RELATO DE CASO

 

Mastopatia diabética bilateral – relato de caso¹

 

Bilateral diabetic mastopathy - case report

 

 

Helder da Fonseca Bitar^I; Daniel Fadul Bitar^II

^ITítulo de Especialista em Mastologia (SBM-AMB) e Cancerologia (SBC-AMB).Fundador da Sociedade Brasileira de Mastologia (Regional do Pará).Titular da SBM
^IIGraduando do CCBS/UEPA

Endereço para correspondência

 

 

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RESUMO

OBJETIVO: relatar um caso de mastopatia diabética bilateral, um tipo incomum e raro de doença inflamatória da mama. A associação entre mastopatia e diabete insulino-dependente é uma condição não muita conhecida.
RELATO DO CASO: paciente do sexo feminino, trinta e dois anos de idade, com diagnóstico de diabete desde os doze anos. A investigação clínica se baseou na anamnese e exame físico; realizada, também, ultra-sonografia e histopatologia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: o caso apresentado demonstra a importância do diagnóstico precoce das doenças que afetam a mama e a gravidade da mastopatia diabética, quando detectada tardiamente.

Descritores: mama, mastopatia diabética.

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SUMMARY

OBJECTIVE: to report a case of diabetic mastopathy, an uncommon type of inflammatory breast pathology. The bilateral form is more rare. The association between mastopathy and insulin-dependent diabetes is a not very known condition.
CASE REPORT: patient of female sex, thirtytwo years old, with diagnoses of diabetes at age of twelve.
FINAL CONSIDERATIONS: in the case reported above the authors emphasize the importance of early diagnosis in breast diseases

Key words: breast; diabetic mastopathy.

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INTRODUÇÃO

A mastopatia diabética, um tipo raro de doença inflamatória da mama, afeta, caracteristicamente, mulheres na pré menopausa, portadoras de diabete mellitus, tipo 1, por longo tempo¹. Representa menos de um por cento das nosologias benignas da mama, com evolução longa e múltiplas complicações microvasculares.

Foram postuladas diversas teorias sobre sua etiopatogenia, sem que a mesma esteja bem definida. Atribui-se a uma reação auto imune causada pela hiperglicemia ao nível do tecido conjuntivo mamário².

A bilateral é rara, sendo o acontecimento no sexo masculino mais infrequente ainda. Não é considerada uma entidade que predisponha ao desenvolvimento do câncer de mama³. Ao exame físico observa-se lesão mamária extensa com evolução rápida após instalar-se, podendo vir acompanhada ou não de tumoração palpável, única ou múltipla, geralmente, indolor em sua fase inicial. O diagnóstico diferencial é feito com o carcinoma inflamatório e com o carcinoma lobular invasivo⁴. Tal diferenciação é confirmada após histopatologia. Exames complementares como a mastografia, ultra-sonografia, etc, podem auxiliar no diagnóstico, sem entretanto, revelarem imagens especificas da doença⁵ .

 

OBJETIVO

Apresentar um caso de mastopatia diabética bilateral em paciente de trinta e dois anos de idade.

 

RELATO DO CASO

Identificação

M.N.C., sexo feminino, trinta e dois anos de idade, branca, casada, residente em Belém-PA.

Queixa principal

Dor ao nível da mama esquerda.

Histórico da doença atual

Paciente referia que há vinte dias havia percebido uma lesão edematosa ao nível da mama esquerda que após ulcerar, apresentou drenagem de exudato purulento, acompanhado de calor local. Paciente diabética diagnosticada aos doze anos de idade, fazendo uso de medicação para controle dos níveis de glicemia. Duas semanas após a instalação do quadro clínico percebeu edema ao nível da mama direita. Nega antecedentes familiares de câncer de mama.

Investigação clínica

O diagnóstico de mastopatia diabética bilateral foi baseado na anannese e exame físico da paciente. A ultra-sonografia mamária revelou abscessos intramamários.

