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Epidemiologia e Serviços de Saúde
versão impressa ISSN 1679-4974versão On-line ISSN 2237-9622
Epidemiol. Serv. Saúde v.24 n.2 Brasília jun. 2015
http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742015000200012
ARTIGO ORIGINAL
Prevalência de hipertensão arterial autorreferida na população brasileira: análise da Pesquisa Nacional de Saúde, 2013
Self-reported hypertension prevalence in the Brazilian population: analysis of the National Health Survey, 2013
La prevalencia de hipertensión autorreferida en la población brasileña: análisis de la Encuesta Nacional de Salud de 2013
Silvânia Suely de Araújo AndradeI,II; Sheila Rizzato StopaI,II; Alessandra Scalioni BritoIII; Patrícia Sampaio ChueriIV; Célia Landmann SzwarcwaldV; Deborah Carvalho MaltaI,VI
IMinistério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde, Brasília-DF, Brasil
IIUniversidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, São Paulo-SP, Brasil
IIIInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Diretoria de Pesquisas, Rio de Janeiro-RJ, Brasil
IVMinistério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada e Temática, Brasília-DF, Brasil
VFundação Instituto Oswaldo Cruz, Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Rio de Janeiro-RJ, Brasil
VIUniversidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Enfermagem, Belo Horizonte-MG, Brasil
RESUMO
OBJETIVO: descrever a prevalência de hipertensão arterial autorreferida na população adulta brasileira, para o conjunto do país, zona urbana/rural, grandes regiões e Unidades da Federação.
MÉTODOS: estudo descritivo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde 2013; a amostra foi composta por 60.202 adultos (≥18 anos); foram calculadas as prevalências e respectivos intervalos de confiança de 95% (IC%) segundo sexo, faixa etária, escolaridade e cor da pele.
RESULTADOS: a prevalência de hipertensão foi de 21,4% (IC95%:20,8-22,0), sendo maior entre mulheres (24,2%; IC95%:23,4-24,9), indivíduos com mais de 75 anos de idade (55,0%; IC95%:51,8-58,3), menos escolarizados (31,1%; IC95%:30,1-32,2), de raça/cor preta (24,2%; IC95%:22,2-26,3), residentes na zona urbana (21,7%; IC95%:21,0-22,3), no Rio Grande do Sul (24,9%; IC95%:22,7-27,1) e na região Sudeste (23,3%; IC95%:23,3-24,3).
CONCLUSÃO: a prevalência da hipertensão foi elevada nos adultos brasileiros, principalmente entre pessoas maiores de 60 anos de idade, com baixa escolaridade, residentes em zona urbana e no Sudeste.
Palavras-chave: Hipertensão; Prevalência; Inquéritos Epidemiológicos; Doença Crônica; Epidemiologia Descritiva.
ABSTRACT
OBJECTIVE: to describe self-reported hypertension prevalence in Brazilian adults (aged 18 or over) for the entire country and by urban/rural areas, regions and states.
METHODS: this was a descriptive study using 2013 National Health Survey data from a sample of 60,202 adults;prevalence and respective 95% confidence intervals (95%CI) were calculated according to sex, age, schooling and race/skin color.
RESULTS: hypertension prevalence was 21.4% (95%CI:20.8-22.0); prevalence was highest among women (24.2%%; 95%%CI:23.4-24.9), individuals aged over 75 (55.0%%; 95%CI:51.8-58.3), those with less schooling (31.1%; 95%CI:30.1-32.2), black skin color (24.2%; 95%CI:22.2-26.3), those living in urban areas (21.7%; 95%CI:21.0-22.3), in the state of Rio Grande do Sul (24.9%; 95%CI:22.7-27.1) and in the Southeast region (23.3%; 95%CI:23.3-24.3).
CONCLUSION: hypertension prevalence was high in Brazilian adults, mainly among those aged 60 or over, with less schooling, living in urban areas and in the Southeast region.
Keywords: Hypertension; Prevalence; Health Surveys; Chronic Disease; Epidemiology, Descriptive.
RESUMEN
OBJETIVO: describir la prevalencia de la hipertensión autorreferida en la población adulta brasileña (18 años o más) para todo el país, zona urbana/rural, grandes regiones y unidades federales.
