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Revista Paraense de Medicina

Print version ISSN 0101-5907

Rev. Para. Med. vol.21 no.3 Belém Sept. 2007

 

ARTIGO ORIGINAL

 

Imagem corporal real e imagem ideal em adultos obesos1

 

Real body image by obese adult

 

 

Adelma Pimentel

Pós-doutorado em Psicologia do Desenvolvimento, Universidade de Évora/Pt. Pesquisadora no Mestrado em Psicologia na Universidade Federal do Pará UFPA

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

OBJETIVO: identificar Índice de Massa corporal e possível relações entre idade real e idade ideal na projeção da imagem corporal de adultos obesos, quatro vivendo em Évora, Portugal e um em Belém, Brasil.
MÉTODO: no período de outubro de 2006 em Belém e de janeiro a junho de 2007 em Évora, aplicamos desenho do corpo, questionário aberto e avaliação do Índice de Massa Corporal.
RESULTADOS: Brasil: mulher 35 anos, 108kg; 1.68; IMC: 38.3, grau de obesidade: II. Pesos estimados- magro: 57.6; gordo: 50.4; percentual de gordura: 46.7. Pesos ideais- mínimo: 56,6; médio: 63.4 e máximo: 70.2. Évora- caso I: mulher, 28 anos, 92 kg, 1.65; IMC: 33.8. Pesos estimados- magro: 55.5; gordo: 36.5; percentual de gordura: 39.6. Pesos ideais- mínimo: 54,6; médio: 61.1 e máximo: 67.7. Grau de obesidade: I; caso II: mulher, 34 anos, 89 kg, 1.70, IMC: 30.8 ; Pesos estimados- magro: 59; gordo: 30; percentual de gordura: 33.8; Pesos ideais- mínimo: 57,9; médio: 64.9 e máximo: 71.8; Grau de obesidade: I; caso III: mulher, 25 anos, 99 kg, 1.76; IMC: 31.6; Pesos estimados- magro: 63.2; gordo: 34.8; percentual de gordura: 35.5; Pesos ideais- mínimo: 62.1; médio: 69.5 e máximo: 77; caso IV: mulher, 47 anos. 97 kg, 1.60; IMC: 37.9; Pesos estimados- magro: 52.2; gordo: 44.8; percentual de gordura: 46.2; Pesos ideais- mínimo: 51.3; médio: 57.5 e máximo: 63.6.
CONCLUSÃO: Os resultados indicam que todos projetaram no desenho do corpo a imagem com idade idealizada, isto é, de anos atrás em que tinham peso menor.

Descritores: Obesidade; pesquisa qualitativa; imagem corporal.


SUMMARY

OBJECTIVE: to identify to Index of corporal Mass and possible relations between real age and ideal age in the projection of the corporal image of adults obese, four living in Évora, Portugal and one in Belém, Brazil.
METHOD: In the period of October of the 2006 in Belém and January June of 2007 in Évora we apply drawing of the body, open questionnaire and to evaluate Index of Corporal Mass.
RESULTS: Brazil: woman 35 years, 108kg; 1.68; IMC: 38,3. Degree of obesities: II esteem Weights: lean: 57.6; fat person: 50.4; percentage of fat: 46.7. Ideal weights: minimum: 56,6; medium: 63.4 and maximum: 70.2. Évora: in case that I Woman, 28 years, 92 kg; 1.65; IMC: 33.8. Esteem weights: lean: 55.5; fat person: 36.5; percentage of fat: 39.6. Ideal weights: minimum: 54,6; medium: 61.1 and maximum: 67.7. Degree of obesities: I; case II: Woman, 34 years, 89 kg; 1.70, IMC: 30.8; Esteem weights: lean: 59; fat person: 30; percentage of fat: 33.8; Ideal weights: minimum: 57,9; medium: 64.9 and maximum: 71.8; Degree of obesities: I; case III: Woman, 25 years; 99 kg; 1.76; IMC: 31.6; Esteem weights: lean: 63.2; fat person: 34.8; percentage of fat: 35.5; Ideal weights: minimum: 62.1; medium: 69.5 and maximum: 77, case IV: Woman, 47 years. 97 kg; Height: 1.60; IMC: 37.9; Esteem weights: lean: 52.2; fat person: 44.8; percentage of fat: 46.2; Ideal weights: minimum: 51.3; medium: 57.5 and maximum: 63.6.
CONCLUSION: The results indicate that all had projected in the drawing of the body the image with idealized age, that is, of years behind where they had lesser weight.

