INTRODUÇÃO
A raiva é uma doença infecciosa aguda, causada pelo Rabies lyssavirus (vírus da raiva - RABV - "rabies virus"), que acomete o sistema nervoso central e se caracteriza por provocar um quadro de encefalite1,2. É uma doença zoonótica, transmitida geralmente por mordeduras e arranhaduras3,4,5.
Embora a raiva seja uma enfermidade imunoprevenível, a preocupação ainda persiste, em virtude de sua progressão fatal e do expressivo número anual de vítimas humanas, motivos suficientes para ser considerada um sério problema de saúde pública, além dos grandes prejuízos causados à pecuária6. Sua manutenção e perpetuação ocorrem por diversos animais; os principais envolvidos são os carnívoros silvestres e domésticos e os morcegos hematófagos e não hematófagos. Nos países em desenvolvimento, o foco de atuação das entidades competentes contra a doença está relacionado à sua disseminação por carnívoros domésticos, sobretudo os cães, que facilitam a manutenção da cadeia de transmissão animal doméstico/homem em áreas urbanas7.
Desde a antiguidade, a raiva afeta o ser humano; em 2015, cerca de 59.000 mortes por raiva humana foram registradas no mundo, particularmente na Ásia e na África, continentes onde a doença é endêmica8. É considerada uma doença negligenciada, pois recebe poucos investimentos em pesquisas, terapias e controle9.
O ciclo epidemiológico da raiva é dividido em quatro (urbano, rural, silvestre aéreo e silvestre terrestre) que se inter-relacionam, possibilitando que haja uma interação entre as espécies de animais responsáveis pela manutenção do ciclo de transmissão10,11.
A partir dos anos 1980, os cães foram considerados os principais reservatórios do RABV; todavia, as campanhas massivas de vacinação culminaram na redução do número de casos nessa espécie. A partir de 2004, o morcego hematófago Desmodus rotundus tornou-se o principal responsável pela manutenção da raiva, sobretudo, nos ciclos silvestre aéreo e rural, sendo comum a presença dessa espécie em regiões com rebanhos de gado. A doença em herbívoros gera custo alto, devido às medidas de controle e prevenção serem caras, além dos prejuízos causados na produção12,13.
Na América do Sul, essa mudança no ciclo epidemiológico da raiva começou a chamar atenção quando ocorreu um surto de raiva humana, causada por Desmodus rotundus, na Amazônia Legal Brasileira, mais especificamente nos estados do Pará e do Maranhão, em 2004 e 200512.
Acerca do diagnóstico da raiva, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o uso das técnicas de imunofluorescência direta14 e isolamento viral em camundongo15,16 como os principais métodos para o diagnóstico específico da doença. São testes altamente sensíveis e específicos e utilizados simultaneamente para a detecção de antígenos virais e tentativa de isolamento viral17.
O objetivo deste estudo foi realizar um levantamento dos casos de raiva animal procedentes do estado do Pará, identificados a partir dos dados de amostras enviadas para diagnóstico, de 2004 a 2013, ao Laboratório de Diagnóstico de Raiva do Instituto Evandro Chagas (IEC), órgão vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo descritivo, utilizando dados retrospectivos oriundos de banco de dados, para a obtenção de informações sobre os encéfalos examinados e os resultados obtidos no Laboratório de Diagnóstico de Raiva da Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas (SAARB) do IEC, no período de 2004 a 2013, tendo como área de abrangência as seis mesorregiões do estado do Pará.
Os dados obtidos foram inseridos em uma planilha do programa Microsoft Excel 2007, que resultou na construção de tabelas e análises estatísticas. As amostras foram separadas de acordo com espécie, ano e mesorregião.
RESULTADOS
Foram examinadas 13.987 amostras quanto à presença de infecção pelo RABV, divididas em: 8.633 caninos, 4.797 quirópteros, 375 felinos, 121 bovinos, 23 equinos, 12 suínos, sete roedores, quatro símios, dois caprinos, dois leporídeos, um ovino, um procionídeo (quati) e nove amostras sem identificação do animal. O maior percentual de positividade foi encontrado nos equinos (34,78%; 8/23), seguido dos bovinos (34,71%; 42/121) (Tabela 1).
