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Revista Paraense de Medicina

Print version ISSN 0101-5907

Rev. Para. Med. vol.20 no.2 Belém June 2006

 

ARTIGO ORIGINAL

 

Correlação entre o índice de massa corpórea e os valores do perfil lipídico em mulheres na perimenopausa1

 

Correlation between body mass index and the values of serum lipids in perimenopausal women

 

 

Fábio André Souto Lima; Valéria Nascimento da Gama Azevedo

Professores de Tocoginecologia da Universidade Federal do Pará (UFPA)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

OBJETIVO: avaliar a correlação entre o índice de massa corpórea e os valores séricos do perfil lipídico (colesterol total, HDL e LDL colesterol) e triglicérides.
MÉTODO: estudo transversal com 80 mulheres na perimenopausa acompanhadas no Ambulatório de Ginecologia da Universidade Federal do Pará/Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, sem história de utilização prévia de hormônios. O índice de massa corpórea (IMC) foi calculado pela relação entre o peso (em kilogramas) dividido pela estatura em metros ao quadrado. Para a análise dos resultados, utilizou-se o teste de correlação de Spearmann e o nível de significância escolhido foi p<0,05.
RESULTADOS: IMC entre 17,7 e 36,5 kg/m2; colesterol total entre 159 e 342 mg/dl; HDL entre 29 e 62 mg/ dl; LDL entre 85 e 280 mg/dl e triglicérides entre 59 e 307 mg/dl.
CONCLUSÃO: isoladamente, o IMC não apresentou correlação estatisticamente significante com os valores do colesterol total, HDL, LDL e triglicérides, sendo necessário, portanto, estudar em conjunto outros fatores que poderiam interferir com o perfil lipídico.

Descritores: Massa corpórea; perfil lipídico; perimenopausa.


SUMMARY

OBJECTIVE: study the correlation between fasting serum lipids concentration with body mass index in perimenopausal women.
METHODS: all 80 patients studied never had used hormonal medications, including sex steroids. Body mass index (BMI) was calculated as weight/height2 (Quetelet index). The correlation between the distribution of body mass index values and serum lipids was calculated using the Spearmann test and the significant results was p<0.05.
RESULTS:BMI between 17.7 and 36.5 Kg/m2; total cholesterol levels between 159 and 342 mg/dl, HDL cholesterol between 29 and 62 mg/dl, LDL cholesterol between 85 and 280 mg/dl and triglycerides values between 59 and 307 mg/dl.
CONCLUSION:BMI did not show a significant statistically correlation with the values of lipid profile in perimenopause women.

Keywords: body mass; lipid profile; perimenopause.


 

 

INTRODUÇÃO

A doença cardiovascular representa a principal causa de morbidade e morte na sociedade moderna. Fatores de risco para doença coronariana e cerebral incluem a hipertensão arterial, intolerância à glicose, níveis séricos elevados de lipídios e lipoproteínas, tabagismo, estresse e o hipoestrogenismo. A hipertensão arterial e o perfíl lipídico desfavoráveis constituem os principais agentes determinantes da doença cardiovascular em geral e, particularmente, da doença coronariana.1

Diversos estudos epidemiológicos têm documentado estreita relação entre dieta rica em gordura animal, aumento dos níveis séricos de colesterol total e de LDL colesterol e a incidência de infarto do miocárdio. Relação inversa ocorre com o HDL colesterol, cuja menor concentração eleva o risco de doença cardíaca coronariana.2,3 Estima-se que para cada 1% de aumento do colesterol total, o risco de infarto do miocárdio eleva-se em 2%.4

Mulheres na perimenopausa (entre 2 anos antes e 2 anos após a menopausa) apresentam infarto do miocárdio em proporção muito inferior à dos homens com idade similar, mas a prevalência aumenta, constantemente, na mulher com o avançar da idade. O hipoestrogenismo conseqüente à instalação da menopausa constitui importante fator de risco, que pode ser revertido, em grande parte, com a reposição hormonal.4

Apesar das mulheres no menacme apresentarem certa proteção contra as doenças cardiovasculares, 1/ 1000 na faixa etária de 35 a 44 anos e 4/1000 entre 45 e 57 anos desenvolvem doença arterial coronariana, cuja principal etiologia é a arteriosclerose. Nesse grupo de mulheres é importante a prevalência de um ou mais fatores de risco, como a hipertensão arterial, o diabetes e a obesidade.5

