INTRODUÇÃO
Compreender a mútua relação entre ser humano e meio ambiente é fundamental no processo de sensibilização dos indivíduos para uma mudança de comportamento e conscientização no que concerne aos problemas ambientais. A percepção ambiental é um processo mental de interação da pessoa com o ambiente no qual ela está inserida. Esse processo proporciona também às pessoas uma visão global de tudo que a rodeia, permite um maior envolvimento consigo e com o outro, expõe detalhes e as interligações com o meio biótico e abiótico que o cerca. Nesse contexto, a educação ambiental surge como ferramenta que contribui no processo de reconhecimento e de pertencimento do homem em relação ao meio ambiente.
A Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) define que a educação ambiental é o método pelo qual o homem e a sociedade estabelecem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas à defesa do seu habitat1.
A educação ambiental deve estar presente no processo educativo formal e não formal, tendo como objetivo ações que venham melhorar a qualidade de vida na Terra.
A prática da educação ambiental torna-se cada vez mais necessária, principalmente no ambiente escolar. Portanto, sensibilizar a criança e o adolescente, em fase de formação cognitiva, é uma estratégia promissora para o alcance de novos resultados. Entretanto, essa ferramenta não deve ser utilizada isoladamente, mas sim como parte de um processo educativo contínuo, que resulte em práticas transformadoras, tendo em vista que a sala de aula deve ser um espaço ideal onde se possa refletir e construir ideias estimuladoras e inovadoras.
Porém, muitas vezes, os espaços escolares, bem como o material didático, não contemplam, em sua totalidade, a realidade do aluno, ou seja, não oferecem oportunidades que o façam perceber o meio no qual está inserido. A ausência dessas oportunidades pode dificultar a percepção e a compreensão das pessoas em relação aos problemas ambientais existentes na comunidade. Assim sendo, esses espaços fechados e limitados devem proporcionar meios para que os discentes tomem consciência através da percepção ambiental, permitindo-lhes a compreensão do meio natural e antrópico.
Os problemas ambientais existentes no Brasil são diversos. A poluição da água, do ar e do solo, a deposição inadequada dos resíduos sólidos, entre outros, são alguns exemplos da degradação ambiental brasileira. Esses problemas afetam a biota e originam doenças na população. Define-se saúde ambiental como o efeito na saúde da integração entre o homem e o meio ambiente natural e o meio ambiente social2.
Em Redenção, município do Estado do Pará, as queimadas causam grandes transtornos, principalmente nos períodos mais secos, comprometendo o meio ambiente, a saúde e o bem-estar da população. São diversas as causas para esse tipo de ação, entre elas a própria cultura local; no intuito de fazer a limpeza doméstica, a população acaba por queimar os resíduos sólidos produzidos. Há também os acidentes causados por tocos de cigarros ou ações propositais de vandalismo, como colocar fogo indiscriminadamente em terrenos baldios, calçadas e morros próximos à cidade.
O gerenciamento dos resíduos sólidos no município também é uma questão preocupante, pois ainda não existe a coleta seletiva adequada. Os terrenos baldios são espaços, muitas vezes, ocupados pelos resíduos sólidos que a própria população deposita a "céu aberto". Conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), constitui dever e objetivo dos gestores municipais a introdução da coleta seletiva como parte integrante do gerenciamento dos resíduos sólidos das cidades3.
O município ainda não possui saneamento básico; seus efluentes domésticos são depositados em fossas sépticas e, em alguns lugares, a "céu aberto". Em alguns locais da cidade, há o despejo de esgoto sanitário nos córregos ou rios; animais mortos e outros tipos de resíduos também são lançados nesses locais. Estudos mostram que, historicamente, os centros urbanos sempre foram os principais focos poluidores e contaminadores dos recursos hídricos4.
