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Epidemiologia e Serviços de Saúde

versão impressa ISSN 1679-4974versão On-line ISSN 2237-9622

Epidemiol. Serv. Saúde v.19 n.3 Brasília set. 2010

http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742010000300010 

ARTIGO ORGINAL

 

Imagem corporal de adolescentes escolares em Gravataí-RS

 

Body image of teenage students from Gravatai, State of Rio Grande do Sul, Brazil

 

 

Denise AertsI; Rafael Roswag MadeiraII; Vera Beatriz ZartIII

ICurso de Medicina, Programa de Mestrado em Saúde Coletiva, Universidade Luterana do Brasil, Canoas-RS, Brasil
IICurso de Medicina, Universidade Luterana do Brasil, Canoas-RS, Brasil
IIISetor de Vigilância Sanitária, Secretaria Municipal de Saúde de Carazinho-RS, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

OBJETIVO: descrever a imagem corporal segundo sexo, cor da pele auto-referida, estado nutricional, faixa etária e maturidade sexual, de escolares de 5a a 8a série do ensino público de Gravataí-RS, em 2005.
METODOLOGIA: estudo transversal com uma amostra representativa de 1.442 escolares. A imagem corporal foi avaliada com o Body Shape Questionnaire. As associações entre o desfecho e os fatores em estudo foram testadas com o teste do qui-quadrado.
RESULTADO: entre os escolares, 75,1% não estavam preocupados com sua imagem corporal. As meninas mostraram-se mais preocupadas do que os meninos (p<0,000) e, entre os jovens auto-referidos como brancos, encontrou-se mais preocupação com a imagem (p:0,004). Os escolares obesos e os com sobrepeso (p<0,000) e os na fase pós-puberal (p<0,030) apresentaram também maior insatisfação com a imagem corporal.
CONCLUSÃO: é importante que a escola e os profissionais de saúde dirijam sua atenção para adolescentes pertencentes aos grupos com maior insatisfação corporal, criando oportunidades que enfatizem a importância de escolhas saudáveis de vida.

Palavras-chave: saúde do escolar; adolescência; imagem corporal; estado nutricional.


SUMMARY

OBJECTIVE: to describe body image according to gender, self-reported skin color, nutritional status, age group, and sexual maturity of students from the 5th to the 8th grade of public schools from Gravatai, State of Rio Grande do Sul, Brazil in 2005.
METHODOLOGY: cross-sectional study including a representative sample of 1,442 students. Body image was assessed using the Body Shape Questionnaire. The associations between the outcome and the factors studied were tested using the chi-square test.
RESULT: among students, 75.1% were not concernedabout their body image. Girls were more concerned than boys (p<0.000) and, among teenagers who self-reported being white, we found a higher level of concern about body image (p=0.004). Obese and overweight students (p<0.000) and those in the postpubertal age (p<0.030) also showedhigher lack of satisfaction with their body image.
CONCLUSION: school and health professionals should focus their attention on adolescents belonging to those groups showing higher lack of satisfaction, offering opportunities that emphasize the relevance of making healthy choices for their lives.

Key words: student's health; adolescence; body image; nutritional status.


 

 

 Introdução

Ao longo dos tempos, os ideais de beleza corporais têm se modificado, refletindo as exigências da sociedade moderna também em constante evolução.1 O corpo humano passou a ser extremamente valorizado e explorado pela mídia, sendo tomado como um referencial de sucesso e status a ser alcançado.2,3 Atualmente, a ampla divulgação nos comerciais, revistas e cinema de um padrão corporal de mulheres macérrimas e homens musculosos vem influenciando a vida das pessoas, uma vez que representam ideais de beleza, sucesso e felicidade.4-6 Entre os diferentes grupos etários, os adolescentes são um dos mais vulneráveis às pressões da sociedade quanto ao aspecto de seu corpo.7

A adolescência é o período compreendido entre dez e dezenove anos de idade1 que inicia com a rápida aceleração do crescimento físico e desenvolvimento sexual. Por se encontrar em meio a intensas transformações físicas e emocionais,8,9 elaborando sua nova identidade,10 o jovem vivencia um aumento da preocupação com sua imagem corporal.11