Espécies | Amostras positivas/examinadas (%) | ||||||||||
2004 | 2005 | 2006 | 2007 | 2008 | 2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | Total | |
Bovinos | 3/12 (25,00%) | 22/38 (57,89%) | 11/30 (36,67%) | 1/5 (20,00%) | 4/13 (30,77%) | -/4 (-) | -/6 (-) | -/10 (-) | 1/3 (33,33%) | -/- (-) | 42/121 (34,71%) |
Caninos | 9/672 (1,34%) | 9/1.418 (0,63%) | 27/1.558 (1,73%) | 35/1.226 (2,85%) | 10/967 (1,03%) | 7/676 (1,04%) | 1/594 (0,17%) | 7/704 (0,99%) | -/398 (-) | -/420 (-) | 105/8.633 (1,22%) |
Quirópteros | 1/791 (0,13%) | 4/816 (0,49%) | 4/670 (0,60%) | 2/453 (0,44%) | -/317 (-) | -/220 (-) | -/301 (-) | 1/548 (0,18%) | 1/455 (0,22%) | -/226 (-) | 13/4.797 (0,27%) |
Felinos | 2/51 (3,92%) | 2/70 (2,86%) | -/57 (-) | -/35 (-) | -/22 (-) | -/35 (-) | -/25 (-) | 1/37 (2,70%) | -/15 (-) | -/28 (-) | 5/375 (1,33%) |
Equinos | 1/4 (25,00%) | 3/5 (60,00%) | 1/1 (100,00%) | -/3 (-) | -/1 (-) | -/1 (-) | 2/4 (50,00%) | -/3 (-) | 1/1 (100,00%) | -/- (-) | 8/23 (34,78%) |
Caprinos | -/- (-) | -/1 (-) | -/- (-) | -/1 (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/2 (-) |
Ovinos | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/1 (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/1 (-) |
Suínos | -/- (-) | 3/3 (100,00%) | -/2 (-) | -/- (-) | -/1 (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/5 (-) | -/1 (-) | 3/12 (25,00%) |
Símios | -/- (-) | -/1 (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/2 (-) | -/- (-) | -/1 (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/4 (-) |
Leporídeos | -/1 (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/1 (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/2 (-) |
Procionídeos | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/1 (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/1 (-) |
Roedores | -/- (-) | -/5 (-) | -/- (-) | -/1 (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/1 (-) | -/- (-) | -/7 (-) |
Não identificadas | -/- (-) | -/2 (-) | -/6 (-) | -/1 (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/9 (-) |
Total | 16/1.531 (1,05) | 43/2.359 (1,82%) | 43/2.324 (1,85%) | 38/1.726 (2,20%) | 14/1.324 (1,06%) | 7/937 (0,75%) | 3/931 (0,32%) | 9/1.302 (0,69%) | 3/878 (0,34%) | -/675 (-) | 176/13.987 (1,26%) |
Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero, não resultante de arredondamento.
Dentre as mesorregiões, 981 amostras eram provenientes do Baixo Amazonas, 179 do Sudoeste Paraense, 1.094 do Marajó, 4.730 do Sudeste Paraense, 2.630 do Nordeste Paraense, 4.364 da Região Metropolitana de Belém e nove de localização desconhecida. A Mesorregião Sudoeste Paraense foi a que apresentou o maior índice de positividade, 6,15% (11/179) no período pesquisado (Tabela 2).
Mesorregiões | Amostras positivas/examinadas (%) | ||||||||||
2004 | 2005 | 2006 | 2007 | 2008 | 2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | Total | |
Baixo Amazonas | -/143 (-) | -/230 (-) | -/167 (-) | 1/109 (0,92%) | 1/84 (1,19%) | -/67 (-) | -/65 (-) | -/54 (-) | -/32 (-) | -/30 (-) | 2/981 (0,20%) |
Sudoeste Paraense | -/2 (-) | -/48 (-) | 8/43 (18,60%) | 1/24 (4,17%) | -/28 (-) | -/13 (-) | 2/9 (22,22%) | -/8 (-) | -/- (-) | -/4 (-) | 11/179 (6,15%) |
Marajó | 3/426 (0,70%) | -/185 (-) | -/148 (-) | -/118 (-) | -/46 (-) | -/20 (-) | -/37 (-) | -/47 (-) | -/43 (-) | -/24 (-) | 3/1.094 (0,27%) |
Sudeste Paraense | 9/446 (2,02%) | 15/1.132 (1,33%) | 28/1.082 (2,59%) | 35/700 (5,00%) | 10/493 (2,03%) | 7/359 (1,95%) | 1/158 (0,63%) | 8/149 (5,37%) | -/82 (-) | -/129 (-) | 113/4.730 (2,39%) |
Nordeste Paraense | 4/272 (1,47%) | 27/310 (8,71%) | 6/334 (1,80%) | -/187 (-) | 3/159 (1,89%) | -/105 (-) | -/164 (-) | -/453 (-) | 1/381 (0,26%) | -/265 (-) | 41/2.630 (1,56%) |
Metropolitana de Belém | -/242 (-) | 1/452 (0,22%) | 1/544 (0,18%) | 1/587 (0,17%) | -/514 (-) | -/373 (-) | -/498 (-) | 1/591 (0,17%) | 2/340 (0,59%) | -/223 (-) | 6/4.364 (0,14%) |
Localização desconhecida | -/- (-) | -/2 (-) | -/6 (-) | -/1 (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/- (-) | -/9 (-) |
Total | 16/1.531 (1,05%) | 43/2.359 (1,82%) | 43/2.324 (1,85%) | 38/1.726 (2,20%) | 14/1.324 (1,06%) | 7/937 (0,75%) | 3/931 (0,32%) | 9/1.302 (0,69%) | 3/878 (0,34%) | -/675 (-) | 176/13.987 (1,26%) |
Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero, não resultante de arredondamento.