Outra situação não menos importante, que faz parte da realidade local, é a poluição sonora, causada pelos carros de som que fazem propagandas no município. Os veículos saem em passeatas pela cidade e passam até mesmo em frente a hospitais e escolas, infringindo as resoluções que versam sobre os índices permissíveis de ruído em determinados locais. O Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) avalia que o excesso de som nas áreas urbanas agrava a poluição sonora a longo prazo, trazendo malefícios e piorando a qualidade de vida de todos5.
Estudos reportados por Marczwski6 afirmam que os indivíduos constroem seu espaço perceptivo por meio do contato direito e íntimo com a paisagem vivida6. A população do lugar deve sempre se relacionar com o meio onde vive e interagir em suas atividades para não destruir e, sim, manter uma qualidade de vida ligada ao desenvolvimento econômico.
Na família, que transmite o pensamento e os costumes tradicionais de geração a geração, perpetuam-se os hábitos mais comuns, e quando a criança, membro mais influenciável, passa a frequentar o âmbito escolar, depara-se com diversos temas e aprendizados. Porém, caso a escola não tenha um programa diversificado e nem condições para desenvolver os seus projetos, a criança continuará em um ambiente fechado e limitada a sentir e compreender fenômenos decorrentes da vida cotidiana.
Em determinados lugares, a problemática ambiental é contornada no campo da educação ambiental, com a qual mantém uma relação ainda pequena, especialmente em municípios menores. Essa aproximação é marcada pelo viés normativo, principalmente em datas comemorativas e em algumas disciplinas obrigatórias do currículo escolar, como geografia e ciências. Os profissionais da educação ainda cumprem os programas curriculares, tornando a questão ambiental um tema amplo7.
Segundo Camponogara et al8, a reflexão estimula a crítica ativa, possibilitando aos sujeitos a efetivação de novas atitudes e ações. É necessário promover novos significados, por isso, a análise dessa relação é importante nas práticas de um novo relacionar-se com o meio ambiente, fundamentado em uma postura ética que permita o desenvolvimento de ações responsáveis.
Contudo, para que esse entendimento tenha fundamento, faz-se necessário que as instituições educacionais tenham a preservação e a conservação ambiental como políticas institucionais diárias, e que esses temas sejam colocados na pauta de discussões do processo de educação permanente.
Nas pesquisas de Piaget e sua equipe, foram estudadas quatro fases do conhecimento: na primeira delas, destacam-se as questões relacionadas à motricidade; enquanto na segunda são ressaltadas as atividades representativas; o terceiro e o quarto estágios referem-se ao campo do pensamento operatório9.
O terceiro estágio, conforme estudos de Piaget, ainda se encontra ligado ao concreto, mesmo que o desenvolvimento cognitivo transcorra no âmbito do pensamento operatório. A diferença entre eles é que, no quarto estágio, a ligação está entre o abstrato e o formal, sendo assim os quatro estágios nomeados de sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal9.
A fase escolhida para a pesquisa contemplou o quarto estágio: nessa fase, a criança já questiona e consegue perceber o que gira ao seu redor. Ela tem um pensamento crítico sobre as ideias lançadas em sala de aula e na sociedade e traz isso para o ambiente escolar, portanto tem-se o local e o momento adequados para inserir novas ideias que possibilitem uma aprendizagem significativa.
No espaço escolar, seria necessário encontrar meios efetivos, como leituras, projetos e ações contínuas de educação ambiental, para que as ações humanas e suas consequências fossem compreendidas pelos alunos em benefício deles mesmos, de outros seres vivos e da preservação do próprio meio ambiente.
Um ambiente saudável pode ser construído com a colaboração da sociedade e, para isso, é fundamental que cada aluno desenvolva suas potencialidades, adotando posturas comportamentais construtivas, justas e sensibilizadoras. A educação ambiental inserida na escola deve buscar esses valores em harmonia com o meio ambiente, ajudando o aluno a analisar, criticamente, as razões da degradação ambiental10.
