói. Em 2017, foi lançado o blog da RESS (https://revistaress.blogspot.com.br/), visando aproximar autores, leitores e demais envolvidos em processos editoriais no compartilhamento de temáticas de interesse para a Saúde Coletiva e para a comunicação científica.
A comunicação objetiva também reconhecer o precioso trabalho dos revisores. O agradecimento, com a divulgação dos nomes dos revisores que colaboraram no ano anterior, é publicado na revista, no primeiro número de cada ano.
A área de foco corresponsabilidade compreende o conjunto de ações para assegurar as boas práticas de todos os agentes envolvidos nos processos de pesquisa, editoração, publicação e disseminação dos resultados. Nesta área, destacam-se como ações da RESS as iniciativas relacionadas às recomendações do ICMJE36 e aos princípios éticos do Código de conduta do Cope, com destaque para a publicação das contribuições dos autores e a elaboração da declaração sobre ética na publicação da RESS, que elenca as responsabilidades dos autores, revisores e editores.
A área de foco antecipação compreende o conjunto de ações que identificam, agregam e articulam as informações para apoiar a tomada de decisão, o planejamento e a organização dos processos e dos fluxos de trabalho, bem como aperfeiçoar os produtos e evidenciar os impactos gerados pela RESS. Nesta área, estão contempladas as reuniões do Núcleo Editorial, da equipe de gestão e do Comitê Editorial. A RESS possui uma rede de colaboração bastante ativa. A revista tem representação no Fórum de Editores dos Periódicos de Saúde Coletiva, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, e no Comitê Consultivo da Coleção SciELO Saúde Pública (2016-2018). Nesta área, também está contemplado o monitoramento de indicadores bibliométricos e outras métricas. Por fim, cumpre informar que a RESS realiza diversas iniciativas voltadas ao aprimoramento da equipe editorial, com destaque para a participação em eventos sobre editoria científica, integridade em pesquisa e epidemiologia.
Discussão
Em seus 25 anos de existência, a revista teve dois períodos: o do IESUS (1992-2002) e o da RESS (2003-2016). O período do IESUS foi marcado pelos temas doenças transmissíveis, mortalidade e sistemas de informação. No período da RESS, observou-se ampliação dos temas abordados, com destaque para as doenças não transmissíveis, temas relacionados aos serviços de saúde e causas externas. Comparando-se os dois períodos, observa-se crescimento do número de documentos publicados, assim como da abrangência geográfica dos autores e do alcance da publicação. O mapeamento das políticas e estratégias editoriais nas áreas de foco educação, informação, comunicação, corresponsabilidade e antecipação evidenciou um grande rol de iniciativas alinhadas aos princípios da ética na publicação, que possivelmente têm contribuído para o desenvolvimento da revista.
O IESUS tinha como objetivo “organizar e divulgar, de forma mais ampla, algumas informações epidemiológicas que vinham sendo acumuladas de forma compartimentalizada em vários órgãos do Ministério da Saúde”.46 Em seus primeiros números, publicava tabelas contendo dados consolidados periodicamente sobre a distribuição dos casos de doenças de notificação compulsória e internações hospitalares financiadas pelo SUS, nas UFs e regiões brasileiras. Uma das primeiras estratégias de organização do IESUS foi a inclusão das normas aos autores no terceiro número de 1992. Além das tabelas de dados consolidados dos sistemas de informação em saúde, eram publicados artigos sobre temas relacionados à vigilância epidemiológica. Em 1998, o IESUS assumiu um formato mais próximo ao da revista, a partir da criação da posição do editor geral e da instituição do Comitê Editorial. As tabelas passaram a ser publicadas no Boletim Epidemiológico.3 Esse histórico relaciona-se ao perfil dos artigos publicados no IESUS, destacando-se os assuntos doenças transmissíveis,47 mortalidade e sistemas de informação.48
Em 2003, com a transformação para RESS, além da mudança no título e no formato gráfico, a revista incorporou novos conteúdos, aprofundando o caráter científico e a linha editorial do IESUS. O periódico passou a privilegiar a epidemiologia voltada aos serviços de saúde, o que lhe conferiu um escopo único. O incremento e a diversidade de temas publicados desde então refletem a evolução da revista, que acompanhou os avanços da vigilância em saúde, com a ampliação de seu escopo e a incorporação de ações voltadas às doenças e agravos não transmissíveis e à promoção da saúde.49
Em 2011, iniciou-se uma nova fase de fortalecimento da revista. Foi criada a posição da editora científica e ampliado o corpo editorial. Em 2014, a posição do editor geral foi desvinculada da figura do secretário da SVS/MS, o que reafirmou a independência do processo editorial. Nesse momento, as posições de editora científica e editora-geral foram unificadas. Apesar das mudanças, a revista manteve seu compromisso com a qualidade da publicação científica, sem perder de vista o foco nos serviços de saúde.6,8
A orientação da revista para a produção científica da epidemiologia nos serviços faz com que ela seja um espaço privilegiado para a integração entre a academia e os serviços de saúde do SUS. Esta vocação guiou as iniciativas realizadas na área de foco educação, voltadas principalmente aos autores. Entre essas iniciativas, destacam-se a publicação de artigos sobre redação científica e métodos epidemiológicos, a tradução de guias de redação internacionais e a realização de cursos de redação científica.
O fato de a RESS ser uma revista científica editada pela SVS/MS vincula sua produção ao acesso aberto e à ausência de cobrança de quaisquer tipos de taxas, para submissão, publicação ou tradução. Estes são elementos de destaque na área de foco informação. Do mesmo modo, é gratuita a distribuição dos exemplares impressos da revista.