DISCUSSÃO
A epidemiologia da raiva varia de acordo com a área geográfica. Em áreas endêmicas, o RABV é mantido em um ciclo urbano, tendo como reservatórios cães e gatos, e/ou em um ciclo selvagem, no qual os reservatórios variam dependendo da região10,18,19.
Entre 2004 e 2013, foram confirmados 690 casos de raiva canina no Brasil19,20. Neste estudo, apesar do grande número de amostras de caninos, levando-se em consideração os 10 anos analisados, o valor de prevalência da raiva nessa espécie foi de 1,22% (105/8.633), sendo mais prevalente nos anos de 2006 e 2007, com 1,73% (27/1.558) e 2,85% (35/1.226) casos positivos, respectivamente. Apenas nos anos de 2005 e 2012, o número de casos de raiva bovina superou os casos de raiva canina. A circulação do RABV está sob controle na população canina em grande parte da América Latina; porém, ações de vigilância devem ser reforçadas e suportes de recursos políticos, técnicos e em educação devem ser continuados. Se a vigilância for reduzida, o vírus pode se reestabelecer no ciclo urbano20.
No período de 2004 a 2012, foram registrados 16.152 casos de raiva em herbívoros e suínos no Brasil, demonstrando alta prevalência nesta espécie21. Esses dados diferem dos obtidos neste estudo, onde a prevalência da doença nessas espécies foi baixa (53 casos positivos), sendo 42 bovinos, oito equinos e três suínos no mesmo período.
Os dados obtidos neste levantamento de 10 anos demonstraram a prevalência de casos de raiva em herbívoros, no Pará, especificamente em equinos e bovinos, de 34,78% (8/23) e 34,71% (42/121), respectivamente. Os períodos de diminuição ou de expansão dos casos de raiva nessas espécies podem ser atribuídos às medidas de controle aplicadas e às modificações antrópicas em áreas nunca antes adentradas, o que facilita a coexistência de condições epidemiológicas diversas, principalmente as relacionadas aos quirópteros. Embora essa prevalência seja alta, os casos positivos nesses animais vêm decrescendo no país como um todo, fato que pode estar relacionado ao aumento da utilização de vacinas antirrábicas. Porém, ainda se observa a ausência de envio de material para os laboratórios de referência por parte sobretudo dos veterinários, visto que muitos consideram apenas o diagnóstico clínico da doença, baseando-se somente na existência de resultados positivos de anos anteriores, bem como a comprovação da presença de morcegos hematófagos na região, levando-os a dispensar o diagnóstico laboratorial22,23.
Durante o período avaliado, foram analisados encéfalos de quatro símios e todos apresentaram resultados negativos para a raiva. Esses resultados diferem dos encontrados na Região Nordeste, que evidenciaram a epidemiologia da raiva em ambiente silvestre. No período de 1990 a 2005, foram relatados 198 casos de raiva em símios, sendo que 13 dos 40 casos de raiva humana relatados no estado do Ceará tiveram a fauna silvestre como fonte de infecção24, descrevendo esses animais como reservatórios silvestres do RABV.
