Introdução
A pandemia da doença pelo coronavírus 2019, COVID-19 (sigla em inglês para coronavirus disease 2019) foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 11 de março de 2020.(1) No Brasil, desde o primeiro caso, confirmado em 26 de fevereiro, foram registrados outros 374.898, e 23.485 óbitos atestados até 1o de junho.(2)
Uma importante questão epidemiológica diz respeito à elevada infectividade do SARS-CoV-2 (sigla em inglês para severe acute respiratory syndrome coronavirus 2), agente etiológico da COVID-19, cuja velocidade de propagação pode variar de 1,6 a 4,1.(3) A elevada infectividade do SARS-CoV-2 e a ausência de uma vacina contra esse vírus fazem com que o aumento do número de casos seja exponencial.(3)
Em função da inexistência de medidas preventivas ou terapêuticas específicas para a COVID-19, e sua rápida taxa de transmissão e contaminação, a OMS recomendou aos governos a adoção de intervenções não farmacológicas (INF), as quais incluem medidas de alcance individual (lavagem das mãos, uso de máscaras e restrição social), ambiental (limpeza rotineira de ambientes e superfícies) e comunitário (restrição ou proibição ao funcionamento de escolas e universidades, locais de convívio comunitário, transporte público, além de outros espaços onde pode haver aglomeração de pessoas).(1) Entre todas, destaca-se a restrição social.(6)
No Brasil, diversas medidas foram adotadas pelos estados e municípios, como o fechamento de escolas e comércios não essenciais. Trabalhadores foram orientados a desenvolver suas atividades em casa, alguns municípios e estados encerraram-se em seus limites e divisas. Autoridades públicas locais chegaram a decretar bloqueio total (lockdown), com punições para estabelecimentos e indivíduos que não se adequassem às normativas.(7) A restrição social resulta ser a medida mais difundida pelas autoridades, e a mais efetiva para evitar a disseminação da doença e achatar a curva de transmissão do coronavírus. Geralmente, a repercussão clínica e comportamental dessa obrigação implica mudanças no estilo de vida e pode afetar a saúde mental dos cidadãos.(9)
Em relação aos estilos de vida, a restrição social pode levar a uma redução importante nos níveis de atividade física de intensidade moderada a vigorosa, e no aumento de tempo em comportamento sedentário.(11) Nos Estados Unidos, observou-se um aumento no hábito de assitir à televisão (TV) e internet entre adultos durante a pandemia.(13) Resultados semelhantes foram identificados na Itália e na Espanha, tanto na participação em transmissões ao vivo, pelas redes sociais, quanto no aumento na instalação de aplicativos de programação de TV.(14)
Outra preocupação refere-se à alteração dos hábitos alimentares. Nos Estados Unidos, no início da pandemia, observou-se um crescimento no volume de compras em supermercados e estoque doméstico de alimentos ultraprocessados e de alta densidade energética, como batatas fritas, pipoca, chocolate e sorvete.(15) Adicionalmente, estudos indicam aumento no consumo de álcool,(10) isoladamente, e no consumo associado de álcool e tabaco, durante a quarentena.(12)
A adoção bem-sucedida de restrição social como medida de Saúde Pública traz comprovados benefícios à redução da taxa de transmissão da COVID-19; entretanto, efeitos negativos, associados a essa restrição, poderão ter consequências para a saúde, no médio e longo prazo. Portanto, espera-se das ações de Saúde Pública, também, uma capacidade de minimizar os efeitos adversos da restrição social prolongada.
O presente estudo teve como objetivo descrever as mudanças nos estilos de vida, no que se refere ao consumo de tabaco, bebidas alcoólicas, alimentação e atividade física, no período de restrição social para a prevenção e controle da pandemia da COVID-19.
Métodos
Trata-se de um estudo transversal realizado no Brasil com dados do inquérito de saúde virtual ‘ConVid, Pesquisa de Comportamentos’. O ConVid é um inquérito de saúde conduzido pela Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Todas as pessoas na idade de 18 anos ou mais, residentes no território brasileiro durante a pandemia de COVID-19, foram elegíveis para participar deste estudo.