O Município de Redenção teve sua emancipação em 1982 e conta atualmente com 32 escolas municipais urbanas11. Com tantos problemas ambientais observados no município, buscou-se investigar e analisar a percepção ambiental em uma pequena parcela de alunos do 6º e do 9º anos de uma escola pública do Ensino Fundamental II, para uma possível inserção de projetos de educação ambiental nessa escola, podendo assim, contribuir para a melhoria da qualidade de vida e do respeito ao meio ambiente.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo de caso qualitativo-quantitativo realizado em uma escola pública municipal, localizada em um bairro de baixa renda do Município de Redenção, no Pará, com estrutura física, tanto da escola quanto do bairro, ainda modesta e sem muitos recursos. A pesquisa foi realizada com uma pequena parcela dos alunos do 6º e do 9º anos do Ensino Fundamental II. Foram abordados 18 discentes do 6º ano e 33 do 9º ano, perfazendo um total de 51 alunos, com idades entre 10 e 15 anos. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará, tendo sido aprovado.
Os alunos participaram de forma espontânea, porém o Termo de Consentimento Livre Esclarecido foi assinado por seus respectivos responsáveis, por se tratarem de menores de idade. As atividades foram realizadas diretamente pelos pesquisadores, sob prévia autorização dos envolvidos no corpo pedagógico da escola.
O trabalho em campo iniciou-se com o registro fotográfico dos problemas ambientais existentes na localidade, principalmente em relação às queimadas urbanas, poluição do ar, lançamento de resíduos sólidos a "céu aberto" e poluição dos córregos (Figura 1).
Em seguida, após um primeiro contato com as turmas, por meio de diálogos, buscou-se investigar a percepção ambiental que os alunos tinham a respeito do meio ambiente. Para esse primeiro momento, foi utilizado um recurso didático denominado Mapa Mental. Esse instrumento pode contribuir de forma significativa para a aprendizagem, pois enriquece a memorização e a percepção12. Mapas mentais são utilizados para classificar ideias. Na fase entre os 6-7 anos, aproximadamente, os sujeitos já projetam suas ideias, passam a compreender os pontos de vista e desenvolvem perspectivas e projeções13. No segundo momento, aplicou-se um questionário com 15 questões que envolviam perguntas relacionadas às práticas diárias de comportamento ambiental e os anseios dos alunos em relação ao meio ambiente.
1º Momento - Construção do Mapa Mental
Foi entregue aos alunos uma folha de papel A4, na qual já havia um desenho de uma casa e uma escola; em seguida, foi proposto que desenhassem tudo o que eles achassem que pertencia ao meio ambiente, no percurso de suas casas até a chegada à escola. Após a construção dos mapas mentais, os elementos naturais, os elementos construídos e os seres vivos (pessoas e animais) foram quantificados por série/ano e analisados conforme a frequência e o percentual com que foram desenhados.
2º Momento - Aplicação do Questionário
A aplicação do questionário, o qual continha 15 perguntas e cujas alternativas de respostas eram fechadas, deu-se em um único dia. Optou-se pela palavra "lixo" nos questionários, devido ao fato de os discentes ainda não terem conhecimento para distinguir lixo de resíduos sólidos. As perguntas estavam relacionadas ao modo como os alunos pesquisados se comportavam perante o acondicionamento do "lixo", o descarte do "lixo", a coleta do "lixo" pela prefeitura e a necessidade de arborização, entre outros. O questionário foi respondido em sala de aula junto com os pesquisadores e a professora. Não houve interferências nas respostas, e os questionários foram recolhidos no mesmo dia. Das 15 perguntas e respostas, selecionaram-se quatro para análise.
RESULTADOS
Ao se verificar os mapas mentais, percebe-se que os elementos mais recorrentes foram os naturais (árvores, sol, nuvens, flores), pessoas e animais (Figura 2), isso porque, nessa fase, a criança enxerga a natureza como elemento principal do meio ambiente em que está inserida. Na figura 2 (6º ano) em especial, a criança pesquisada fez essa inserção, o que não é muito comum nessa faixa etária; geralmente aparecem os elementos relacionados à natureza vegetal.
