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Epidemiologia e Serviços de Saúde
versão impressa ISSN 1679-4974versão On-line ISSN 2237-9622
Epidemiol. Serv. Saúde v.21 n.2 Brasília jun. 2012
http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742012000200017
ARTIGO ORIGINAL
Indicadores de prescrição e de cuidado ao paciente na atenção básica do município de Esperança, Paraíba, 2007
Prescription indicators and patient-care in public primary care in the municipality of Esperança, Paraíba, 2007
Alyne da Silva Portela; Paulo César Dantas da Silva; Mônica Oliveira da Silva Simões; Ana Cláudia Dantas de Medeiros; Asdrúbal Nóbrega Montenegro Neto
Departamento de Farmácia, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande-PB, Brasil
RESUMO
OBJETIVO: descrever aspectos da prescrição e cuidado a pacientes em Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF) do município de Esperança, estado da Paraíba, Brasil.
MÉTODOS: estudo descritivo, sobre indicadores de prescrição e cuidado ao paciente propostos pela Organização Mundial da Saúde; amostra de conveniência, composta por pacientes maiores de 18 anos atendidos em janeiro-agosto de 2007.
RESULTADOS: foram considerados 600 pacientes, com média de medicamentos/receita de 2,4, 74,6% dos medicamentos prescritos pelo nome genérico e 85,3% constantes da Relação Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME); 9,3% das receitas continham ao menos algum antibiótico, 10,1% algum psicofármaco e 2,97% alguma medicação injetável; foram dispensados 48,0% dos medicamentos prescritos; o tempo médio de dispensação foi de 49 segundos e o tempo médio de consulta, 7 minutos e 8 segundos.
CONCLUSÃO: os prescritores seguem a relação de medicamentos padronizados embora a REMUNE necessite atualizá-la periodicamente para atender o perfil epidemiológico populacional.
Palavras-chave: Assistência Farmacêutica; Medicamentos Essenciais; Prescrições de Medicamentos.
ABSTRACT
OBJECTIVE: to discribe aspects of prescription and patient-care at Healthcare Units of Family Health (HUFH) in the municipality of Esperança, state of Bahia, Brazil.
METHODS: a descriptive cross-sectional study on prescription and patient-care indicators proposed by the World Health Organization.
RESULTS: average for prescribed drugs were 2.4; 74.6% of the medicaments were prescribed by generic name; 85.3% were listed by the Municipal List of Essential Drugs (REMUME); 9.3% had at least one antibiotic; 10.1% had at least one psychotropic; and 2.97%, at least an injectable medication; 48.0% of the prescribed drugs were effectively dispensed; the average time of dispensation was 49 seconds, and the medical consultation time, 7 minutes and 8 seconds.
CONCLUSION: prescription follows standard list recommended, but REMUME needs actualization to attend the epidemiologic profile of the population.
Key words: Pharmaceutical Services; Drugs, Essential; Drug Prescriptions.
Introdução
A Assistência Farmacêutica constitui parte fundamental dos serviços de atenção à saúde do cidadão. Trata-se de um conjunto de atividades relacionadas ao medicamento, a serem realizadas de forma sistêmica, tendo como benefício maior o paciente.1 Cada vez mais, verifica-se a necessidade de consolidar a Assistência Farmacêutica como ferramenta essencial das ações de saúde na Atenção Básica, na busca permanente pelo uso racional de medicamentos e pela melhoria do acesso aos medicamentos essenciais para a população.2
Ter acesso a assistência médica e medicamentos não implica, necessariamente, melhores condições de saúde ou qualidade de vida. Maus hábitos prescritivos, falhas na dispensação e automedicação inadequada podem levar a tratamentos ineficazes e pouco seguros.3 A prescrição médica constitui documento oficial. Como tal, ela deve contemplar a identificação do paciente e do profissional emissor, e informações acerca do fármaco a ser dispensado ao paciente: dose, modos e horários de administração. Como documento escrito, ela reflete competências de âmbito legal, técnico e clínico, estando seus responsáveis - prescritor e dispensador - sujeitos à legislação de controle e às ações de vigilância sanitária.4,5
