Serviços Personalizados
Journal
Artigo
Indicadores
- Citado por SciELO
Links relacionados
- Similares em SciELO
Compartilhar
Epidemiologia e Serviços de Saúde
versão impressa ISSN 1679-4974versão On-line ISSN 2237-9622
Epidemiol. Serv. Saúde v.21 n.2 Brasília jun. 2012
http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742012000200015
ARTIGO ORIGINAL
Índice de massa corporal obtido por medidas autorreferidas para a classificação do estado antropométrico de adultos: estudo de validação com residentes no município de Salvador, estado da Bahia, Brasil*
Validity of the body mass index calculated from self-reported values for the classification of anthropometric status in adults: validation study with residents in the municipality of Salvador, state of Bahia, Brazil
Lucivalda Pereira Magalhães de OliveiraI; Valterlinda Alves de Oliveira QueirozI; Maria da Conceição Monteiro da SilvaI; Jacqueline Costa Dias PitangueiraII; Priscila Ribas de Farias CostaII; Franklin DemétrioII; Maria Carolina Guerreiro dos AnjosI; Ana Marlúcia Oliveira AssisI
IEscola de Nutrição, Universidade Federal da Bahia, Salvador-BA, Brasil
IICentro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Santo Antônio de Jesus-BA, Brasil
RESUMO
OBJETIVO: avaliar a validade do índice de massa corporal (IMC) calculado a partir de medidas autorreferidas e aferidas, para uso na classificação antropométrica.
MÉTODOS: estudo de validação realizado com 65 adultos residentes em Salvador, que responderam a entrevista telefônica e tiveram peso e estatura aferidos. Utilizou-se teste t-pareado e coeficiente de correlação intraclasse (CCIC); estimou-se sensibilidade, especificidade e valor preditivo positivo (VPP) do IMC obtido a partir do peso e estatura autorreferidos e aferidos.
RESULTADOS: mulheres superestimaram sua estatura em 3,15cm (p<0,001), resultando em subestimação do IMC de 1,39kg/m2 (p<0,001), sem comprometimento da classificação antropométrica (p>0,05). Foram encontrados CCIC maiores que 60,0% para peso, estatura e IMC, segundo idade, sexo e escolaridade, exceto para estatura entre homens; e boa acurácia para medidas autorreferidas. As medidas gerais de sensibilidade, especificidade e VPP foram 92,9%, 78,4% e 76,5%, respectivamente.
CONCLUSÃO: o IMC autorreferido mostou-se válido para ser utilizado na classificação antropométrica populacional.
Palavras-chave: Peso Corporal; Estatura; Índice de Massa Corporal; Sensibilidade e Especificidade; Estudos de Validação.
ABSTRACT
OBJECTIVE: to evaluate the validity of body mass index (EMI) calculated from self-reported weight and height and measured for use in anthropometric classification.
METHODS: validation study involving 65 adults from Salvador city, Brazil, using a telephone interview with weight and height measured in person. Paired t-test and interclass correlation coefficient (ICC) were calculated; sensitivity, specificity and positive predictive value (PPV) of self-reported EMI were estimated and verified.
RESULTS: women overestimated height by 3.15cm (p<0.001) with EMI underestimation of 1.39kg/m2 (p<0.001), but without impairment on anthropometric classification (p>0.05). The study showed ICC greater than 60.0% for weight, height and EMI, considering age, gender and schooling, except for male height; and accuracy for self-reported measures. The general measures of sensitivity, specificity and PPV were 92.9%, 78.4% and 76.5%, respectively.
CONCLUSION: self-reported EMI showed to have been valid to be used on population anthropometric classification and monitoring.
Key words: Eody Weight; Eody Height; Eody Mass Index; Sensitivity and Specificity; Validation Studies.