Existe uma forte ligação entre identidade e imagem corporal, devido à grande importância que é dada à aparência física, sendo essa fundamental para que os adolescentes se sintam aceitos por seus grupos.11 Porém, o modelo idealizado de beleza não leva em consideração os aspectos relacionados à saúde e as diferentes constituições físicas da população. Esse padrão distorcido acarreta um número cada vez maior de adolescentes que se submetem a dietas para controle de peso, excesso de exercícios físicos4 e cirurgias plásticas por insatisfação com sua imagem corporal.

A imagem corporal consiste em uma idealização física e subjetiva, definida como a forma com que o indivíduo percebe e se sente em relação ao seu próprio corpo.12 Funciona como um retrato formado na mente, resultado de suas experiências e emoções.13 Durante a vida, a percepção sobre seu próprio corpo se modifica, sendo também influenciada por fatores históricos, culturais, sociais e biológicos.14,15 Assim, o sujeito pode apresentar diferentes níveis de satisfação quanto à sua imagem corporal, podendo essa ser aferida por meio de imagens - silhuetas - que auxiliam a mensurar as distorções quanto à exatidão do tamanho corporal ou de questionários que permitem a investigação de sentimentos negativos em relação ao corpo.16

A vantagem dos questionários é que eles possibilitam sua utilização em estudos populacionais ou com grandes amostras, permitindo a discriminação de diferentes graus de preocupação ou insatisfação com a imagem. O Body Shape Questionnaire (BSQ) é um desses instrumentos que, além de largamente empregado, foi validado para adolescentes brasileiros.17

O impacto dos ideais de beleza é distinto entre os sexos. Diversos autores têm afirmado que as jovens do sexo feminino buscam obter um corpo muito magro,4,18 enquanto os meninos visam ganho de massa muscular.19,20

Diferentes padrões culturais influenciam a percepção da imagem corporal. Em função disso, a cor da pele também pode estar associada ao modo como os escolares percebem seus corpos. Porém, a revisão de literatura aponta algumas controvérsias, sendo que autores identificaram maior insatisfação entre estudantes auto-referidos como brancos20,21 e outros não identificaram associação.20-22 Em contrapartida, os estudos são unânimes em afirmar que o estado nutricional está fortemente associado à percepção corporal, sendo identificado como causa20,23 ou consequência dessa insatisfação.20,23-25

Apesar da importância da imagem corporal para a vida do jovem, foram encontrados poucos estudos investigando fatores associados à percepção corporal de estudantes adolescentes. Assim, este trabalho teve como objetivo descrever a imagem corporal, segundo sexo, cor da pele auto-referida, estado nutricional, faixa etária e maturidade sexual, de escolares de 5a a 8a série do ensino público de Gravataí-RS, em 2005.

 

Metodologia

O estudo apresenta delineamento transversal, tendo como população alvo 9.500 escolares, de 5a a 8a séries, entre os cerca de 23.000 alunos da rede de ensino público municipal de Gravataí, matriculados em março de 2005.

 A amostra foi calculada supondo-se uma prevalência de 50% para a preocupação com a imagem corporal, um erro máximo de ±3,5% e um nível de significância de 0,05, ficando estimada em 724 estudantes. Aplicando-se um efeito de delineamento de 1,5, ampliou-se a amostra em 50%, sendo acrescida de 20% para suportar uma perda estimada dessa magnitude. Com isso, o tamanho da amostra ficou em 1.303 escolares.

As turmas foram sorteadas considerando-se a proporcionalidade de alunos matriculados entre a 5a e 8a séries em cada uma das 15 regiões administrativas do município. Uma vez sorteada a turma, todos os alunos que aceitaram participar do estudo foram incluídos, caracterizando uma amostragem aleatória por conglomerados.