A prescrição médica é um dos fundamentos a ser cuidado para que se alcance o uso racional de medicamentos. A qualidade e a quantidade do consumo de medicamentos encontram-se sob determinação direta da prescrição; e esta, suscetível a fatores que vão desde a oferta de produtos e as expectativas dos pacientes, até a propaganda difundida pelas indústrias farmacêuticas.6
No momento da escolha terapêutica, o prescritor sofre influências de mais e diferentes fatores determinantes, entre eles concepções do processo saúde-doença, qualidade da formação técnica, condições socioculturais e econômicas da população atendida, disponibilidade de medicamentos no serviço de sua lotação, fontes de informações às quais teve acesso, e outros.5 Ademais, o paciente, com suas expectativas e hábitos culturais, também pode influenciar hábitos na prescrição médica.2
Em 1985, preocupada com o uso racional de medicamentos, a Organização Mundial da Saúde - OMS - convocou uma conferência em Nairobi, capital do Quênia, para discutir o assunto. A partir de então, muitos esforços tem-se envidado. Por exemplo, desde 1993, a OMS propõe a construção de indicadores selecionados para quantificar o desempenho dos serviços de saúde em três grandes áreas relacionadas ao uso racional de medicamentos na atenção primária: a) práticas de prescrição dos profissionais de saúde, b) assistência ao paciente, tanto em relação à consulta ambulatorial quanto à prescrição, e c) disponibilidade de fatores específicos dos serviços propiciadores do uso racional, como existência de medicamentos essenciais e um mínimo de informação farmacêutica necessário.7
O presente estudo teve por objetivo avaliar os aspectos relativos à prescrição e ao cuidado com pacientes nas Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF) do município de Esperança, estado da Paraíba, mediante indicadores de prescrição e de cuidados ao paciente propostos pela OMS.
Métodos
Trata-se de um estudo descritivo. Utilizaram-se os indicadores de prescrição e de cuidado ao paciente, ambos propostos pela OMS.7 Também foi utilizado um novo indicador, proposto pelos autores: prescrição de psicofármacos.
O município de Esperança-PB está localizado no brejo paraibano, sobre área de 146,20km2 (0,26% da superfície do Estado) e distante 145km da capital do estado, João Pessoa-PB. Ele reúne 31.095 habitantes, segundo o censo demográfico de 2010,8 e oferece a sua população e população referenciada os três níveis assistenciais de saúde: na condição de sede de Módulo Assistencial, Esperança-PB abrange cinco municípios-satélites, Areia-PB, Arara-PB, Areial-PB, Algodão de Jandaíra-PB e Remígio-PB. A cidade conta com 10 UBSF, seis na zona urbana e quatro na zona rural, uma Policlínica, um Hospital Municipal, um Centro de Apoio Psicossocial (CAPS), um Centro de Saúde Materno-Infantil e uma Maternidade, dispondo atenção primária e de média complexidade, e acesso a alta complexidade via referência para os municípios de Campina Grande-PB e João Pessoa-PB.9
A coleta dos dados ocorreu entre janeiro e agosto de 2007 e os indicadores foram calculados conforme apresentado na Figura 1.
Para análise dos indicadores de prescrição, a OMS recomenda que a amostra seja representativa e que a aplicação dos indicadores seja realizada em 20 unidades de saúde ou em todas as unidades locais.7 Como o município possuía tão-somente 10 UBSF, todas foram incluídas no estudo.
Segundo recomendação da OMS,7 foram entrevistados 60 pacientes que haviam passado por consulta médica, em cada UBSF. Totalizou-se 600 entrevistas de pacientes, habilitados para o estudo de acordo com os seguintes critérios: maior de 18 anos de idade que se apresentou à consulta médica desacompanhado e capaz de se comunicar - paciente não debilitado.
A coleta ocorreu durante todo o horário de funcionamento da unidade e a amostra, selecionada por conveniência, contemplou os pacientes que aceitaram participar e se encaixaram nos critérios de inclusão, até que se completasse o número estipulado de entrevistados por UBSF.
Antes de o paciente adentrar o consultório médico, um contato preliminar foi realizado, ocasião quando foram coletados dados demográficos e socioeconômicos como sexo, idade, escolaridade e renda, para caracterização da amostra. Após a saída do paciente do, caso ele houvesse recebido uma receita, os medicamentos prescritos foram transcritos no formulário para análise.