Introdução
Vários métodos são usados para avaliar a composição corporal do indivíduo. A maioria deles, entretanto, não é viável para uso em grandes grupos populacionais, principalmente em razão do elevado custo e de dificuldades de operacionalização na logística de campo.1,2
No que se refere aos métodos antropométricos, as dobras cutâneas e a bioimpedância (BIA) são frequentemente usadas na avaliação da composição corporal, enquanto a relação cintura/quadril (RCQ) e a circunferência da cintura (CC) são utilizadas para avaliar a concentração abdominal de gordura corporal e sua relação com doenças crônicas não transmissíveis.2
O índice de massa corporal (IMC), apesar de não específico para a avaliação da composição corporal,1 tem sido usado para avaliar o excesso de peso populacional e tem ganhado relevância nos estudos epidemiológicos, tanto pela simplicidade e fácil obtenção das medidas que integram sua composição como por possibilitar a classificação do estado antropométrico e monitoramento do excesso de peso populacional.3,4
Resultados de estudos realizados com grupos populacionais têm demonstrado alta correlação do IMC com o peso5,6 e com a quantidade de gordura corporal determinada por medidas diretas, como circunferência da cintura - CC - e relação cintura/quadril - RCQ -,7,8 dobras cutâneas9 e bioimpedância - BIA.10
Em países desenvolvidos, é frequente a utilização de informações autorreferidas de peso e estatura para o cálculo do IMC, tanto mediante questionários auto-preenchidos como em entrevista por telefone.11,12 No Brasil recente, o Ministério da Saúde vem utilizando informações autorreferidas de peso e estatura para monitorar o perfil nutricional e epidemiológico da população adulta integrada ao 'Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico - Vigitel.13-15
São poucos os estudos nacionais realizados com adultos de ambos os sexos e que tenham analisado a validade do IMC obtido a partir de medidas de peso e estatura autorreferidas, para a classificação do estado antropométrico, embora os resultados de pesquisas conduzidas no Brasil não indiquem diferença entre medidas autorreferidas e aferidas, para peso e estatura.3,6 Tem-se observado, também, alta sensibilidade e especificidade do IMC obtido de medidas autorreferidas, quando comparado ao IMC obtido de medidas aferidas.3,4 Observou-se, ainda, que as informações de peso e estatura autorreferidas e aferidas apresentaram boa concordância e confiabilidade quando essas medidas foram validadas levando em consideração idade, escolaridade, renda e IMC da população investigada.3,4,6
O presente artigo analisa, por meio da comparabilidade com o IMC decorrente do peso e estatura aferidos, a validade do IMC obtido de medidas de peso e estatura autorreferidas para a classificação do estado antropométrico de adultos.
Métodos
Trata-se de estudo de validação originado de uma subamostra de estudo transversal intitulado 'Implantação, avaliação e resultados de um sistema municipal de monitoramento de fatores de risco nutricionais para doenças crônicas não transmissíveis (Simtel),' realizado a partir de entrevistas telefônicas com indivíduos maiores de 18 anos de idade em cinco capitais das macrorregiões brasileiras.14 Em Salvador, capital do Estado da Bahia, o projeto foi coordenado por docentes da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia.
O processo de construção da amostra envolveu duas etapas: a primeira correspondeu ao sorteio das linhas telefônicas; e a segunda, ao sorteio de um indivíduo maior de 18 anos residente em cada domicílio selecionado. Para garantir a obtenção da amostra probabilística, utilizou-se cadastro eletrônico fornecido por uma empresa de telecomunicações, única responsável pela telefonia fixa da cidade de Salvador-BA no período do estudo. Maiores informações sobre a metodologia adotada são apresentadas por Monteiro e colaboradores.14
Na primeira etapa, as entrevistas foram gravadas, para controle de qualidade e correção de possíveis erros de digitação ou de interpretação. Em caso de ausência do sorteado no domicílio, foi agendada nova entrevista em dia e horário compatível, por indicação de um familiar.
Para compor o presente estudo, optou-se pela seleção das duas últimas listas - de 20 listas, inicialmente construídas para o estudo Simtel -, para manter um intervalo de tempo menor entre as entrevistas. Foram contatados 220 indivíduos, aleatoriamente selecionados a partir das duas últimas listas, para participar de avaliação nutricional pelo Consultório Dietético da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia (UFBa). Desses 220, 65 adultos compareceram à consulta e realizaram as medidas de peso e estatura, constituindo-se uma amostra por adesão.
Os indivíduos que responderam ao convite para participar da segunda etapa - presencial - deste estudo confirmaram as informações demográficas (sexo e idade) e sociais (escolaridade) fornecidas por telefone, no período de maio de 2005 a janeiro de 2006. Essas informações foram registradas em questionários estruturados.