O mapa foi igualmente aplicado nas duas séries (6º e 9º anos), para se observar como os sujeitos pesquisados percebiam o meio ambiente e quais seriam os elementos mais recorrentes desenhados pelos alunos. O mapa mental do 9º ano (Figura 3) mostra maior quantidade de desenhos em relação ao 6º ano, pois os alunos já têm uma noção mais avançada sobre o meio ambiente, visto que estudam os temas ambientais em diversas disciplinas e já conseguem discutir com mais propriedade as questões ambientais; porém, ainda se percebe que os elementos naturais também predominam em sua percepção. Uma observação foi em relação à presença humana: nota-se que o ser humano aparece discretamente, embora faça parte do todo, sendo sua presença pouco observada nos desenhos construídos.
A frequência com que os elementos naturais apareceram nos desenhos é tida como uma forma mais representativa, porque a criança entende o meio ambiente como natureza em primeiro lugar. Por sua vez, os elementos construídos (casas e ruas) são inseridos em uma frequência menor, pois, apesar de serem percebidos pelas crianças, não fazem parte da natureza. Em relação aos seres vivos (pessoas e animais), esses expressam uma representação menor que os elementos naturais, pois a criança não entende que o próprio ser humano pode modificar o meio ambiente em que está inserido.
Os diversos elementos serviram para quantificar e comparar a percepção ambiental que cada aluno das referidas séries possui sobre o meio ambiente e, assim, fazer uma análise sobre a importância da percepção ambiental antes mesmo da educação ambiental. De fato, quando a criança percebe que todos os elementos pertencem ao meio ambiente, torna-se mais consciente, e pode haver a inserção da educação ambiental como instrumento de mudanças, principalmente no que se refere a um ambiente preservado e bem utilizado.
Quanto à percepção ambiental (Figura 4) entre os elementos desenhados, no universo pesquisado de 51 alunos daquela escola, notou-se que o elemento "árvore" apareceu em 100% dos mapas mentais; isso porque a árvore é parte da natureza e, portanto, na percepção dos sujeitos pesquisados, pertence ao meio ambiente. Os elementos "sol, nuvem, flores, lagos e morros" variaram entre 4% e 12%. Na faixa etária em que se encontram os alunos, a criança está na fase do pensamento operatório. Segundo Piaget, a criança já detém um pensamento crítico e imagina a natureza com quase todos os seus elementos9.
Entre os elementos construídos, casas e ruas, a variação foi bastante considerável entre as séries pesquisadas; o elemento "ruas" apareceu em 100% dos desenhos e "casas" em 90%, pois os alunos visualizam, necessitam e utilizam esses elementos todos os dias.
O ser humano foi representado em 25% dos desenhos, e os animais ocorreram em 20% dos desenhos. Das três divisões dos elementos, a menor frequência foi a dos seres vivos (pessoas/animais), provavelmente porque os alunos se excluem como parte importante do meio ambiente (Figura 4).
As respostas dos questionários revelaram que, quando questionados sobre a coleta do "lixo" realizada pela prefeitura, 90% responderam afirmativamente, pois há uma preocupação da prefeitura com o recolhimento dos resíduos residenciais. Porém, ainda existem bairros com pouca estrutura e distantes do centro da cidade, portanto a parcela de 10% sente-se prejudicada pela demora do recolhimento do "lixo" (Figura 5).
Embora a prefeitura disponha do serviço de coleta do "lixo", a quantidade de caminhões adequados para realizá-la é insuficiente para o número de bairros na localidade. Isso é percebido na resposta relacionada ao número de vezes que é realizada a coleta do "lixo" durante a semana - 78% responderam que o caminhão passava uma vez por semana, sendo, portanto, insuficiente pelo montante de resíduos gerados pela população, causando o acúmulo do "lixo" que, muitas vezes, fica a "céu aberto" nas calçadas e lotes vazios. Os 12% que responderam "duas vezes por semana" moravam em bairros mais próximos do centro da cidade. Os 10% que responderam "nenhuma vez" habitavam em locais mais afastados, onde o acúmulo de "lixo" torna-se maior. Esse acúmulo do "lixo" resulta, provavelmente, na queima dos resíduos, gerando outros problemas ambientais, como a poluição do ar.
