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Revista Paraense de Medicina

versão impressa ISSN 0101-5907

Rev. Para. Med. v.20 n.3 Belém set. 2006

 

RELATO DE CASO

 

Hepatite B aguda em gestante – relato de caso1

 

Acute hepatitis B in pregnant woman - case report

 

 

Eliete da Cunha AraújoI; Manoel do Carmo Pereira SoaresII; Vitória Carvalho CardosoIII ; Daniela Maria Raulino da SilveiraIII

IProfa de Pediatria, Mestre em Medicina Tropical, Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará (UFPA)
II
Médico virologista do Instituto Evandro Chagas (IEC)
IIIGraduandas do Curso de Medicina da UFPA e bolsistas da Pró- Reitoria de Extensão (PROEX) da UFPA

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

OBJETIVO: relatar um caso de hepatite B em gestante, por provável transmissão sexual.
RELATO DO CASO: J.N.L, 23 anos, faioderma, residente e procedente de Belém-PA, grávida de 4 meses, agente de saúde, ficou internada na maternidade da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA) por apresentar infecção aguda pelo vírus da hepatite B (HBsAg positivo; Anti-HBc IgM positivo; Anti-HBc Total positivo; Anti-HAV IgM negativo; Anti-HCV negativo). A paciente teve alta com melhora do quadro após 15 dias de internamento e ficou em seguimento ambulatorial pelo GRUPO DO FÍGADO da FSCMPA. Após quase 10 meses do início do quadro, desenvolveu marcador sorológico compatível com imunidade (Anti HBs). O parto ocorreu em 03/01/2005, na FSCMPA, por via vaginal. Recém-nascido pré-termo (36 semanas), peso 3400 gramas, recebeu vacina e gamaglobulina hiperimune contra hepatite B dentro das primeiras 12 horas de vida, alta após 48 horas em boas condições. Foi feito o seguimento ambulatorial e após a 2a dose da vacina em 04/02/2005, o lactente desenvolveu Anti HBs.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: o rastreamento de marcadores sorológicos para o vírus da hepatite B (VHB), na assistência pré-natal, possibilita a realização da profilaxia da transmissão vertical. Dos recém-nascidos infectados, mais de 80% evoluirão para a forma crônica da doença, capazes de infectar novos indivíduos. Estender a aplicação da vacina contra hepatite B às mulheres em idade fértil contribuiria para a redução da transmissão vertical e, conseqüentemente, para a diminuição da circulação do vírus.

Descritores: hepatite B, gravidez, profilaxia.


SUMMARY

OBJECTIVE: report a case of Hepatite B in pregnant woman, for probable sexual transmission.
CASE REPORT : J.N.L, 23 years, brunette skin , resident and coming from Belém, pregnant of 4 months, professional of the health, was admitted at the maternity of the Fundation Santa Casa of Mercy of Para (FSCMPA) for presenting acute infection for the virus of the hepatitis B (positive HbsAg; Anti-HBc positive IgM; Anti-HBc positive Total; Anti-HAV negative IgM; Negative Anti-HCV). After the pacient had been at hospital for 15 days,she was discharged from hospital with improvement of the clinical state and after that she was in ambulatorial continuation for the GROUP OF THE LIVER of FSCMPA. After almost 10 months of the beginning of the picture, she developed marker compatible sorologic with immunity (Anti HBs). The childbirth happened in 03/01/2005, in FSCMPA, for vaginal way. Newly born term (36 weeks), weight 3400 grams, received vaccine and gamaglobulina hiperimune against hepatitis B inside of the first 12 hours of life, discharge from hospital after 48 hours in good conditions. The clinical accompanying was made and after continuation and after to 2nd dose of the vaccine in 04/02/2005, the infant developed Anti HBs.
FINAL CONSIDERATIONS: the tracement of sorologics markers for the virus of the hepatitis B in the prenatal attendance, makes possible the accomplishment of the prophylaxis of the vertical transmission. Above the newborn baby, more than 80% will develop for the chronic form of the disease, capable to infect new individuals. To extend the application of the vaccine against hepatitis B to the women in fertile age would contribute to the reduction of the vertical transmission and, consequently, for the decrease of the circulation of the virus.