O convite aos participantes foi feito por um procedimento de amostragem em cadeia.(15) Na primeira etapa, os pesquisadores do estudo escolheram um total de 200 outros pesquisadores de diferentes estados do Brasil. Cada pesquisador selecionou 20 pessoas de sua rede social, totalizando cerca de 500 pessoas. As pessoas escolhidas na primeira etapa foram chamadas de influenciadores ou ‘sementes’, porque desencadearam a rede de convidados. Após responder ao questionário, as ‘sementes’ constituíram a primeira onda da cadeia de recrutamento: elas enviaram o link da pesquisa para pelo menos 12 pessoas de suas redes sociais, obedecendo a uma estratificação por sexo, faixa de idade (anos: 18 a 39; 40 a 59; 60 ou mais) e grau de escolaridade (ensino médio incompleto ou menos; ensino médio completo ou mais), isto é, convidando pelo menos três pessoas em cada um dos 12 estratos. As pessoas convidadas pelas ‘sementes’ compuseram a segunda onda da cadeia de recrutamento. A cada pessoa da segunda onda, foi solicitado que convidasse pelo menos outras três pessoas de suas redes sociais, por meio da mensagem ao final do questionário:
Faça parte da Rede ConVid e compartilhe esta pesquisa com três ou mais convidados da sua rede social. Você pode fazer isso clicando aqui ou copiando e enviando o nosso link: https://convid.fiocruz.br
No desenrolar do processo, a rede de convidados aumentou rapidamente.
As variáveis sociodemográficas estudadas foram ‘sexo’ (feminino; masculino) e ‘faixa etária’ (anos: 18 a 29; 30 a 39; 40 a 49; 50 a 59; 60 ou mais).
O aumento do número de cigarros foi avaliado pelas seguintes perguntas:
Você é fumante?
Se SIM,
Antes da pandemia, em média, quantos cigarros você costumava fumar por dia?
Durante a pandemia, em média, quantos cigarros você passou a fumar por dia?
As opções de respostas para as duas últimas questões eram: “Não fumava cigarros, só outros produtos”; “Menos que 1 por dia”; “De 1 a 9 cigarros”; “De 10 a 19 cigarros”; “De 20 a 29 cigarros”; “De 30 a 39 cigarros”; “40 ou mais cigarros”. Para avaliar a quantidade de cigarros antes (tempo 1 ou t1) e durante a pandemia (tempo 2 ou t2) foi usado o ponto médio da categoria de resposta e calculada a diferença entre os dois momentos (t2 - t1). Considerou-se aumento no consumo de cigarros quando a diferença entre t2 e t1 foi positiva."
O maior consumo de bebida alcóolica durante a pandemia foi avaliado pela questão:
Durante a pandemia:
continuei bebendo com a mesma frequência
estou bebendo mais do que costumava
estou bebendo menos do que costumava
tinha parado de beber, mas comecei a beber novamente
Foi considerado como maior consumo de bebida alcóolica quando os indivíduos referiram as alternativas ‘b’ e ‘d’.
Para avaliar os hábitos alimentares, foi utilizada a indicação do consumo de determinados alimentos:
Usualmente, antes da pandemia, em quantos dias da semana costumava comer esses alimentos?
Durante a pandemia, com que frequência você passou a comer esses alimentos?
Para ambas as questões, foram apresentadas as seguintes opções de alimentos: vegetais (verduras ou legumes); frutas; feijão; pizza congelada ou lasanha congelada ou outro prato pronto congelado; salgadinhos ‘de pacote’; chocolates, biscoitos doces, pedaços de torta. As alternativas de resposta para cada opção foram: 5 dias ou mais; de 2 a 4 dias; um dia ou menos. Para os alimentos saudáveis (verduras ou legumes, frutas e feijão), foi considerado como consumo regular o consumo em 5 ou mais dias da semana.(16) Para alimentos não saudáveis (pizza congelada ou lasanha congelada ou outro prato pronto congelado, salgadinhos ‘de pacote’, chocolates, biscoitos doces, pedaços de torta), foi considerado como inadequado o consumo em 2 ou mais dias na semana, haja vista não ser recomendado o consumo desses alimentos em qualquer quantidade.(17) Esta seria a opção de resposta com menor número de dias disponível no questionário.
A prática de atividade física foi avaliada pelas seguintes questões:
Antes da pandemia de coronavírus, quantos dias por semana você praticava algum tipo de exercício físico ou esporte? (não considere fisioterapia)
Quanto tempo durava esta atividade?
Durante a pandemia, quantos dias por semana você pratica/praticava exercício físico ou esporte?
Durante a pandemia, quanto tempo dura/durava essa atividade?
Ao começar a falar de comportamento sedentário, foram considerados suficientemente ativos os indivíduos que reportaram um mínimo de 150 minutos de atividade física por semana.
O comportamento sedentário foi avaliado pelo tempo dispendido diante da TV e do computar/tablet.
Em relação à TV, foram propostas as questões:
Antes da pandemia, quantas horas por dia você tem assistido/assistia à televisão?
Durante a pandemia, quantas horas por dia você tem assistido/assistia televisão?
E em relação a computador/tablet:
Antes da pandemia, quantas horas por dia você costumava usar computador ou tablet?
Durante a pandemia, quantas horas por dia você tem feito uso do computador ou tablet?