Na consulta presencial, realizada no período de abril a junho de 2006, as medidas antropométricas de peso e estatura foram aferidas em duplicata, por nutricionistas treinados com técnicas padronizadas segundo a proposta de Lohman e colaboradores.16 O peso foi aferido em balança eletrônica da marca Filizola, modelo E-150/3P, com capacidade para 150kg e precisão de 100g. Para a medição da estatura, utilizou-se estadiômetro marca Leicester Height Measure, com a leitura realizada no milímetro mais próximo. Em caso de diferenças não aceitáveis (diferenças de valor maiores de 100g para peso; e de 0,5cm, para estatura), uma terceira medida foi aferida pelo supervisor.16
Utilizou-se o teste t-pareado para detectar possíveis diferenças das medidas autorreferidas e aferidas. Adotou-se o coeficiente de correlação intraclasse (CCIC), que estima a proporção de variabilidade total observada, atribuível entre os indivíduos. Foram considerados os critérios de Landis & Kock17 para interpretação da concordância, a saber: quase perfeita, 0,81 a 1,00; substancial, 0,61 a 0,80; moderada, 0,41 a 0,60; regular, 0,21 a 0,40; discreta, 0 a 0,20; e pobre, <0. A discrepância nas informações de peso e estatura foi calculada pela diferença entre as informações autorreferidas e as aferidas. Para efeito de interpretação, as diferenças positivas e negativas representam, respectivamente, superestimação e subestimação de valores verdadeiros.
Para a classificação do estado antropométrico de adultos, foram adotados os pontos de corte da Organização Mundial da Saúde:18 IMC <18,5kg/m2 (baixo peso); IMC >18,5 até 24,9kg/m2 (eutrofia); IMC ≥25 até 29,9kg/m2 (sobrepeso); e IMC >30,0kg/m2 (obesidade). O individuo foi considerado com excesso de peso quando apresentava sobrepeso ou obesidade. A partir das medidas autorreferidas de peso e estatura, o índice de massa corporal obtido teve sua validade analisada com base nos valores de sensibilidade, especificidade e valor preditivo positivo (VPP), tomando-se como parâmetro as medidas aferidas, para que se chegasse à classificação correta do IMC. As análises estatísticas foram realizadas pelo software estatístico SPSS versão 13.0; adotou-se nível de significância de 0,05.
O estudo original contou com a aprovação dos Comitês de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública/Universidade de São Paulo e da Maternidade Climério de Oliveira/Universidade Federal da Bahia. Para a realização deste subprojeto, foi feito um adendo à nova proposta, aprovado pelo Comitê de Ética da Maternidade Climério de Oliveira/UFBa (Parecer/Resolução Aditiva no 37/2005). Na entrevista presencial, cada participante assinou um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Aqueles que apresentaram alterações clínico-nutricionais foram encaminhados para acompanhamento pelo Consultório Dietético da Escola de Nutrição da UFBa.
Resultados
A distribuição das variáveis demográficas e sociais dos indivíduos investigados indicou predomínio do sexo feminino (46/65), média de idade de 38 anos, maioria (37/65) dos entrevistados com menos de 40 anos e nível de escolaridade de Ensino Médio (37/65) (Tabela 1). Entre os investigados, identificou-se que a diferença da média entre as medidas de peso foi subestimada em 780g, quando comparada com as informações das medidas aferidas, enquanto a estatura foi superestimada em 2,69cm e o IMC subestimado em 1,14kg/m2. As diferenças foram estatisticamente significativas para as informações autorreferidas da estatura e do IMC (Tabela 2).
Ao analisar as diferenças entre as informações antropométricas autorreferidas e aferidas segundo o sexo, observou-se que somente as mulheres superestimaram a estatura significativamente (p<0,001) e, por conseguinte, seu IMC foi subestimado (p<0,001) (Tabela 2).
Embora tenha sido registrada superestimação da estatura, com consequente subestimação do IMC, isso não comprometeu a classificação do estado antropométrico da população estudada. De acordo com o IMC calculado a partir dos dados autorreferidos e aferidos, respectivamente, observou-se para o excesso de peso, prevalências de 47,7% (31/65) e 56,9% (37/65) (p=0,72); e para eutrofia, prevalências de 44,6% (29/65) e 38,5% (25/65) (p=0,49) (Figura 1). Na categoria de baixo peso, não foi possível calcular o valor de p devido ao pequeno número de observações.
O peso autorreferido apresentou concordância quase perfeita (0,81 a 1,00) com as medidas diretas, considerando-se idade, sexo e escolaridade. Com relação à estatura, essa concordância pode ser considerada quase prefeita para os menores de 40 anos (CCIC=0,81) e indivíduos com maior nível de escolaridade (CCIC=0,90), e concordância substancial (0,61 a 0,80) para as demais variáveis; para o sexo masculino (CCIC=0,38) e a idade até 40 anos (CCIC=0,57), a estatura autorreferida apresentou concordância regular e moderada, respectivamente. No que se refere ao IMC, as estimativas desse indicador, calculadas a partir de medidas de peso e estatura autorreferidas e aferidas, apresentaram concordância quase perfeita (0,81 a 1,00) para todas as variáveis analisadas (Tabela 3).