Key words: obesity, search qualitative, body image


 

 

INTRODUÇÃO

A obesidade é uma doença com múltiplos fatores: genéticos, endócrinos, familiares, dietéticos, psicológicos e sociais. Nosso cotidiano acelerado favorece uma vida mais sedentária e a oferta de alimentos hiper-calóricos. O excesso de peso desencadeia ou agrava outras doenças: cardiopatias, hipertensão arterial, vários tipos de hérnias, diabetes, insuficiência respiratória, hemorróidas, apnéia do sono, distúrbios psicossociais entre outras

Imagem corporal é o resultado da autopercepção da forma corporal elaborada pelo individuo, constituída por fatores psicológicos, sociais, e biológicos, sendo que os psicossociais adquirem maior valência no desenvolvimento emocional e social ajustado, ou na organização distorcida da imagem corporal. Pimentel, ( 2007 )5

A investigação qualitativa exploratória da imagem corporal verifica quais fatores levam os informantes obesos a atribuir ao desenho de seu corpo uma idade distinta da cronológica vivida. De acordo com Tavares, (2003p:38)6, as estruturas neurológicas e a vivência afetiva não são isoladas e estão sempre em transformação de forma indispensável e profundamente inter-relacionada.

Apropriando tal afirmação ao âmbito desta pesquisa, hipotetizamos que a afetividade e as interações sociais são fatores de maior valor na configuração da resposta, mais ou menos, idealizada da projeção da idade em sujeitos que passaram a engordar na fase adulta.

Tavares, também, considera que o desenvolvimento da imagem corporal se dá em três estágios: experiências psíquicas precoces do corpo; consciência inicial da imagem corporal com integração de experiências internas e externas; definição e coesão do eu corporal como base da consciência do eu. Em cada uma deles, as percepções, as interações, a imaginação, as sensações, os padrões culturais e estéticos formam a estrutura interna de referência da imagem corporal.

 

OBJETIVO

Identificar Índice de Massa Corporal e possível relações entre idade real e idade ideal na projeção da imagem corporal de adultos obesos.

 

MÉTODO

No período de outubro de 2006 a janeiro e junho de 2007, foram aplicados a sujeitos que atenderam aos critérios de estar obeso a partir do nível I; conhecer as normas de funcionamento do projeto e assinar o consentimento esclarecido e informado de pesquisa, os instrumentos: avaliação do IMC, questionário focando a história alimentar e desenho do corpo.

Cinco pessoas: 1 mulher em Belém, Pará, Brasil e 1 homem e 3 mulheres em Évora, Portugal integram a amostra de orientação qualitativa (Lessard-Hébert & cols,2005;7 Turato, 2003)8, visando identificar as significações da obesidade e imagem corporal para os informantes.

Este estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da UFPA e do Departamento de Psicologia da Universidade de Évora/Pt.

Realizamos análises e sínteses usando algumas teses psicológicas gestálticas sobre a imagem corporal. Particularmente consideramos o princípio de que uma pessoa é uma totalidade, portanto buscamos compreender as informações obtidas em uma perspectiva conjuntural.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

BRASIL - 4

• Sexo: F . Fez cirurgia bariátrica

• Idade: 35 anos.

• Peso: 108kg; Altura: 1.68.

• IMC: 38.3,

• Grau de obesidade: II

• Pesos estimados: magro: 57.6; gordo: 50.4 ; percentual de gordura: 46.7. Pesos ideais: mínimo: 56,6; médio: 63.4 e máximo: 70.2.