Em conversa informal com os docentes da escola pesquisada, soube-se que as questões ambientais são tratadas nas disciplinas correspondentes e os projetos ambientais são realizados, principalmente, em datas comemorativas sobre o meio ambiente. Isso se reflete nas respostas dos questionários relacionadas às questões ambientais tratadas em sala de aula. Foi possível observar que a vontade de se ter mais lixeiras talvez ocorresse por causa da sensibilização que a escola promovia em datas pontuais, no que diz respeito ao meio ambiente. De fato, muitas vezes os sujeitos pesquisados afirmaram procurar um local na cidade para depositar os resíduos sólidos, porém não o encontravam com facilidade. Também ansiavam por mais parques arborizados, devido ao calor, e por mais diversão com acesso a mais áreas de lazer. Uma menor parcela entendia a necessidade e a importância das árvores para o meio ambiente e o conforto da população. A árvore foi o elemento mais importante na percepção ambiental dos alunos. Entretanto, o desejo de terem uma área de lazer com parques arborizados se sobrepõe à própria percepção deles de plantarem uma árvore, por exemplo (Figura 6).
DISCUSSÃO
A proposta metodológica do mapa mental buscou proporcionar uma atividade dinâmica lúdica e descontraída. Isso favoreceu a participação e o comprometimento dos alunos nas atividades. A partir da construção dos mapas mentais, houve a possibilidade de diagnosticar a percepção ambiental que os sujeitos da pesquisa possuíam do espaço que os cercava e, a partir dos questionários, procurou-se identificar como eles se comportavam ante algumas situações cotidianas, e se também sentiam a necessidade de terem um ambiente agradável e preservado.
Os resultados apresentados refletiram uma percepção mais aguçada das crianças do 6º ano, talvez por serem incentivadas, em outras disciplinas, a desenhar composições de natureza; o lar e a casa são partes do desenho, compondo o ambiente. Os materiais didáticos, nessa fase, levam-nos a observar mais as ilustrações em situações variadas. Já no 9º ano, a abordagem metodológica é mais teórica, fazendo talvez com que eles diminuam a percepção do meio ambiente como um todo. Apesar de todos terem casas para morar, nem todos compreendem que a casa é também parte do ambiente em que se inserem.
Ao se analisar a inter-relação entre casa, lar, escola, meio ambiente e poluição, ou com qualquer um dos elementos desenhados, percebeu-se que os alunos não produziram nenhum desenho que estivesse relacionado à saúde ou à doença. A doença, na percepção dos alunos, não faz parte do meio no qual eles estão inseridos. Os desenhos, em sua maioria, estavam relacionados à: qualidade de vida ambiental; natureza em harmonia com a natureza; e natureza em harmonia com o espaço construído. "A vida é sonho", disse Calderón de la Barca. "Sonho ou realidade?", perguntava-se Falstaff14.
Diante de afirmativas e questionamentos, os desenhos nos mostraram que há uma mistura da utopia com a realidade vivida e observada no município, no quesito ambiente saudável. Apesar de haver nos desenhos, por exemplo, a presença de pontes sobre córregos e de peixes nesses ambientes, a realidade do local é outra, pois não há peixes nessas águas. O que é possível visualizar é a presença de resíduos que são lançados a qualquer hora do dia, e inclusive animais mortos já foram observados nesses locais.
O despejo de resíduos sólidos, animais mortos, emanações de uma queimada, efluentes domésticos e industriais são fontes de poluição das águas. A mortandade de peixes é sinal de que determinado corpo de água sofreu alterações significativas em sua qualidade. A eutrofização promove a diminuição de oxigênio na água, e alterações dessa natureza podem modificar a fisiologia dos peixes e de outros organismos aeróbios, que tendem a morrer.
