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Epidemiologia e Serviços de Saúde

versão impressa ISSN 1679-4974versão On-line ISSN 2237-9622

Epidemiol. Serv. Saúde v.13 n.4 Brasília dez. 2004

http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742004000400001 

EDITORIAL

 

A importância dos sistemas de informação e dos inquéritos de base populacional para avaliações de saúde

 

 

Marilisa Berti de Azevedo Barros

Membro do Comitê Editorial

 

 

A análise e a monitoração das condições de saúde da população são instrumentos fundamentais para uma formulação balizada das políticas de saúde e para uma visualização global do sucesso dos projetos em curso. Embora indicadores sintéticos de saúde sejam úteis em determinados contextos de problemas-decisões, dispor de um elenco de índices que avaliem diferentes dimensões do processo saúde-doença propicia gerar formulações sobre um cenário mais completo e instigante da Saúde.

O avanço da cobertura e da qualidade dos bancos nacionais de dados de saúde no Brasil é uma das conquistas significativas na construção do Sistema Único de Saúde, SUS. A disponibilidade, ampla e oportuna, dos dados desses bancos possibilita aos gestores dos diferentes níveis do sistema o uso de instrumentos qualificados de diagnóstico e de avaliação.

Na dinâmica da construção dos indicadores, as necessidades oriundas da gestão produzem novos índices; por sua vez, a emergência e a valorização de novos indicadores podem compelir os serviços de saúde na busca de modelos alternativos de atenção. A implementação efetiva de uma política de promoção da saúde, resgatando os serviços de saúde para além do tratamento da doença, pode ser estimulada pela confrontação das atividades dos serviços com o uso e a divulgação de indicadores de prevalência de práticas favorecedoras ou maléficas para a saúde. Na maioria dos países, amplos inquéritos de saúde de base populacional, que podem prover esses novos indicadores, são realizados periodicamente, e passam a constituir parte integrante do sistema nacional de informação em saúde. Aos fundamentais indicadores de mortalidade, revigorados com as concepções de mortes prematuras, evitáveis e excessivas, e índices derivados de bancos de dados de morbidade notificável, ambulatorial e hospitalar, agregam-se mensurações de auto-avaliações da Saúde e de qualidade de vida em saúde em suas múltiplas dimensões.

Enfim, considerando-se qualquer dimensão do perfil de saúde, a questão da eqüidade se apresenta, revelando a dinâmica e a especificidade de sua forma de expressão. Procura-se, então, viabilizar, nas diferentes fontes de informação, possibilidades de análise da dimensão da desigualdade social na Saúde.

Os artigos integrantes do presente número da revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, desenvolvidos pelos pesquisadores do Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento (Nespe), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), trazem contribuição significativa para o conhecimento da saúde do idoso brasileiro, utilizando diferentes fontes de informação e indicando, de maneira feliz, a potencialidade dessas bases de dados. O tema comum abordado em todos os artigos, a saúde do idoso, tem sua relevância amplamente reconhecida como das mais importantes da atualidade. Os serviços públicos de saúde reorganizam-se para controlar, de forma eficiente, as doenças mais freqüentes desse segmento crescente da população.

Os dois primeiros artigos apresentam análises de dados obtidos em inquérito de saúde de base populacional realizado em 2003, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A pesquisa de saúde foi desenvolvida mediante a aplicação de um questionário suplementar, oportunamente aplicado em conjunto com a Pesquisa de Emprego e Desemprego da Região Metropolitana de Belo Horizonte (PED/RMBH), periodicamente realizada pela Fundação João Pinheiro do Governo do Estado de Minas Gerais. Com base nos dados de 13.851 participantes do inquérito, dos quais 1.786 idosos, o primeiro artigo1 analisa a prevalência de comportamentos prejudiciais à saúde, verificando as diferenças entre adultos e idosos e artigo,2 que também compara as diferenças quanto à idade e quanto ao nível de escolaridade, estima as prevalências do uso de serviços preventivos de saúde. Desigualdades sociais em comportamentos relacionados à saúde e no uso de serviços preventivos de idosos sinalizam áreas necessárias de atuação do SUS. A implementação de periodicidade ao inquérito de saúde da RMBH permitirá o acompanhamento de prevalências de fatores de risco e da magnitude das disparidades sociais em saúde.

O terceiro artigo3 avalia a tendência da mortalidade dos idosos brasileiros nas duas últimas décadas do século que findou. Extraindo as principais lições das tendências, os autores apontam os grupos de causas e as causas específicas de morte que apresentaram declínio importante e aquelas cujas taxas vêm aumentando progressivamente, influenciando o perfil da mortalidade da população idosa.

Os últimos três artigos voltam-se à analise de aspectos da internação dos idosos utilizando o Sistema de Informações Hospitalares dos SUS (SIH-SUS). No quarto artigo,4 os autores identificam as principais causas de internação dos idosos do Brasil em 2001, segundo sexo e grupos etários, produzindo estimativas de taxas de internação. No quinto artigo,5 com base nas informações do SIH-SUS para o ano de 2001, realizou-se estudo, como raramente acontece no país, sobre custos em saúde. Analisando o custo das internações de idosos, são identificadas as causas e as faixas de idade para as quais os custos são maiores. No último artigo,6 com a análise das taxas de mortalidade de 17 hospitais, os autores apontam a possibilidade do uso de informações do SIH-SUS para definir parâmetros e avaliar a qualidade da assistência médico-hospitalar.

No seu conjunto, os artigos aqui publicados demonstram como sistemas nacionais de bases de dados disponíveis no Brasil, especialmente o SIM-SUS e o SIH-SUS, podem ser úteis para uma análise substantiva da saúde e da atenção aos idosos, além de apresentar a contribuição provocativa dos inquéritos de saúde de base populacional.

 

Referências bibliográficas

1. Lima-Costa MF. A escolaridade afeta, igualmente, comportamentos prejudiciais à saúde de idosos e adultos mais jovens? – Inquérito de Saúde da Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2004;13(4): 201-208

2. Lima-Costa MF. Influência da idade e da escolaridade no uso de serviços preventivos de saúde – Inquérito de Saúde da Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2004;13(4): 209-215

3. Lima-Costa MF, Peixoto SV, Giatti L. Tendências da mortalidade entre idosos brasileiros (1980-2000). Epidemiologia e Serviços de Saúde 2004;13(4): 217-228

4. Loyola Filho AI, Matos DL, Giatti L, Afradique ME, Peixoto SV, Lima-Costa MF. Causas de internações hospitalares entre idosos brasileiros no âmbito do Sistema Único de Saúde. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2004;13(4): 229-238

5. Peixoto SV, Giatti L, Afradique ME, Lima-Costa MF. Custo das internações hospitalares entre idosos brasileiros no âmbito do Sistema Único de Saúde. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2004;13(4): 239-246

6. Guerra HL, Giatti L, Lima-Costa MF. Mortalidade em internações de longa duração como indicador da qualidade da assistência hospitalar ao idoso. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2004;13(4): 247-253