Para a variável ‘tempo de TV’, as opções de respostas eram: não assistia à TV; menos de 1 hora; entre 1 hora e menos de 2 horas; entre 2 horas e menos de 3 horas; entre 3 horas e menos de 4 horas; entre 4 horas e menos de 5 horas; entre 5 horas e menos de 6 horas; 6 horas ou mais. Para o cálculo do tempo de TV, foi considerado o ponto médio da categoria. Para a variável tempo de uso do computador/tablet, a resposta era aberta e o indivíduo indicava o número de horas ou 0, se não usava computador ou tablet.
A coleta de dados foi realizada via web. O participante preencheu o questionário por celular ou computador com acesso à internet, no período de 24 de abril a 24 de maio de 2020. O instrumento foi construído utilizando-se o aplicativo RedCap (sigla em inglês para Research Eletronic Data Capture), uma plataforma para coleta, gerenciamento e disseminação de dados de pesquisas. As informações foram coletadas e armazenadas no servidor do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz (ICICT/Fiocruz).
Foram calculadas a prevalência e o intervalo de 95% de confiança (IC95%) para as variáveis qualitativas ‘prática de atividade física’, ‘hábitos alimentares’, ‘mudanças no uso de tabaco e álcool’; e a média e IC95% para a variável quantitativa ‘tempo de telas’. Todas as análises foram realizadas para a população total da amostra, segundo sexo e faixa etária. Diferenças significativas foram identificadas mediante a não sobreposição dos dados de IC95% das prevalências em questão. Tendo em vista a amostra não ser probabilística, para a análise estatística dos dados, foram utilizados procedimentos de pós-estratificação.(18) Esta técnica corrige a sub ou sobrerrepresentação de segmentos populacionais e tem sido utilizada com frequência em pesquisas domiciliares, a exemplo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), para ajustar os totais amostrais às projeções populacionais nos domínios de divulgação dos dados e no Inquérito Telefônico de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas (Vigitel), com o propósito de compensar a baixa cobertura de telefonia fixa em algumas capitais do país. No presente estudo, a amostra foi calibrada pelos dados da PNAD Contínua 2019, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), visando obter a mesma distribuição por Unidade da Federação, sexo, faixa etária, raça/cor da pele e grau de escolaridade.
As informações foram processadas com uso do aplicativo Stata versão 14, empregando-se o módulo survey, que considera os pesos de pós-estratificação.
Os participantes preencheram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Todas as respostas tiveram garantido o anonimato, sem qualquer identificação dos participantes. A pesquisa foi aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP)/Conselho Nacional de Saúde (CNS): Parecer nº 3.980.277, emitido em 7 de abril de 2020.
Resultados
Aceitaram participar da pesquisa e iniciaram o preenchimento do questionário 47.184 pessoas. No entanto, foram excluídos 2.023 (4,3%) questionários, cujas informações necessárias para a calibração dos dados não haviam sido preenchidas, a saber: Unidade da Federação, sexo, idade, raça/cor da pele ou escolaridade. A amostra final foi composta por 45.161 indivíduos, dos quais 53,6% do sexo feminino. Em relação à faixa etária, observou-se que 24,7% da amostra estudada tinham entre 18 e 29 anos, 21,0% entre 30 e 39, 18,1% entre 40 e 49, 15,9% entre 50 e 59, e 20,3% contavam 60 ou mais anos. No que se refere à escolaridade, a maioria dos participantes apresentava ensino médio completo (72,4), 11,1% tinham ensino fundamental incompleto e 16,5% responderam ter ensino superior completo ou mais (Tabela Suplementar).
Do total da população da amostra, 12,0% (IC95% 11,1;12,9) eram fumantes, com maior prevalência entre homens (13,8% – IC95% 12,3;15,5). Quanto à faixa etária, a prevalência foi mais baixa entre adultos jovens, com 18 a 29 anos (8,7% – IC95% 7,3;10,4). Sobre o tabagismo, 34% dos fumantes relataram ter aumentado o consumo de cigarros durante a pandemia: aumento de 10 cigarros por dia foi observado em 22,5% (IC95% 19,6;25,7), e de 20 cigarros por dia, em 5,1% (IC95% 3,4;7,7) dos participantes. Estratificando-se a amostra por sexo, o percentual de aumento de 10 cigarros por dia foi maior entre as mulheres (28,9% – IC95% 24,7;33,6), comparadas com os homens (16,8% – IC95% 13,3;21,0). O aumento de 5 cigarros por dia apresentou maior prevalência entre os jovens de 18 a 29 anos (15,7% – IC95% 8,2;28,0) comparados aos indivíduos de 50 anos ou mais, enquanto o aumento em 10 cigarros e mais de 20 cigarros por dia foi semelhante entre todas as idades (Tabela 1).