A sensibilidade, que representa a proporção de indivíduos verdadeiramente portadores de excesso de peso diagnosticado pelas medidas autorreferidas, foi elevada (variação: 62,5 a 91,2%), considerando-se todas as variáveis analisadas. A especificidade, que representa a proporção de indivíduos classificados sem excesso de peso a partir da informação autorreferida, apresentou-se mais elevada entre os participantes com 40 anos de idade ou mais (100,0%) e naqueles com Ensino Fundamental e Ensino Superior (100,0%). Já o valor preditivo positivo (VPP), que representa a proporção de adultos classificados com excesso de peso a partir do IMC obtido de medidas autorreferidas e que, de fato, apresentaram excesso de peso, foi maior entre os indivíduos com 40 anos ou mais (100,0%), do sexo feminino (96,0%) e com Ensino Fundamental e Ensino Superior (100,0%) (Tabela 4). As medidas gerais de sensibilidade, especificidade e VPP para o IMC obtido a partir das medidas autorreferidas foram de 92,9%, 78,4 e 76,5% respectivamente.
Discussão
Os resultados apresentados em epígrafe sugerem que as informações do peso e da estatura autorreferidas pelo entrevistado são válidas para a classificação do estado antropométrico e, dessa forma, corroboram a validação do uso do IMC na identificação e monitoramento do estado antropométrico de adultos em estudos populacionais.
No presente estudo, a estatura foi superestimada - de maneira estatisticamente significativa - apenas pelas mulheres. Embora tenha sido registrada superestimação da estatura e consequente subestimação do IMC, isto não comprometeu a classificação do estado antropométrico da população estudada. Resultados similares foram observados por outros investigadores no Brasil,3,4,15,19 o que reforça a premissa de erro na direção de um padrão cultural que, além da magreza, valoriza a elevada estatura para o sexo feminino. De acordo com Ziebland e colaboradores,20 esses resultados também podem ser parcialmente explicados pelo fato de as pessoas em geral, mesmo aquelas que recebem cuidados médicos periódicos, não terem sua estatura aferida com frequência e por isso desconhecerem sua verdadeira medida.
O efeito da variação no valor da estatura autorreferida, em relação ao valor da estatura aferida, convergiu para que o IMC fosse subestimado, com diferença estatisticamente significativa somente para as mulheres. A subestimação do IMC entre mulheres também foi observada em amostra de funcionários de um banco estatal no Rio de Janeiro-RJ3 e em indivíduos maiores de 40 anos residentes na Região Metropolitana de São Paulo-SP,21 utilizando metodologia similar à do presente estudo. Aqui, os níveis de concordância intraclasse observados validam a utilização do IMC obtido nas mesmas circunstâncias, para o mesmo grupo populacional. Destaca-se que os valores encontrados no presente estudo são mais elevados do que os observados por Lucca e Moura21 e similares aos resultados registrados por outros estudos nacionais3,4,6 e internacionais.22,23
A sensibilidade do IMC proveniente das medidas autorreferidas para a identificação de indivíduos com excesso de peso situou-se entre 62,5 e 91,2%, no grupo estudado. Os participantes com menos de 40 anos, do sexo feminino e com menor escolaridade informaram as medidas de peso e estatura mais próximas do valor real, o que está em acordo com resultados de outros estudos nos quais se observou maior sensibilidade do IMC para identificar mulheres com excesso de peso, comparativamente aos homens;24 entretanto, os resultados do presente estudo diferem dos encontrados por Lim e colaboradores,23 em que a sensibilidade para identificar excesso de peso/obesidade foi maior para homens. No que se refere à especificidade do IMC determinado com base nas medidas autorreferidas, os resultados foram similares aos observados em outras investigações, cujas especificidades foram ligeiramente mais elevadas para as mulheres.6,23
O valor preditivo positivo, à semelhança de outros estudos,23 foi maior para mulheres, sugerindo maior acurácia desses paramentos para o sexo feminino.
A classificação do estado antropométrico mostra que a ocorrência de excesso de peso identificada pelo IMC obtido com as medidas de peso e estatura autorreferidas não diferiu, de forma significante estatisticamente, daquela encontrada a partir do IMC aferido. Esse resultado é similar ao de relatos de outros estudos4-6 e corrobora o uso do IMC obtido de medidas de peso e estatura autorreferidas em estudos de prevalência e controle do sobrepeso e obesidade.
