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Informe Epidemiológico do Sus

versión impresa ISSN 0104-1673

Inf. Epidemiol. Sus v.9 n.3 Brasília sep. 2000

http://dx.doi.org/10.5123/S0104-16732000000300001 

EDITORIAL

 

A saúde da população, os seus determinantes e as novas e valhas tecnologias - a epidemiologia no contexto da globalização

 

Maurício L. Barreto

Prof. Titular em Epidemiologia da Saúde Coletiva (ISC/UFBa) Membro do Conselho Editorial - IESUS

 

 

Inesperadamente vemos surgir novas doenças infecciosas - como exemplo temos a hantavirose1; o trabalho apresenta-se como algo insalubre, cheio de riscos e de intercorrências negativas sobre a saúde2. No outro polo, uma tecnologia informatizada utilizada para a classificação das causas dos óbitos, de onde se deriva uma boa parte dos nossos conhecimentos sobre a situação de saúde, apresenta falhas que necessitam ser superadas3; com relação ao velho PPD, um recurso antigo, porém ainda importante, no diagnóstico da infecção pelo Mycobacterium tuberculosis, quando se compararam duas diferentes marcas disponíveis no mercado, estas mostraram-se como entidades completamente diferentes, pois os seus resultados apresentaram concordância quase nula4. Um quinto artigo5, nos traz algumas luzes ao colocar estes desafios em uma referência mais ampla, discutindo os marcos históricos da vigilância epidemiológica e apresentando caminhos necessários à sua reformatação no espaço institucional.

Este conjunto pequeno, porém modelar, de artigos publicados neste número do IESUS, mostram o quão diversas são as tarefas da epidemiologia e dos epidemiologistas no sentido de contribuírem com novos conhecimentos e novas práticas direcionadas a fazer avançar os níveis de saúde da população brasileira. Vivemos em um contexto social globalizado, caracterizado pela existência de complexos integrados voltados para a pesquisa e o desenvolvimento, para a produção industrial e a prestação de serviços, os quais, em seu conjunto, apresentam uma infindável capacidade de gerar, produzir e vender novos produtos. Se, muitos destes produtos são imprescindíveis para a nossa vida, sabemos também que muitos deles nem sempre são úteis ou necessários e, em não raras vezes, são geradores de efeitos danosos sobre o meio-ambiente e sobre a saúde humana. Produziram-se relações sociais, em que o trabalho, que devia constituir-se em uma das fontes de expressão da realização máxima da inteligência e do senso de vida do ser humano, tem sido, com freqüência, substituído pela exploração mais vil. As diversas formas de "lixo" geradas põem em risco o ambiente e cria perplexidades sobre as condições futuras da saúde e mesmo da sobrevivência da humanidade.

A globalização não é homogênea, na sua periferia, aonde estamos situados, permanecem problemas que há muito foram superados no seu centro. O crescimento vertiginoso de velocidade nas vias de comunicações permite o rápido acesso a volumes imensos de informações, algumas vezes nos fazendo esquecer que para acessá-los, muitas vezes temos de pagar caro para quem as produz. Se este contexto está na base da gênese de alguns dos novos problema de saúde, muitos dos velhos problemas não mais esperam por novos avanços tecnológicos, mais sim por reformas nas estruturas da sociedade. Assim, não serão as novas tecnologias que atenuarão os níveis alarmantes de desigualdades nos níveis de saúde entre as regiões, entre as classes sociais, entre os grupos étnicos etc. que vêm sendo repetidamente documentadas nos estudos epidemiológicos.

Temos a compreensão de que qualquer atividade relacionada com a epidemiologia hoje, ao lado dos seus objetivos imediatos, tem também a função de contribuir para o processo de construção de novos entendimentos sobre complexidade do processo saúde-doença nas sociedades contemporâneas. A investigação epidemiológica ao mover-se entre as sociedades (epidemiologia social) e as moléculas (epidemiologia molecular), se por um lado demonstra a amplitude da tarefa do epidemiologista, demonstra também ser uma das disciplinas mais bem preparadas para compreender o ser humano em suas múltiplas dimensões. Como está registrada na sua história, nos momentos em que foi utilizada com competência, sensibilidade e ética, gerou proposições e práticas, técnicas e sociais, que muito contribuíram para a realização, em toda a sua plenitude, da saúde humana.

 

Referências

1. Figueiredo, LTM, Forster, AC, Fulhorst, C et al. Contribuição ao conhecimento sobre hantavirose no Brasil. Informe Epidemiológico do SUS 2000; 9:167-178

2. Barata, RBB, Almeida, MCS, Moraes, JC. Acidentes de trabalho referidos por trabalhadores moradores em área urbana no interior do Estado de São Paulo em 1994. Informe Epidemiológico do SUS 2000; 9:199- 210.

3. Santo, AH. Avaliação da qualidade da codificação das causas de morte no Estado de São Paulo. Informe Epidemiológico do SUS 2000; 9:189-198.

4. Braga, JU, Hijjar, MA, Ruffino-Netto, A, Martins, FM et al. Equivalência das reações cutâneas do PPD entre dois produtos comercializados no Brasil. Informe Epidemiológico do SUS 2000; 9:179-187.

5. Hamman, EM, Laguardia,J. Reflexões sobre a vigilância epidemiológica: mais além da notificação compulsória. Informe Epidemiológico do SUS 2000; 9: 211-219