Variáveis | Fumante atual % | Alteração no número de cigarros consumidos por dia | ||||
---|---|---|---|---|---|---|
| ||||||
Diminuiu | Persistiu igual | Aumento de 5 cigarros ou menos | Aumento de cerca de 10 cigarros | Aumento de 20 cigarros ou mais | ||
| ||||||
(IC95%)a | (IC95%)a | (IC95%)a | (IC95%)a | (IC95%)a | (IC95%)a | |
Total | 12,0 (11,1;12,9) | 12,1 (9,7;14,9) | 53,9 (50,0;57,8) | 6,4 (4,3;9,4) | 22,5 (19,6;25,7) | 5,1 (3,4;7,7) |
Sexo | ||||||
Masculino | 13,8 (12,3;15,5) | 11,9 (8,6;16,3) | 57,9 (51,8;63,8) | 8,4 (4,9;14,1) | 16,8 (13,3;21,0) | 5,0 (2,7;8,8) |
Feminino | 10,4 (9,5;11,4) | 12,3 (9,2;16,0) | 49,4 (44,6;54,1) | 4,1 (2,9;5,7) | 28,9 (24,7;33,6) | 5,3 (2,9;9,54) |
Faixa etária (anos) | ||||||
18-29 | 8,7 (7,3;10,4) | 13,7 (9,6;19,2) | 50, 2 (40,7;59,6) | 15,7 (8,2;28,0) | 17,0 (12,0;23,5) | 3,4 (1,8;6,2) |
30-39 | 13,1 (11,1;15,5) | 12,7 (7,3;21,1) | 49,3 (40,7;57,9) | 6,6 (3,4;12,5) | 21,6 (16,0;28,6) | 9,8 (4,3;20,6) |
40-49 | 12,5 (10,5;14,8) | 9,3 (4,9;17,0) | 57,7 (48,6;66,3) | 7,1 (3,4;14,4) | 20,9 (15,0;28,4) | 5,0 (2,4;10,0) |
50-59 | 14,1 (12,3;16,3) | 13,9 (9,0;20,9) | 56,6 (49,1;63,7) | 1,1 (0,6;1,93) | 23,5 (18,3;29,5) | 4,9 (2,5;9,3) |
≥60 | 12,7 (10,7;15,0) | 10,7 (6,8;16,4) | 56,3 (47,6;57,8) | 2,6 (0,6;1,93) | 28,6 (21,1;37,3) | 1,8 (0,8;4,4) |
a) IC95%: intervalo de confiança de 95%.
O maior consumo de bebida alcoólica durante a restrição social, na população adulta, foi reportado por 17,6% (IC95% 16,4;18,9), sem diferenças por sexo. A maior prevalência do consumo de álcool foi encontrada nas pessoas de 30 a 39 anos de idade (24,6% – IC95% 21,2;28,3), seguidas daquelas entre 18 e 29 anos; a menor prevalência de consumo de bebida alcoólica correspondeu aos idosos (11,2% – IC95% 8,8;14,2) (Tabela 2).
Variáveis | Maior consumo de bebida alcoólica durante a pandemia % |
---|---|
| |
(IC95%)ª | |
Total | 17,6 (16,4;18,9) |
Sexo | |
Masculino | 18,1 (16,0;20,4) |
Feminino | 17,1 (15,9;18,5) |
Faixa etária (anos) | |
18-29 | 18,6 (16,4;21,0) |
30-39 | 24,6 (21,2;28,3) |
40-49 | 16,9 (14,3;19,9) |
50-59 | 15,2 (12,9;17,7) |
≥60 | 11,2 (8,8;14,2) |
a) IC95%: intervalo de confiança de 95%.
A frequência de consumo de alimentos saudáveis diminuiu, durante a pandemia. A maior diminuição observou-se no consumo regular de hortaliças, que de 37,3% (IC95% 35,9;38,6) passou a 33,0% (IC95% 31,7;34,3). Não houve diferenças no consumo de frutas e feijão. Entre os homens, tampouco houve diferenças no consumo de alimentos saudáveis; nas mulheres, observou-se redução na frequência de consumo de hortaliças. Não houve diferenças na frequência de consumo de alimentos saudáveis entre faixas etárias, tendo-se mantido o consumo mais elevado desses alimentos pelos idosos (60 anos ou mais) (Tabela 3).