A classificação dos medicamentos na nomenclatura genérica tomou como referência a Denominação Comum Brasileira (DCB)10 e, em sua ausência, a Denominação Comum Internacional (DCI).11 Os medicamentos foram classificados pelo Índice de Classificação Anatômico, Químico e Terapêutico (ATC)12 para conhecer os medicamentos e classes terapêuticas mais prescritas.
O tempo médio de consulta foi avaliado sobre o total dos 600 pacientes e, para cada um deles, do momento quando entrou até sair da sala de consulta, o tempo transcorrido foi contabilizado por cronômetro.
As informações referentes ao tempo médio de dispensação, à porcentagem de medicamentos dispensados e àqueles adequadamente rotulados foram avaliadas isoladamente, por não manterem relação entre si e suas análises serem de fato independentes. Para esses indicadores, a coleta aconteceu nos meses de julho e agosto, de segunda a sexta-feira, no turno da manhã (único horário de funcionamento), exclusivamente na farmácia central do município, haja vista o fato de a dispensação centralizar-se em um único centro de saúde na zona urbana. Ainda sobre estes indicadores, foram analisadas 1.213 receitas e considerados todos os medicamentos prescritos.
O tempo médio de dispensação foi medido por cronômetro, contabilizado-se todo o tempo de contato com o atendente da Farmácia, desde o momento quando o paciente chegava com a receita até sua saída como medicamento.
Ao final da coleta, os dados foram submetidos a tratamento estatístico e expostos, de maneira descritiva, os valores encontrados e comparados com os recomendados pela OMS7 e por outros trabalhos de pesquisa. Para análise dos dados, foram utilizados os softwares Epi Info versão 3.4.5 e Microsoft Office Excel 2007, e os resultados apresentados na forma de tabelas e figuras.
A projeto do estudo recebeu a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade do estado da Paraíba, conforme a Resolução no 196/96, no Parecer no 0011.0.133.000-07. O estudo também contou com a aquiescência da Secretária Municipal de Saúde de Esperança-PB. Um 'Termo de Consentimento Livre e Esclarecido' foi apresentado e assinado pelos pacientes a serem entrevistados, depois de informadas a eles as características do estudo necessárias para um adequado consentimento.
Resultados
Em cada UBSF, foram entrevistados 60 pacientes, totalizando 600 entrevistados. Destes, 474 receberam prescrição de algum medicamento e os demais foram encaminhados para médicos especialistas e realização de exames, ou mantiveram-se com o tratamento prescrito por outro profissional (Tabela 1).
Na análise dos indicadores, considerou-se apenas aqueles pacientes que receberam prescrição durante a consulta, ou seja, 474 indivíduos, dos quais 74,0% eram do sexo feminino e 26,0% do sexo masculino, com média de idade de 49 anos (variação de 18 a 99 anos). A renda per capita mensal do grupo estudado variou de R$0,00 a R$1.000,00 - média de R$ 155,03. Em relação à escolaridade, 18,0% eram analfabetos, 10,7% analfabetos funcionais, 46% contavam de 1 a 4 anos de estudo, 15,2% de 5 a 8 anos e 10,1% mais de 9 anos de estudo.
Do conjunto de entrevistados, computou-se um total de 1.145 medicamentos prescritos - variação de 1 a 8 medicamentos por receita -, obtendo-se uma média de 2,4 medicamentos. Dos medicamentos prescritos, 74,6% foram pelo nome genérico e 85,3% constavam da Relação Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) de 2007.9 Observou-se que 9,3% das receitas prescreviam ao menos um antibiótico, 10,1% ao menos um psicofármaco e 2,9% pelo menos um injetável.
As consultas duraram, em média, 7 minutos e 8 segundos - variação de 59 segundos a 23 minutos e 9 segundos (Figura 2). A média do tempo de dispensação foi de 49 segundos - variação de 3 segundos a 1 minuto e 3 segundos.
Os medicamentos dispensados na Farmácia Central e adequadamente rotulados foram analisados a partir da verificação de 1.213 receitas, totalizando 2.370 medicamentos. Apenas 48,0% dos medicamentos prescritos foram efetivamente dispensados, e destes, 98,9% estavam rotulados de forma adequada, ou seja, era possível identificar neles o nome, dosagem e data de validade, mesmo naqueles fracionados.
