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Informe Epidemiológico do Sus

versão impressa ISSN 0104-1673

Inf. Epidemiol. Sus v.10 n.3 Brasília set. 2001

http://dx.doi.org/10.5123/S0104-16732001000300001 

EDITORIAL

 

Abordagem epidemiológica dos sistemas de informação no Brasil: gerenciamento, realização de pesquisas e divulgação no IESUS

 

 

Fábio de Barros Correia Gomes

Coordenador Geral de Análises e Informações de Saúde/CENEPI/FUNASA/MS

 

 

O Informe Epidemiológico do SUS (IESUS) vem se consolidando como publicação de elevada relevância para os profissionais de saúde pública e certamente está contribuindo para o desenvolvimento da Epidemiologia no país.

No que se refere aos sistemas de informação em saúde esta publicação vem possibilitando a divulgação de várias experiências, principalmente a partir do volume 9 (2000), número 2, quando foram apresentados cinco artigos relacionados à utilização do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) como fonte complementar para a Vigilância Epidemiológica.1-5 Os dois números que se seguiram apresentaram um artigo sobre a qualidade da codificação das causas de morte6 e outro sobre a necessidade de mecanismos de gerenciamento dos sistemas de informação.7 No número anterior a este, dois artigos abordaram a questão da integração entre sistemas de informação de base nacional8,9 e um terceiro apresentou relatório de oficina de trabalho do Grupo Técnico de Informação em Saúde e População da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (GTISP/ABRASCO).10

A presente edição também conta com artigos baseados em sistemas de informação. O primeiro, de Nascimento e Gotlieb, sugere que a declaração de nascido vivo (DN), documento por meio do qual são coletadas as informações do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC), "é instrumento útil e de fácil acesso para avaliar a atenção dedicada à mãe e ao recém-nascido." O segundo artigo, de Prade e Vasconcellos, aborda a vigilância epidemiológica das infecções hospitalares, indica problemas resultantes da falta de integração entre sistemas e salienta a dificuldade em se utilizar, para fins epidemiológicos, algumas fontes de informação disponíveis. O terceiro artigo, de Ruffino-Netto, apresenta a situação atual do Programa de Controle da Tuberculose no Brasil e delineia o atual plano de controle, que utiliza abordagem epidemiológica para seleção de prioridades, valoriza a atuação da atenção básica à saúde e a integração entre os dados do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) e do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB).

A freqüência com que temas relacionados à informação em saúde têm sido divulgados pelo IESUS reflete não apenas o interesse editorial, mas também o esforço de qualificados profissionais que trabalham no setor para melhorar a qualidade das informações disponíveis para ação em saúde pública. Visando colaborar com tal aperfeiçoamento e tomando como base os artigos desta edição e a experiência recente no gerenciamento dos sistemas de informações sobre mortalidade (SIM) e nascidos vivos (SINASC), destacarei dois pontos para reflexão sobre os sistemas de informação em saúde: a adoção de enfoque epidemiológico na construção e gerenciamento de sistemas e a integração entre sistemas.

O artigo de Prade e Vasconcellos ilustra um dos problemas atuais da área de informação em saúde: a existência de grande volume de dados dos quais não se obtém uma utilização mais ampliada, principalmente para fins epidemiológicos.

A adoção de uma abordagem epidemiológica (a que valoriza a informação para a ação) na concepção e gerenciamento de sistemas de informação possibilita uma utilização mais eficiente dos mesmos. O entendimento de que os dados gerados pelos sistemas podem ter uma utilidade que ultrapassa os benefícios mais imediatos é fundamental para essa abordagem. Assim, um sistema destinado a captar informações relativas a produção de serviços de saúde poderia fornecer relevantes informações epidemiológicas complementares. Tal potencial tem sido demonstrado em artigos publicados no IESUS, particularmente em relação ao SIH.

O enfoque epidemiológico também valoriza uma utilização mais oportuna das informações. Um exemplo é a utilização dos dados de estatísticas vitais. Recentemente, a demanda por dados atualizados sobre óbitos e nascimentos tem provocado intenso debate no país, particularmente no que se refere à taxa de mortalidade infantil (TMI). O processo de descentralização do Sistema Único de Saúde (SUS) e a clara identificação das responsabilidades dos níveis de governo em relação à saúde da população exigem a disponibilidade de dados de qualidade e oportunos para direcionar os investimentos no setor e avaliar os resultados das intervenções. Uma abordagem "estatística" ou "cartorial" frente aos eventos vitais não é admissível no contexto atual. A publicação de dados sobre mortalidade ou nascimentos em anuários após dois anos de sua ocorrência já não é suficiente. É certo que no nível nacional as alterações no padrão de mortalidade não ocorrem tão rapida-mente, entretanto o nível municipal muito se beneficia de uma disponibilização mais oportuna dos dados, pois, por exemplo, ações efetivas de saúde pública podem influir rapidamente em problemas como a mortalidade infantil e materna.