Não obstante os resultados apresentados aqui indicarem que a informação autorreferida de peso corporal e estatura possa ser de boa qualidade, o estudo apresenta limitações. Os resultados encontrados não podem ser estendidos à população geral de Salvador-BA, pois não foram originados de amostra probabilística de indivíduos da cidade, além de apresentarem diferentes proporções entre homens e mulheres.
Há, também, o possível viés ocasionado pela técnica amostral adotada e pela captação da amostra,25 uma vez que a seleção aconteceu por adesão voluntária: parte dos indivíduos recrutados não compareceu à consulta nutricional. É possível que indivíduos conhecedores de suas medidas de peso e estatura possam, diferentemente dos demais participantes, estar mais motivados a participarem do estudo, influenciando positivamente o resultado.
Considera-se como mais uma limitação do estudo a não realização do cálculo da estimativa do erro técnico de medida (definido como o desvio padrão entre medidas repetidas), de duas formas: intra-avaliador, quando se avalia a variabilidade das medidas repetidas em uma mesma pessoa pelo mesmo antropometrista; e interavaliador, quando se avalia a variação de medidas realizadas em uma mesma pessoa por diferentes antropometristas.26 Como um mecanismo de controle de qualidade e buscando minimizar os erros das medidas, os antropometristas foram treinados e avaliados periodicamente. Também foi realizada calibração e aferição dos instrumentos de medida durante todo o estudo.
Por último, é mister lembrar aqui a possibilidade de o estudo apresentar um viés de informação devido à diferença temporal entre a coleta das medidas aferidas e as autorreferidas. Ressalta-se que as diferenças possíveis de haver ocorrido, por superestimação da altura ou subestimação do peso, não foram suficientes para alterar a classificação do estado antropométrico pelo IMC.
Esses resultados, associados a outros gerados no Brasil, indicam que a informação sobre as medidas de peso e estatura obtidas via entrevista telefônica podem constituir um instrumento viável, prático e econômico, a ser utilizado em estudos como screening nutricional e monitoramento do estado antropométrico da população.
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq -, pelo financiamento da pesquisa 'Implantação, avaliação e resultados de um sistema municipal de monitoramento de fatores de risco nutricionais para doenças crônicas não transmissíveis a partir de entrevistas telefônicas em cinco capitais das macrorregiões brasileiras (Simtel)', coordenada pelo Prof. Carlos Augusto Monteiro, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
Contribuição dos autores
Oliveira LPM e Assis AMO participaram da concepção do projeto, coleta e análise dos dados, interpretação dos resultados e redação do manuscrito.
Queiroz VAO participou da coleta e análise dos dados, interpretação dos resultados e redação do manuscrito.
Silva MCM, Pitangueira JCD, Costa PRF e Franklin Demétrio participaram da análise dos dados, interpretação dos resultados e redação do manuscrito.
Anjos MCG participou da análise dos dados e interpretação dos resultados.
Referências
1. Cervi A, Franceschini SDC, Priore SE. Analise critica do uso do índice de massa corporal para idosos. Revista de Nutrição. 2005; 18(6):765-775.
2. Rezende F, Rosado L, Franceschinni S, Rosado G, Ribeiro R, Marins JC. Critical revision of the available methods for evaluate the body composition in population-based and clinical studies. Archivos latinoamericanos de nutrición. 2007;57(4):327-334.
3. Chor D, Coutinho ES, Laurenti R. Reliability of self-reported weight and height among state bank employees. Revista de Saúde Pública. 1999; 33(1):16-23.
4. Peixoto MRG, Benicio MH, Jardim PC. Validity of self-reported weight and height: the Goiania study, Brazil. Revista de Saúde Pública. 2006; 40(6):1065-1072.
5. Dekkers JC, van Wier MF, Hendriksen IJ, Twisk JW, van MW. Accuracy of self-reported body weight, height and waist circumference in a Dutch overweight working population. BMC medical research methodology. 2008; 8:69.
6. Fonseca MJM, Faerstein E, Chor D, Lopes CS. Validity of self-reported weight and height and the body mass index within the "Pro-Saúde" study. Revista de Saúde Pública. 2004; 38(3):392-398.
7. Cabrera MAS, Jacob Filho W. Obesidade em idosos: prevalência, distribuição e associação com hábitos e co-morbidades. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia. 2001; 4(5):494-501.