Por ser uma doença cíclica, a raiva possui períodos de reaparecimento em torno de sete anos, devido, talvez, a um maior número de morcegos infectados nos picos de grande incidência da doença nos herbívoros, seguido de um declínio para, então, haver um repovoamento e reinfecção das colônias de morcegos20. Mesmo com números reduzidos de casos de raiva em quirópteros, é indiscutível a existência da circulação viral entre essa espécie, uma vez que, dos 4.797 quirópteros analisados, 13 (0,27%) foram positivos para raiva, sendo sete da espécie Desmodus rotundus, quatro da Artibeus planirostris, um da Eptesicus brasiliensis e um da Artibeus obscurus. Quanto à distribuição geográfica dos quirópteros positivos, quatro eram oriundos da Mesorregião Metropolitana de Belém, seis do Nordeste Paraense, dois do Sudeste Paraense e um do Marajó, sendo que, nas três últimas messoregiões, grande parte da economia dos municípios é gerada pela pecuária, ou seja, é comum a presença de grandes rebanhos de gado nessas regiões, proporcionando uma abundância de alimento para morcegos hematófagos25.
Chances reais de sucesso no combate à raiva podem ser obtidas quando se alia um programa efetivo de educação sanitária às práticas de vigilância epidemiológica, contemplando orientações aos produtores acerca dos cuidados a serem aplicados quando constatada a presença de morcegos transmissores da doença em suas propriedades, quer seja com a vacinação antirrábica dos animais ou com a notificação de casos da doença às autoridades competentes26. Tais atitudes podem ter contribuído para o que foi observado neste levantamento, 0,27% (13/4.797) de prevalência entre os morcegos examinados. Contudo, não é prudente desprezar os riscos para a saúde pública e a relevância desse resultado.
Em 2004, foram relatados dois surtos de raiva humana no Pará, nos quais os morcegos hematófagos foram os responsáveis pela transmissão. As epidemias ocorreram no município de Portel, localizado na Mesorregião Marajó, onde foram relatados 15 óbitos, dos quais 10 foram confirmados laboratorialmente, e no município de Viseu, localizado no Nordeste Paraense, seis óbitos confirmados laboratorialmente. Em 2005, no município de Augusto Corrêa, também no Nordeste Paraense, ocorreram 15 óbitos, dos quais 10 foram confirmados por análises laboratoriais. Nesse mesmo ano, os municípios de Godofredo Viana, Cândido Mendes, Carutapera e Turiaçu, no estado do Maranhão, também relataram surtos de raiva, com a ocorrência de 24 casos em humanos, que estavam fortemente relacionados à proximidade da população com o habitat natural de animais silvestres, nesses casos, os quirópteros. Portanto, além do envio constante de amostras para exame laboratorial, os estudos ecológicos são de extrema importância, a fim de se conhecer mais profundamente o impacto causado por ações humanas, estreitando a relação do homem com esses animais27,28,29.
São muitos os problemas relacionados à raiva, sejam eles em animais de produção, domésticos ou silvestres, e talvez mais graves ainda sejam os problemas de saúde pública. A subnotificação dos casos suspeitos é um grande empecilho, visto que não mostra a real situação da raiva na região, o que pode levar a falsas conclusões sobre o controle da doença. A educação sanitária e a conscientização dos profissionais que atuam nessa área e também da sociedade, em geral, continuam sendo ferramentas importantes para o controle efetivo da doença. Apesar da raiva animal, em seu ciclo urbano, estar sendo paulatinamente reduzida ao longo dos anos, a doença ainda continua sendo um problema de saúde pública caracterizado como negligenciado.
CONCLUSÃO
No período de 2004 a 2013, os dados do Laboratório de Diagnóstico de Raiva da SAARB/IEC demonstraram que o maior número de amostras analisadas e positivas foi da espécie canina. Observou-se a diminuição da prevalência de raiva animal entre todas as espécies abordadas neste trabalho, alertando para os casos de negligência e subnotificação da doença. Foi possível identificar, no período estudado, que a Mesorregião Sudoeste Paraense apresentou o maior percentual de positividade e a espécie com o maior índice positivo foi a equina, seguida da bovina e suína.
Os resultados apresentados neste estudo enfatizam a relevância das campanhas de vacinação de animais domésticos para o controle da raiva urbana, bem como ressalta-se também a importância da imunização anual de animais de produção, a fim de reduzir a incidência e letalidade da doença. Este levantamento é uma ferramenta importante para futuros inquéritos epidemiológicos e contribui para o planejamento de ações preventivas e de controle da raiva, visto que possibilita o panorama da situação epidemiológica da doença no estado do Pará.