A água é um excelente meio para o transporte de patógenos, como vírus, bactérias e protozoários. A falta de saneamento básico e a carência do acesso à água isenta de patógenos contribuem para que haja mais de 5 milhões de óbitos por ano15. Até meados de 2000, dos 54,2 milhões de domicílios brasileiros, apenas 34,6 milhões contavam com o serviço de coleta de esgoto16. O indivíduo, ao ingerir água contaminada, está sujeito a contrair diversos tipos de enfermidades infecciosas17.
Os sujeitos pesquisados ainda não tinham atentado para o fato de que a água é o elemento mantenedor da vida no planeta, sendo necessário que essa substância esteja dentro dos padrões de qualidade para cada fim a que se destina. Estima-se que, em 2050, haja uma contaminação de 180 mil km3 de água, pois, nos dias atuais, 120 mil km3 já estão contaminados, em decorrência da falta de políticas públicas que impeçam a continuidade da poluição dos recursos hídricos15.
De outro modo, em relação aos resíduos sólidos, os alunos demonstraram estar atentos à falta de lixeiras no município, pois elas apareceram com menor frequência nos desenhos - apenas 1% e 2%. São sérios os problemas trazidos pelos resíduos sólidos no munícipio, e os pesquisados relataram estar acostumados a verem "lixo" por toda parte, em córregos, lotes, calçadas, lixões e quintais das casas. Ou seja, o fato de haver poucas lixeiras espalhadas pelo munícipio refletiu-se consideravelmente nos desenhos. Isso pôde ser corroborado nas respostas dos questionários, pois, quando indagados sobre seus anseios, 43% optaram por mais lixeiras na cidade.
Entre as percepções sensoriais, a visão é uma das mais importantes para o ser humano, pois ajuda a perceber de imediato o ambiente no qual está inserido, e, ao observar as coisas que estão ao seu redor, o indivíduo pode sofrer um impacto positivo ou negativo, tornando-se crítico a respeito daquilo que deveria melhorar o seu habitat. "A percepção é uma atividade, um estender-se para o mundo. Os órgãos dos sentidos são pouco eficazes quando não são ativamente usados"18.
Minimizar a degradação que os resíduos sólidos causam ao meio ambiente ainda é um grande desafio para os municípios brasileiros. Os problemas se ampliam, pois parcela significativa dos resíduos sequer é tratada adequadamente, sendo seu destino os lixões ou a queima a "céu aberto", o que amplia a poluição do ar, da água e do solo e potencializa impactos sobre a saúde humana19.
Para se ter saúde, é preciso estar em paz consigo mesmo; quando o emocional, o social e o fisiológico estão em equilíbrio e harmonia com tudo que os circunda, pode-se dizer que se tem saúde20. É incontestável que todos querem estar com saúde, pois não se pode estar bem quando se está doente. Nos últimos anos, o ser humano passou a ter uma melhor percepção do meio ambiente e sua desarmonia com a saúde. O indivíduo passou a observar as exterioridades do meio que o cerca e a reconhecer os fatores que podem afetar, de forma significativa, seu bem-estar21.
Entretanto, no que diz respeito às queimadas, que são um sério problema do município, observou-se que não houve desenhos a elas relacionados; seja a queima do "lixo" nas calçadas ou em outro lugar qualquer.
A queimada desprende, para o ambiente, quantidades significativas de elementos que contribuem para o aquecimento do planeta. A Amazônia contribui quando lança o carbono para a atmosfera, principalmente nas estações de rigorosa seca22.
Os poluentes químicos, como monóxido de carbono, materiais particulados e hidrocarbonetos, contribuem para o aparecimento de enfermidades do trato respiratório. Durante os meses de pico de queimadas, há um aumento, nos hospitais, de pacientes com problemas respiratórios22.
Essa pequena parcela de alunos pesquisados ainda não se encontrava esclarecida e sensibilizada para os efeitos que as substâncias tóxicas provenientes das queimadas pudessem causar à sua saúde. Na concepção de alguns, só se está doente quando há a presença da doença no corpo, não se levando em conta que o estar bem também depende da saúde do meio ambiente.
