Introdução
O impacto socioeconômico dos acidentes de trânsito cresceu vertiginosamente na década de 2000. No período de 2007 a 2013, anualmente, 1,25 milhões de pessoas perderam suas vidas no mundo e até 50 milhões sobreviveram com algum tipo de sequela devido aos acidentes de trânsito. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que, em 2015, esses acidentes representaram a primeira causa de mortes na faixa etária de 15 a 29 anos, com um custo global estimado em 518 bilhões de dólares para o ano de 2015.1-3
Ressalta-se que mais de 90% dos óbitos por acidentes de trânsito ocorrem em países de média e baixa renda, os quais, em 2013, possuíam cerca de metade da frota de veículos mundiais (54,0%), segundo dados analisados pela OMS.2 Nesses países, o impacto desses acidentes no setor Saúde é relevante, ocasionando sobrecarga em prontos-socorros, hospitais e setores de reabilitação, radiologia e fisioterapia.2,3
Essas constatações direcionaram a OMS a classificar o trânsito como um problema de Saúde Pública, além de terem estimulado a Organização das Nações Unidas (ONU) a proclamar o período de 2011 a 2020 como a Década de Ação pela Segurança no Trânsito.3
No relatório anual da OMS publicado em 2015, o Brasil ocupava o 3º lugar entre os países com maior número absoluto de mortes causadas pelo trânsito, com taxa de mortalidade de 23,4 para cada 100 mil habitantes.2 Entre os fatores que levam o país a essa posição estão (i) excesso de velocidade, (ii) condições dos veículos e das vias, (iii) falta de adesão ao uso de equipamentos de segurança, (iv) qualidade insatisfatória dos transportes públicos e (v) maior facilidade de acesso para a aquisição de veículo próprio - especialmente motocicletas, que contribuíram para o aumento da frota de veículos em um curto espaço de tempo. Outrossim, não houve investimentos - na mesma velocidade - na reestruturação dos centros urbanos, fiscalização e educação de trânsito para responder a essa nova demanda.4,5
O consumo de álcool e outras substâncias psicoativas por motoristas é outro fator contribuinte para a elevada mortalidade por acidentes de trânsito no Brasil. De acordo com Abreu et al, essa contribuição relaciona-se com uma postura cultural, uma vez que é prevalente o uso de bebidas alcoólicas entre as vítimas.6
No município de Marília, estado de São Paulo, tem-se verificado uma situação análoga à nacional sobre os agravos de trânsito. Em 2012, a morbidade hospitalar associada ao trânsito foi de 664 internações. Naquele mesmo ano, o número de óbitos por acidente de trânsito no município alcançou 78, valor máximo dentro da série histórica de 1997 a 2012, muito acima da média de 59 óbitos anuais nesse período.7
Diante do exposto, o presente estudo sobre os acidentes de trânsito no município justifica-se devido à relevância do agravo e ao alto custo social e econômico para as pessoas, famílias, serviços de saúde e segurança, além de ser considerado um importante problema de Saúde Pública, evidenciado pelo elevado números de internações, a sobrecarregar os serviços de atenção às urgências. A partir de seus resultados, é possível delinear intervenções mais efetivas, direcionadas ao perfil dos acidentados no município.
O presente estudo teve por objetivo descrever o perfil das vítimas de acidentes e óbitos relacionados ao trânsito em Marília, São Paulo, Brasil.
Métodos
Trata-se de um estudo descritivo, realizado no município de Marília, localizado no interior do estado de São Paulo, com população estimada de 230.336 habitantes em 2014.8 O município é polo regional nos setores de Educação e prestação de serviços públicos e privados. Marília também é referência regional em saúde para 62 municípios: conta com cinco hospitais gerais, um psiquiátrico, uma maternidade, um pronto-socorro público universitário, um Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e três de resgate pelo corpo de bombeiros, além de diversos serviços ambulatoriais de saúde.9
Foram utilizados dados obtidos nos Boletins de Ocorrência (BO) de acidentes de transporte terrestre (ATT) em Marília no ano de 2012, acessados junto à Delegacia Seccional de Polícia de Marília. Utilizou-se uma planilha criada na Plataforma Visual Basic For Applications (Excel), para facilitar a extração dos dados dos BO impressos.
Foram consideradas as seguintes características das vítimas:
- sexo (masculino; feminino; ignorado);
- faixa etária (em anos: 0-9; 10-19; 20-29; 30-39; 40-49; 50-59; ≥60; ignorado);
- escolaridade (sem escolaridade; 8 anos ou menos de estudo; mais de 8 anos de estudo; ignorado);
- ocupação dos envolvidos (comércio, atividades auxiliares e administrativas; prestação de serviços; transporte e comunicação; aposentado/pensionista, dona de casa e desempregado; estudante/menor de idade; outras ocupações; ignorado);
- hora da ocorrência;
- dia da semana da ocorrência;
- tipo de veículo (automóvel/caminhoneta; motocicleta/motoneta; bicicleta; caminhão/trator; ônibus/micro-ônibus; pedestre; desconhecido/ignorado); e
- número de envolvidos.
Os dados relacionados aos óbitos foram obtidos das Declarações de Óbito (DO) por meio de fichas impressas do banco de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), disponibilizadas pela Secretaria Municipal de Saúde. Foram incluidos todos os óbitos por ATT ocorridos na cidade de Marília no ano de 2012. As variáveis utilizadas para delinear o perfil dos óbitos foram:
- sexo (feminino; masculino);
- faixa etária (em anos: ≤9; 10-19; 20-29; 30-39; 40-49; 50-59; ≥60; ignorado);
- raça/cor da pele (branca; preta; amarela; parda; ignorada);
- situação conjugal (solteiro; casado; viúvo; separado/divorciado; união estável; ignorado);
- escolaridade (sem escolaridade; 8 anos ou menos de estudo; mais de 8 anos de estudo; ignorado);
- residência (Marília; outros municípios; ignorado); e
- local de ocorrência (hospital; via pública).
Os coeficientes de mortalidade por acidentes de trânsito foram calculados para 100 mil habitantes, tendo como numerador os óbitos por acidentes de trânsito, e como denominador, o número de habitantes de Marília. O tamanho da população foi obtido do Censo Demográfico 2010, realizado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Adicionalmente, foram estimados intervalos de confiança de 95% (IC95%) dos coeficientes de mortalidade.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina de Marília: Parecer CAAE no 25420913.9.0000.5413, de janeiro de 2014.
Resultados
Um total de 1.537 BO de acidentes de trânsito foram registrados no ano de 2012, envolvendo 3.257 indivíduos. A maior parte dos envolvidos nesses acidentes eram homens (67,3%). A faixa etária mais afetada foi a dos jovens de 20 a 29 anos (33,0%), seguida pelas idades de 30 a 39 (20,3%) e 40 a 49 (14,5%). Observou-se preponderância de indivíduos que estudaram por mais de 8 anos (55,7% das observações com registro sobre escolaridade), não obstante ter-se observado elevada proporção de informação ignorada sobre escolaridade (28,3%), como também sobre ocupação (21,0%) (Tabela 1).
Tabela 1 - Características das pessoas envolvidas nos acidentes de trânsito no município de Marília, São Paulo, 2012

Nota: Foram excluídos óbitos ignorados quanto a sexo (1,7%), faixa etária (0,6%), escolaridade (28,3%) e ocupação (21,0%).
Os ATT registrados em BO foram mais frequentes às quintas-feiras (16,8%), sextas-feiras (15,7%) e quartas-feiras (15,3%) (Figura 1 a).
Os horários do dia com maior ocorrência de ATT foram as 8 (6,8%), 13 (7,2%) e entre 16 e 19 (28,8%) horas. Verificou-se que o período entre uma e seis horas da manhã foi marcado por menor número de ATT (Figura 1 b).
Os motociclistas foram os principais envolvidos em ATT (47,6%), seguidos pelos ocupantes de automóveis (41,7%). Os principais locais de ocorrência dos acidentes foram cruzamentos de vias (35,2%), avenidas (33,2%) e ruas (21,2%). As motocicletas/motonetas predominaram entre os veículos envolvidos (47,6%), seguidas pelos automóveis/caminhonetas (41,7%) (Tabela 2).
