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Epidemiologia e Serviços de Saúde

versão impressa ISSN 1679-4974versão On-line ISSN 2237-9622

Epidemiol. Serv. Saúde v.19 n.1 Brasília mar. 2010

http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742010000100001 

EDITORIAL

 

Pesquisas em serviços de saúde e desenvolvimento da epidemiologia no SUS

 

 

Maria Regina Fernandes de Oliveira

Editora Executiva

 

 

A Epidemiologia e Serviços de Saúde mantém, no seu primeiro fascículo do ano de 2010, o compromisso com a divulgação de estudos e pesquisas que têm como enfoque os dados gerados nos serviços de saúde e cujos resultados voltam-se para o aprimoramento dos serviços, para o uso da informação para a ação e para o impacto em saúde coletiva. Com esse compromisso, no número 1 de 2010 publicamos seis artigos originais, um artigo de revisão e uma nota técnica.

O artigo de Luizaga e colaboradores1 discute a necessidade de aprimorar os dados relativos às mortes maternas, especialmente face à meta de redução da mortalidade materna em 75% até 2015, conforme pactuado nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).2 O propósito do estudo foi estimar novos fatores de correção a partir das mortes maternas estudadas em todas as capitais brasileiras no ano de 2002. A publicação do artigo visa enriquecer a discussão e suscitar que novas metodologias sejam desenvolvidas para a obtenção de estimativas cada vez mais fidedignas para o tema. Soares & Menezes3 também abordam a mortalidade, com foco na mortalidade neonatal precoce, da mesma forma contribuindo por meio da informação para o cumprimento da meta dos ODM2 de reduzir em dois terços a mortalidade de menores de cinco anos até 2015. A abordagem metodológica do estudo é a de linkage entre bancos de dados de informações de mortalidade e de nascidos vivos; estima fatores de risco para a mortalidade neonatal precoce para um distrito sanitário do Município de Salvador que apresenta, historicamente, piores indicadores de mortalidade infantil em comparação a outros locais da capital baiana. O estudo discute condições demográficas, sociais e de serviços de saúde que seriam responsáveis pela manutenção dos coeficientes no local e propõe gestões para atingir e modificar fatores determinantes como, por exemplo, a melhora da atenção em todo o ciclo da gravidez e puerpério e atenção diferenciada para mulheres com menor escolaridade.

Dados de doenças de notificação compulsória também são analisados e trazem informações relevantes para o controle de endemias que se mantém ou re-emergem como desafios para os serviços de vigilância. A leishmaniose visceral é uma doença infecciosa que tem ganhado cada vez mais importância e visibilidade no campo da saúde pública, devido à sua expansão geográfica e urbanização. Apresenta um ciclo de transmissão complexo e as suas medidas de controle desafiam os serviços de saúde de vigilância. Campo Grande é um exemplo de capital onde a doença adquiriu essa importância e o artigo de Furlan4 descreve a epidemia ocorrida no município no período de 2002 a 2006. Ao apresentar os dados da epidemia, a autora discute as complexas relações da transmissão, as características ambientais que poderiam estar envolvidas com o aparecimento e manutenção do ciclo no local, além de apresentar questões ligadas à organização dos serviços de saúde, como por exemplo a necessidade de profissionais capacitados para as ações de controle tempestivas. Outra endemia abordada é a tuberculose no Município de Teresina no período de 1999 a 2005, cujos dados são apresentados e discutidos por Coelho e colaboradores;5 o artigo expõe a necessidade de melhor qualidade no preenchimento dos dados de notificação, assim como de articulação cada vez maior com a atenção básica para o diagnóstico e conduta precoces e oportunos. A Aids como fator de risco é discutida em artigo de Brandão e colaboradores6 por meio de estudo transversal analítico que identificou maior frequência de infecções por Papilomavírus humano e por Chlamydia trachomatis em gestantes infectadas pelo HIV, o que caracteriza essa população como de maior risco para o desenvolvimento de câncer cervical.

