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Epidemiologia e Serviços de Saúde

versión impresa ISSN 1679-4974versión On-line ISSN 2237-9622

Epidemiol. Serv. Saúde v.19 n.2 Brasília jun. 2010

http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742010000200001 

EDITORIAL

 

Métodos epidemiológicos - uso e aplicações pelos serviços de saúde

 

 

Maria Regina Fernandes de Oliveira

Universidade de Brasília

 

 

O segundo número de 2010 da Epidemiologia e Serviços de Saúde traz um rico cenário sobre o uso de métodos epidemiológicos. Os estudos apresentados são exemplos do uso da epidemiologia para estimar condições de saúde de específicas populações, para avaliar sistemas e serviços de saúde ou, ainda, aplicados à análise de dados gerados nos serviços para subsidiar diagnóstico de situação de saúde. Também traz contribuições nos campos específicos da vigilância entomológica e de informações sobre mortalidade.

Três relevantes estudos transversais contribuem diretamente com os serviços de saúde ao estimarem prevalência de situações de saúde ou agravos e seus fatores associados. As estimativas geradas por inquéritos são uma das mais consistentes informações que podem utilizar os serviços de saúde, para subsidiar o planejamento e execução de ações de promoção e vigilância. Estudo de Ramos e colaboradores1 com os Hospitais Amigos da Criança em Teresina-Piauí, estimou, por meio de amostra não-probabilística, a prevalência do aleitamento materno exclusivo e os fatores a ele associados. Foi o primeiro estudo conduzido em Teresina nos Hospitais Amigos da Criança e demonstra a melhora do perfil do aleitamento exclusivo, embora ainda abaixo do recomendado pela Organização Mundial de Saúde, o que demandará estratégias por parte dos serviços de atenção à saúde da Mulher e da Criança para o aprimoramento das ações. A prevalência de sintomas de asma em lactentes, pré-escolares e escolares de Pelotas, Rio Grande do Sul foi estimada por Stephan e colaboradores.2 O local de estudo é uma área coberta pela Estratégia Saúde da Família (ESF), em população urbana e com piores indicadores socioeconômicos. A prevalência estimada foi acorde com o esperado para o agravo e os dados gerados são relevantes para a organização da atenção básica no território. O terceiro estudo, de Zart e colaboradores,3 de base populacional, investiga a associação entre cuidados alimentares e variáveis demográficas, socioeconômicas e outros hábitos em saúde. Diante dos achados de hábitos alimentares não adequados, principalmente entre os mais jovens, os do sexo masculino e aqueles com escolaridade mais baixa, os autores comentam também a necessidade de investigar a representação social dos hábitos alimentares por meio de estudos qualitativos, de modo a que as ações de promoção da saúde sejam adequadamente planejadas, frente ao imenso desafio de reduzir a carga das doenças não transmissíveis.

No campo da avaliação de sistemas e serviços são apresentados também três estudos. Arantes e colaboradores4 avaliam serviços de saúde do Município de São José do Rio Preto-SP, quanto ao diagnóstico precoce da hanseníase - um do principais pilares para o controle do agravo. Como no município estudado a atenção aos portadores da hanseníase concentra-se em dois centros habilitados, os autores recomendam a descentralização do tratamento para unidades básicas de saúde, o que seria a opção para a melhora do acesso e a precocidade do tratamento. Frauches e colaboradores5 aliam o método transversal ao campo da avaliação de serviços. Trazem uma importante contribuição para a área de imunizações por demonstrar, para o Estado do Espírito Santo no período de 2004 a 2007, uma cobertura de 50% para a vacina contra pneumococos em crianças com doença falciforme - uma das ações de imunização indicadas para situações especiais. Recomendam educação permanente dos profissionais, descentralização dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais e estratégia de busca domiciliar de faltosos para aprimorar a ação, já que a doença falciforme cursa com alta vulnerabilidade às infecções graves por pneumococos. Girotto e colaboradores6 avaliam três fontes de informações sobre hipertensão arterial de uma Unidade Saúde da Família em Londrina, Paraná. Os sistemas avaliados foram o Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos, o Sistema de Informação da Atenção Básica e as fichas de aprazamento. Foi observada discordância entre as fontes de informações, o que demanda ações concretas para a criação de mecanismos que possam integrá-las para que a informação gerada seja mais precisa. A metodologia de avaliação empregada no estudo é simples e reprodutível nos serviços de saúde.