MÉTODOS: estudio descriptivo con datos de la Encuesta Nacional de Salud de 2013; la muestra se constituyó por 60.202 adultos; se calculó la prevalencia y los intervalos de confianza de 95% (IC95%) en función del sexo, edad, educación y raza/color.
RESULTADOS: la prevalencia de hipertensión arterial fue del 21,4% (IC95%:20,8-22,0); las tasas más altas se encuentran entre las mujeres (24,2%; IC95%:23,4-24,9), los mayores de 75 años(55,0%; IC95%:51,8-58,3), adultos con menor instrucción (31,1%; IC95%:30,1-32,2), de raza negra (24,2%; IC95%:22,2-26,3) residentes en zona urbana (21,7%; IC95%:21,0-22,3), en Rio Grande do Sul (24,9%; IC95%:22,7-27,1) y región Sudeste (23,3%; IC95%:23,3-24,3).
CONCLUSIÓN: la hipertensión arterial es elevada en adultos brasileños, afecta principalmente a los mayores de 60 años, con bajo nivel de instrucción y residentes en área urbana y en el Sudeste.
Palabras clave: Hipertensión; Prevalencia; Encuestas Epidemiológicas; Enfermedad Crónica; Epidemiología Descriptiva.
Introdução
As doenças cardiovasculares foram as causas de óbito mais importantes no mundo no período de 2000 a 2012, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).1 No Brasil, apesar da redução da mortalidade por essas doenças nos anos de 1996 a 2007,2 esse grupo ainda representou a principal causa de óbito no país em 2011.3 No ano 2000, a doença cardíaca hiper-tensiva ocupava a 16a posição no ranking mundial de mortalidade, subindo para a 10a posição em 2012.1 De acordo com a Décima Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), a doença cardíaca hipertensiva abrange os seguintes diagnósticos: hipertensão essencial (primária); doença cardíaca hipertensiva; doença renal hipertensiva; doença cardíaca e renal hipertensiva; e hipertensão secundária.
Além de importante corresponsável pelas causas de óbito, a hipertensão arterial (HA) é um dos fatores de risco para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares.4,5 Os fatores associados ao desenvolvimento da HA são: envelhecimento; excesso de peso; baixa escolaridade; tabagismo; consumo de bebidas alcoólicas; e cor da pele/raça negra.6-8
Para o ano de 2013, a prevalência de HA referida na população de adultos residentes nas capitais brasileiras e no Distrito Federal foi de 24,1% (IC95%:23,4-24,8).9 No período de 2006 a 2011, essa prevalência aumentou progressivamente com a idade e foi maior entre mulheres e adultos de menor escolaridade (zero a oito anos de estudo).10
O Plano Global de Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) estabeleceu meta de redução da HA em 25% entre 2015 e 2025.11 No Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022, foram definidas diversas medidas de promoção da saúde e de atenção relacionadas à HA: acordos com a indústria alimentícia para redução do teor de sódio em alimentos processados, incentivo à prática de atividade física por meio do Programa Academia da Saúde e disponibilização gratuita de medicamentos para controle da hipertensão arterial segundo classificação de risco.11,12 A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) é uma das ações de vigilância da HA e de outros fatores de risco para DCNT, além de contribuir para o monitoramento da morbimortalidade desses agravos no país.12
O objetivo deste estudo foi descrever a prevalência de hipertensão arterial - HA - autorreferida na população adulta brasileira (≥18 anos), tomando-se por base o conjunto do país, zona urbana e rural, grandes regiões geográficas e Unidades da Federação (UF).
Métodos
Estudo descritivo, utilizando os dados da PNS do ano de 2013. A PNS é um inquérito epidemiológico de base domiciliar, representativo para o Brasil, suas grandes regiões, UF, regiões metropolitanas, capitais e demais municípios de cada UF. A amostra da PNS 2013 foi composta por 64.348 domicílios. Os moradores selecionados que realizaram entrevista específica sobre estado de saúde, estilo de vida e doenças crônicas totalizaram 60.202. Os demais 4.146 moradores selecionados não tiveram suas informações consideradas, por uma das seguintes razões: (i) não aceitaram responder o questionário específico ou (ii) tiveram suas informações rejeitadas pela triagem automática de coerência, realizada pelo IBGE (Figura 1).