Os dados foram coletados com o auxilio de três instrumentos. O primeiro foi uma ficha coletiva, por turma e escola, para a anotação das medidas antropométricas, sexo, data de nascimento, cor da pele auto-referida e controle administrativo do estudo. A cor da pele auto-referida foi reagrupada em branca e não-branca.

Para a avaliação antropométrica, os alunos foram pesados em balanças digitais Seca, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), com capacidade para 150kg e precisão de 50 gramas. O peso e a estatura foram obtidos, segundo as ténicas da OMS,26 com o uso de uma camiseta padrão, fornecido pela pesquisa, sendo posteriormente descontados 200g. O ambiente era privado e climatizado com estufa elétrica, quando a temperatura ambiente encontrava-se inferior a 15 graus. A estatura foi aferida com auxílio de estadiômetro de metal com precisão em milímetros.

Para a avaliação do estado nutricional foi utilizada a classificação de Must e colaboradores,27 que categoriza o índice de massa corporal (IMC) de acordo com a faixa etária e gênero, em percentis. Os escolares acima do percentil 50 foram reavaliados utilizando-se a classificação de Cole e colaboradores,28 mais fidedigna na discriminação dos indivíduos com sobrepeso e obesos. O estado nutricional foi classificado em três grupos: abaixo do percentil 15 (baixo peso/desnutrição), entre os percentis 15 e 85 (eutrofia) e acima de 85 (sobrepeso/obesidade).

O segundo instrumento utilizado foi o BSQ, que é um questionário auto-aplicável, com 34 itens, criado por Cooper e colaboradores.19 Foi traduzido para o português e posteriormente validado para adolescentes.17,30 Tem sido utilizado para avaliar o medo do ganho de peso, a baixa estima relacionada à aparência física, o desejo da perda de peso e a insatisfação com o corpo. A classificação dos resultados foi obtida pela soma dos pontos e reflete os níveis de preocupação com a imagem corporal, categorizando-os em quatro grupos: 1) não preocupados com a imagem corporal (<80 pontos), 2) levemente preocupados (81 a 110 pontos), 3) moderadamente preocupados (111 a 140 pontos) e 4) extremamente preocupados (>140 pontos).

Para a avaliação da maturidade sexual foi utilizado a ficha de Tanner.31 O referido instrumento consta da avaliação das mamas e dos pêlos pubianos no sexo feminino, e dos genitais e pêlos púbicos no sexo masculino. Esses são comparados pelo jovem com os desenhos apresentados na ficha, sendo escolhidos os que melhor representam suas características sexuais. Isso permite a caracterização de cinco estágios: 1) pré-puberal, 2) início da puberdade, 3) estirão puberal, 4) início da desaceleração e 5) maturidade ou pós-puberal.

Os dados foram digitados em arquivo no software Epi Info, versão 6.04 e as associações entre o desfecho e as variáveis de interesse foram testadas com o auxilio do teste qui-quadrado de associação. Para a análise descritiva, foram utilizadas as quatro categorias originais do BSQ e para o estudo da associação, as categorias extremamente preocupados e moderadamente preocupados foram agrupadas, devido ao pequeno número de sujeitos existentes na última.

Antes do início da coleta de dados, foram realizadas reuniões com a comunidade escolar (pais, alunos, equipe diretiva, funcionários e professores) das escolas sorteadas para a apresentação do estudo. Na sequência, foram entregues aos pais ou responsáveis o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Quando os responsáveis não compareceram à reunião, os termos foram enviados pelo aluno.

 Considerações éticas

O presente estudo faz parte de um estudo maior intitulado "A saúde do escolar da rede pública municipal de Gravataí-RS", que foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Luterana do Brasil - Ulbra (375H/2004). Esta pesquisa seguiu as orientações fornecidas na Resolução 10/196, do Conselho Nacional de Saúde.

 

Resultados

Dos 1.442 adolescentes estudados, 1.083 (75,1%) não se mostraram preocupados com sua imagem corporal (Tabela 1). Entre os demais, 15,5% (224) estavam levemente preocupados, 6,7% (96) moderadamente e, apenas, 2,7% (39) manifestaram extrema preocupação.

