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Revista Paraense de Medicina

Print version ISSN 0101-5907

Rev. Para. Med. vol.22 no.1 Belém Mar. 2008

 

ARTIGO ESPECIAL

 

Clodoaldo Beckmann, um ícone da medicina no Pará

 

 

Alípio Augusto Bordalo

Da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Pará. Do Conselho Estadual de Cultura do Pará. Sócio Honorário da Sociedade Médico-Cirúrgica do Pará e do Instituto Histórico e Geográfico do Pará

 

 

Algumas vezes, a inteligência humana deixa sua marca à época em que viveu. Isso acontece com aqueles que viveram e muito contribuíram às diversas áreas do conhecimento. Assim foi o paraense – Clodoaldo Fernando Ribeiro Beckman -, médico, professor, orador, escritor e estudioso da história da Medicina.

Clodoaldo Beckmann se graduou pela antiga Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, em 1950. Foi discípulo dos antigos mestres, como José Dias Jr, Jayme Aben-Athar, Porto de Oliveira, Lauro Magalhães, Acylino de Leão e outros, pioneiros e pilares do ensino da Medicina no Pará.

Escrever e comentar sua biografia – o que foi e o que fez – seria tema de u' a monografia. Mas, aqui, sendo um artigo para periódico, não deve ser extenso.

Clodoaldo Beckmann, - o médico – deixou sua marca indelével. Fez clínica e cirurgia gastrenterológicas. Grande parte de sua intensa atividade cirúrgica exerceu no Hospital de Caridade da tradicional Santa Casa de Misericórdia do Pará SCMP. Operava com maestria as gastrectomias – Billroth I e II -. Durante as décadas de 70 e 80, foi eleito por duas vezes Mestre do Capítulo do Pará do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, do qual, por seus méritos e dedicação, mereceu o título honorífico de Emérito do CBC.

Beckmann – o professor - , talvez, seja o ponto mais alto do seu currículo. Fui seu discípulo duas vezes; a 1ª, em 1951, num cursinho pré-vestibular, como chamavam e, a 2ª, na Faculdade de Medicina, Cadeira de Técnica cirúrgica, ano 1955. Àquela época, o curso de Medicina seguia o regime seriado de seis anos. Além da docência de Técnica cirúrgica, muitas vezes, lecionava, também, Propedêutica cirúrgica. Suas aulas continuavam nas salas de cirurgia do Hospital de Caridade da Santa Casa de Misericórdia, o principal hospital-escola da região Norte, até a década de 60. Os ensinamentos de Fernando Paulino, do Rio de Janeiro, somados ao estudo e sua longa experiência, soube transmitir aos seus discípulos. Isso se chama – fazer escola -.

Atendendo convite de Mario Braga Henriques, Reitor da UFPA, em 1962, Beckmann organizou e fundou a Biblioteca Central, assim como, o curso de Biblioteconomia da referida universidade. Foi pró-reitor de Planejamento de 1980 a 84. A Biblioteca Central, por justa homenagem, se chama "Prof° Clodoaldo Beckmann". Se fez merecedor, também, do 2º título honorífico de Professor Emérito da UFPA.

Beckmann - orador e escritor – foi dotado de eloqüência, verbo fluente, didática e cultura humanista. Jamais esqueceremos as duas vezes que o convidamos a abrir os ciclos de palestras que presidimos, como sejam: 1) Jornada científico-cultural do I Centenário do Hospital da SCMP, agosto/2000; 2) Semana comemorativa do aniversário da SCMP, fevereiro/2007. Nessa ocasião sentiu um mal-estar, sentou, mas, não esmoreceu e continuou sua palestra com firmeza e valentia. Falava sobre – Faculdade/Santa Casa e o ensino da Medicina no Pará -.

Dentre os inúmeros trabalhos que legou à cultura da sua terra – o Pará -, falados em conferências e escritos em periódicos, se destacam – A Cirurgia e os Prêmios Nobel; Aspectos da História e Evolução da Cirurgia; Cultura, intelectualidade e Medicina – e outros, publicados na Revista de Cultura do Conselho Estadual de Cultura e Boletim do Colégio Brasileiro de Cirurgiões Capítulo do Pará.

Beckman, criativo e participativo, foi membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará e fundador da Academia Paraense de Medicina.

Repetimos sempre aos mais novos, que reconhecer os méritos daqueles que os têm, é fazer justiça. Portanto, podemos afirmar que o Mestre Clodoaldo Beckmann foi o protótipo do intelectual, pois soube cumprir, com dignidade e competência, sua missão de médico, professor universitário, escritor e chefe de família.

Faleceu aos 80 anos, em maio/2007, quando presidia o Conselho Estadual de Cultura do Pará.

O Museu/Arquivo da Histórico Santa Casa MAHSC preserva sua memória com sua fotografia exposta na galeria do Salão Nobre.

Belém, abril/2008