O plano amostral da PNS foi concebido em três estágios: as unidades primárias de amostragem (UPA) foram os setores censitários ou conjunto de setores; as unidades secundárias foram os domicílios; e as unidades terciárias, os residentes adultos (≥18 anos). Por ser a PNS parte do Sistema Integrado de Pesquisas Domiciliares do IBGE, as UPA consideradas na pesquisa são uma subamostra do conjunto de UPA existentes na Amostra Mestra do IBGE. A seleção dos domicílios foi feita com base na versão mais recente, disponível à época, do Cadastro Nacional de Endereço para Fins Estatísticos.
A investigação dos temas específicos de saúde foi feita junto a um único morador adulto selecionado em cada domicílio, por amostragem aleatória simples. Como se tratava de amostra complexa, o peso inicial do morador selecionado, que considerava a probabilidade de seleção do domicílio e a taxa de não resposta por sexo do morador selecionado, foi calculado de forma a retratar a mesma distribuição por sexo e grupo etário observada na pesquisa como um todo, ou seja, com todos os entrevistados pela PNS. Detalhes sobre o processo de amostragem e ponderação estão disponíveis na publicação sobre os resultados da PNS.13
O questionário de coleta de dados incluiu diversos temas, como saúde do idoso, da mulher e da criança, acidentes e violências, tabagismo, doenças crônicas não transmissíveis, atividade física, alimentação, autopercepção de saúde, entre outros. A coleta de dados foi realizada utilizando-se microcomputadores de mão (personal digital assistant [PDA]).13
O presente estudo analisou os dados da PNS referentes à seguinte questão sobre hipertensão arterial: "Algum médico já lhe deu o diagnóstico de hipertensão arterial (pressão alta)?"
Foi calculada a prevalência e intervalo de 95% de confiança (IC95%) para hipertensão arterial, estratificada segundo as seguintes variáveis:
a) sexo (masculino; feminino);
b) faixa etária (em anos: 18 a 29; 30 a 59; 60 a 64; 65 a 74; 75 e mais);
c) escolaridade (sem instrução e Ensino Fundamental incompleto; Ensino Fundamental completo e Médio incompleto; Ensino Médio completo e Superior incompleto; Ensino Superior completo); e
d) raça/cor da pele (branca; preta; parda).
Foram apresentadas as prevalências para o conjunto do Brasil, áreas urbana e rural, grandes regiões geográficas e UF.
As análises dos dados foram realizadas pelo software Stata® versão 11.0 (Stata Corp., College Station, Estados Unidos da América),14 utilizando-se o conjunto de comandos para análise de dados de inquéritos com amostra complexa (survey). Diferenças estatisticamente significativas no nível de 5% foram consideradas na ausência de sobreposição dos IC95%.
A PNS foi aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Ministério da Saúde, sob o Parecer no 328.159, de 26 de junho de 2013. A participação do adulto na pesquisa foi voluntária e a confidencialidade das informações, garantida. Os adultos selecionados para responder à entrevista e que concordaram em participar dela assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Resultados
As estimativas da PNS aqui discutidas são baseadas nas respostas de 60.202 indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos. Considerando-se as devidas ponderações amostrais, 56,9% dos entrevistados eram do sexo feminino, 57,6% tinham entre 30 e 59 anos de idade e 23,8% encontravam-se na faixa etária de 18 a 29 anos, 49,0% declararam-se de cor parda e 40,0% brancos, enquanto 9,4% referiram sua raça/cor da pele preta. Quanto à escolaridade, 26,8% haviam completado o Ensino Médio e 24,3% tinham o Ensino Fundamental incompleto. A proporção de indivíduos na amostra com Ensino Superior completo foi de 12,9%, enquanto aqueles sem instrução ou com menos de um ano de estudo representaram 15,7% dos entrevistados.
A prevalência de HA autorreferida foi de 21,4% (IC95%:20,8-22,0), superior no sexo feminino (24,2%; IC95%:23,4-24,9) em relação ao masculino (18,3%; IC95%:17,5-19,1). A menor prevalência foi observada na faixa etária de 18 a 29 anos (2,8%; IC95%:2,4-3,3), enquanto a maior foi encontrada entre indivíduos com 75 e mais anos de idade (55,0%; IC95%:51,8-58,3) (Tabela 1).