 

 

A amostra foi composta por um maior número de meninos (51%), sendo que entre esses, a prevalência de satisfação foi de 89,8%, enquanto que entre as meninas foi de apenas 59,8%. Essa diferença foi significante. Em relação à cor da pele, houve praticamente o mesmo número de jovens que se declararam brancos e não-brancos. Foi observada uma frequência significativamente maior de jovens não preocupados com a imagem corporal entre os que se declararam como não-brancos. Quanto ao estado nutricional, a maioria dos estudantes encontrava-se eutrófica (69,2%), sendo que o sobrepeso/obesidade (19,4%) foi mais prevalente do que o baixo peso/desnutrição (11,3%). Os estudantes obesos e com sobrepeso demonstraram-se mais preocupados com sua imagem, enquanto que, aproximadamente, mais de 90% dos classificados como desnutridos ou com baixo peso não tinham essa preocupação. Essas diferenças foram significativas. É interessante observar a existência de dois jovens com baixo peso/desnutrição que manifestaram preocupação com seu corpo. Em contrapartida, 41,6 e 56,9%, respectivamente, dos obesos e com sobrepeso obtiveram uma pontuação que expressou a não preocupação com a imagem corporal (Tabela 1).

Apesar dos alunos se encontrarem entre a 5a e a 8a séries, as idades variaram de dez a 18 anos, tendo como média 13,4 anos (DP: ±1,7 anos). Não foram verificadas diferenças significativas na percepção da imagem corporal segundo as faixas etárias, ainda que se tenha observado uma preocupação levemente maior entre 13 e 15 anos e menor entre os mais jovens (Tabela 2).

 

 

Diferente da idade, a maturidade sexual associou-se ao desfecho. A mais baixa prevalência de insatisfação foi detectada entre os jovens na fase pré-puberal, isto é, estágios 1 e 2. Por outro lado, o mais alto nível de insatisfação foi verificado entre os mais maduros (fase pós-puberal).

 

Discussão

A percepção da imagem corporal em escolares vem sendo pesquisada em todo o mundo.1,6 Entretanto, poucos estudos nacionais têm investigado o grau de satisfação corporal dos adolescentes em relação a cor da pele, estado nutricional, faixa etária e maturidade sexual. Mais frequentemente, encontra-se artigos sobre as diferenças entre os gêneros. O presente estudo traz essa importante contribuição.

A escolha por adolescentes escolares deu-se por facilidades operacionais relacionadas à coleta dos dados e também em virtude de ser a escola um ambiente privilegiado para o desenvolvimento de ações de promoção da saúde dos jovens. Em função disso, a interpretação dos resultados deve ser realizada com cautela. Como não foram investigados alunos da rede de ensino particular e os que se encontravam fora da escola, os achados podem não ser representativos de todos os adolescentes do município. No entanto, considera-se que a amostra possa representar a realidade dos escolares da rede pública de Gravataí e de outros municípios da região metropolitana de Porto Alegre, RS.

A prevalência de insatisfação com a imagem corporal encontrada neste estudo, considerando os leve, moderada e gravemente preocupados, foi de 24,9%. Estudo com escolares de Dois Irmãos-RS e Morro Reuter-RS encontrou 63,9% de insatisfação, concluindo que, mesmo em pequenas cidades do interior, os jovens apresentam insatisfação corporal.6 Esses dados foram muito superiores ao encontrado em Gravataí. É possível que isso tenha ocorrido em função da utilização de outro instrumento chamado de escala de imagem corporal (Children's Figure Rating Scale), assim como as diferenças verificadas em relação a outros autores.20,23