Variáveis | Antes da pandemia | Durante a pandemia |
---|---|---|
| ||
% (IC95%)ª | % (IC95%)ª | |
Total | ||
Consumo regular de hortaliças | 37,3 (35,9;38,6) | 33,0 (31,7;34,3) |
Consumo regular de frutas | 32,8 (31,5;34,2) | 31,9 (30,6;33,3) |
Consumo regular de feijão | 43,3 (41,8;44,7) | 40,9 (39,4;42,3) |
Congelados mais de 2 dias | 10,0 (8,9;11,2) | 14,6 (13,5;15,9) |
Salgadinhos mais de 2 dias | 9,5 (8,6;10,5) | 13,2 (12,2;14,3) |
Chocolates/biscoitos doces/pedaços de torta mais de 2 dias | 41,3 (39,8;42,7) | 47,1 (45,6;48,6) |
Masculino | ||
Consumo regular de hortaliças | 33,3 (31,1;35,6) | 28,6 (26,5;38,3) |
Consumo regular de frutas | 28,3 (26,1;30,6) | 27,1 (24,9;29,4) |
Consumo regular de feijão | 47,0 (44,5;49,6) | 44,3 (41,8;46,8) |
Congelados mais de 2 dias | 12,4 (10,4;14,7) | 17,0 (14,8;19,5) |
Salgadinhos mais de 2 dias | 10,0 (8,4;11,9) | 14,2 (12,3;16,4) |
Chocolates/biscoitos doces/pedaços de torta mais de 2 dias | 40,6 (38,1;43,1) | 45,1 (42,6;47,6) |
Feminino | ||
Consumo regular de hortaliças | 40,7 (39,2;42,1) | 36,8 (35,3;38,3) |
Consumo regular de frutas | 36,8 (35,3;38,3) | 36,1 (34,5;37,7) |
Consumo regular de feijão | 39,9 (38,4;41,5) | 37,9 (36,4;39,5) |
Congelados mais de 2 dias | 7,9 (7,1;8,7) | 12,6 (11,7;13,5) |
Salgadinhos mais de 2 dias | 9,0 (8,2;9,9) | 12,4 (11,6;13,3) |
Chocolates/biscoitos doces/pedaços de torta mais de 2 dias | 41,8 (40,3;43,4) | 48,8 (47,2;50,4) |
Faixa etária (anos) | ||
18-29 | ||
Consumo regular de hortaliças | 29,8 (27,6;32,0) | 27,8 (25,7;30,0) |
Consumo regular de frutas | 21,8 (19,8;24,1) | 20,6 (18,5;22,8) |
Consumo regular de feijão | 49,1 (46, 4;51,7) | 45,3 (42,7;48,1) |
Congelados mais de 2 dias | 12,7 (10,4;15,3) | 20,5 (18,1;23,2) |
Salgadinhos mais de 2 dias | 14,6 (13,0;16,4) | 21,8 (19,5;24,3) |
Chocolates/biscoitos doces/pedaços de torta mais de 2 dias | 54,2 (51,6;56,8) | 63,0 (60,3;65,6) |
30-39 | ||
Consumo regular de hortaliças | 31,9 (28,7;35,3) | 26,1 (23,3;29,1) |
Consumo regular de frutas | 24,9 (21,9;28,0) | 23,5 (20,7;26,7) |
Consumo regular de feijão | 41,1 (37,6;44,6) | 38,5 (38,5;42,0) |
Congelados mais de 2 dias | 12,4 (9,6;15,7) | 18,2 (15,3;21,6) |
Salgadinhos mais de 2 dias | 12,3 (9,8;15,3) | 16,1 (13,7;18,9) |
Chocolates/biscoitos doces/pedaços de torta mais de 2 dias | 41,9 (38,6;45,2) | 49,4 (45,8;52,9) |
40-49 | ||
Consumo regular de hortaliças | 36,8 (33,7;40,1) | 32,1 (29,1;35,2) |
Consumo regular de frutas | 29,2 (26,1;32,4) | 29,5 (26,4;32,9) |
Consumo regular de feijão | 42,6 (39,2;46,1) | 41,5 (38,1;45,0) |
Congelados mais de 2 dias | 9,7 (7,2;12,8) | 13,4 (10,8;16,6) |
Salgadinhos mais de 2 dias | 8,6 (6,5;11,3) | 12,3 (9,9;15,0) |
Chocolates/biscoitos doces/pedaços de torta mais de 2 dias | 37,8 (34,5;41,3) | 42,4 (38,9;45,9) |
50-59 | ||
Consumo regular de hortaliças | 45,0 (41,9;48,1) | 39,4 (36,4;42,4) |
Consumo regular de frutas | 39,4 (36,5;42,5) | 38,4 (35,4;41,4) |
Consumo regular de feijão | 40,6 (37,5;43,7) | 37,7 (34,7;40,8) |
Congelados mais de 2 dias | 7,6 (6,2;9,3) | 10,2 (8,5;12,1) |
Salgadinhos mais de 2 dias | 5,9 (4,2;8,2) | 7,5 (5,8;9,7) |
Chocolates/biscoitos doces/pedaços de torta mais de 2 dias | 34,5 (31,7;37,5) | 39,8 (36,9;42,8) |
60 ou mais | ||
Consumo regular de hortaliças | 46,2 (42,8;49,5) | 42,5 (39,2;45,8) |
Consumo regular de frutas | 52,6 (49,1;56,0) | 51,5 (48,0;55,0) |
Consumo regular de feijão | 41,0 (37,7;44,5) | 39,8 (36,4;43,4) |
Congelados mais de 2 dias | 6,2 (4,8;7,9) | 7,4 (5,5;9,8) |
Salgadinhos mais de 2 dias | 2,8 (2,2;3,7) | 3,4 (2,7;4,4) |
Chocolates/biscoitos doces/pedaços de torta mais de 2 dias | 32,7 (29,6;36,0) | 34,0 (30,9;37,2) |
a) IC95%: intervalo de confiança de 95%.
