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Epidemiologia e Serviços de Saúde

versión impresa ISSN 1679-4974versión On-line ISSN 2237-9622

Epidemiol. Serv. Saúde v.18 n.2 Brasília jun. 2009

http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742009000200010 

NOTA TÉCNICA

 

Registro de larvas de anofelinos (Diptera: Culicidae) em recipientes artificiais na Região Noroeste do Espírito Santo, Brasil

 

Anophelines Larvae (Diptera: Culicidae) found in artificial containers in the Northwest Region of Espirito Santo State, Brazil

 

 

Helder Ricas Rezende

Fundação Nacional de Saúde, Vitória-ES, Brasil. Secretaria de Estado da Saúde, Governo do Estado do Espírito Santo, Vitória-ES, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Registra-se o encontro de larvas de anofelinos em caixas d'água, barris, garrafas, pneus e vasos de plantas na Região Noroeste do Estado do Espírito Santo, Brasil. As larvas foram coletadas entre 2000 a 2005, durante o controle de Aedes aegypti. Os recipientes artificiais descartados pela população tornam-se opção para postura das fêmeas dos anofelinos, principalmente quando os criadouros naturais secam nessa região de baixa pluviosidade.

Palavras-chave: anofelinos; recipientes artificiais; urbanização; Estado do Espírito Santo.


SUMMARY

Anophelines larvae are found in water reservoirs, barrels, bottles, tires and plant pots in the Northwest Region of Espirito Santo State, Brazil. The larvae were collected between 2000 and 2005 during Aedes aegypti control activities. Artificial containers discarded by the population become options for oviposition mainly after the drying of the natural breeding sites in that region of low rainfall.

Key words: anophelines; artificial containers; urbanization; Espirito Santo State.


 

 

Os anofelinos são culicídeos hematófagos transmissores de malária. Essencialmente rurais, utilizam diversos criadouros naturais, como remansos de rios, brejos e lagoas. Diversos autores, entretanto, registram encontro de larvas em recipientes artificiais.1-3 Tais registros são incomuns. Nas Américas, os anofelinos não têm adotado esses recipientes como criadouros para o desenvolvimento dos imaturos. A investigação é importante porque a possível mudança de hábito dos anofelinos pode ter implicações futuras no controle da malária. Durante as atividades de controle de Aedes aegypti na Região Noroeste do Estado do Espírito Santo (Figura 1), foram encontradas larvas de anofelinos em recipientes artificiais. A presente Nota Técnica tem por objetivo registrar esse encontro.

 

 

As larvas foram coletadas em visitas domiciliares, durante as atividades de controle de Aedes aegypti pelos agentes municipais de endemias. Elas foram recolhidas com pesca-larvas, bacias e pipetas, em seguida acondicionadas em tubos com álcool a 70%. Esses tubos, etiquetados com o nome do Município, data e tipo de recipiente artificial, foram enviados ao Núcleo de Entomologia da Secretaria de Estado da Saúde, onde as larvas foram clarificadas em potassa (KOH a 10%) por 12 horas, e identificadas. Para a identificação, foi consultada a chave de Consoli e Lourenço-de-Oliveira.4 Parte desse material foi enviada à Universidade de São Paulo, para confirmação da identificação.

As larvas identificadas pertenciam à Anopheles argyritarsis (Robineau-Desvoidy, 1827), A. evansae (Brethes, 1926), A. strodei (Root, 1926), A. triannulatus (Neiva & Pinto, 1922) e A. albitarsis s.l. (Lynch Arribalzaga, 1878). A caixa d'água foi o recipiente artificial com o maior número de larvas coletadas, em comparação com barril, garrafa, pneu e vaso de planta (Tabela 1).

 

 

O registro de larvas de anofelinos em recipientes artificiais na região extra-amazônica reveste-se de importância, uma vez que representa o possível aumento de criadouros potenciais para os anofelinos. Estas espécies, originalmente silvestres, são encontradas na zona rural e suscetíveis ao Plasmodium, agente causador da malária. Sua presença em recipientes artificiais, mais abundantes em áreas urbanas (Colatina, Barra de São Francisco, São Gabriel da Palha, Ecoporanga e Pancas) e peri-urbanas (Vila Pavão), podem indicar futuro aumento no risco de transmissão da doença. A Região Noroeste do Estado (Figura 1) tem apresentado, constantemente, casos de malária. Estes casos foram notificados e confirmados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) no período 2000-2005: 25 casos no Município de Barra de São Francisco; 14 em Vila Pavão; 12 em Colatina; dez em Pancas; cinco em São Gabriel da Palha e cinco em Ecoporanga (dados do Programa de Controle da Malária, Secretaria do Estado da Saúde, Governo do Espírito Santo).

Embora a procriação em recipientes artificiais pareça estar relacionada a uma mudança no hábito, é mais provável que seja apenas resultado da falta de opção para as fêmeas fazerem a postura dos ovos, em virtude da secagem dos criadouros naturais (margens dos rios, brejos rasos e pequenas lagoas). Tal interpretação é favorecida pelo fato de a maioria das larvas terem sido coletadas entre abril e setembro, meses de estiagem, na região que apresenta o menor nível pluviométrico do Estado.5 Ao comparar esses registros com os anteriores,1-3 o ponto comum observado entre eles foi a presença de A. argyritarsis, o que parece demonstrar seu ecletismo quanto aos criadouros. A presença de caixas d'água destampadas, bem como o descarte de recipientes artificiais, disponibiliza maior número de potenciais criadouros para as fêmeas dos anofelinos, favorecendo o contato entre homem e vetor. Dessa forma, a vigilância dos recipientes artificiais na região extra-amazônica deve fazer parte das estratégias de controle não apenas da dengue, também da malária.

Não obstante a ausência de evidências do papel desses recipientes na transmissão da malária, a investigação deve ser mantida e ampliada.

 

Agradecimentos

Aos laboratoristas municipais, pela triagem e envio das larvas ao Núcleo de Entomologia da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo; ao Dr. Paulo Roberto Urbinatti, da Universidade de São Paulo, pela confirmação da identificação das espécies de anofelinos; a Gustavo Rocha Leite, pela confecção da Figura 1; e ao Dr. Crispim Cerutti Junior, da Universidade Federal do Espírito Santo, pelas críticas e sugestões ao texto original desta Nota Técnica.

 

Referências

1. Carreira-Alves JR. Encontro de anofelinos do subgênero Nyssorhynchus em recipientes artificiais, Maricá, RJ, Brasil. Revista de Saúde Pública 2001;35:407-408.

2. Collucci E, Sallum MAM. Records of Anopheles (Nyssorhynchus) (Diptera, Culicidae) in artificial containers in Ribeirão Preto City, State of São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Entomologia 2006;50:431-432.

3. Forattini OP, Kakitani I, Marques GRAM, Brito M. Formas imaturas de anofelineos em recipientes artificiais. Revista de Saúde Pública 1998;32:189-191.

4. Consoli RAGB, Lourenço-de-Oliveira R. Principais mosquitos de importância sanitária no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1994.

5. Feitoza LR, Stocking M, Resende M. Natural resources informations systems for rural development. Approaches for Espírito Santo, Brazil. Vitória: Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural; 2001.

 

 

Endereço para correspondência:
Área de Parasitologia e Entomologia,
Universidade Federal do Espírito Santo,
Avenida Maruípe, 1468, Prédio do Básico, 2o Andar,
Vitória-ES, Brasil.
CEP: 29040-090
E-mail:heldericas@hotmail.com

Recebido em 29/05/2008
Aprovado em 23/01/2009