Os grupos farmacológicos mais prescritos foram os do aparelho circulatório (41,6%) e os anti-hipertensivos (41,5%), seguidos dos analgésicos não opióides (18,8%), medicamentos para o sistema nervoso (14,3%), antimicrobianos (13,6%), hipoglicemiantes (11,8%) e medicamentos para o aparelho respiratório (9,1%) (Figura 3).
Discussão
No presente estudo, descreveu-se os indicadores de prescrição e de cuidado com pacientes propostos pela OMS. Uma limitação da investigação realizada em Esperança, Paraíba, refere-se ao emprego de uma amostra de conveniência, o que não permite generalização dos achados para a totalidade dos atendimentos realizados nas UBSF do município. Outra dificuldade relaciona-se ao limitado período do estudo - apenas dois meses -, incapaz de contemplar a sazonalidade do padrão de prescrição de medicamentos, que é variável segundo os meses do ano.
A média de medicamentos por prescrição encontrada (2,4) foi semelhante à registrada em Ribeirão Preto-SP (2,2),13 Brasília-DF (2,3),14 Ponta Grossa-PR (2,6)15 e Campina Grande-PB (1,5),16 como também foi semelhante à média nacional (2,3).17 Estes resultados apontam uma tendência de polimedicação ou polifarmácia, qual seja, o uso de dois ou mais medicamentos, e a média está acima da recomendada pela OMS: 1,3 a 2,2 medicamentos por receita.7
A utilização de grande número de medicamentos pelo paciente e de esquemas de múltiplas doses, além de aumentar a chance de erros na administração, propiciam o surgimento de reações adversas e interações medicamentosas, interferindo na aderência do paciente ao tratamento.18
Estudos recentes mostram, ainda, que a polimedicação associada a diversas situações, como interações medicamentosas e redundâncias terapêuticas, pode induzir a não adesão à farmacoterapia,19,20 bem como dificultar o tratamento medicamentoso de usuários idosos em condições crônicas.21
A elevada média de medicamentos prescritos por receita revela, também, a ausência de uma preocupação, por parte da maioria dos prescritores, quanto ao uso racional, expressa no excesso de medicamentos prescritos. Muitas vezes, ademais, os prescritores são induzidos pelos próprios pacientes a aumentar o número de medicamentos em razão de uma cultura sedimentada de que "médico bom é aquele que prescreve".
Observa-se que prescrições com mais de um medicamento são frequentes e podem dificultar o entendimento do paciente, bem como aumentar as chances de enganos durante a administração. Os prescritores devem estar conscientes da potencialidade de interações e seus mecanismos, para simplificar regimes posológicos e adequá-los aos hábitos de vida do paciente sempre que possível.22
Em relação à prescrição dos medicamentos pelo nome genérico, a proporção encontrada (74,6%) foi bastante próxima à observada em Brasília-DF (73,2%)14 e Ponta Grossa-PR (70,2%),15 inferior à média nacional (84,2%)17 e superior à de Ribeirão Preto-SP (30,6%).13 Entre as UBSF, houve uma variação de 57,6 a 85,6%, mostrando mais adesão por parte de alguns prescritores do que por outros. O hábito de prescrever pelo nome genérico tem grande impacto na racionalização das ações da assistência farmacêutica, baixando os custos de aquisição desses produtos e facilitando a adoção de protocolos ou padronização de esquemas terapêuticos.
Considerando-se a legislação vigente no país, espera-se que a proporção de medicamentos prescritos pelo nome genérico seja muito próxima dos 100,0%, haja vista a obrigação legal de o Serviço Público prescrever por essa denominação genérica. Segundo a Resolução no 10/01, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), estabelecendo critérios a serem respeitados pela prescrição médica e pela dispensação de genéricos no âmbito do SUS, as prescrições assinadas pelo profissional responsável adotarão, obrigatoriamente, a Denominação Comum Brasileira - DCB - ou, em sua falta, a Denominação Comum Internacional - DCI.2 Importante fator de interferência nesse indicador é a existência, no mercado farmacêutico brasileiro, de medicamentos com elevado número de associações. Nesse caso, o prescritor pode encontrar dificuldades para o exercício de sua função, seja por deficiência na formação acadêmica, seja por falta de condições de consulta à DCB, e assim, tender à prescrição pelo nome fantasia.14
Uma das classes de medicamentos que trazem mais prejuízos - quando utilizados inadequadamente - é a dos antibióticos. A porcentagem de receitas aqui analisadas em que se prescreveram antibióticos foi de 9,4%, condizendo com a estimativa recomendada pela OMS7 de que ela deve ser inferior a 20,0%. O valor encontrado está abaixo do referido em Ribeirão Preto-SP (21,3%),13 Brasília-DF (26,4%),14 Ponta Grossa-PR (33,0%)15 e Campina Grande-PB (21,1%).16
O principal problema quanto aos antibióticos é de que seu uso indiscriminado pode resultar em resistência de bactérias, aumentando os casos de infecções e, consequentemente, maior ônus para o sistema público de saúde e o usuário, gerando dificuldades para o controle da doença.