Durante a pandemia, a prevalência de consumo de alimentos não saudáveis em 2 dias ou mais por semana aumentou: congelados, de 10,0% (IC95% 8,9;11,2) para 14,6% (IC95% 13,5;15,9); salgadinhos, de 9,5% (IC95% 8,6;10,5) para 13,2% (IC95% 12,2;14,3); e chocolates/biscoitos doces/pedaços de torta, de 41,3% (IC95% 39,8;42,7) para 47,1% (IC95% 45,6;48,6). A frequência de consumo de congelados e salgadinhos aumentou em ambos os sexos, enquanto o de chocolates/biscoitos doces/pedaços de torta acusou maior aumento entre as mulheres. Entre os adultos jovens (18 a 29 anos), a frequência de consumo de todos os alimentos não saudáveis aumentou em maior proporção, destacando-se chocolates/biscoitos doces/pedaços de torta em 2 dias ou mais da semana, de 54,2% (IC95% 51,6;56,8) antes da pandemia para 63,0% (IC95% 60,3;65,6) durante a pandemia. Não foi observado aumento da frequência de consumo de alimentos não saudáveis entre os idosos (Tabela 3).
A prática de atividade física também apresentou mudanças devido à pandemia, no Brasil. Antes da COVID-19, 30,1% (IC95% 28,9;31,5) dos adultos faziam atividade física suficiente; durante a pandemia, esse percentual passou a ser de apenas 12,0% (IC95% 11,1;12,9). Tal prevalência já era superior entre os homens (33,0% – IC95% 30,7;35,5), frente às mulheres (27,6% – IC95% 26,2;29,0); durante a pandemia, embora houvesse redução em ambos os sexos, os homens mantiveram proporção maior de atividade física (14,0% – IC95% 12,4;15,8) na comparação com as mulheres (10,3% – IC95% 9,4;11,2). Os adultos jovens (18 a 29 anos), que praticavam mais atividade física antes da pandemia, 32,6% (IC95% 30,2;35,1), reduziram-na para 10,9% (IC95% 9,6;12,5), seguidos de adultos com 30 a 39 anos: estes, antes da pandemia, eram 31,0% (IC95% 27,7;34,5), e durante a pandemia, 10,6% (IC95% 8,8;12,7) a praticar exercícios físicos. Os idosos (60 anos ou mais) passaram de 30,4% (IC95% 27,2;33,8) para 14,2% (IC95% 11,9;16,9) praticantes (Tabela 4).
Variáveis | Atividade física suficiente antes da pandemia % | Atividade física suficiente durante a pandemia |
---|---|---|
| ||
(IC95%)a | (IC95%)a | |
Total | 30,1 (28,9;31,5) | 12,0 (11,1;12,9) |
Sexo | ||
Masculino | 33,0 (30,7;35,5) | 14,0 (12,4;15,8) |
Feminino | 27,6 (26,2;29,0) | 10,3 (9,4; 11,2) |
Faixa etária (anos) | ||
18-29 | 32,6 (30,2;35,1) | 10,9 (9,6;12,5) |
30-39 | 31,0 (27,7;34,5) | 10,6 (8,8;12,7) |
40-49 | 27,1 (24,3;30,1) | 11,6 (9,6;14,1) |
50-59 | 28,2 (25,6;31,0) | 13,2 (11,3;15,4) |
≥60 | 30,4 (27,2;33,8) | 14,2 (11,9;16,9) |
a) IC95%: intervalo de confiança de 95%.
