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Revista Paraense de Medicina

Print version ISSN 0101-5907

Rev. Para. Med. vol.20 no.3 Belém Sept. 2006

 

ARTIGO ESPECIAL

 

Aspecto histórico da malária1

 

 

Maria de Nazaré Almeida RochaI; Eleonora A. P. FerreiraII; José Maria de SouzaIII

IMestre e Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento da UFPA
IIDoutora em Psicologia pela UNB e Professora do Curso de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento da UFPA
IIIPesquisador do Instituto Evandro Chagas, Ambulatório/Laboratório de Ensaios Clínicos em Malária/SVS/MS, Doutor em Medicina

Endereço para correspondência

 

 

Os países envolvidos com a 1a Guerra Mundial reportaram grandes baixas em decorrência da malária. Esse fato estimulou a pesquisa, especialmente na Europa, visando encontrar medidas eficazes no combate e controle da doença.

De fato, a malária foi identificada como "a doença que causou mais mal ao maior número de nações do Continente" pela XI Conferência Sanitária Pan- Americana, em 1942.

O uso do diclorodifeniltricloroetano (DDT), inseticida de ação residual, foi elemento importante no controle da malária durante a segunda Guerra Mundial. Este inseticida, borrifado nos domicílios semestralmente, foi uma das principais intervenções na tentativa de erradicar a doença1.

Porém, a utilização do DDT foi abandonada em virtude dos prejuízos causados ao ecossistema. Os ambientalistas argumentaram que seu principal problema é a ação indiscriminada, que atinge tanto as pragas quanto o resto da fauna e flora da área afetada2.

Em 1942, criou-se no nível federal, para controlar a doença, o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), na região amazônica e no Vale do Rio São Francisco, e o Serviço Anti-Malária do Estado de São Paulo. O objetivo foi alcançado e em 1970 foram notificados apenas 52.500 casos de malária, sendo 73% na Região Amazônica3.

Em cumprimento ao estabelecido pela XVIII Assembléia Mundial da Saúde, no México em 1955, foi aprovada a criação de uma campanha de erradicação da malária.

Nos anos 70, surge no país novo perfil demográfico com mudanças ecológicas decorrentes da instalação de projetos de colonização na Região Amazônica1. Isso contribuiu para o recrudescimento da malária e o surgimento de epidemias localizadas, principalmente, nas zonas de garimpo, em áreas habitacionais dos projetos de colonização e em canteiro de obras3.

O empenho na erradicação mundial da malária, apoiada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) até 1992, concentrou-se no combate aos mosquitos. Essa linha de ação foi substituída pela Estratégia Mundial de Luta contra a Malária, formulada para: (a) fornecer diagnóstico precoce, efetivo e tratamento imediato e eficaz da doença; (b) planejar e implementar medidas preventivas seletivas e sustentáveis, incluindo o controle de vetores; (c) detectar cedo a doença, conter ou prevenir as epidemias; (d) fortalecer as capacidades locais na investigação aplicada e básica para permitir e promover a avaliação regular da situação da malária de um país, em particular os fatores ecológicos, sociais e econômicos determinantes da doença4.

De acordo com a OPAS foram registrados 1.187.316 casos da doença nas Américas em 19925. Porém, observamos que a situação epidemiológica da malária tem se agravado nas ultimas décadas, mesmo na presença das medidas vinculadas aos programas oficiais de controle.

O Brasil, a partir de 1993, mudou a estratégia de erradicação para um controle integrado da malária por meio de: diagnóstico - precoce e preciso - e tratamento - imediato e eficaz - dos casos; escolha seletiva de objetivos, estratégias e métodos específicos de controle ajustados às características particulares da transmissão existentes em cada localidade6. Essas novas medidas adotadas parecem que não foram suficientes para conter o avanço da doença. Pois, na Amazônia, a incidência da malária voltou a crescer registrando 635.644 (IPA 31,9) casos até o final de 1999. Essa reincidência apresentou como agravante maior letalidade e resistência do agente etiológico aos esquemas terapêuticos utilizados1.

No Brasil, 99% dos casos existentes, concentram-se na Amazônia, formada pelos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins1 e 6.

Na Amazônia Legal, em 1999, o Plano de Intensificação das Ações de Controle da Malária (PIACM), estabeleceu como meta a redução da incidência de malária em 50% até o final de 2001, em função do elevadíssimo número de casos. Para os gastos com esse Plano, o Governo Federal liberou uma verba de R$ 103,4 milhões e coube aos estados e municípios a contribuição de R$ 36,6 milhões6.

Como resultado desse Plano, no Estado do Pará, houve uma redução de 34,01% no número de lâminas positivas, no período 1999-20016. Em 2002, foram observadas apenas 183.574 lâminas positivas3.

Em seqüência ao PIACM, o governo brasileiro criou o Programa Nacional de Controle da Malária (PNCM), com o objetivo de fornecer diretrizes aos governos: federal, estadual e municipal, em parceria com a sociedade organizada, para desenvolver atividades de controle da doença. Essa iniciativa melhorou tanto a estrutura das unidades de saúde quanto o controle dos riscos de transmissão da doença na Região1.

Apesar das descobertas de novos produtos, e novas estratégias de tratamento, a doença ainda apresenta índice de incidência muito elevado4. Tal fato reforça a necessidade de se criar medidas de prevenção e controle da doença através de estratégias pedagógicas que permitam a mudança de comportamento e que reforcem a participação comunitária na adesão ao tratamento e na análise preliminar dos fatores de riscos das populações afetadas. Acreditamos que apenas com continuidade dessas ações, somadas ao surgimento de novas pesquisas reveladoras de melhores estratégias, novos produtos e tratamentos, poderíamos sonhar com uma erradicação efetiva da doença.

 

REFERÊNCIAS

01. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE/ SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE (2003) Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária (PNCM). Brasília.

02. AMBIENTE BRASIL S/S LTDA. DDT - Dicloro-difenil-tricloroetano (2005). Disponível em: www. webmaster@ambientebrasil.com.br

03. SILVA, IBA. (2003). Malária vivax: Manifestações clínicas e laboratoriais relacionadas com o fator de necrose tumoral alfa. Dissertação de doutorado apresentada ao Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará, Belém-PA.

04. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (2005). 136a. Sessão do Comitê Executivo. Malária e Objetivos de desenvolvimento do Milenium. Buenos Aires, Argentina.

05. DE SOUZA, JM. (1997). Malária. In. Leão, RNQ. (Cord.). Doenças Infecciosas e Parasitárias: Enfoque Amazônico. Belém: CEJUP; UEPA; Instituto Evandro Chagas.

06. COUTO, AARA. (2001). Caracterização de Cepas de Plasmodium falciparum e Monitoração Longitudinal da Resistência às Drogas em Duas Áreas da Amazônia Brasileira. Tese de doutorado apresentada à Universidade Federal do Pará e Museu Paraense Emilio Goeldi, Belém-Pará.

 

 

Endereço para correspondência
Maria de Nazaré Almeida Rocha
Trav. Angustura, 3669, Marco
CEP 66095040, Belém PA.
Fone: 3276.5756
Celular: (91) 91122094 - Email: mnar@amazom.com.br

 

 

1 Trabalho realizado nas Comunidades São Pedro, São João e Santa Maria localizadas no Lago do Reservatório da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, Município de Tucuruí, Pará