 

EVORA – PORTUGAL

 

BRASIL

 

 

EVORA

 

 

 

 

 

DISCUSSÃO

No caso BRASIL, a informante comentou: após a cirurgia ficou com 96 quilos, correu um risco muito grande, não é mais a mesma que era antes porque perdeu a parte de um órgão muito importante, o estômago. A repercussão da explicação na projeção da imagem corporal pode: a) revelar que a cirurgia alterou a sensação corporal; b) não retratou a perda da massa corporal, isto é, ao desenhar o corpo, a informante, não reformulou internamente a repercussão física da redução do estomago.

Nos casos eborenses as observações são: D1. A roupa não lhe fica bem. Não aprecia seu estomago. Pensa que os outros a vêem como uma mulher grande. Recebe críticas por estar gorda. Não está motivada para emagrecer. D2. Não faz muita diferença estar gorda. Não tem muitos complexos, vive como se fosse magra. Olha-se no espelho, nua, mas não gosta de ver a barriga, porém não faria lipoaspiração pelos perigos da cirurgia. Não se sente bonita nem feia. É bem aceita pelo marido que também é gordo. D3. Não sente vergonha do seu corpo diante da namorada. Quando mais jovem recebia apelidos por estar gordo. D4. É ansiosa e preciso estar sempre mastigando algo, especialmente rebuçados1, para quebrar as energias. Sente-se insegura embora procure não demonstrar socialmente. Desde jovem era "gordinha", oscilava entre os 65 a 70 kg. Após os 40 anos o peso tende a se manter ou aumentar. Está com problemas de saúde: colesterol, cardíaco, hipertensão. Toma antidepressivo e ansiolíticos

Ao comentar sobre o material, nenhum dos informantes conseguiu relacionar a percepção das diferenças entre a sua idade real, idade simulada no desenho e a representação de si menos gordo. Talvez, conservar na projeção a idade idealizada permita aos informantes continuar mantendo o prazer de comer especialmente doces; não se submeter a atividades físicas permanentes e não considerar as pressões sociais para ser magro como uma meta compulsiva, embora sejam por elas afetados.

Quando estamos conectados com nosso corpo não vivemos reproduzindo uma imagem ideal dele; bem como há uma unidade entre imagem, desejos, limitações e ações, sem penalidades à nossa realidade interna, conseqüentemente ao significado dos atos humanos. Tavares, (2003).

 

CONCLUSÃO

Todos projetaram o desenho do corpo com imagem cuja idade é menor que a real.(QUADROS 2, 3). Consideramos que se deve a estes fatores: a) relação entre idade e massa corporal, isto é, parece mais agradável esteticamente o informante manter a representação de anos atrás em que pesava menos; b) provoca menor sofrimento psíquico pensar-se magro; c) a percepção masculina reflete menos a pressão social para emagrecer (menor sobre os homens) não interferindo na representação mental do corpo; d) a consciência da imagem corporal sugere a não integração de experiências internas e externas.

 

REFERÊNCIAS

5. PIMENTEL, ADELMA. Imagem corporal em adultos obesos, International Journal of Developmental and Educational Psychology 2007; 1(3):253-268

6. TAVARES, MC. Imagem corporal: conceito e desenvolvimento, Barueri SP: Manole 2003

7. LESSARD-HÉBERT, M; GOYETTE, G; BOUTIN. Recherche Qualitative, Lisboa: Instituto Piaget 2005

8. TURATO, ER. Tratado da Metodologia da Pesquisa Clínico-qualitativa, Petrópolis RJ: Editora Vozes 2003

9. TAVARES, MC. Imagem corporal: conceito e desenvolvimento, Barueri SP: Manole 2003

 

 

Endereço para correspondência:
Adelma Pimentel
Trav. Mariz e Barros, 2765 ap. 401 Marco
66085-170
Belém PA
Fone/fax: 91 3266.3875
adelmapi@ufpa.br

Recebido em 02.06.2007
Aprovado em 19.09.2007

 

 

1Pesquisa qualitativa exploratória realizada na Universidade Federal do Pará, Brasil e Universidade de Évora/Pt.

3 Fonte: Sociedade Brasileira de Hipertensão.