Por sua vez, no comportamento sedentário durante a pandemia, o tempo médio de uso da TV foi de 3,31 horas (IC95% 3,24;3,38), representando um aumento de 1 hora e 45 minutos em relação ao tempo médio dedicado à televisão antes da epidemia. O aumento no tempo para assistir à televisão foi observado tanto em homens como em mulheres. Adultos de 30 a 39 anos tiveram maior aumento no tempo reservado à TV, passando de uma média de 1,72 (IC95% 1,60;1,83) para 3,38 horas (IC95% 3,21;3,55). Apesar de os idosos serem o grupo com o maior tempo médio diante da TV, eles apresentaram o menor aumento médio nesse tempo, uma hora a mais, durante a restrição social (Tabela 5).
Variáveis | Tempo médio de uso do computador ou tablet (horas) | Tempo médio de uso da TV (horas) | ||
---|---|---|---|---|
| ||||
Antes | Depois | Antes | Depois | |
| ||||
Média (IC95%)ª | Média (IC95%)ª | Média (IC95%)ª | Média (IC95%)ª | |
Total | 3,81 (3,71;3,92) | 5,30 (5,17;5,43) | 1,85 (1,80;1,90) | 3,31 (3,24;3,38) |
Sexo | ||||
Masculino | 4,36 (4,18;4,53) | 5,91 (5,69;6,13) | 1.88 (1,79;1,96) | 3,17 (3,05;3,29) |
Feminino | 3,34 (3,24;3,45) | 4,76 (4,62;4,90) | 1,80 (1,78;1,89) | 3,44 (3,36;3,52) |
Faixa etária (anos) | ||||
18-29 | 4,48 (4,29;4,67) | 7,22 (6,97;7,47) | 1,14 (1,07;1,20) | 2,83 (2,71;2,96) |
30-39 | 4,22 (3,98;4,46) | 5,65 (5,35;5,95) | 1,72 (1,60;1,83) | 3,38 (3,21;3,55) |
40-49 | 3,84 (3,60;4,09) | 5,05 (4,76;5,33) | 1,92 (1,81;2,04) | 3,51 (3,34;3,68) |
50-59 | 3,42 (3,20;3,65) | 4,22 (3,99;4,45) | 2,19 (2,08;2,30) | 3,44 (3,29;3,60) |
≥60 | 2,85 (2,63;3,07) | 3,65 (3,38;3,91) | 2,53 (2,40;2,66) | 3,54 (3,39;3,69) |
a) IC95%: intervalo de confiança de 95%.
Em relação ao uso de computador ou tablet, o tempo médio de utilização dessas tecnologias foi de mais de 5 horas durante a pandemia, representando um aumento médio de 1 hora e 30 minutos em relação ao tempo de uso anterior. O maior tempo médio de uso foi declarado pelos adultos jovens (18-29 anos): 7 horas e 15 minutos, representando um aumento de quase 3 horas sobre o tempo de uso (Tabela 5) antes da pandemia da COVID-19.
Discussão
Os achados do presente estudo apontam para o aumento de comportamentos de risco à saúde. Os brasileiros passaram a praticar menos atividade física, aumentaram o tempo dedicado às telas (TV, tablet e/ou computador), reduziram o consumo de alimentos saudáveis e aumentaram o de ultraprocessados, como também o consumo de cigarros e de álcool, em decorrência das restrições sociais impostas pela pandemia. O estudo confirma, portanto, a hipótese inicial dos investigadores, comprovada em estudos desenvolvidos em outros países, de piora nos fatores de risco comportamentais, durante a pandemia da COVID-19.
Entre as limitações do estudo atual, pode-se apontar a coleta de dados pela internet, que pode não atingir todos os estratos populacionais (como pessoas de menor escolaridade), visto que nem todos têm acesso a esse meio de comunicação. A exclusão involuntária dessas pessoas pode ter provocado a sub ou superestimação da proporção dos indicadores. Contudo, essa limitação foi minimizada pelo grande número amostral e a calibração da amostra com os dados da PNAD Contínua 2019. O estudo não mediu a prevalência de alguns indicadores antes da pandemia, a exemplo do consumo de álcool e tabaco, e sim o aumento de seu consumo durante a pandemia, dado um momento específico, de restrição social, que não representa alterações definitivas na forma de uso da população.