Tem-se no estudo de Melo e colaboradores,7 mais um exemplo de pesquisa extremamente operacional – aquela que ocorre no âmbito dos serviços de saúde, visando a diagnosticar e solucionar problemas dos serviços. Os autores investigaram, por meio de amostra probabilística, unidades básicas de saúde e seus profissionais quanto ao conhecimento e aplicação dos procedimentos relacionados à conservação de imunobiológicos preconizados pelo Programa Nacional de Imunizações. Detectaram problemas que podem ser corrigidos e alertam os serviços quanto à necessidade do correto e preciso cumprimento das orientações relativas à rede de frio, de modo a garantir os efetivos resultados no controle de doenças imunopreveníveis.

O artigo de Nedel e colaboradores8 é fruto de um exaustivo trabalho de revisão sistemática sobre características da atenção básica associadas ao risco de internar por condições sensíveis à atenção primária (CSAP). Por meio de metodologia extremamente rigorosa aplicada à avaliação da qualidade dos artigos a serem selecionados, descreve 18 estudos publicados em vários países destacando os principais resultados de cada um deles e os fatores associados a internações por CSAP. Debate sobre a qualidade dos artigos selecionados, o método de avaliação de qualidade adotado, as listas de CSAP construídas, as dificuldades quanto à comparabilidade entre estudos, o modelo de atenção primária brasileiro e os dados gerados nesse nível de atenção, a possibilidade de análise de CSAP pelos serviços de saúde de modo a utilizar o indicador na gestão do SUS e ainda propõe o novo descritor "hospitalização evitável" que associado à "atenção primária à saúde" seria de contribuição para sistematizar o conhecimento no tema. A ampla discussão, sem dúvida, cumpre com o objetivo de revisar um tema absolutamente prioritário e relevante para o SUS.

A Nota Técnica, de autoria de Malta e colaboradores,9 trata de análise exploratória sobre o impacto da chamada "lei seca" na morbimortalidade por acidentes de transporte terrestre no Brasil. A estratégia, efetivada fora do setor, pode impactar a saúde da coletividade, especialmente, em um agravo que responde por elevada mortalidade na sociedade brasileira.

Por último, os editores da Epidemiologia e Serviços de Saúde agradecem aos relatores que trabalharam no ano de 2009, pela valiosa contribuição e revisão cuidadosa dos artigos submetidos, o que tem garantido a qualidade da publicação e, principalmente, o cumprimento da sua missão principal – desenvolver a epidemiologia no SUS.

 

Referências

1. Luizaga CTM, Gotlieb SLD, Jorge MHM, Laurenti, R. Mortes maternas: revisão do fator de correção para os dados oficiais. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010; 19(1):7-14.

2. Sachs JD, McArthur JW. The Millennium Project: a plan for meeting the Millennium Development Goals [Internet]. Published online January 12, 2005 [cited 2008 Jul]. Available from: http://image.thelancet.com/extras/04art12121web.pdf

3. Soares ES & Menezes GMS. Fatores associados à mortalidade neonatal precoce: análise de situação no nível local. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010; 19(1):51-60.

4. Furlan MBG. Epidemia de leishmaniose visceral no Município de Campo Grande – MS, 2002 a 2006. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010; 19(1):15-24.

5. Coelho DMM, Viana RL, Madeira CA, Ferreira LOC, Campelo V. Perfil epidemiológico da tuberculose no Município de Teresina –PI, no período de 1999 a 2005. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010; 19(1):33-42.

6. Brandão VCRAB, Lacerda HR, Ximenes RAA. Frequência de Papilomavírus humano (HPV) e Chlamydia trachomatis em gestantes. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010; 19(1):43-50.

7. Melo, GKM, Oliveira, JV, Andrade, MS. Aspectos relacionados à conservação de vacinas nas unidades básicas de saúde da cidade do Recife-Pernambuco. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010; 19(1):25-32.

8. Nedel FB, Facchini LA, Martín M, Navarro A. Características da atenção básica associadas ao risco de internar por condições sensíveis à atenção primária: revisão sistemática da literatura. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010; 19(1):61-75.

9. Malta DC, Silva MMA, Lima CM, Soares Filho AM, Montenegro MMS, Mascarenhas MDM, et al. Impacto da legislação restritiva do álcool na morbimortalidade por acidentes de transporte terrestre – Brasil, 2008. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010; 19(1):77-78.