A obesidade pode ser avaliada, clinicamente, utilizando-se o índice de massa corpórea (Índice de Quetelet), obtido pela relação entre o peso corporal (em kilogramas) com a estatura (em metros) ao quadrado.6

O aumento desse índice se correlaciona, positivamente, com o aumento do risco de doença cardiovascular.5,7 E ainda, no tecido gorduroso se encontra a lipase lipoprotéica que degrada o HDL colesterol, assim sendo, as mulheres obesas têm menores níveis de HDL e maior risco de doença cardiovascular.8

 

OBJETIVO

Verificar a existência de correlação entre a obesidade avaliada pelo índice de massa corpórea e os valores do perfíl lipídico (colesterol total, HDL colesterol, LDL colesterol e triglicérides) em mulheres na perimenopausa.

 

MÉTODO

Estudo transversal de prontuários de 80 mulheres na perimenopausa, atendidas no Ambulatório de Ginecologia Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, período de janeiro de 2002 a maio de 2005.

Incluíram-se apenas mulheres brancas, que não faziam uso de anticoncepcional hormonal oral há pelo menos 5 anos e que não eram tabagistas, assim como, as que nunca foram submetidas à reposição hormonal. Foram excluídas aquelas com menos de 45 anos de idade e com mais de dois anos decorridos da instalação da menopausa.

O índice de massa corpórea foi calculado pela relação do peso (em kilogramas) dividido pela estatura em metros ao quadrado.6

Para a análise dos resultados utilizou-se o teste de correlação de Spearmann e o nível de significância escolhido foi p<0,05.

 

RESULTADOS

Assinala-se no Quadro I, os valores máximos e mínimos do índice de massa corpórea, assim como do perfil lipídico, encontrados no grupo de 80 mulheres na perimenopausa. Ao se aplicar o teste de Spearmann entre o índice de massa corpórea e os valores do colesterol total, HDL colesterol, LDL colesterol e triglicérides, não foi encontrada correlação estatisticamente significante com nenhuma variável do perfil lipídico.

 

 

Teste de Spearmann: Valor crítico = 0,30

IMC x Colesterol total: 0,041 = Não significante

IMC x HDL colesterol: - 0,020 = Não significante

IMC x LDL colesterol: - 0,038 = Não significante

IMC x Triglicérides: 0,167 = Não significante

 

DISCUSSÃO

Este estudo não conseguiu estabelecer correlação entre a obesidade, avaliada pelo índice de massa corpórea, e risco aumentado para doença cardiovascular, avaliado pelos níveis séricos de colesterol total, HDL, LDL e triglicérides, em mulheres na perimenopausa. De igual maneira, Colditz et al. (1987)9 não encontraram correlação entre o perfil lipídico de mulheres na perimenopausa com os valores do índice de massa corpórea. Esses autores verificaram que somente após a menopausa haveria correlação positiva entre a obesidade e o perfil lipídico, aumentando assim, o risco para doenças cardiovasculares nas mulheres obesas.

Como se sabe, uma pessoa é considerada obesa, quando a quantidade de tecido adiposo é tão alta (20% ou mais acima do peso ideal), a ponto de prejudicar as funções bioquímicas do organismo, encurtando a expectativa de vida. Está bem estabelecido que as mulheres têm maior prevalência de obesidade que os homens. E a razão parece ser a menor taxa metabólica das mulheres.10

Na associação entre obesidade e o risco de infarto do miocárdio, deve-se ter atenção especial à obesidade central ou andróide, que se caracteriza pelo maior acúmulo de tecido gorduroso na porção superior do corpo. Esta condição apresenta maior especificidade em predizer o risco para doenças cardiovasculares.7

Neste trabalho, utilizou-se o índice de massa corpórea por ser o método mais prático e que possui reconhecido valor na associação com o risco para doenças cardiovasculares. Entretanto, é evidente que este índice não é capaz de diferenciar o peso corporal proveniente do tecido gorduroso e do tecido magro (muscular), bem como não fornece dados sobre a distribuição do tecido gorduroso, o que limita, em parte, a sua análise.

No trabalho de Stevenson et al. (1993)11 analisando mulheres na pós-menopausa, foi observado correlação estatisticamente significante entre os valores do índice de massa corpórea e os níveis séricos de LDL colesterol. Por outro lado, esta associação não se mostrou válida em relação aos valores do colesterol total, HDL colesterol e triglicérides. Verificaram também, que as mulheres na pós-menopausa apresentaram maiores valores do índice de massa corpórea e do perfil lipídico, em relação àquelas na prémenopausa.