8. Sampaio LR, Figueiredo VC. Correlação entre o índice de massa corporal e os indicadores antropométricos de distribuição de gordura corporal em adultos e idosos. Revista de Nutricão. 2005; 18(1):53-61.
9. Santos DM, Sichieri R. Body mass index and measures of adiposity among elderly adults. Revista de Saúde Pública. 2005; 39(2):163-168.
10. Aristizabal JC, Restrepo MT, Estrada A. Body composition assessment by anthropometry and bioelectrical impedance. Biomedica. 2007; 27(2):216-224.
11. Kuczmarski MF, Kuczmarski RJ, Najjar M. Effects of age on validity of self-reported height, weight, and body mass index: findings from the Third National Health and Nutrition Examination Survey, 1988-1994. Journal of the American Dietetic Association. 2001; 101(1):28-34.
12. Spencer EA, Appleby PN, Davey GK, Key TJ. Validity of self-reported height and weight in 4808 EPIC-Oxford participants. Public Health Nutrition. 2002; 5(4):561-565.
13. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigitel Brasil 2009: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília: Ministério da Saúde; 2010.
14. Monteiro CA, Moura EC, Jaime PC, Lucca A, Florindo AA, Figueiredo IC, et al. Surveillance of risk factors for chronic diseases through telephone interviews. Revista de Saúde Pública. 2005; 39(1):47-57.
15. Silveira EA, Araujo CL, Gigante DP, Barros AJ, Lima MS. Weight and height validation for diagnosis of adult nutritional status in southern Brazil. Cadernos de Saúde Pública. 2005; 21(1):235-245.
16. Lohman TG, Roche AF, Martorell R. Anthropometric Standardization Reference Manual. Champaign: Human Kinetics Books; 1988.
17. Landis JR, Koch GG. The measurement of observer agreement for categorical data. Biometrics. 1977; 33(1):159-174.
18. Organización Mundial de la Salud. El estado físico: uso e interpretación de la antropometría. Ginebra: OMS; 1995. (Serie de Informes Técnicos; 854).
19. Pregnolato TS, Mesquita LM, Ferreira PG, Santos MM, Santos CC, Costa RF. Validade de medidas autorreferidas de massa e estatura e seu impacto na estimativa do estado nutricional pelo índice de massa corporal. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano. 2009; 19(1):35-41.
20. Ziebland S, Thorogood M, Fuller A, Muir J. Desire for the body normal: body image and discrepancies between self reported and measured height and weight in a British population. Journal of Epidemiology and Community Health. 1996; 50(1):105-106.
21. Lucca A, Moura EC. Validity and reliability of self-reported weight, height and body mass index from telephone interviews. Cadernos de Saúde Pública. 2010; 26(1):110-122.
22. Bowlin SJ, Morrill BD, Nafziger AN, Lewis C, Pearson TA. Reliability and changes in validity of self-reported cardiovascular disease risk factors using dual response: the behavioral risk factor survey. Journal of Clininical Epidemiology. 1996; 49(5):511-517.
23. Lim LL, Seubsman SA, Sleigh A. Validity of self-reported weight, height, and body mass index among university students in Thailand: implications for population studies of obesity in developing countries. Population Health Metrics. 2009; 7:15.
24. Bolton-Smith C, Woodward M, Tunstall-Pedoe H, Morrison C. Accuracy of the estimated prevalence of obesity from self reported height and weight in an adult Scottish population. Journal of Epidemiology and Community Health. 2000; 54(2):143-148.
25. Medronho RA, Carvalho DM, Bloch KV, Luiz RR, Werneck GL. Epidemiologia. São Paulo: Atheneu; 2006.
26. Perini TA, Oliveira GL, Ornellas JS, Oliveira FP. Cálculo do erro técnico de medição em antropometria. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. 2005; 11(1):81-85.
Endereço para correspondência:
Escola de Nutrição,
Universidade Federal da Bahia,
Rua Araújo Pinho, 32, Canela, Salvador-BA.
CEP: 40110-150
E-mail: lucipmo@ufba.br
Recebido em 30/08/2011
Aprovado em 25/05/2012
*Artigo originado da pesquisa 'Implantação, avaliação e resultados de um sistema municipal de monitoramento de fatores de risco nutricionais para doenças crônicas não transmissíveis a partir de entrevistas telefônicas em cinco capitais das macrorregiões brasileiras (Simtel)', financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq.