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Epidemiologia e Serviços de Saúde

versão impressa ISSN 1679-4974versão On-line ISSN 2237-9622

Epidemiol. Serv. Saúde v.23 n.2 Brasília jun. 2014

 

http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742014000200001

EDITORIAL

 

A vigilância em saúde na Copa do Mundo no Brasil

 

 

Wanderson Kleber de OliveiraI; Leila Posenato GarciaII; Elisete DuarteI

ISecretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Brasília-DF, Brasil
IIDiretoria de Estudos Setoriais, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Brasília-DF, Brasil

 

 

A revista Epidemiologia e Serviços de Saúde (RESS) homenageia o Brasil com a cor verde na capa de sua versão impressa, em todos os números deste ano de 2014 (v. 23), no intuito de reforçar a torcida pela seleção brasileira, e também de destacar o importante papel das ações da vigilância em saúde relacionadas à Copa do Mundo FIFA Brasil 2014™.

Pela primeira vez na história do evento, os jogos ocorrerão em 12 cidades-sede diferentes em um mesmo país, durante o período de 12 de junho a 13 de julho. Pelas características ambientais e culturais, as delegações e torcedores terão a oportunidade de conhecer um pouco mais do Brasil, a partir das cidades-sede: Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, São Paulo, Salvador, Recife, Porto Alegre, Natal, Cuiabá, Curitiba e Manaus. Segundo o Ministério do Turismo (MTur), a expectativa é de que mais de 600 mil turistas estrangeiros visitem o Brasil durante o evento. Em maio, foi anunciado que mais de 500 mil ingressos já haviam sido vendidos para estrangeiros (aproximadamente 40% do total dos ingressos). Além dos estrangeiros, espera-se que 1,1 milhão de brasileiros viajem pelo país e que a Copa do Mundo seja responsável por 5,9 milhões de viagens.1

Segundo as normas nacionais e internacionais, a Copa do Mundo é um evento de massa de importância nacional e internacional, pois atrai número significativo de participantes, gerando a necessidade de organização da oferta de serviços de saúde. Por envolver populações de diferentes partes do mundo, os visitantes e a população local, esses eventos podem demandar maior atenção dos serviços de saúde e representam importantes desafios para o sistema de vigilância. Os eventos de massa podem favorecer a introdução de novas doenças ou a ocorrência de doenças endêmicas em novas populações, bem como apresentar dificuldades associadas com a comunicação de riscos aos participantes de diferentes culturas e com a rastreabilidade dos casos. Há, também, riscos relacionados ao perfil do público.2,3

Não obstante, a literatura revela que o risco da ocorrência de eventos epidêmicos durante eventos de massa é baixo2,4,5,6 Ademais, o Brasil tem ampla experiência na organização desse tipo de evento (como carnaval, festivais e festas religiosas) e com a intensa circulação regular de turistas estrangeiros (somente em 2013, foram mais de 6 milhões).7 A vigilância em saúde, apropriando-se das evidências existentes e da experiência pregressa, iniciou em 2010 a preparação para a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014™. Esta preparação está descrita detalhadamente em número temático do Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS).8

Um aspecto relevante dessa preparação é o aproveitamento da oportunidade para a realização de ações voltadas à prevenção de doenças e promoção da saúde. Além do envolvimento nos desafios que os eventos de massa representam para o Sistema único de Saúde (SUS), a vigilância em saúde tem a responsabilidade de fornecer informações acuradas sobre as doenças, agravos e eventos de saúde pública que possam ocorrer durante a Copa do Mundo, para a população brasileira e os visitantes, bem como para as autoridades de saúde dos demais países.

Uma iniciativa inovadora é o lançamento do website e do aplicativo "Saúde na Copa", que pode ser instalado em dispositivos móveis, pelo Google Play ou pela App Store. Estas tecnologias estão alinhadas com o desenvolvimento da vigilância participativa, permitindo que usuários possam, por exemplo, acessar contatos de serviços de utilidade pública, buscar a localização de serviços de saúde, acompanhar as informações da vigilância em saúde divulgadas durante a Copa, além de acompanhar o calendário dos jogos.8,9 Essas iniciativas inovadoras em saúde pública devem ser aproveitadas, pois têm o potencial para auxiliar nas ações de vigilância, na avaliação de riscos oportuna e na disseminação de informações precisas.3

É importante registrar, ainda, o empenho do MS para o aprimoramento da infraestrutura e organização dos serviços do SUS, e para que os equipamentos e serviços estejam disponíveis aos usuários não somente durante a Copa do Mundo, mas também após o evento. Da mesma maneira, espera-se que o aprendizado e os êxitos que serão alcançados pela vigilância também sejam incorporados futuramente, tanto nas atividades de rotina, quanto na preparação de novos eventos de massa.

Para isso, é de extrema relevância a realização de estudos e o registro das experiências da vigilância em saúde durante eventos de massa. A pesquisa relacionada à saúde durante esses eventos ainda está em estágio inicial.3 Embora relatos da epidemiologia em eventos de massa tenham sido publicados, são pouco abrangentes e em número reduzido.6

A RESS incentiva a realização de estudos e relatos, e constitui-se também em espaço privilegiado para sua divulgação, a fim de que, após a Copa do Mundo, seja possível revisar as ocorrências relevantes para a vigilância em saúde, assim como a resposta do setor saúde, de modo a assegurar o aprendizado e a incorporação das experiências bem-sucedidas.

 

Referências

1. Quebra do recorde de turistas estrangeiros indica importância dos grandes eventos, avalia Embratur [Internet]. 2013 dez 8 [citado 2014 mai 23]. Disponível em: http://www.copa2014.gov.br/pt-br/noticia/quebra-do-recorde-de-turistas-estrangeiros-indica-importancia-dos-grandes-eventos-avalia

2. World Health Organization. Communicable disease alert and response for mass gatherings: key considerations [Internet]. Geneva: World Health Organization; 2008 [cited 2014 May 23]. Available from: http://www.who.int/csr/Mass_gatherings2.pdf

3. Tam JS, Barbeschi M, Shapovalova N, Briand S, Memish ZA, Kieny MP. Research agenda for mass gatherings: a call to action. Lancet Infect Dis. 2012 Mar;12(3):231-9.

4. McConnell J. Mass gatherings health series. Lancet Infect Dis. 2012 Jan;12(1):8-9.

5. Abubakar I, Gautret P, Brunette GW, Blumberg L, Johnson D, Poumerol G, et al. Global perspectives for prevention of infectious diseases associated with mass gatherings. Lancet Infect Dis. 2012 Jan;12(1):66-74.

6. McCloskey B, Endericks T, Catchpole M, Zambon M, McLauchlin J, Shetty N, et al. London 2012 Olympic and Paralympic Games: public health surveillance and epidemiology. Lancet [Internet]. 2014 Jun [cited 2014 May 23];383(9934):2083-9. Available from: http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(13)62342-9/fulltext

7. Número de turistas estrangeiros no Brasil subiu acima da média mundial em 2013 [Internet]. 2014 jan 29 [citado 2014 mai 23]. Available from: http://blog.planalto.gov.br/numero-de-turistas-estrangeiros-no-brasil-subiu-acima-da-media-mundial-em-2013/

8. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Preparação e resposta da vigilância em saúde para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014™. Bol Epidemiol [Internet]. 2014 [citado 2014 mai 23];45(8):1-12. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/maio/29/BE-2014-45--8--Copa-do-Brasil.pdf

9. Ministério da Saúde (BR). Saúde na copa 2014 [Internet]. 2014 [citado 2014 mai 23]. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/saude-na-copa-2014