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Boletim de Pneumologia Sanitária

versión impresa ISSN 0103-460X

Bol. Pneumol. Sanit. v.10 n.2 Rio de Janeiro dic. 2002

 

EDITORIAL

 

Da tuberculose e suas perspectivas no novo governo

 

 

Gilmário M. Teixeira

Editor

 

 

A tuberculose é uma das mais importantes causas de sofrimento e morte já imposta à humanidade em todos os tempos. Em termos mundiais, um terço da população está infectada e, a cada dia, surgem mais de 20.000 casos de tuberculose ativa e mais de 5.000 pessoas morrem por essa causa. A distribuição geográfica da doença é universal, mas, concentra-se de forma macabra em 22 países, dos quais 10 estão situados na Ásia, 10 na África, 1 na Europa e 1 na América Latina - o Brasil - que, em seu conjunto, abrigam 80% dos casos existentes no mundo, exibindo incidência que varia de 64/100.000 - taxa brasileira - a 628/100.000 encontrada em Zimbabwe.

A magnitude e a importância social do problema da tuberculose estão dadas pela expressão da transcendente meta formulada pela Organização Mundial da Saúde que projeta, para o ano 2050, a eliminação da tuberculose como problema de saúde pública, isso, claro, se alcançadas as metas precedentes: até 2005, diagnosticar 70% dos casos infecciosos e curar 85% deles; até 2010, reduzir em 50% a prevalência e a mortalidade por tuberculose e, até 2020, evitar 25 milhões de mortes e prevenir 50 milhões de casos determinados por essa causa.

Entretanto, por mais desestruturante que haja sido a força das intervenções de ordem tecnológica, científica e administrativa que, até aqui, foram desenvolvidas e empregadas para alterar a história natural da tuberculose - mecanismo de transmissão, isolamento do agente causal, meios de diagnóstico, imunização, quimioterapia, organização das medidas de controle - chega-se a este patamar de milhares de anos de história, sem que ela tenha sido derrotada em qualquer espaço do planeta. Ao contrário, e apesar de que a epidemia de tuberculose declina em grande número de países, globalmente ela ainda experimenta um crescimento de cerca de 3% ao ano - na África sub-Sahariana esse incremento, à raiz da epidemia do HIV, chega a 10% - e faz estragos inclusive em áreas do mundo desenvolvido, como o caso recente de Londres e seus arredores, cujas taxas locais de incidência competem, agora, com aquelas da China e da Índia, o que levou o pneumologista inglês Peter Davies a fazer, perante membros do Parlamento, jornalistas e representantes de organizações não-governamentais, esta declaração pontual: "A tuberculose, novamente, volta para casa".

O esforço sem precedentes consubstanciado na Parceria "Stop TB", que envolve organismos internacionais - Organização Mundial da Saúde à frente - governos nacionais, organizações não-governamentais, criou um momento único na história da luta contra a tuberculose, ao lançar, em 2001, "The Global Plan to Stop Tuberculosis", cujo grande propósito é a eliminação dessa doença, condição que, para os norte-americanos, seria dada ao atingir uma taxa de incidência anual de menos de 1 caso por 1.000.000 de habitantes. Esse plano, com custos estimados em US$9.1 bilhões para cinco anos, e que tem por fulcro levar a estratégia DOTS - acesso efetivo às medidas adequadas de diagnóstico e tratamento - a todas as pessoas com tuberculose, prioritariamente àquelas dos países em desenvolvimento onde ocorrem 95% do total de casos, contempla ademais, a busca de novos métodos de diagnóstico, de novas drogas e de nova vacina.

Esse é o grande cenário que, no que tange à tuberculose, abre-se diante do governo que ora se instala no Brasil, com objetivos centrados no campo social que, em perspectiva, geram a esperança de uma importante redução da pobreza - tomada em seu novo conceito de múltiplas dimensões que vai além do de baixo nível de ingresso e de consumo - o que significa favorecer a ruptura dessa via de dupla mão - a pobreza gera a tuberculose e a tuberculose agrava a pobreza.

Aqui cabe inserir a razão principal desta nota editorial - chamar a atenção para o documento "Juntos na Luta contra a Tuberculose" - que se publica neste número do Boletim, no qual, técnicos e vultos da área de saúde de todo o país, envolvidos com essa problemática, apresentam à consideração das novas autoridades, as diretrizes e as estratégias que, no seu entender, são as mais adequadas à nossa realidade e as mais consentâneas com as características conjunturais do Programa Nacional de Controle da Tuberculose.

Esse documento é um manifesto que, perpassando os aspectos sociais, epidemiológicos e de políticas de controle da tuberculose no mundo e no Brasil, vai buscar em nossa própria história de luta contra tal agravo, os fundamentos para as propostas de intervenções que, em médio prazo, espera-se, retire o Brasil desse quadro medonho dos 22 países com pesada carga de tuberculose.