Na perspectiva de Marin e Kasper7, a visão que o ser humano tem da natureza e do espaço habitado é delimitada pela imaginação e pelo afeto ao lugar. O vínculo com o ambiente está presente na relação com o natural, com a natureza, cheia de sentidos que terminam por configurar como os grupos vivem e constroem suas culturas23. Nesse sentido, as práticas pedagógicas podem ser inseridas e desenvolvidas em sala de aula no dia a dia da escola, e criar novos materiais, com essa finalidade, seria relevante para auxiliar o professor. A falta de materiais abordando a realidade local e os problemas ambientais mais próximos dos alunos, nessa fase do Ensino Fundamental, é uma grande fonte de preocupação e reclamação por parte dos educadores.
O pensamento intricado vai de encontro à forma tradicional que se tem de ciência. Segregar os problemas que envolvem a saúde ambiental afasta as oportunidades de gerar conhecimento que ampare a intervenção21. Na prática da educação ambiental, os bons mestres tornam-se aprendizes até obterem a maestria de artes e ofícios24.
Envolver os alunos, para que eles percebam e sintam-se parte do meio ambiente, é uma tarefa árdua que demanda tempo, criatividade e materiais diversificados para o desenvolvimento dos projetos de educação ambiental, e livros paradidáticos, gibis e jogos seriam úteis para explorar o desenvolvimento cognitivo da criança, pois a visão lúdica é um norte para a aprendizagem tornar-se significativa e os resultados se mostrarem mais concretos.
Práticas desenvolvidas em vários contextos, em que a educação ambiental se faz necessária, ainda são tímidas por parte dos educadores e responsáveis pelo desenvolvimento da cidade. Observou-se que ações contínuas na escola representam minoria, e a quantidade daqueles que conseguem atingir essa complexidade de compreender a necessidade de se preservar algo não é suficiente para modificar uma realidade.
Portanto, a expressão "sensibilização" torna-se relevante, justamente por anteceder às necessidades que os alunos têm de compreender os novos conceitos envolvendo o meio ambiente, uma vez que tratar do tema apenas em alguns momentos tem sido ineficiente para gerar mudanças significativas de comportamento. A partir desse paradigma, pode-se refletir, atuar e promover as mudanças significativas em uma sociedade.
CONCLUSÃO
O estudo da percepção ambiental, realizado com os alunos do 6º e do 9º anos de uma escola pública no Município de Redenção, Pará, mostrou que o comportamento dos estudantes é fortemente influenciado por informações adquiridas em casa e na escola, revelando a oportunidade da oferta de conteúdo educacional ambiental nessa fase, de forma sistematizada, lúdica e contextualizada, para a formação de cidadãos ambientalmente ativos.
Notou-se que as mudanças de hábitos e a conscientização de como preservar o meio ambiente ainda dependem de ações diárias realizadas na escola, sendo a educação ambiental uma importante ferramenta para obtenção desse objetivo, que é benéfico e salutar a toda a sociedade, revelando que essa disciplina pode ser a mola propulsora da transformação da sociedade em relação aos temas ambientais.
Os resultados apresentados, nos desenhos espontâneos das crianças e adolescentes, permitem-nos concluir que elas reconhecem os vários elementos naturais e artificiais pertencentes ao meio ambiente, embora com alguma confusão entre tais elementos, prevalecendo os naturais.
As respostas dos questionários, por sua vez, comprovaram o desejo dos alunos de terem um ambiente melhor e mais preservado, e a percepção de que isso possibilitará uma melhoria na qualidade de vida e na convivência social.
Por fim, conclui-se que é importante e necessário apresentar e discutir, continuamente, temas ambientais e formas de preservação ainda no Ensino Fundamental, para que as futuras gerações possam não só identificar os problemas ambientais existentes, refletir sobre eles, como também se tornarem agentes transformadores da realidade ambiental de sua comunidade e de seu País.