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Epidemiologia e Serviços de Saúde

versão impressa ISSN 1679-4974versão On-line ISSN 2237-9622

Epidemiol. Serv. Saúde v.17 n.2 Brasília jun. 2008

http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742008000200001 

EDITORIAL

 

Desafios para o controle e diagnose de doenças endêmicas e o papel da pesquisa

 

 

Maria Regina Fernandes de Oliveira

Editora Executiva

 

 

O cenário epidemiológico de algumas doenças endêmicas no Brasil atual apresenta melhor definição graças ao fortalecimento dos sistemas de informações sobre agravos de saúde, como é o caso das leishmanioses e da malária. A qualidade dessas informações, por sua vez, depende, em parte, da qualidade e oportunidade do diagnóstico, em que se tornam mais relevantes, todavia, as questões relativas ao uso de testes diagnósticos e aos cuidados com sua execução pela rede pública de laboratórios. Outrossim, a avaliação de intervenções de controle de doenças e sua efetividade dependem, também, da qualidade dos métodos adotados.

A presente edição da Epidemiologia e Serviços de Saúde reúne temas prioritários de pesquisa nos campos da avaliação de intervenções de controle e da validação de testes diagnósticos rápidos para leishmaniose visceral.1 Ademais, o leitor tomará conhecimento dos atuais desafios impostos à implantação do controle de qualidade da rede de Laboratórios Centrais de Saúde Púbica (Lacen), tendo como referência as questões envolvidas no controle de qualidade externo do diagnóstico da malária.

No estudo de Werneck e colaboradores,2 no contexto da cidade de Teresina, Estado do Piauí, é abordada a comparabilidade de grupos de estudo de avaliação das medidas de controle da leishmaniose visceral preconizadas pelo Ministério da Saúde. Sua estratégia de amostragem combina a conveniente inclusão de vários contextos de transmissão com a alocação randômica, em uma segunda fase, de constituição dos grupos de estudo. O resultado desse trabalho estabelece uma linha de base para o Município, ao mesmo tempo em que demonstra "alguns dos principais desafios metodológicos para a garantia da validade de estudos de intervenção em doenças infecciosas" devido à "não-comparabilidade das áreas no que diz respeito às taxas basais de transmissão."2

O artigo de Souza e colaboradores,3 que utiliza a combinação de diferentes estratégias para a construção de grupos de estudo com o objetivo de avaliar medidas de controle para leishmaniose visceral, apresenta heterogeneidade significativa entre os grupos estudados, o que obrigou os autores à utilização de técnicas de ajuste, com o propósito de isolar o efeito das intervenções. O estudo também sugere que a combinação de intervenções – borrifação de inseticidas associada a triagem e eliminação de cães em áreas endêmicas – constitui a estratégia mais adequada para reduzir a incidência da infecção em crianças. Porém, a confirmação da efetividade dessas medidas necessita de novos estudos, com um desenho de amostragem maior.

Ambos os estudos2,3 apontam para os desafios impostos à avaliação de medidas de controle na leishmaniose visceral, que devem ser do conhecimento dos gestores de vigilância em saúde, já que os serviços necessitam sempre avançar nas respostas, visando à adequada condução das ações de saúde coletiva.

Um segundo aspecto presente nos dois estudos, merecedor de igual consideração, é a utilização de um antigo método de diagnóstico invasivo para definir o caso de infecção por Leishmania – o teste de Montenegro. É mister e urgente desenvolver testes mais adequados para detectar a infecção, embora a informação obtida nos inquéritos basais desses estudos confirme a consistência do elevado número de casos de infecção assintomática, a exceder, em muito, o número de casos sintomáticos.