O artigo de Reis e colaboradores7 analisa a tendência temporal da mortalidade por câncer de cólon e reto em Santa Catarina no período de 1980 a 2006, evidenciando maiores coeficientes de mortalidade entre homens idosos. Além da clara contribuição do estudo para o diagnóstico de saúde no território estudado, a sua publicação na Epidemiologia e Serviços de Saúde visa também divulgar para os serviços de vigilância a utilização de metodologias que podem ser apropriadas na rotina dos serviços de saúde para a análise de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

Gomes e colaboradores8 investigaram a característica ecológica e o hábito alimentar de mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes em área epizoótica do vírus da febre amarela, no Estado do Rio Grande do Sul, classificada como área de transição da febre amarela silvestre. Foi identificada a presença de sangue humano no estudo das fêmeas de Hg. leucocelaenus e o estudo reforça a necessidade de vigilância entomológica ativa e contínua, não somente na região de estudo, como um componente essencial para o êxito das ações de controle da febre amarela.

O número traz também Nota Técnica que atualiza a lista brasileira de causas de mortes evitáveis por intervenções do SUS.9 A lista de causas de mortes evitáveis, publicada originalmente em 2007,10 foi um grande avanço por fornecer elementos para derivar indicadores para monitorar e avaliar a qualidade de atenção, contribuindo para a tomada de decisão e organização de serviços. A sua atualização periódica é uma necessidade que se impõe pela dinâmica própria do desenvolvimento científico, tecnológico e social.

A diversidade de temas e de abordagens metodológicas deste número reflete o amplo uso da epidemiologia com aplicação nos serviços de saúde e, espera-se, que contribua para o contínuo aperfeiçoamento da área de vigilância em saúde.

Nesta edição, despeço-me das atividades de Editora Executiva da Epidemiologia e Serviços de Saúde, função que exerci desde janeiro de 1998, na ocasião, ainda Informe Epidemiológico do SUS - antecessor da revista. E tenho plena convicção do papel que o periódico vem exercendo e continuará a exercer no desenvolvimento da epidemiologia no SUS. A toda a imensa equipe que faz a revista - técnicos da Coordenação Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviço e do Núcleo de Comunicação (SVS), dedicados revisores e membros do comitê editorial, equipes das bibliotecas do Instituto Evandro Chagas e da Funasa - meus agradecimentos pela inestimável participação no processo de construção do periódico ao longo desses 12 anos. Cabe a todos vocês o sucesso da publicação.

 

 

Referências

1. Ramos CV, Almeida JAG, Saldiva SRDM, Pereira LMR, Alberto NSMC, Teles JBM et al. Prevalência do Aleitamento Materno Exclusivo e os fatores a ele associados em crianças nascidas nos Hospitais Amigos da Criança de Teresina-Piauí. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2010; 19(2):115-124.

2. Stephan AMS, Costa, JSD, Stephan LS, Secco AFB. Prevalência de sintomas de asma em lactentes, pré-escolares e escolares em área coberta pelo Programa Saúde da Família, Pelotas, RS, Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2010; 19(2):125-132.

3. Zart VB, Aerts D, Rosa C, Béria JU, Raymann BW, Gigante LP et al. Cuidados alimentares e fatores associados em Canoas, RS, Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2010; 19(2):143-154.

4. Arantes CK, Garcia MLR, Filipe MS, Nardi SMT, Paschoal VDA. Avaliação dos serviços de saúde em relação ao diagnóstico precoce da hanseníase. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2010; 19(2):155-164.

5. Frauches DO, Matos PASBA, Vatanabi JH, Oliveira JF, Lima APNB, Moreira-Silva SF. Vacinação contra pneumococo em crianças com doença falciforme no Espírito Santo, entre 2004 e 2007. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2010; 19(2):165-172.

6. Girotto E, Andrade SM, Cabrera MAS. Análise de três fontes de informação da atenção básica para o monitoramento da hipertensão arterial. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2010; 19(2):133-141.

7. Reis AL, Peres MA. Tendência temporal da mortalidade por câncer de cólon e reto em Santa Catarina no período entre 1980 a 2006. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2010; 19(2): 91-100.

8. Gomes AC, Torres MAN, Paula MB, Fernandes A, Marassá AM, Consales CA et al. Ecologia de Haemagogus e Sabethes (Diptera: Culicidae) em áreas epizoóticas do vírus da febre amarela, Rio Grande do Sul, Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2010; 19(2): 101-113.

9. Malta DC, Sardinha LMV, Moura L, Lansky S, Leal MC, Szwarcwald CL et al. Atualização da lista de causas de mortes evitáveis por intervenções do Sistema Único de Saúde do Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2010; 19(2):173-176.

10. Malta DC, Duarte EC, Almeida MF, Dias MAS, Morais Neto OL, Moura L et al. Lista de causas de mortes evitáveis por intervenções do Sistema Único de Saúde do Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2007; 16(4):233-244.