Adultos com menor nível de escolaridade (sem instrução e com Ensino Fundamental incompleto) apresentaram a maior prevalência de HA autorreferida (31,1%; IC95%:30,1-32,2). Essa prevalência foi maior entre pessoas de raça/cor da pele preta (24,2%; IC95%:22,2-26,3), quando comparadas às de raça/cor da pele parda (20,0%; IC95%:19,2-20,8); porém, não se observou diferença de prevalência entre pessoas de raça/cor da pele preta e de raça/cor da pele branca (22,1%; IC95%:21,3-23,0) (Tabela 1).
A prevalência de HA autorreferida foi maior na zona urbana (21,7%; IC95%:21,0-22,3), quando comparada à zona rural (19,8%; IC95%:18,6-21,0), na região Sudeste (22,9%; IC95%:21,5-24,3) e nos estados do Rio Grande do Sul (24,9%; IC95%:22,7-27,1), Minas Gerais (24,0%; IC95%:21,8%-26,1%) e Rio de Janeiro (23,9%; IC95%:22,2-25,7). A região Norte exibiu a menor prevalência entre as macrorregiões (14,5%; IC95%:13,6-15,5), assim como os estados do Pará (13,1%; IC95%:11,3-14,9), Amapá (13,3%; IC95%:11,0-15,5) e Maranhão (13,6%; IC95%:11,2-16,1) (Figura 2 e Tabela 2).
Discussão
A PNS é o primeiro estudo de abrangência nacional a investigar a prevalência autorreferida da hipertensão arterial na população adulta brasileira. De acordo com os dados desta pesquisa, em 2013, pouco mais de 1/5 da população estudada referiu diagnóstico médico de HA, representando aproximadamente 31,3 milhões de indivíduos em todo o país. A prevalência de HA foi maior no sexo feminino e mostrou-se crescente com o aumento da idade, foi inversamente proporcional ao nível de escolaridade, mais elevada entre os indivíduos de raça/cor da pele preta, residentes em zona urbana e na região Sudeste do país.
Segundo informações do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) sobre o mesmo ano de 2013, a prevalência de HA referida em adultos nas capitais brasileiras e no Distrito Federal foi de 24,1% (IC95%:23,4-24,8), sendo de 21,5% (IC95%:20,4-22,5) no sexo masculino e de 26,3% (IC95%:25,4-27,3) no feminino, com maiores prevalências na faixa etária acima dos 65 anos e entre indivíduos com menor escolaridade.9
Aponta-se, como limitação deste estudo, o uso de medidas autorreferidas restritas aos casos de hipertensão que já possuem diagnóstico médico. Entretanto, a informação autorreferida para hipertensão arterial em estudos populacionais é considerada válida e útil para a vigilância dessa enfermidade.15,16
Mulheres e indivíduos com idades de 55 a 64 anos reconheceram mais sua condição de hipertensos quando comparados a homens e àqueles indivíduos situados na faixa etária de 35 a 44 anos, respectivamente.16 Esta constatação pode influenciar na prevalência de HA autorreferida. Mulheres e indivíduos com idade superior a 64 anos buscam mais os serviços preventivos de saúde e têm maior percepção de sinais e sintomas indicativos de doenças, comparativamente a homens e jovens (a partir dos 15 anos).16,17
A prevalência de HA autorreferida foi maior em residentes da zona urbana. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), também realizada pelo IBGE, em suas edições de 1998 e 2003, também indicaram maior prevalência de doenças crônicas em moradores de áreas urbanas.15,18 Considerando-se que o desfecho investigado foi autorreferido a partir do diagnóstico médico da doença, pode-se atribuir esse achado à distribuição, maior acesso e uso regular de serviços de saúde por residentes na área urbana quando comparados aos moradores da zona rural.15,19
Segundo o mesmo raciocínio, uma das hipóteses para a maior prevalência de HA autorreferida no Sudeste pode ser o maior acesso da população residente na região aos serviços de saúde e, consequentemente, à maior disponibilidade do diagnóstico médico de HA. Estudo sobre desigualdades no acesso à saúde no Brasil, a partir de dados da PNAD/IBGE, indicou que para os anos de 1998 e 2003, os residentes do Sudeste e do Sul possuíam maiores chances de utilizar os serviços de saúde quando comparados aos residentes nas demais regiões.19 O envelhecimento populacional, mais acentuado no Sul do país,20 é outra explicação possível para a maior prevalência de HA referida nessa região.
