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Revista Paraense de Medicina

versão impressa ISSN 0101-5907

Rev. Para. Med. v.20 n.3 Belém set. 2006

 

EDITORIAL

 

Ética e moral

 

 

Manoel Barbosa de Rezende

Doutor em Doenças Tropicais. Editor adjunto da Revista Paraense de Medicina da FSCMP. Membro da Diretoria da Associação dos Professores Aposentados da UFPA

 

 

A sociedade compreende toda a tessitura das relações humanas, sem possuir limites ou confins demarcativos, apresentando comportamentos bons ou maus identificados pelos conceitos éticos e morais.Ao longo do tempo, não tem sido uniforme o uso dos termos ética e moral, às vezes empregados como sinônimos, outras, com diferentes significados. Ética, expressão de origem grega entendida como interioridade do ato é, na concepção de Aurélio, feminino substantivado derivado do adjetivo ético, aplicada no estudo dos juízos de apreciação que se refere à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativo a determinada sociedade,seja de modo absoluto para qualquer tempo e lugar, quer para grupo e/ou pessoa. A moral, termo de origem latina, no sentido substantivo implica em codificação de regras, leis, normas, valores e motivações que governam o agir e a conduta humana.

A ética e a moral, desde antanho, são preocupações constantes de toda a sociedade que quer aperfeiçoar a relação pessoal de seus componentes. Sobre o assunto, este ano, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Pará, sob a presidência do competente José Antônio Cordero da Silva, fez editar o livro "Ética em mosaico: apontamentos para uma história do Conselho Regional de Medicina do Estado do Pará", de autoria de Aristóteles Guilliod de Miranda e Maria de Fátima Guimarães Couceiro, prefaciado por Alfredo Oliveira, todos médicos de inabalável conceito ético e profissional.

A Sociedade Médico Cirúrgica do Pará, dirigida, com altivez e sabedoria, por Luiz Abílio da Silva Oliveira, fará realizar, em novembro próximo, o Congresso Médico da Amazônia que tem como tema : "Ética e responsabilidade: compromisso da ciência com a sociedade", sempre atual e oportuno.

Hélio Begliomini, urologista do Hospital do Servidor Público de São Paulo e ex-presidente da Comissão de Ética Médica e Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Urologia, editou o livro "Urologia, Vida e Ética". Sami Arap, professor titular de Urologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, ora aposentado, assim se refere no prefácio do referido e excelente compêndio: "Essa talvez seja a maior virtude de Hélio Begliomini: sua incansável capacidade de se manifestar, de forma clara e consistente, sobre as questões éticas que afetam nossa profissão, a medicina e, também, nossas vidas".

A Revista Paraense de Medicina (RPM) – V. 20 (2) abril-junho 2006) teve o privilégio de publicar artigo de Helio Begliomini intitulado: "Análise ética dos urolgistas no Estado de São Paulo". Quem a lê, tem a prova convincente, inequívoca e fiel no pensamento de Sami Arap.

Contemporâneos de Sócrates, os sofistas, que se auto-proclamavam sábios, desenvolveram a retórica, a eloqüência e a gramática. Considerado, por alguns, como sofista, Sócrates afirmava que não basta crer que sabemos; é necessário descobrir o que não sabemos.

As pessoas, na maioria das vezes, não são conscientes ou modestas e julgam-se donas da verdade. Sócrates não deixou nada escrito, seus pensamentos foram perpetuados por discípulos, principalmente Platão, Aristófanes e Xenofonte. "O diálogo de Ménon" escrito por Platão, mostra que Sócrates desenvolveu o projeto pedagógico chamado de maiêutica, ou ato de partejar, que consiste em dar à luz conhecimento que forma a mente das pessoas. Demonstrava que escravo submetido a complicado problema de matemática, se bem conduzido, pode ter acesso a difíceis questões científicas. Mostrava que as distâncias Sociais e Políticas, entre os indivíduos, eram exteriores e provisórias, e, que todos os seres são, intrinsecamente, semelhantes.

Rompendo com a moral teocrática dominante na Idade Média, Descartes, no período renascentista, através do "Discurso do Método", estabeleceu a crença de sua existência pelo fato de poder pensar, construindo um sistema filosófico, perpetuado pela frase latina "Cogito, ergo sum" (Penso, logo existo).

Segundo o filósofo Karl Popper, nascido no início do século passado, a ciência não pode jamais alegar ter alcançado a verdade ou, até mesmo o substituto dela: a probabilidade. Nós não sabemos; só podemos conjeturar. Não existe a certeza, absoluta. Toda afirmativa científica é provisória, para sempre.

Sintetizando o pensamento destes três filósofos, lembramos o poeta Thomas Stearns Elliot, prêmio Nobel de Literatura de 1948, que afirmou: "A única sabedoria que podemos adquirir é a humildade".

O periódico científico é meio de comunicação, de apoio ao conhecimento que é o objetivo da pesquisa. A comunicação engloba a produção, o tratamento e a disseminação das informações. Tanto a pesquisa, quanto a respectiva publicação estão embasadas no cumprimento de rígidos princípios éticos e morais.

Para facilitar o trabalho dos revisores e do Conselho Editorial, aconselha-se aos autores das pesquisas terem a humildade e a prudência de ouvir a opinião e possível aconselhamento de especialistas no assunto, bem como, de outros profissionais sobre a avaliação do estudo no aspecto do conteúdo técnico-científico, da metodologia, dos resultados, da conclusão, da correta redação, da clareza, precisão e concisão.

Ao revisor compete dar parecer, de modo confidencial, sobre o conteúdo científico e a formatação.

Conhecendo o parecer do revisor, cabe ao competente e dedicado editor responsável pela Revista Paraense de Medicina, (RPM), Alípio Augusto Bordalo, a missão de receber o autor do trabalho e transmitir-lhe as sugestões, ficando sempre disponível para orientá-lo na difícil e prazerosa missão de pesquisar e redigir trabalhos científicos.

Finalmente, o Conselho Editorial da RPM, composto por cultos membros, dá o parecer final sobre a publicação do artigo. Publicado o trabalho, o editor é responsável pelo aspecto formal do documento e os autores pelas afirmações e dados nele contidos.

Em toda sociedade que cultiva os preceitos éticos e morais, seus componentes viverão felizes e em harmonia, respeitando e sendo respeitados.

Belém, setembro/2006