A baixa indicação de antimicrobianos, observada neste estudo, pode estar relacionada a fatores climáticos do período de coleta de dados, pois a sazonalidade é importante no comportamento epidemiológico de doenças infecciosas.23 Vale salientar que o monitoramento de ações voltadas à terapia racional de antimicrobianos, com a adoção de protocolos validados por estudos epidemiológicos, constitui estratégia política visando à utilização adequada de antimicrobianos.24
Outro grupo de medicamentos a exigir cuidados é o dos psicofármacos. Sua prescrição tem aumentado, não só em quantidade como em tempo de uso por períodos às vezes maiores do que os preconizados na literatura especializada. O fato é bastante preocupante, uma vez que pode levar à dependência física e psíquica25 a ponto de impor a este estudo a observância do indicador de frequência com que esses medicamentos são prescritos na Atenção Básica.
No Município estudado, o número de receitas com pelo menos um psicofármaco prescrito foi equivalente a 10,1%. Por ser um indicador criado por estes autores, não há parâmetro de comparação disponível em outros trabalhos. Porém, é relevante salientar que o número verificado nas UBSF não foi tão expressivo, dado o Município possuir um CAPS, onde se concentra a grande dispensação desses medicamentos.
Normalmente, os injetáveis são uma forma farmacêutica usada em excesso, além de, frequentemente, tornar o tratamento mais caro. Verificou-se que 2,9% das receitas continham pelo menos um injetável, valor condizente com a recomendação da OMS7 para este indicador, inferior a 10,0%. O valor encontrado também foi inferior aos apresentados em Ribeirão Preto-SP (8,3%),13 Brasília-DF (7,5%)14 e Ponta Grossa-PR (13%);15 superior, entretanto, ao encontrado em Campina Grande-PB (1,1%).16
Os medicamentos que constam na REMUME9 foram indicados em 78,3% do total de prescrições, superando as expectativas da OMS7 de adesão de 70,0%. O valor encontrado foi equivalente à média nacional (78,3%) ,17 porém inferior ao encontrado em Brasília-DF (85,3%),14 Ponta Grossa-PR (87,0%)15 e Campina Grande-PB (91,9%).16 Entre as UBSF, a adesão da REMUME variou de 35,8 a 75,9%. É importante salientar que todas as unidades da zona urbana apresentaram valores inferiores a 70,0%, possivelmente relacionados a falhas na padronização dos medicamentos, senão a hábitos prescricionais.
O resultado geral aponta que os prescritores seguem a relação de medicamentos padronizados. É mister apontar a necessidade de esta lista ser atualizada periodicamente, para melhor atender o perfil epidemiológico da população local.
As consultas duraram, em média, 7 minutos e 08 segundos, variando de 59 segundos a 23 minutos e 9 segundos, enquanto o tempo preconizado pelo SUS, estabelecido na Portaria no 1.101/GM, de 12/06/02, é de 15 minutos.26 A média foi inferior à encontrada em Ribeirão Preto-SP,11 de 9 minutos e 2 segundos, e superior à de Ponta Grossa-PR,13 de 6 minutos e 8 segundos.
Se se analisasse o tempo preconizado pelo SUS, ter-se-ia quatro consultas por hora, número não condizente com o tempo real de que "dispõem" muitos profissionais para examinar uma média de 15 pacientes por turno. Na prática, sabe-se que a carga horária de 40 horas semanais para atendimento médico não costuma ser cumprida.