Tabela 2 - Pessoas envolvidas nos acidentes de trânsito segundo tipo de transporte e local de ocorrência no município de Marília, São Paulo, 2012

Dos 78 óbitos por ATT registrados em Marília no ano de 2012, predominaram vítimas do sexo masculino (n=61), na idade acima de 50 anos (n=31). Entre os homens, destacaram-se os solteiros (25/61), enquanto entre as mulheres, as casadas (6/17). Quanto ao local de ocorrência dos óbitos, prevaleceram hospitais (n=40) e vias públicas (n=38), destacando-se as mortes ocorridas nas rodovias (n=32) (Tabela 3).
Tabela 3 - Características dos óbitos por acidentes de trânsito segundo sexo no município de Marília, São Paulo, 2012

Nota: Foram excluídos óbitos ignorados quanto à faixa etária (1 masculino), raça/cor da pele (1 masculino), situação conjugal (3 masculinos), escolaridade (11 masculinos e 3 femininos) e residência (2 masculinos).
Para o cálculo do valor total, foram consideradas as categorias ignoradas.
As principais vítimas fatais foram motociclistas (n=23), ocupantes de automóveis (n=19) e pedestres (n=16).
Os coeficientes de mortalidade mais elevados foram observados na faixa etária dos 50 aos 59 anos, em ambos os sexos: entre os homens nessa faixa etária, ocorreram 113 mortes por 100 mil habitantes (IC95%: 51,6;174,4), enquanto para as mulheres na mesma idade, foram 30 óbitos por 100 mil habitantes (IC95%: 0,6; 59,6) (Tabela 4).
Discussão
Indivíduos do sexo masculino e da faixa etária de 20 a 29 anos foram as principais vítimas dos ATT registrados em BO em Marília. Quase metade do total desses acidentes teve motocicletas/motonetas envolvidas. A maioria ocorreu em cruzamentos de vias, com maior frequência às 8, 13 e 19 horas. Entre os óbitos, predominaram vítimas do sexo masculino e na faixa etária dos 50 anos ou mais. Os acidentes que levaram aos óbitos ocorreram, principalmente, em rodovias.
A predominância de vítimas do sexo masculino é semelhante à encontrada em inúmeros estudos, realizados em diferentes cidades brasileiras.4,10-13 Acredita-se que tal fato se deva ao comportamento social e cultural de maior exposição aos riscos dessas ocorrências, como velocidade excessiva, maior consumo de álcool e agressividade no trânsito.10,12
Em diversos estudos sobre acidentes de trânsito, realizados entre 1997 e 2014, constatou-se o predomínio de vítimas jovens, corroborando os resultados encontrados em Marília.11-15 Esse fato ocorre devido ao comportamento impetuoso e destemido intrínseco à idade. Contribuem para essa estatística, imperícia, imprudência, busca por novas emoções e abuso de álcool e/ou drogas nesse grupo etário, que subestima os riscos, conduz seus veículos arriscadamente e desrespeita as regras de trânsito.11,16
Em relação à escolaridade dos envolvidos nos ATT, resultados de estudo transversal17 realizado com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) revelam maior envolvimento de pessoas com Ensino Fundamental completo e Médio incompleto, o que confirma os resultados encontrados no presente estudo. O elevado número de acidentados com grau de escolaridade ignorada, 28,3%, indica uma dificuldade na sistematização dos dados nos BO e prejudica a comparação com outros estudos.
Pesquisa realizada na cidade de São Paulo, em 2011, evidenciou que os acidentes com vítimas ocorreram, predominantemente, às sextas-feiras e aos sábados, sofrendo uma queda aos domingos.18 Em Marília, observou-se perfil semelhante, porém com pico dos acidentes às quintas-feiras. Essa predominância de acidentes com o findar da semana pode ser atribuída ao maior consumo de bebidas alcoólicas pelos motoristas nesse período. Além disso, em cidades com estudantes universitários, como Marília, ocorre maior número de festas e consequente aumento do consumo de álcool. A diminuição na ocorrência de acidentes aos domingos, possivelmente, deve-se ao menor fluxo de veículos.