Utilizando o BSQ em estudantes universitários de nutrição e psicologia, Stipp e colaboradores32 encontram uma prevalência de preocupação moderada e extrema de 17,3 e 22,2%, respectivamente. Estudo semelhante foi realizado com universitárias de nutrição da cidade do Rio de Janeiro, identificando insatisfação corpórea em 18,6% das investigadas.1 Os autores referem que a imagem corporal idealizada pelas universitárias vai ao encontro do padrão preconizado no grupo populacional de melhor inserção socioeconômica, no qual sobressai o que certos autores denominam de "império da magreza".1 Por terem mais idade, as jovens universitárias encontram-se no estágio cinco de maturação, podendo ser comparadas aos escolares nessa mesma fase. Mesmo assim, os resultados encontrados são superiores aos verificados nesta pesquisa. Por outro lado, é possível que o resultado de Gravataí já indique a precocidade com que a imagem corporal influencia a vida dos jovens, em especial do sexo feminino. Outros estudos também sugerem a aceitação do padrão adulto de beleza pelas meninas.20,33

Vilela e colaboradores,19 utilizando outros instrumentos para classificar a satisfação corporal em escolares de cinco localidades do interior de Minas Gerais, encontraram 59% de alunos insatisfeitos com seu físico. Outros trabalhos identificaram prevalências semelhantes a essa em adolescentes de escolas privadas.2,24,34,35 Mais uma vez, é possível que a utilização de diferentes instrumentos para aferir a percepção da imagem corporal seja responsável pelas altas prevalências encontradas por esses autores. Por outro lado, também é possível supor que os adolescentes de Gravataí tenham uma percepção de sua imagem corporal mais positiva.

Alguns autores apontam que a prevalência de insatisfação corporal é muito alta, sendo mais comum entre meninas,2,6,32,36-38 semelhante ao presente estudo. Trabalhos de revisão referem que a insatisfação corporal está presente entre 60 e 80% das meninas e 20 a 40% dos meninos.37,38

É sabido que padrões socioculturais interferem no funcionamento da dinâmica corporal de meninos e meninas distintamente.39 Meninos são estimulados a praticarem esportes, enquanto que às meninas são impostas atividades que resultem em perda de peso. Com isso, reforça-se um padrão de expectativas que aumenta a tendência das meninas sentirem-se insatisfeitas com seu próprio corpo.3,39

É possível que o fato dos meninos sofrerem menos pressão social auxilia a que tenham uma melhor aceitação de seu corpo.4 Talvez seja em função disso que, mesmo entre meninas eutróficas, acabe ocorrendo maior grau de insatisfação com sua aparência.

Investigando as repercussões que a imagem corporal trariam na vida de adolescentes, Facchini e colaboraadores36 concluíram que os garotos demonstraram grande interesse por sua auto-imagem, podendo ser observado nas academias de ginástica e no crescente uso de suplementos alimentares que prometem aumentar a massa muscular. Já no caso das meninas, a busca era por um corpo delgado.

Analisando a associação entre cor da pele e insatisfação corporal, identificou-se que jovens declarados como não-brancos apresentaram menor insatisfação dos que se auto-referiram como brancos, semelhante a Triches e Giugliani.6 Foi observado entre meninas que frequentavam a escola secundaria em Trinidad, que as de etnia africana desenvolviam menos transtornos alimentares por apresentarem menor insatisfação com sua auto-imagem.40,41

Estudo realizado em Belo Horizonte,20 com escolares da rede pública e particular, apontou que alunos negros de escolas públicas desejavam ganhar peso. Entretanto, os alunos de classe econômica mais alta desejavam perder peso, não importando a cor da pele. Os autores interpretaram como um dos motivos para esse achado o fato de estudantes desnutridos estarem em maior quantidade em escolas públicas.

Na África do Sul, estudo investigando a percepção corporal de estudantes do sexo feminino, entre 15 a 18 anos, com o auxilio do BSQ, encontrou uma prevalência significativamente mais alta de estudantes brancas insatisfeitas com sua imagem corporal, quando comparados às negras e mulatas.42

Entre os jovens de Gravataí, encontrou-se associação significativa entre estado nutricional e insatisfação corporal, semelhante aos achados da literatura.4,19,24,33,43 O estado nutricional é considerado o fator mais fortemente associado à insatisfação corporal.6 Diferente desse achado, Fernandes e colaboradores20 não encontraram associação entre essas variáveis. É possível que as distintas formas utilizadas para a avaliação da imagem corporal e as diferenças culturais expliquem essa divergência. Sentir-se gordo pode não ter o mesmo significado de querer ser mais magro.23