Tampouco satisfaz a utilização de estimativas demográficas em detrimento de dados diretos, quando já é possível identificar locais com cobertura e qualidade adequadas, propiciando a construção de indicadores que utilizem ao máximo os dados dos sistemas de informação.

O Centro Nacional de Epidemiologia (CENEPI) tem adotado uma abordagem epidemiológica no gerenciamento do SIM e do SINASC. A implantação das portarias da FUNASA que regulamentam esses sistemas11,12 (nos. 474 e 475 de 31/08/00), propiciaram uma aceleração na disponibilização dos dados. No final do ano em que se publicou a portaria (2000) foi realizado o fechamento dos dados de 1998. No final de 2001, foi realizado o fechamento dos dados de 1999. No segundo trimestre de 2002, será realizado o fechamento dos dados de 2000, e no segundo semestre de 2002 será realizado o fechamento de 2001. Pelo menos no que se refere à velocidade de divulgação, o Brasil se coloca entre os países que conseguem divulgar estatísticas de óbitos mais rapidamente (Inglaterra - 10 meses; Japão, Rússia, México e Dinamarca - 12 meses; EUA - 18 meses). Muitos desafios precisam ainda ser superados no que se refere à qualidade dos dados, entretanto a utilização intensa dos mesmos (a exemplo da numerosa participação de indicadores derivados desses sistemas nos pactos de saúde do SUS) tenderá a favorecer o desenvolvimento dos sistemas pois facilitará a identificação dos problemas que precisam ser corrigidos.

Os dois últimos artigos desta edição do IESUS enfocam a questão da integração dos sistemas de informação. Essa é uma questão recorrente, cuja necessidade de efetivação é consensual. Esta demanda tem sido defendida em oficinas de trabalho organizadas pela ABRASCO10 (já mencionada anteriormente) e, mais recentemente, pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS) e Ministério da Saúde.13

A rápida evolução tecnológica possibilita a criação dos mais variados sistemas, que a depender do gerenciamento podem ser integrados ou não. Assim, é fundamental para o desenvolvimento de sistemas integrados que a discussão sobre a gestão dos mesmos seja aprofundada e que não se limite a questões puramente de informática.

Apesar da disponibilidade atual de recursos da micro-informática e da Internet, poucos são os sistemas de informação em saúde que os utilizam para superar a fragmentação e compartimentalização dos mesmos. Muitos dos sistemas atuais ainda perpetuam a fragmentação, utilizando os recursos da informática basicamente para agilizar seus fluxos internos. Essa atitude torna difícil a utilização dos dados provenientes de vários sistemas de informação para realizar análises de situação de saúde.

Uma interessante discussão sobre a integração de sistemas de informação em saúde encontra-se em documento do Centro de Controle de Doenças dos EUA intitulado: Integrating Public Health Information and Surveillance Systems - A Report and Recommendations - Spring 1995 - CDC / USA."14 Esse relatório salienta que o "elemento chave para obter sistemas de informação integrados é a funcionalidade ao invés da singularidade" e reconhece que "com sistemas integrados, uma grande variedade de sistemas de informação individuais continuarão a existir, mas esses sistemas devem ser coordenados, interconectados, comparáveis, e fáceis de usar, de modo que eles pareçam um só para o usuário final". O relatório ainda cita que "três elementos são essenciais para a evolução de sistemas integrados de informação em saúde: padrões de bancos de dados definidos, uma infra-estrutura de comunicações, e acordos no nível de formulação de políticas quanto ao acesso dos dados, compartilhamento, e redução da carga de trabalho para os produtores da informação."

Espera-se que com o incremento na interlocução entre as diversas instituições brasileiras envolvidas com a informação em saúde e com a implantação do Cartão Nacional de Saúde, a "integração funcional" entre os sistemas existentes no país seja favorecida.