O artigo de Assis e colaboradores4 traz uma contribuição original sobre a validação de um teste de fácil e rápida execução para o diagnóstico da leishmaniose visceral, aspecto prioritário para o controle da endemia.1 Trata-se do primeiro relato de validação de um teste rápido para diagnóstico de leishmaniose visceral no Brasil. Seus autores tiveram o cuidado de seguir, rigorosamente, as recomendações para estudos de validação de testes, principalmente quanto à adequação do padrão-ouro adotado e constituição de um grupo de não-casos, avaliado de forma prospectiva, com base na síndrome clínica suspeita de leishmaniose visceral. Segundo os resultados apresentados, o teste avaliado apresenta desempenho comparável ao dos testes sorológicos convencionais, criando uma expectativa favorável a sua adoção.

Os três artigos de leishmaniose apresentados são o resultado de resposta aos editais de convocação para financiamento de projetos de pesquisa, lançados pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde com o objetivo de promover a pesquisa operacional para o aprimoramento dos serviços. Com a divulgação dos relatos dos trabalhos que obtiveram financiamento público, a SVS/MS pretende chamar a atenção dos profissionais de saúde e dos gestores do Sistema para o necessário envolvimento da Saúde, juntamente com as instituições de pesquisa, em iniciativas de desenvolvimento científico e tecnológico. Além, justamente, de fazer chegar aos serviços de saúde seus principais resultados encontrados.

De extrema importância é o artigo de Santos e colaboradores sobre a gestão da qualidade nos Laboratórios Centrais de Saúde Pública – Lacen –, tendo por modelo o controle de qualidade analítico da malária.5 Seus autores mostram o desafio da implantação desse tipo de estratégia segundo os princípios de atendimento – descentralizado e hierarquizado – da demanda de diagnóstico à rede pública de laboratórios. A consecução de uma gestão de qualidade, no cenário dinâmico de introdução de novas tecnologias como a descrita no trabalho de Assis e colaboradores,3 exige soluções criativas e constante aperfeiçoamento do serviço laboratorial pelos Lacen, para atender as progressivas inovações no campo científico-tecnológico da diagnose.

Concluindo esta edição, o leitor tem acesso aos relatos resumidos dos trabalhos vencedores do segundo Prêmio de Incentivo ao Desenvolvimento e à Aplicação da Epidemiologia no SUS – II Epi-Prêmio –, concedido pela SVS/MS em 2007.

Ao trazer alguns resultados de pesquisas financiadas pela SVS, discutir tema importante da gestão dos Laboratórios Centrais de Saúde Pública e apresentar os vencedores do II Epi-Prêmio, a Epidemiologia e Serviços de Saúde mais uma vez cumpre com sua principal missão – a de contribuir para o desenvolvimento da epidemiologia no SUS.

 

 

Referências bibliográficas

1. Chappuis F, Sundar S, Hailu A, Ghalib H, Rijal S, Peeling RW, Alvar J, Boelaert M. Visceral leishmaniasis: what are the needs for diagnosis, treatment and control? Nature Reviews. Microbiology 2007; 5: 7-16.

2. Werneck GL, Pereira TJCF, Farias GC, Silva FO, Chaves FC, Gouvêa MV, Costa CHN, Carvalho FAA. Avaliação da efetividade das estratégias de controle da leishmaniose visceral na cidade de Teresina, Estado do Piauí, Brasil: resultados do inquérito inicial – 2004. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2007; 17(2): 87-96.

3. Souza VMM, Julião FS, Neves RCS, Magalhães PB, Bisinotto TV, Lima AS, Oliveira SS, Moreira Jr. ED. Ensaio comunitário para avaliação da efetividade de estratégias de prevenção e controle da leishmaniose visceral humana no Município de Feira de Santana, Estado da Bahia, Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2007; 17(2): 97-106.

4. Assis TSM, Braga ASC, Pedras MJ, Barral AMP, Siqueira IC, Costa CHN, Costa DL, Holanda TA, Soares VYR, Biá M, Caldas AJM, Romero GAS, Rabello A. Validação do teste imunocromatográfico rápido IT-LEISH® para o diagnóstico da leishmaniose visceral humana. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2007; 17(2): 107-116.

5. Santos EGOB, Pereira MPL, Silva VL. Gestão da qualidade nos Laboratórios Centrais de Saúde Pública e o modelo de controle de qualidade analítico da malária. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2007; 17(2): 17-122.