No presente trabalho, os escolares entre 13 e 15 anos e os alunos da sétima série foram os que demonstraram maior preocupação com a imagem corporal, apesar das diferenças encontradas não serem estatisticamente significativas, semelhante a estudo realizado em Belo Horizonte.20

Em Porto Alegre-RS,23 investigando escolares entre oito e 11 anos, os autores identificaram que a insatisfação corporal aumentava com a idade. Nessa mesma faixa etária, na região Sul, foi obsevado que o desejo de emagrecer aumenta com a idade e o de engordar diminui, ainda que este achado não tenha significância estatística.6

Pesquisa realizada em Salvador-BA, com escolares de seis a 19 anos, apontou que a maior prevalência de insatisfação corporal, na presença de peso adequado, foi na faixa etária de seis a nove anos.24 Esse resultado pode ser explicado pelo fato de um dos itens avaliados ser a percepção da mãe sobre a imagem do filho. Fato semelhante foi demonstrado por Pinheiro e Guigliani,23 que encontraram forte associação entre a criança sentir-se gorda e a avaliação de ambos os pais sobre o excesso de peso do filho.

A imagem corporal em adolescentes de dez a 14 anos e sua relação com a maturação sexual foi avaliada por diversos autores. Para tanto, a idade cronológica foi transformada em fase de maturação, considerando meninos de dez a 12 anos como pré-púberes e de 13 a 14 como púberes. Para as meninas, consideraram que entre dez e 11 anos eram púberes e entre 12 e 14, pós-púberes. Entre os meninos, encontraram maior insatisfação nos pré-púberes, enquanto que nas meninas essa foi maior entre as pós-púberes, sendo esses achados estatisticamente significativos.3,44 Diferenças entre trabalhos que investigam a relação entre idade e percepção corporal, dos que utilizam a maturação sexual, ocorrem em virtude das meninas atingirem a maturidade sexual antes dos meninos3 e que essa apresenta diferentes velocidades entre os indivíduos.

Os pré-púberes ainda apresentam um corpo com características infantis e, possivelmente, uma identidade também infantil. Talvez, em função disso, encontrou-se a mais alta prevalência de satisfação com a imagem corporal entre eles. Diferentemente, os que se encontram em fase de desaceleração, já apresentam características bastante semelhantes aos adultos, podendo já ter os ideais de beleza de nossa cultura.

Os achados do presente estudo indicam que a maioria dos escolares de Gravataí estava satisfeita com sua imagem corporal, havendo prevalência significativamente maior de insatisfação corporal entre as meninas. A cor da pele e o estado nutricional também se demonstraram associados à percepção corporal, sendo que os brancos têm maior preocupação com sua imagem.

Em função desses achados, acredita-se ser importante que a escola, a família e os trabalhadores em saúde estejam atentos para a influência dos padrões de beleza na auto-imagem dos adolescentes. Nesse sentido, recomenda-se que as escolas e os serviços de saúde discutam com crianças e adolescentes a inadequação desses padrões e suas consequências para a vida e a saúde dos jovens.

A escola, como um local privilegiado para oferecer informações sobre estilos de vida mais saudáveis, deve estar atenta a esse problema e, juntamente com os serviços de saúde, definirem estratégias de atuação. A disciplina de Educação Física possui excelente potencial por lidar diretamente com a questão corporal. Durante suas atividades, podem ser identificados alunos com baixa auto-estima e em outras situações de risco para morbidades, sendo criadas oportunidades que enfatizem a importância de escolhas saudáveis de vida. Esse enfoque é preconizado pelo Ministério da Saúde, no projeto "Escolas Promotoras de Saúde", estando já implementado em alguns municípios brasileiros.

 

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Endereço para correspondência:
Avenida Ganzo, 238, Porto Alegre-RS,
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Recebido em 07/10/2009
Aprovado em 20/04/2010