A prevalência da HA em adultos, aferida mediante levantamentos de base populacional realizados em diferentes locais do Brasil no período de 1990 a 2004, foi de aproximadamente 20%, apresentando tendência de aumento com a idade21 e assim, corroborando os achados do presente estudo. A HA revelou-se como o principal fator de risco envolvido na mortalidade entre os anos de 1980 a 2002, correspondendo a 13% dos óbitos em todo o mundo.22 Estimativas globais demonstraram que a prevalência de HA em adultos foi de 26,4% no ano 2000, sendo de 26,6% para homens e de 26,1% para mulheres. Estima-se, para o ano de 2025, que a prevalência mundial de hipertensão arterial em adultos alcance uma proporção geral de 29,2%, sendo de 29,0% para homens e de 29,5% para mulheres.23
A literatura aponta que indivíduos com menor escolaridade apresentam maior carga de doença crônica, a exemplo de estudos realizados com base na PNAD 2008 e inquérito de saúde realizado no município de São Paulo-SP, também em 2008.15,18,24 São resultados indicadores de um maior impacto do nível de instrução escolar nas condições e na qualidade de vida das pessoas. Há evidências de que as incapacidades decorrentes das doenças crônicas são mais prevalentes nos subgrupos da população em piores condições socioeconômicas.20,24 Com relação à raça/ cor da pele, estudos apontam que a morbimortalidade em decorrência da HA e de outras doenças crônicas é maior entre pessoas de raça/cor da pele preta.20,25 O presente estudo não indicou diferenças na prevalência de HA entre indivíduos de raça/cor preta e branca. Uma possível explicação para esse resultado estaria na fragilidade de uma associação entre raça ou cor da pele e hipertensão e outras doenças crônicas, posto que a raça/cor consiste em um marcador influenciado por uma interação complexa entre fatores genéticos e desigualdades nas condições de vida, ambos com poder de influência na adoção de comportamentos saudáveis ou prejudiciais à saúde.20,25-28
A redução da prevalência da HA não se resume à meta global de redução da ocorrência da doença em 25%, a ser atingida até 2015. Sua consecução influencia diretamente o alcance da meta de redução da taxa de mortalidade prematura (entre <70 anos) por doenças crônicas não transmissíveis.11 A implementação de medidas de Saúde Pública, como o estímulo à alimentação adequada, prática de atividade física e cessação do tabagismo, o acesso à Atenção Básica e a disponibilização de medicamentos, além de medidas regulatórias como a proibição da propaganda do tabaco, ambientes livres de tabaco, acordo com a indústria alimentícia para diminuição do teor de sódio nos alimentos processados, entre outras, são essenciais para o alcance dessas metas.11
Fazem-se necessárias, igualmente, ações direcionadas aos determinantes sociais em saúde, capazes de minimizar o impacto da carga das doenças crônicas nos segmentos populacionais mais vulneráveis. Os dados da Pesquisa Nacional de Saúde - PNS - são fundamentais para apoiar políticas de promoção da saúde e ações assistenciais visando reduzir a carga de doenças devidas à hipertensão arterial sistêmica - HAS - e suas complicações.
Contribuição das autoras
Todas as autoras participaram da concepção do estudo, análise e interpretação dos dados, redação, revisão e aprovação final do manuscrito, e são responsáveis por todos os aspectos do trabalho, incluindo a garantia de sua precisão e integridade.
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Endereço para correspondência:
Silvânia Suely Caribé de Araújo Andrade
- Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde,
Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos
Não Transmissíveis e Promoção da Saúde,
SAF Sul, Trecho 2, Lotes 5-6, Bloco F, Torre 1,
Edifício Premium, Térreo, Sala 16,
Brasília-DF, Brasil. CEP: 70070600.
E-mail: silvania.andrade@saude.gov.br
Recebido em 02/02/2015
Aprovado em 23/03/2015