Em relação ao horário de maior frequência dos acidentes de trânsito, a maior incidência no início da manhã, horário do almoço e período do fim da tarde ao início da noite, com picos às oito, 13 e após 16 até 19 horas, sugere que essas ocorrências associam-se ao elevado fluxo de veículos nesses horários e à maior fadiga do condutor no final do dia.
A predominância de acidentes envolvendo motocicletas, segundo este estudo, assemelha-se aos resultados obtidos por outros pesquisadores na identificação dos principais envolvidos em acidentes de trânsito, em estudos realizados nas cidades de São Paulo-SP, Londrina-PR, Porto Alegre-RS, Tubarão-SC, Rio Branco-AC, Vitória-ES e Palmas-TO, e no estado de Pernambuco, estudos estes desenvolvidos entre os anos de 1997 e 2014.11-13,19,20 Os automóveis representam 67,2% da frota de veículos em Marília-SP, enquanto as motocicletas apenas 27,0%;21 entretanto, acidentes com motocicletas vitimizam maior número de pessoas no município. Estes resultados assemelham-se aos obtidos por diversos autores.5,11,22 Costuma-se atribuir esse fato à maior vulnerabilidade proporcionada pela motocicleta, comparada aos demais veículos a motor.11 Além do que, motocicletas representam um importante meio de trabalho, sendo utilizadas de forma crescente, em razão de seu baixo custo de aquisição e manutenção.23
Especialistas em trânsito destacam, como características comuns aos cruzamentos de vias com alto índice de acidentes: locais de grande fluxo, com presença de sinalização e semáforos, alguns inclusive dotados de equipamentos de fiscalização eletrônica, poucos com tempo exclusivo para pedestres. As causas de ocorrências nesses locais são, em sua maioria, atribuídas à desobediência à sinalização, seja avançando semáforos, seja desrespeitando a via preferencial. Ressalta-se mais um fator contribuinte para maior ocorrência de acidentes nesses locais: a má condição das vias, com visibilidade inadequada em cruzamentos, dificultada por obstáculos.24 O presente estudo evidencia maior ocorrência dos ATT em cruzamentos de vias e avenidas.
Os dados mostram que acidentes envolvendo automóveis predominam em rodovias, fato constatado em um estudo sobre impactos causados por acidentes no trânsito em rodovias do Distrito Federal, Rio Grande do Sul e São Paulo, no período 2004-2005, com evidências de mais de 60% dos casos envolvendo veículos automotores.25 As causas de ATT nesses locais podem ser atribuídas, majoritariamente, ao excesso de velocidade praticado pelos condutores.
De 2006 a 2011, a matriz rodoviária brasileira foi responsável por cerca de 60% das cargas e 95% dos passageiros transportados, com o papel ativo de caminhões e veículos de cargas e, consequentemente, significativo número de acidentes de trânsito envolvendo esses veículos. Motoristas de caminhões, especialmente os autônomos, além da baixa remuneração, desenvolvem uma atividade estressante e contam com pouco treinamento, além de serem submetidos a grandes pressões para entregar mercadorias dentro de prazos determinados, o que gera carga de trabalho acima da recomendada. Trata-se de uma realidade de extrema importância e risco para a segurança do trânsito no país, embora pouco estudada.5
Além da utilização das vias rodoviárias para intercâmbio comercial ou transporte de passageiros,26 há o deslocamento por elas motivado pelo trabalho ou mesmo pelo lazer, de tal forma a explicar porque automóveis, principalmente os particulares, permanecem como os principais envolvidos em acidentes rodoviários. Marília apresenta uma particularidade nesse sentido: rodovias que cruzam o perímetro urbano do município são utilizadas como verdadeiras avenidas.
A maior mortalidade em homens solteiros, encontrada aqui, pode estar relacionada ao fato de a ausência de uma esposa/companheira ou filhos fazer com que esses homens tomem menos cuidado com suas vidas.5
O perfil etário da mortalidade por acidentes de trânsito, segundo os resultados da presente pesquisa, revela pequena divergência em relação a outros trabalhos: em Marília, os maiores coeficientes foram observados a partir de 50 anos, enquanto estudos sobre outras localidades destacaram a faixa etária a partir dos 60 anos.27,28 Provavelmente, esse achado deve-se à pequena amostra do estudo e à análise de apenas um ano de mortalidade, com sobreposição dos intervalos de confiança.
Se a literatura aponta elevada taxa de mortalidade na faixa etária a partir dos 60 anos, ela decorre, principalmente, de atropelamentos, dada a menor mobilidade e agilidade da população idosa na travessia de ruas, suas deficiências auditivas e visuais, reflexos reduzidos e maior fragilidade diante de injúrias e danos corporais. Estudo norte-americano, ao examinar acidentes ocorridos com pedestres entre 2000 e 2010, observou que a taxa de mortalidade de idosos foi mais que o dobro da correspondente aos não idosos. Intervenções futuras, com o propósito de reduzir a incidência e severidade dos acidentes de trânsito envolvendo pedestres, devem se concentrar nessas populações.1,28
A grande quantidade de óbitos por acidentes de trânsito ocorridos fora do ambiente hospitalar, observada em Marília, pode estar relacionada a um atendimento pré-hospitalar ineficiente, pelo trauma, como também à severidade das lesões nos acidentados. Abordar deficiências no cuidado pré-hospitalar representa um mecanismo de melhoria no prognóstico dos politraumatizados.29
Os dados desta investigação revelam que homens e adultos jovens foram os mais envolvidos em acidentes de trânsito. A morte prematura de adultos jovens, em uma fase de vida de alta produtividade, implica perda de possibilidade de contribuição para a sociedade com sua capacidade intelectual e econômica. Estudo realizado no estado de Pernambuco, em 2007, enfatiza a necessidade de uma intervenção imediata com o objetivo de evitar os acidentes de trânsito nesse significativo contingente, malgrado fatores característicos desse contingente, associados a imperícia e imprudência, como o abuso na ingestão de álcool e/ou drogas.30
As limitações deste estudo são inerentes ao uso de dados secundários, relacionadas à cobertura e qualidade do Sistema de Informações sobre Mortalidade e dos Boletins de Ocorrência. Não obstante a melhora na cobertura do SIM, ocorre subnotificação dos óbitos cuja causa básica é o acidente de transporte, na medida em que este pode ser codificado na categoria ‘Violência de intenção indeterminada’, subestimando os resultados encontrados.30 Também em muitos casos de óbitos de acidentados no trânsito, com longo período de internação hospitalar, é omitido o ATT como causa básica nas Declarações de Óbito. Ademais, os dados registrados nos Boletins de Ocorrência apresentaram qualidade aquém da esperada, com um importante número de informações ignoradas - o que impede melhor caracterização dos acidentes de trânsito terrestre e de suas vítimas, em Marília. A ausência de um sistema de registro de BO informatizado contribuiu para essas dificuldades.
O estudo possibilitou detectar dados análogos aos do cenário nacional quanto ao sexo, faixa etária, escolaridade, horário de ocorrência, tipo de veículo envolvido e local de ocorrência dos acidentes de trânsito. Em relação ao dia da semana com maior frequência de acidentes, houve divergências devido às características particulares de Marília enquanto cidade universitária. Destarte, essas mesmas peculiaridades podem ser utilizadas em políticas de segurança do trânsito no município.
Intervenções com o objetivo de evitar os acidentes de trânsito devem priorizar investimentos para melhoria da iluminação e sinalização das ruas e avenidas, bem como na manutenção das vias públicas. Ações preventivas, vislumbrando maior efetividade, devem-se respaldar em pesquisas de perfil epidemiológico, não apenas no âmbito nacional, senão também local, respeitando as especificidades regionais.
Instruções sobre as intercorrências no trânsito devem-se implementar desde cedo, com ações educativas, de forma a conscientizar os futuros condutores. Em adição, campanhas e programas baseados nas Legislação de Trânsito poderiam mudar o comportamento dos motoristas e pedestres, caso do ‘Projeto Vida no Trânsito’, uma das estratégias dentro do conjunto de intervenções previstas no Plano Nacional da Década de Segurança Viária da ONU, e do ‘Programa Detran nas Escolas’, que visa implementar a educação para o trânsito na rede pública de ensino.