As primeiras consultas realizadas, no início do dia ou do turno, tendiam a serem mais duradouras, reduzindo-se, gradativamente, o tempo das demais. O tempo de duração da consulta poderia influenciar a qualidade do atendimento médico mas considerando-se os dados obtidos e, a partir deles, a complexidade dessa conclusão, sua confirmação não é possível. Deve-se lembrar, inclusive, que o tempo de consulta é variável segundo os diferentes problemas de saúde e seus pacientes. É importante ressaltar, isso sim, que grande parte dos usuários era constituída de idosos e/ou doentes crônicos, os quais compareciam para renovação da receita. Caso se aceitasse essa explicação do tempo reduzido das consultas, como ficariam a reavaliação e o acompanhamento desses indivíduos?
Ao se analisar as rotinas das UBSF, observou-se que as consultas, em sua grande maioria, encontravam-se pré-marcadas, sendo pequeno o número de usuários que procuravam o serviço sem agendamento prévio. Já fora determinada a quantidade de indivíduos que poderia ser consultada diariamente, independentemente da demanda espontânea direta.
O tempo de dispensação variou de 3 segundos a 1 minuto e 3 segundos - média de 49 segundos, tempo superior ao de Santos e Nitrini (8,4 segundos) ,13 mas inferior ao encontrado por Marcondes (1 minuto e 46 segundos).15 Não foi encontrado valor ideal para esse indicador; todavia, tempo ideal deve ser o tempo suficiente para que sejam repassadas todas as informações necessárias e para que o usuário esclareça todas suas dúvidas.
Outro problema encontrado na dispensação de medicamentos foi a ausência de profissional Farmacêutico no local estudado, restando aos auxiliares de Farmácia esse encargo. Eis aqui uma situação extremamente perigosa, a ausência do profissional habilitado para orientar o uso de medicamentos - no caso, o Farmacêutico -, que pode trazer sérios prejuízos ao paciente. Muitas vezes, durante a consulta médica, não são passadas ao paciente todas as informações necessárias; da mesma forma, o paciente pode não compreender plenamente as recomendações médicas, ficando sujeito a um tratamento ineficaz ou mesmo ao agravamento de seu quadro clínico. A ineficiência dessa etapa poderá comprometer não só o uso do medicamento como fazer ruir todo o investimento programado.27
No caso específico da dispensação, a ausência do farmacêutico nas unidades públicas e privadas é um fator crítico para a consolidação do uso racional de medicamentos. Ela impede que os pacientes recebam instruções seguramente corretas e que seja realizada a avaliação adequada das interações medicamentosas e possíveis reações adversas. Vale destacar quão fundamental é uma capacitação técnica de qualidade para o exercício da profissão de Farmacêutico.
Dos 2.370 medicamentos prescritos, apenas 48,0% foram efetivamente dispensados, percentual bastante discrepante dos 95,0% recomendados pela OMS.7 A falta de medicamentos nos serviços públicos de saúde compromete não só seu acesso regular como a segurança para os pacientes que dependem de seu uso continuado, especialmente aqueles de menor poder aquisitivo.28
Uma baixa proporção da dispensação em relação ao total de prescrições pode, entretanto, ser resultante de uma seleção equivocada dos medicamentos presentes na REMUME: os medicamentos padronizados podem não corresponder à demanda do perfil epidemiológico de doenças e agravos na população. Esse percentual reduzido pode, também, ser decorrente de equívocos nos padrões prescricionais. São necessários, portanto, estudos adicionais investigativos dessas hipóteses.
O estudo aqui relatado mostrou que o município de Esperança-PB apresenta maioria de bons indicadores de prescrição e cuidado ao paciente, ao mesmo tempo que revela problemas na Saúde Pública que dificultam o uso racional de medicamentos.
É indiscutível a oportunidade de próximos estudos sobre a utilização dos indicadores, tanto pela escassez de dados existentes como pelo fato de eles contribuírem para o maior entendimento da realidade e a elaboração de políticas e estratégias reorientadoras da Assistência Farmacêutica.
Contribuição dos autores
Portela AS contribuiu na concepção do estudo, coleta de dados e redação do artigo.
Silva PCD participou da coleta de dados.
Simões MOS e Medeiros ACD participaram da revisão crítica e aprovação final do artigo.
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Endereço para correspondência:
Universidade Estadual da Paraíba,
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Rua Juvêncio Arruda, s/n,
Campus Universitário, Bodocongó,
Campina Grande-PB, Brasil.
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Recebido em 22/03/2011
Aprovado em 22/06/2012