No que concerne à redução da prática de atividade física e ao aumento do comportamento sedentário, aferido pelo tempo ocupado com a TV, tablet e computadores, comportamentos observados também em outros estudos,(12) é importante ressaltar que a redução de atividade física pode provocar uma rápida deterioração da saúde cardiovascular e mortes prematuras entre populações com maior risco de enfermidades do coração.(12)Mesmo a inatividade física de curto prazo (1 a 4 semanas) tem sido associada a efeitos prejudiciais na função e estrutura cardiovascular e ao aumento dos fatores de risco cardiovascular.(12) Assim, medidas são necessárias para orientar a população sobre estratégias de manutenção de hábitos ativos durante o período de restrição social, especialmente os grupos populacionais mais afetados.(19)
O aumento no consumo de alimentos ultraprocessados e de alta densidade energética, como batatas fritas, chocolates e sorvetes, também foi observado no presente estudo. São alimentos ricos em açúcares, gorduras e calorias, além de conservantes e sal, resultando em prejuízos para a saúde, como aumento da obesidade, hipertensão e doenças cardiovasculares.(13) A restrição social pode influenciar a ingestão e o gasto de energia, afetando o balanço energético e contribuindo para o ganho de peso.(13)
O estudo atual apontou o aumento do consumo de bebida alcoólica durante a pandemia, possivelmente associado a seus efeitos e estressores, como tristeza e ansiedade, medos relativos ao futuro, insegurança no emprego e risco de morte. Fatos semelhantes foram observados na província de Hubei, China, a partir de pesquisa on-line com 1.074 participantes. Grande incremento no consumo de álcool foi apontado pelos autores do referido estudo, como decorrência da restrição e do bloqueio total decretado pelas autoridades da província chinesa, em resposta à epidemia da COVID-19, e pode estar relacionado ao aumento da ansiedade, depressão e redução do bem-estar mental.(7) Estudo anterior sugeriu que a restrição social seria um fator de risco para o aumento do consumo de álcool.(21) O presente trabalho também mostrou que adultos de 30 a 39 anos, seguidos daqueles de 18 a 29, foram os que mais relataram aumento no consumo de álcool, fato similar ao constatado no estudo da China, onde os adultos com idade entre 21 e 40 anos tiveram consumo de álcool mais alto que as demais faixas etárias.(9) Ademais, no presente estudo, não foram encontradas diferenças no consumo de bebida alcóolica por sexo, diferentemente da pesquisa on-line em Hubei, onde os homens apresentaram maior consumo de álcool, comparados com as mulheres.(9)
Em relação ao aumento do número de cigarros fumados por dia, é importante destacar que o uso do tabaco aumenta com a ocorrência de vários estressores ambientais, como conflitos armados, desastres naturais e outras emergências em saúde.(11) Discute-se, ainda, o uso do tabaco mediado por sintomas depressivos ou estresse pós-traumático.(22) O estudo atual identificou aumento mais acentuado do consumo do cigarro entre as mulheres. Diferenças baseadas em gênero também foram observadas em outros estudos, segundo os quais as mulheres recorrem ao tabagismo com mais frequência que os homens, como forma de compensar o afeto negativo.(24) Outro estudo aponta o consumo do tabaco e sua relação com a piora no desenvolvimento da enfermidade causada pelo SARS-CoV-2,(25) uma vez que doenças cardiovasculares ou doenças respiratórias, além de apresentarem pior evolução entre fumantes, têm sido associadas a um pior prognóstico em pessoas com COVID-19. Portanto, cuidado especial deve-se prestar a esse grupo, dado seu maior risco de evolução para a forma grave da doença.
O aumento na frequência dos comportamentos de risco, observado nesta pesquisa, é preocupante e pode resultar em danos à saúde, como alterações no peso corporal e aumento na ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis. Os dados coletados, aqui analisados, devem ser objeto de atenção dos profissionais de saúde, como os resultados nas mudanças dos padrões de tabagismo e uso de álcool (novos usuários, maior frequência, maior intensidade de consumo) e a possibilidade de estarem associados a sofrimento emocional. Assim, o governo deve elaborar estratégias de promoção da saúde em âmbito populacional, como prioridade, com ênfase especial nos indivíduos mais vulneráveis, que podem necessitar de medidas mais restritivas e de maior duração para evitar a contaminação pelo novo coronavírus, como idosos e pessoas com doenças cardiovasculares.
No Brasil, diante do engajamento insuficiente – por vezes, ausente – dos governos e gestores nessas ações, torna-se essencial que a sociedade civil e as instituições de pesquisa se engajem e lancem alternativas, como a realizada pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) nos cuidados com a pessoa idosa, incluindo a recomendação de medidas para evitar as violências em época de pandemia.(26)
Por fim, destaca-se que o tempo necessário para a realização de uma pesquisa domiciliar representativa em nível nacional, e a taxa de resposta, geralmente baixa, de pesquisas por telefone, faz das pesquisas on-line um método promissor para avaliar e rastrear conhecimentos, comportamentos, estilos de vida e percepções durante surtos de doenças infecciosas em rápida evolução,(27) tais como a COVID-19. Ademais, o baixo custo relacionado à operacionalização da pesquisa on-line deve ser destacado. Assim, estudos nacionais e internacionais vêm sendo desenvolvidos utilizando métodos de coleta de dados pela internet.(28)Finalmente, estudos nacionais e internacionais vêm sendo desenvolvidos utilizando métodos de coleta de dados pelas redes de comunicação virtual.(28)