 

 

Exame físico

Ao exame físico, verificou-se extensa área de necrose ocupando, aproximadamente, oitenta por cento da superfície da mama esquerda, edema e ulceração cutânea com drenagem de exudato purulento. Na mama direita observou-se edema ao nível dos quadrantes internos, acompanhados de necrose.

 

 

Tratamento

Consistiu em controle do nível glicêmico da paciente associado a antibioticoterapia, uma vez que havia infecção secundária, empregando-se clindamicina em dose de 1800 mg/dia.

Preconizou-se ainda uma ampla remoção cirúrgica das áreas necrosadas. O material foi enviado para exame histopatológico, o qual revelou - Extensas áreas de necrose difusa, estroma mamário denso e atrofia lobular. Infiltrado linfocitário com lobulite linfocítica peri-vascular -.

 

DISCUSSÃO

Os autores estudaram o caso uma vez que a mastopatia diabética é uma condição de rara ocorrência dentre as doenças que afetam as mamas. Sua etiopatogenia não é bem definida. A história da paciente, exame físico, ultra-sonografia e exame histopatológico propiciam o diagnóstico da doença. Pode desenvolver-se em pacientes diabéticas mal controladas, que estejam ou não fazendo uso de insulina.

Segundo Pérez⁵, a lesão apresenta crescimento rápido, é indolor e afeta, principalmente, mulheres na pré-menopausa. A paciente em estudo apresentou tempo de evolução de apenas quinze dias, entre instalação na mama esquerda e, posteriormente, na direita. Não referia dor ao nível das mamas e se encontrava na pré-menopausa.

A história natural desta nosologia ainda não é conhecida. É também denominada doença fibrótica diabética da mama, mastopatia linfocítica e lobulite linfocítica-esclerosante⁶.

Seidmeu et al¹ referem uma duração media de treze anos para a mastopatia diabética se desenvolver. No caso relatado, o tempo entre diagnóstico de diabete e instalação da mastopatia foi de doze anos.

O tratamento instituído à paciente consistiu no controle da glicemia, antibioticoteapia, associados à cirurgia.

Segundo Romeo³, em noventa e um casos revisados, nenhum apresentou critérios de malignidade. Neste caso, o exame histopatológico foi negativo para malignidade.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O caso apresentado demonstra a importância do diagnóstico precoce das doenças que afetam a mama e a gravidade da mastopatia diabética, quando detectada tardiamente.

Durante tratamento, houve associação do controle da glicemia, antibioticoterapia e remoção cirúrgica das áreas necrosadas.

 

REFERÊNCIAS

01. MAK CW; CHOU CK; CHEN SY; LEE PS. Diabetic mastopathy. The British Jonrnal of radiology.2003 (76), 192-194

02. MOTTOLA I; LAGINHA F; MAZZOCCATO C. Mastopatia diabética: Causa Incomum de doença inflamatória da mama. Rev Bras Ginecol Obstet 2002; 24(8):1-10

03. ROMEO IA; HORNDLER C. Presentación de um caso de mastopatía diabética y revisión de los conocimientos actuales. Rev Esp Patol 2001: Vol 34 (2): 157-163

04. KEYONNG IA; ZUURBIER NA; AZUMMI N. Diabetic mastopathy. App1 radiol 2003; 32(9) 47-49

05. PÉREZ IA; CARRASCO C. Mastopatia diabética: um diagnóstico poco habitual. Ver Médcmile 2003; 131(11): 1305-1308

06. BANDEIRA D; PANISSET KSP; MACHADOR. Mastopatia diabética. Ver Brás Matol 2005; 3:130-132.

 

 

Endereço para correspondência
Hekder da Fonseca Bitar
Av. Governador José Malcher n^o 1434 Cob-Nazaré
66060-230 Belém-Pa
e-mail:helderbitar@hotmail.com

Recebido em 05.06.2006
Aprovado em 15.09.2006

 

 

¹Trabalho realizado no Hospital Santa Clara