Key words: Hepatitis B, pregnancy , prophylaxis.


 

 

INTRODUÇÃO

As hepatites virais são doenças necroinflamatórias difusas do fígado, causadas por vírus, predominantemente, hepatotrópicos, com tropismo primário pelo tecido hepático. Essas afecções são infectocontagiosas, constituindo um importante problema de saúde pública, não só no Brasil, como no mundo1.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 2 bilhões de pessoas já tiveram contato com o vírus da hepatite B (VHB), sendo que 325 milhões são portadoras crônicas do vírus. No Brasil, o Ministério da Saúde (MS) estima que pelo menos 15% da população já teve contato com o vírus. Os casos crônicos de hepatite B devem corresponder a cerca de 1% da população brasileira. A maioria das pessoas desconhece seu estado de portador e constitui elo importante na cadeia de transmissão1, 2,3,4.

A transmissão percutânea sangüínea, os produtos do sangue ou instrumentos perfuro-cortantes contaminados, a via sexual e a transmissão perinatal (da mãe para o concepto) se constituem nas principais vias de transmissão. O leite materno também pode conter o VHB, porém não possui importância epidemiológica5, 6.

A transmissão perinatal é o mecanismo predominante de disseminação nas áreas de maior prevalência do estado de portador crônico do vírus, pois ainda não há conscientização em tornar parte da rotina médica a triagem das grávidas no período gestacional7.

 

OBJETIVO

Relatar um caso de hepatite B em gestante, infectada no 4o mês e a administração em tempo hábil da profilaxia da transmissão vertical.

 

RELATO DO CASO

J.N.L, 23 anos, faioderma, residente e procedente de Belém-PA, agente de saúde, grávida de 4 meses, deu entrada na FSCMPA em 24/08/2004 com quadro de icterícia, mialgia, astenia, hipocolia e colúria. Relata que seu parceiro apresentou quadro semelhante há um mês, sendo diagnosticado hepatite B. A pesquisa de marcadores sorológicos foi realizada no Instituto Evandro Chagas (IEC), sendo compatível com infecção aguda pelo vírus da hepatite B (Quadros 1, 2 e 3).

Exame físico

Regular estado geral, consciente, orientada, hipocorada (+++/4+), (Figura 1), ictérica (4+), (Figura 2), afebril, normotensa, ausculta pulmonar sem alteração ou ruídos adventícios, ausculta cardíaca com bulhas normofonéticas em 2 tempos e sem sopros, abdome doloroso à palpação em hipocôndrio direito e epigástrio, apresentando hepatomegalia (fígado a 7-8 cm do rebordo costal direito).

Resultado dos exames laboratoriais

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Evolução

A paciente teve alta com melhora do quadro após 15 dias de internamento e ficou em seguimento ambulatorial pelo GRUPO DO FÍGADO da FSCMPA. Após quase 10 meses do início do quadro desenvolveu marcador sorológico compatível com imunidade (Anti HBs).

O parto ocorreu em 03 de janeiro de 2005, na FSCMPA, por via vaginal. O bebê nasceu em boas condições com idade gestacional de 36 semanas pesando 3400 gramas. Foi administrado dentro das primeiras 12 horas de vida, vacina e gamaglobulina hiperimune contra hepatite B. Teve alta após 48 horas de vida em boas condições. Foi feito o seguimento ambulatorial da criança e, após a 2a dose da vacina, em 04/02/2005, o lactente desenvolveu marcador sorológico compatível com imunidade (Anti HBs), (Quadro 4).