Não obstante a continuação da publicação impressa, com o intuito de divulgar a RESS, principalmente nos serviços de saúde e em áreas onde o acesso à internet é restrito, a RESS tem adotado diversas iniciativas para divulgação da versão on-line. Estas iniciativas enquadram-se na área de foco informação.
Na área de foco comunicação, incluem-se o site próprio, a página da RESS no Facebook, o blog da RESS e o perfil no Twitter. Embora estas iniciativas sejam recentes e ainda estejam em desenvolvimento, foi possível mensurar alguns resultados e verificar um importante alcance de público, não somente no Brasil, como também em outros países. Além disso, merece destaque o Prêmio RESS Evidencia, com cinco edições realizadas desde 2012. A premiação tem reconhecido publicamente o mérito dos melhores artigos publicados a cada ano na RESS.
A RESS tem uma atuação intensa nas ações que compõem a área de foco corresponsabilidade. Além da adesão às recomendações do ICMJE e às diretrizes éticas do Cope, a RESS promove a divulgação de seu conteúdo, por meio da tradução para o português de documentos relevantes e da publicação das versões neste idioma. A equipe editorial da RESS tem reconhecido trabalho na área de integridade na pesquisa e na publicação científica,41 com participação em eventos nacionais e internacionais,50,51 bem como na abordagem do tema em cursos de redação científica.
Vale salientar que as iniciativas da RESS voltadas à capacitação de autores e à promoção da integridade na pesquisa e na publicação científica estão alinhadas com a campanha REWARD (REduce research Waste And Reward Diligence), lançada pela revista britânica The Lancet (http://www.thelancet.com/campaigns/efficiency). Em 2014, essa revista publicou uma série especial que mostrava como os dividendos do investimento em pesquisa poderiam ser aumentados a partir da priorização da relevância de pesquisa e de cuidados no desenho, na realização e no relato dos estudos. Como resultado, foram postuladas 17 recomendações dirigidas a cinco principais interessados: financiadores, reguladores, periódicos, instituições acadêmicas e pesquisadores. Para avaliar a resposta das revistas, Moher et al.52 investigaram o atendimento a dez questões relacionadas às iniciativas das revistas para a redução do desperdício em pesquisa. Levantamento que aplicou as mesmas dez questões a todas as 50 revistas brasileiras indexadas no Medline, em 2017, verificou que a RESS, juntamente com mais uma revista, obteve a maior pontuação, com o atendimento a nove dos dez critérios.53 Este achado reforçou o alinhamento da RESS com iniciativas elencadas na área de foco corresponsabilidade.
Outra área de foco com relevante atuação da equipe editorial da RESS é a antecipação. As ações da RESS na área incluem as atividades de planejamento, a mobilização da rede de colaboração, o monitoramento dos indicadores e as estratégias para capacitação da equipe editorial. Estas ações foram fundamentais para o aprimoramento da revista e a adequação a padrões de publicação para atendimento aos critérios de indexação de bases bibliográficas de maior alcance.
A indexação em bases bibliográficas internacionais rendeu maior reconhecimento interno à RESS, inclusive com a ascensão de categoria na avaliação Qualis Periódicos, realizada pela Coordenação de Aprimoramento de Pessoal de Nível Superior (Capes).54 A maior visibilidade da revista resultou em crescimento do número de artigos submetidos, assim como no incremento das submissões de origem internacional (dados não apresentados). Também foi observado crescimento do número de acessos ao conteúdo da RESS no portal SciELO. Outro elemento que aponta para o aumento da visibilidade da revista é sua ascensão no ranking do Google Acadêmico. Nas edições de 2014 a 2017 deste ranking, a RESS ocupou, em sequência, as posições 54, 45, 33 e 18. Esse ranking utiliza o indicador de citações índice h-5 para classificar todos os periódicos científicos publicados em língua portuguesa no mundo.
O periódico científico é o principal veículo de comunicação da produção científica e tem como característica fundamental a seleção do conteúdo publicado orientada pelo processo de revisão por pares. A RESS adota o processo de revisão duplo-cego, no qual os revisores não conhecem a identidade dos autores e vice-versa. Os revisores ad hoc são imprescindíveis para a garantia da qualidade dos artigos publicados na RESS. Novas iniciativas voltadas à valorização e capacitação de revisores estão sendo planejadas, como recomendação do Comitê Editorial da RESS.
O olhar para os 25 anos de história da RESS permitiu resgatar os elementos que viabilizaram sua condição atual, ao se encontrar no mesmo patamar dos mais renomados periódicos científicos brasileiros da área da Saúde Coletiva. Essa posição foi alcançada mediante o trabalho de sua equipe editorial, comprometida com o desenvolvimento da revista, atenta ao cenário da publicação científica nacional e internacional e alinhada aos mais elevados padrões éticos e de integridade. O fato de a revista ser editada pela SVS/MS foi imprescindível para garantir as condições para seu desenvolvimento e crescimento. O Comitê Editorial da RESS, composto por renomados pesquisadores vinculados a instituições brasileiras e estrangeiras, também teve colaboração fundamental no desenvolvimento da revista.
Ao vislumbrar o futuro, espera-se que a maior visibilidade da revista e o reconhecimento de sua qualidade científica possam contribuir para que, cada vez mais, a RESS publique conteúdos relevantes para a epidemiologia nos serviços de saúde e que contribuam para o aprimoramento das atividades do SUS do Brasil. As bases para o contínuo aprimoramento da RESS estão consolidadas, e caberá à equipe editorial e à gestão da SVS/MS reconhecerem sua relevância e manterem o compromisso com a difusão do conhecimento epidemiológico aplicável às ações de vigilância em saúde.