Concluo este editorial, expressando a confiança de que uma política nacional para a informação em saúde resultará do momento atual de discussão entre os componentes do SUS. Tal política facilitará o alcance de um dos principais objetivos dos sistemas de informação em saúde na concepção do SUS, que segundo o Guia de Vigilância Epidemiológica15 do Centro Nacional de Epidemiologia, "é possibilitar a análise da situação de saúde no nível local, análise essa que tome como referencial microrregiões homogêneas e, necessariamente, leve em consideração as condições de vida da população no processo saúde-doença." O mesmo documento salienta a necessidade: da "existência de um sistema hierarquizado, no qual o fluxo ascendente de variáveis se dê de modo inversamente proporcional à agregação geográfica" e de "integração dos bancos de dados e uma maior dinamização das ações de vigilância epidemiológica, por meio da utilização dos sistemas nacionais informações como pré-requisitos para o desenvolvimento de uma política de informação e informática para o SUS."

 

Referências bibliográficas

1. Mendes ACG, Silva Junior JB, Medeiros KR, Lyra TM, Melo Filho DA, Sá DA. Avaliação do Sistema de Informações Hospitalares (SIH-SUS) como fonte complementar na vigilância e monitoramento de doenças de notificação compulsória. Informe Epidemiológico do SUS 2000;9(2):67-86.

2. Lyra TM, Mendes ACG, Silva Junior JB, Duarte PO, Melo Filho DA, Albuquerque PC. Sistema de Informações Hospitalares: fonte complementar na vigilância e monitoramento de doenças imunopreveníveis. Informe Epidemiológico do SUS 2000;9(2): 87-110.

3. Mendes ACG, Medeiros KR, Farias SF, Lessa FD, Carvalho CN, Duarte PO. Sistema de Informações Hospitalares: fonte complementar na vigilância e monitoramento das doenças de veiculação hídrica. Informe Epidemiológico do SUS 2000;9(2):111-124.

4. Mendes ACG, Albuquerque PC, Lessa FD, Maciel Filho R, Farias SF, Montenegro TO. Sistema de Informações Hospitalares: fonte complementar na vigilância e monitoramento das doenças de transmissão vetorial. Informe Epidemiológico do SUS 2000;9(2):125-136.

5. Silva Junior JB, Mendes ACG, Campos Neta TJ, Lyra TM, Medeiros JR, Sá DA. Sistema de Informações Hospitalares: fonte complementar na vigilância e monitoramento das doenças transmitidas entre pessoas. Informe Epidemiológico do SUS 2000;9(2): 137-162.

6. Santo AH. Avaliação da qualidade da codificação das causas de morte no Estado de São Paulo, Brasil. Informe Epidemiológico do SUS 2000;9(3): 189-198.

7. Almeida MF, Alencar GP. Informações em saúde: necessidade de introdução de mecanismos de gerenciamento dos sistemas. Informe Epidemiológico do SUS 2000;9(4):241-150.

8. Mello Jorge MHP, Gotlieb LD. Sistemas de Informação de Atenção Básica como fonte de dados para os Sistemas de Informações sobre Mortalidade e sobre Nascidos Vivos. Informe Epidemiológico do SUS 2001;10(1):7-18.

9. Scatena JHG, Tanaka OY. Utilização do Sistema de Informações Hospitalares (SIH-SUS) e do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA-SUS) na análise de descentralização da saúde em Mato Grosso. Informe Epidemiológico do SUS 2001;10(1):19-30.

10. Moraes IHS, Santos SRFR. Informações para a gestão do SUS: necessidades e perspectivas. Informe Epidemiológico do SUS 2001;10(1): 49-56.

11. BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Portaria n. 474, de 31 de agosto de 2000. Regulamenta a coleta de dados, fluxo e periodicidade de envio das informações sobre óbitos para o Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM. Diário Oficial da União, Brasília, v.138, n.171-E, p.33, 4 set. 2000. Seção 1.

12. BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Portaria n. 475, de 31 de agosto de 2000. Regulamenta a coleta de dados, fluxo e periodicidade de envio das informações sobre nascidos vivos para o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos - SINASC. Diário Oficial da União, Brasília, v.138, n.171-E, p.34, 4 set. 2000. Seção 1.

13. Oficina de Trabalho sobre Informação e Informática em Saúde: uma agenda para os gestores do SUS; 2002, maio 7-8; Rio de Janeiro, Brasil. Mimeo.

14. Integrating Public Health Information and Surveillance Systems - a report and recomendations - Spring 1995. Atlanta: CDC; [1995].

15. Fundação Nacional de Saúde. Guia de vigilância epidemiológica [online] 2000 [capturado 2001 jun 14]. Disponível em http://www.funasa.gov.br/pub/GVEOOID.htm.