 

DISCUSSÃO

Ainda não faz parte da rotina médica a triagem para VHB no período gestacional6. Esse vírus é responsável por patologia hepática crônica em crianças nascidas de mães infectadas e as conseqüências dessa infecção levam, a curto e médio prazo à hepatite crônica, e em longo prazo, à cirrose e a complicações neoplásicas como o carcinoma hepatocelular8. Gestantes com hepatite B aguda, diagnosticadas no 1o e 2o trimestres de gravidez, em 5 a 10% das vezes transmitem a infecção ao filho; para gestantes infectadas no 3o trimestre ou para portadoras crônicas, a probabilidade de comprometimento do recém-nascido é da ordem de 60%5, 9.

A profilaxia da hepatite B no recém-nascido está baseada na administração de imunoglobulina hiperimune seguida de 3 doses de vacina da hepatite B (1a dose ao nascimento, 2a dose com 1 mês de vida e 3a dose aos 6 meses). Esse esquema de profilaxia instituído logo após o nascimento, diminui o risco de a criança tornar-se portadora crônica para 2%. No presente caso a intervenção em tempo hábil pode ter impedido a transmissão do VHB para o recém-nascido10.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É importante o rastreamento da hepatite B crônica na assistência pré-natal, por meio da pesquisa de HBsAg no início da gestação.

Estender a aplicação da vacina contra hepatite B às mulheres em idade fértil, possibilitaria a prevenção da transmissão vertical e, conseqüentemente, contribuiria para a diminuição da circulação do vírus.

 

REFERÊNCIAS

01 . BELÉM. Instituto Evandro Chagas, Seção de Hepatologia, Estudo e Pesquisa. Sorologia e Biologia Molecular no Diagnóstico das Hepatites – Informações Elementares, 2001.

02. SOUTO, FJD. Distribuição da Hepatite B no Brasil: atualização do mapa epidemiológico e proposições para seu controle. Rev. GED, v. 18, n. 4, p.143-150, jul/ago. 1999.

03. BRASIL. Ministério da Saúde. Divisão de Vigilância Epidemiológica. Situação da Prevenção e Controle das Doenças Transmissíveis no Brasil. Brasília: MS, 2002. p. 31-33.

04. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Programa Nacional de Hepatites Virais. Hepatites Virais: O Brasil está atento. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasília - DF, 2003.

05. NABULSI, MM. et al. Prevalence of hepatitis B surface antigen in pregnant Lebanese Women. International Journal of Ginecology & Obstetrics, v. 58, p. 243-244, march. 1997.

06. BRASIL. Ministério da Saúde - Funasa, Instituto Evandro Chagas (Belém). Seção de Hepatologia. Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites; informações elementares. Belém, 2001.

07. DINIZ, EMA.; Infecções Congênitas e Perinatais. São Paulo: Atheneu, 1991.p:165-185. BRASIL. Ministério da Saúde - Funasa, Instituto Evandro Chagas (Belém). Seção de Hepatologia. Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites; informações elementares. Belém, 2001.

08. CALIL, KF. In: AZEVEDO, RA. Infectologia Pediátrica. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 1998. p: 414-426.

09. PARÁ. Secretaria de Estado de Saúde Pública. Coordenação Estadual do Programa de DST/AIDS. Distribuição do Número de Casos de DST no Pará. Belém: SESPA, 1998.

10. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Documento Científico. Consenso do Departamento de Gastroenterologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. Hepatites Virais - Vacinas, abril. 2004.

 

Agradecimentos

Ao GRUPO DO FÍGADO da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará

 

 

Endereço para correspondência
Daniela Maria Raulino da Silveira
Avenida Gentil Bittencourt, 1390. Apto 329-B
Nazaré, Belém - PA. CEP: 66040-000
Fone: (0xx91)3212.98.02 / (0xx91)8114.35.27
E-mail: danielaraulino@yahoo.com.br

Vitória Carvalho Cardoso
Rua Curuçá, 289
Umarizal, Belém-PA. CEP: 66050-080
Fone: (0xx91)3225.26.08/ (0xx91)8162.1339
E-mail: vitória.cardoso@gmail.com.br

Recebido em 23.01.2006
Aprovado em 17.05.2006

 

 

1Trabalho realizado na Maternidade do Hospital Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA).