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vol.10 suppl.1Estudos experimentais sobre competência vetorial de Aedes aegypti e Aedes albopictus para os vírus da dengue e febre amarelaBiologia de imaturos e adultos de Aedes albopictus sob condições de laboratório e ecologia de Culicidae em Área de Mata de Curitiba, PR índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
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Informe Epidemiológico do Sus

versão impressa ISSN 0104-1673

Inf. Epidemiol. Sus v.10  supl.1 Brasília  2001

http://dx.doi.org/10.5123/S0104-16732001000500003 

 

Avaliação do risco de transmissão silvestre da dengue no Brasil

 

 

Nicolas DegallierI; José Marcus Sócrates TeixeiraII; Antonio de Jesus Melo ChaibII; Heliomar Ferreira BarbosaIII; Maria Socorro L. de CarvalhoIV; Cristiane de OliveiraIV; Monique Britto KnoxIV

IInstituto de Pesquisa para o Desenvolvimento [Institut de Recherche pour le Développement] - IRD
IILaboratório Central-LACEN
III Fundação Nacional de Saúde
IVDiretoria de Vigilância Ambiental do Distrito Federal-DIVAL

Correspondência para

 

 


 

 

Delineamento do Problema

O dengue tem ciclos de transmissão silvestre, entre macacos e mosquitos, apenas na África e na Ásia. Nas Américas, onde o dengue é transmitido apenas pelo Aedes aegypti e, possivelmente, pelo Aedes albopictus, espécies predominantemente urbanas, o vírus nunca foi isolado a partir de espécies silvestres, nem de primatas não-humanos. Existe, portanto, o risco do dengue estabelecer-se no ambiente silvestre, num ciclo de transmissão similar ao da febre amarela. Em experiências antigas, os macacos sul-americanos já mostraram-se sensíveis ao vírus do dengue, desenvolvendo uma viremia baixa. Não se sabe se, então, essa viremia seria alta o suficiente para infectar mosquitos silvestres primetófilos, tais como espécies dos gêneros Haemagogus, Sabethes e Aedes, presentes em áreas florestais perto das grandes cidades. A dispersão do vírus entre a cidade e as matas poderia ocorrer por meio de deslocamentos de pessoas virêmicas e picadas por mosquitos silvestres ou por meio do Aedes albopictus já estabelecido em locais afastados dos centros urbanos. Resulta, portanto, da maior importância determinar qual a competência das espécies silvestres para os vírus da dengue. Os objetivos do projeto visam: a) coletar mosquitos silvestres adultos primatófilos, em várias estações do ano e lugares para criação em laboratório; b) inocular os mosquitos com suspensão de vírus DEN-1 e DEN-2 (amostras isoladas de Aedes aegypti no Brasil); c) realizar tentativas de isolamento viral a partir de mosquitos, após vários dias de incubação (ciclo extrínseco); e d) tentar estabelecer transmissão in vitro em espécies suscetíveis.

 

Metodologia

Coleta de mosquitos silvestres adultos e imaturos, em várias estações do ano e lugares para criação em laboratório: uma coleta foi realizada em meio silvestre por pessoas voluntárias e devidamente vacinadas contra febre amarela; os mosquitos foram capturados quando pousaram para a sua alimentação.

Inoculação dos mosquitos com suspenção de vírus DEN-1 e DEN-2 (amostras isoladas de Aedes aegypti no Brasil): após anestesia em uma mesa refrigerada, os mosquitos são inoculados com micro-alfinete montado e molhado em suspensão viral; os mosquitos são mantidos vivos durante o tempo necessário para a multiplicação dos vírus (ciclo extrínseco).

Isolamento viral a partir de mosquitos, após vários dias de incubação: os mosquitos são inoculados isoladamente ou em lotes em cultivos celulares (C6/36); após 7, 14 e 21 dias, ou aparição de efeito citopatogênico, as amostras positivas são identificadas por imunofluorescência indireta.

Transmissão in vitro por espécies suscetíveis: as espécies que se revelarem suscetíveis serão alimentadas in vitro para avaliar a sua capacidade de excretar os vírus pela saliva.

 

Resultados

Experimentos de alimentação in vitro: até agora, um só experimento foi realizado. No dia 31 de maio de 2001, 22 mosquitos silvestres, dos gêneros Aedes, Sabethes, Wyeomyia e Limatus, foram coletados de 14h25 às 17h25, em área florestada do Viveiro I (Núcleo Bandeirante, DF). No dia seguinte, foi oferecido a eles sangue de carneiro, contendo vírus DEN-1. Nenhum mosquito se alimentou, mas, depois de ter sido providenciada uma solução açucarada, foi observada uma sobrevivência de 15 dias, mostrando que a sua manutenção em insetário com condições de temperatura e umidade controladas era possível. Essa tentativa será repetida durante a estação chuvosa, com números maiores de mosquitos e outras metodologias de infecção viral, tais como inoculação intratorácica ou mistura do vírus à solução açucarada. Origem das amostras virais: o vírus da dengue utilizado para infectar os mosquitos foi proveniente de um caso humano, confirmado por isolamento em células C6/36 durante o ano de 1994. Como não se sabe detalhadamente o nome do paciente e data de isolamento inicial, uma amostra mais recente será utilizada no futuro.

 

Conclusões

Os mosquitos silvestres mostraram uma sobrevivência razoável no infectório, mas não realizaram a sua alimentação sangüínea, provavelmente devido a hábitos peculiares das espécies testadas. Essas dificuldades poderão ser contornadas, misturando-se a solução de vírus com a solução de glicose, fornecida para sobrevivência. Embora não seja uma via natural de infecção, tal modo poderia permitir a avaliação da multiplicação e/ou sobrevivência dos vírus nos mosquitos. Novos experimentos serão realizados a partir do início das chuvas, coletando mosquitos silvestres dos gêneros Sabethes, Aedes e Haemagogus, tentando inoculá-los com suspensão viral ou alimentá-los com solução glicosada e vírus.

 

 

Correspondência para:
Nicolas Degallier
Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento [Institut de Recherche pour le Développement] - IRD
Caixa Postal, 7091
Lago Sul - Brasília - DF
CEP: 71.619-970
E-mail: nicolas.degallier@ird.fr

 


 

Dengue: instruções para pessoal de combate ao vetor. Manual de normas técnicas - FUNASA - 2001

 

 

Febre amarela

"Na forma silvestre, a transmissão se faz de um macaco infectado para o homem, através da picada de mosquitos Haemagogus (ciclo macaco-mosquito-homem). A febre amarela silvestre na realidade é uma zoonose, doença própria de animais que passa para o homem. O homem não imunizado se infecta de forma acidental ao ingressar em matas onde o vírus está circulando entre os macacos."

Transmissores silvestres

"Os mosquitos que transmitem a febre amarela silvestre pertencem aos gêneros Haemagogus (Haemagogus janthinomys, Haemagogus leucocelaenus, Haemagogus capricornii e Haemagogus spegazzinii) e Sabethes (Sabethes cloropterus). Alguns Aedes silvestres (Aedes scapularis, Aedes fluviatilis, e outros) que, em laboratório, têm demonstrado capacidade de transmissão, não foram, contudo, encontrados naturalmente infectados."