Ademais, outros autores assinalaram que a obesidade teria ainda maior importância em determinar um perfil lipídico aterogênico quando existisse antecedente familiar para doenças cardiovasculares,2 o que não foi documentado neste estudo, por não ter sido nosso maior objetivo.

Aude et al. (2004)12 e Wenger (2004)13 relatam que as medidas para prevenção das doenças cardiovasculares devem ser implementadas o mais precocemente possível, muito antes da instalação da menopausa, procurando-se assim manter adequado o perfil lipídico, e ainda estimular hábitos de vida e dieta adequados.

 

CONCLUSÃO

Esta pesquisa deixa entrever que isoladamente a obesidade, avaliada pelo índice de massa corpórea, não apresentou correlação significativa com os valores do colesterol total, HDL colesterol, LDL colesterol e dos triglicérides, em mulheres na perimenopausa. Assim sendo, é necessário estudar, em conjunto, outros fatores que podem interferir com o perfil lipídico e, conseqüentemente, com o risco de doença cardiovascular.

 

REFERÊNCIAS

1- KIVIPELTO, M; NGANDER, T; FRATIGLIONI, L; MISSINEN, A. . – Obesity and vascular risk factors at midlife. Arch Neurol, 2005; 62 (10): 1556-60.

2- GORDON, T. & KANNEL, W.B. - Obesity and cardiovascular disease: the Framingham study. Endocr Metab, 1976; 6: 367-9.

3- ROBITAILLE, J.; FONTAINE-BISSON, B.; COUTURE, P; VOLIL, MC. – Effect of an oat bran-rich supplement on the metabolic profile of overweight perimenopausal women.. Ann Nutr Metab, 2005; 49 (3): 141-148.

4- CAROLE, MD.; LACHER, DA.; SORLIE, PD.; WOLZ, M.; JOHNSON, CL.- Trends in serum lipids and lipoproteins of adults. JAMA, 2005; 294 (14): 1773-81.

5- CHOWIENCZYK, P.J.; WATTS, G.F. & COCKCROFT, J.R. - Sex differences in endothelium function in normal and hypercholesterolemic subjects. Lancet, 1994; 344: 305-6.

6- THOMAS, A.E.; McKAY, D.A. & CUTLIP, M.B. - A nomograph method for assessing body weight. Am J Clin Nutr, 1976; 29: 302-3.

7- EBBELING, CB; LEIDIG, LG.; SINCLAIR, KB.; SIPPEE, LG.; LUDWIG, DS. – Effects of an ad libitum low-glycemic load diet on cardiovascular disease risk factors in obese young adults. Am J Clin Nutr, 2005; 81 (5): 976-982.

8- HAZZARD, W.R. - Estrogen replacement and cardiovascular disease: Serum lipids and blood pressure effects. Am J Obstet Gynecol, 1989; 161: 1847-53.

9- COLDITZ, G.A.; WILLET, W.C.; STAMPFER, M.J.; ROSNER, B.; SPEIZER, F.E. & HENNEKENS, C.H. - Menopause and the risk of coronary heart disease in women. N Engl J Med, 1987; 316: 1105-10.

10- OOI, EM.; WATTS, GF.; FARVID, MS.; CHAN, DC.; BARRETT, PH. – High-density lipoprotein apolipoprotein kicetics in obesity. Obes Res, 2005; 13 (6): 1008-1016.

11- STEVENSON, J.C; CROOK, D. & GODSLAND, I.F. - Influence of age and menopause on serum lipids and lipoproteins in healthy women. Atherosclerosis, 1993; 98: 83-90.

12- AUDE, YW.; AGATS, AS.; LOPEZ-JIMENEZ, F.; HENNENKENS, CH. – The national cholesterol education program diet vs a diet lower in carbohydrates and higher in protein and monounsaturated fat. Arch Inter Med, 2004; 164 (19): 2141-2146.

13.- WENGER, NK. - Diet and exercise for perimenopausal women lifestyle interventions can decrease cardiovascular risk. J Am Coll Cardiol, 2004; 44: 586-7.

 

 

Endereço para correspondência
Fábio André Souto Lima
Av. Braz de Aguiar, 365 - Nazaré
CEP: 66035-000 Belém - PA
e-mail: limasouto@ig.com.br
Fone: 32249998 Celular: 88090607

 

Recebido em 25/01/2006
Aprovado em 17/05/2006

 

 

1Trabalho realizado na Universidade Federal do Pará/Hospital da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará