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Epidemiologia e Serviços de Saúde

versão impressa ISSN 1679-4974versão On-line ISSN 2237-9622

Epidemiol. Serv. Saúde vol.28 no.1 Brasília mar. 2019  Epub 12-Mar-2019

http://dx.doi.org/10.5123/s1679-49742019000100013 

ARTIGO ORIGINAL

Avaliação da implantação do Sistema de Informações sobre Mortalidade no estado de Pernambuco em 2012*

Evaluación de la implantación del sistema de información sobre mortalidad en el estado de Pernambuco, Brasil, en 2012

Barbara de Queiroz Figueirôa (orcid: 0000-0002-5986-022X)1  , Paulo Germano de Frias (orcid: 0000-0003-4497-8898)2  , Lygia Carmen de Moraes Vanderlei (orcid: 0000-0002-3610-3699)2  , Suely Arruda Vidal (orcid: 0000-0002-4268-520X)2  , Patrícia Ismael de Carvalho (orcid: 0000-0001-6820-0613)3  , Cândida Correia de Barros Pereira (orcid: 0000-0001-9456-9721)3  , Idalacy de Carvalho Barreto (orcid: 0000-0002-6997-4810)3  , Lidian Franci Batalha Santa Maria (orcid: 0000-0002-3307-5186)3  , Pedro Israel Cabral de Lira (orcid: 0000-0002-1534-1620)1 

1Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente, Recife, PE, Brasil

2Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira, Programa de Pós-Graduação em Avaliação em Saúde, Recife, PE, Brasil

3Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, Secretaria Executiva de Vigilância em Saúde, Recife, PE, Brasil

Resumo

Objetivo:

avaliar a implantação do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) em Pernambuco, Brasil.

Métodos:

pesquisa avaliativa; utilizaram-se dados primários (questionários) e secundários (SIM) referentes aos municípios para estimar o grau de implantação (GI), confrontando indicadores de estrutura e processo aos de resultado; consolidaram-se os dados por região e estado.

Resultados:

o SIM estava parcialmente implantado no estado (70,6%) e regiões (66,3 a 74,8%); ‘gestão’ (75,1%), ‘emissão e preenchimento’ (79,1%) e ‘processamento’ (71,7%), parcialmente implantados; ‘coleta’ (80,7%), implantada; ‘distribuição e controle’ (49,7%) e ‘análise e divulgação’ (58,0%), com implantação incipiente; encontraram-se valores superiores a 90% para cobertura, óbitos com causa básica definida, municípios com transferência de dados mensal e declarações de óbito digitadas e enviadas oportunamente; verificou-se coerência entre GI e indicadores de resultado, estes melhores quanto maior o GI.

Conclusão:

o SIM mostrou-se parcialmente implantado, por inadequações na distribuição, controle, análise e divulgação, influenciando desfavoravelmente os efeitos observados.

Palavras-chave: Avaliação em Saúde; Sistemas de Informação em Saúde; Estatísticas Vitais; Registros de Mortalidade

Resumen

Objetivo:

evaluar la implantación del Sistema de Informaciones sobre Mortalidad (SIM) en Pernambuco, Brasil.

Métodos:

investigación evaluativa de implantación; se utilizaron datos primarios (cuestionarios) y secundarios (SIM) de los municipios para estimar el grado de implantación (GI), comparando indicadores de estructura y proceso a los de resultado; los datos fueron consolidados por región y estado.

Resultados:

el SIM se encontraba parcialmente implantado en el estado (70,6%) y regiones (66,3% a 74,8%); ‘gestión’ (75,1%), ‘emisión y llenado’ (79,1%) y ‘procesamiento’ (71,7%), parcialmente implantados; ‘colecta’ (80,7%), implantada; ‘distribución y control’ (49,7%) y ‘análisis y divulgación’ (58,0%), con implantación incipiente; se observó más del 90% de cobertura para óbitos con causa básica definida, municipios con transferencia de datos mensuales y declaraciones de defunción digitadas y enviadas oportunamente; se verificó coherencia entre GI e indicadores de resultado, siendo estos mejores cuanto mayor es el GI.

Conclusión:

el SIM se mostró parcialmente implantado, en razón de inadecuaciones en la distribución, control, análisis y divulgación, influenciando desfavorablemente los efectos observados.

Palabras clave: Evaluación en Salud; Sistemas de Información en Salud; Estadísticas Vitales; Registros de Mortalidad

Introdução

O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), criado na década de 1970, é frequentemente avaliado por meio dos atributos de qualidade, com ênfase na confiabilidade, completude e cobertura.1,2 Essas investigações buscam evidenciar obstáculos habituais, especialmente nas regiões menos desenvolvidas do país.3-5 No entanto, o destaque para dimensões específicas do sistema limita o conhecimento sobre a produção dos dados vitais e seu nível de implantação, com repercussões na acurácia e uso da informação.6

A necessidade de avaliações direcionadas à geração da informação no SIM foi evidenciada por estudos voltados à identificação de dificuldades em sua operacionalização no ambiente institucional.7,8 Avaliações que considerem a estrutura e o processo necessários para a obtenção dos dados no contexto dos serviços de saúde contribuem, positivamente, para o uso dos princípios teóricos e metodológicos da avaliação em saúde na melhoria dos sistemas de informações de registro contínuo.6,9,10

A avaliação processual dos sistemas de informações vitais possibilitou especificar fatores explicativos sobre os resultados alcançados. O potencial dessas análises foi ampliado quando elas envolveram aspectos normativos como uma de suas etapas.6,9 Esse procedimento metodológico permitiu verificar o grau de adequação da estrutura e do processo, a partir de critérios e normas, ao identificar se os resultados esperados correspondiam aos observados no contexto dos serviços, e tornou a intervenção e seu modo de operar mais compreensíveis.11

Ainda que experiências avaliativas tenham incorporado aspectos da operacionalização dos sistemas de informações em saúde no ambiente organizacional,6,9 lacunas empíricas restringem o conhecimento sobre a totalidade do processo de produção dos dados do SIM, seus problemas específicos e implicações de implantação sobre os resultados alcançados. Analisar o sistema sob a perspectiva de sua implantação pode superar as limitações das avaliações comumente realizadas, cujo foco se restringe aos resultados alcançados, além de orientar ações voltadas à melhoria dos aspectos estruturais e processuais, com possibilidade de impacto na qualidade do sistema.6,9

Este trabalho objetivou avaliar a implantação do SIM em Pernambuco, no ano de 2012.

Métodos

Pesquisa avaliativa sobre análise de implantação, que aprecia a influência da variação da implantação do SIM sobre os resultados observados.12 Adotou-se como estratégia o estudo de caso único13 em Pernambuco, nos âmbitos do estado e suas regiões de saúde.

O SIM é operacionalizado nas secretarias de saúde dos 185 municípios pernambucanos, distribuídos nas 12 regiões político-administrativas correspondentes às regiões de saúde do estado. As secretarias municipais são responsáveis por coletar, processar, transmitir e disseminar informações sobre mortalidade, produzidas mediante a emissão da ‘Declaração de Óbito’. O fluxo dessa informação é hierarquizado: seus dados são enviados pela gestão municipal do sistema para a Secretaria de Estado da Saúde e o Ministério da Saúde.1

Neste estudo, foram incluídos 184 municípios do estado e excluído apenas um, por não dispor de técnicos e gestores para operacionalizar e gerir as rotinas do sistema. A avaliação foi desenvolvida em quatro etapas:

Etapa 1 - Atualização do modelo lógico do SIM

Para explicitar a intervenção avaliada, atualizou-se o modelo lógico do SIM, previamente elaborado,14 mediante documentos oficiais do sistema, em uma abordagem normativa que incluiu as portarias ministeriais de nº 116/2009, nº 1708/2013 e nº 47/2016, os manuais de procedimentos e preenchimento da DO, e o planejamento das ações desenvolvidas nos diferentes âmbitos de gestão do sistema. Essa composição considerou as dimensões de estrutura (recursos físicos e humanos) e de processo (atividades desenvolvidas), em seis componentes envolvidos na geração da informação: gestão; distribuição e controle; emissão e preenchimento; coleta; processamento; e análise e divulgação (Figura 1).

a) CID-10: Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde - 10ª Revisão.

Figura 1 - Síntese do modelo lógico do Sistema de Informações sobre Mortalidade 

Etapa 2 - Elaboração da matriz de indicadores e julgamento, e coleta dos dados

Elaborou-se a matriz de indicadores e os critérios de julgamento, com base no modelo lógico do SIM (Figura 2). Na seleção dos indicadores, considerou-se a validade de conteúdo, sua relevância, disponibilidade, facilidade de obtenção, simplicidade do cálculo e oportunidade. Para cada componente do modelo lógico, foram estabelecidos indicadores de estrutura e processo que expressam o grau de implantação e de resultados. Para os indicadores de estrutura e processo, foram definidos parâmetros normativamente derivados, quando disponíveis nos documentos institucionais do Ministério da Saúde e/ou da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco. Quando inexistia definição clara na norma, os critérios foram empiricamente derivados, arbitrados pelos pesquisadores e estipulados em consonância com a rotina do serviço.

a) Fonte de verificação empírica.

b) Fonte de verificação normativa.

Figura 2 - Matriz de indicadores e julgamento do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), Pernambuco, 2012 

As variáveis e indicadores encontram-se na (Figura 2), matriz dos 76 indicadores, distribuídos por componentes: 23 na dimensão de estrutura, 33 na de processo e 20 na de resultado, com seus respectivos critérios de julgamento. A partir dos indicadores selecionados, elaborou-se o instrumento para coleta de dados, segundo os componentes do SIM estabelecidos para avaliação.

Os dados primários foram coletados no período de novembro e dezembro de 2013 - referentes às informações de 2012 -, mediante aplicação do questionário estruturado junto aos responsáveis pelo SIM nos municípios estudados, além da observação direta de aspectos estruturais e processuais em todas as secretarias municipais de saúde incluídas. Os dados secundários, relacionados aos óbitos ocorridos em 2012, foram obtidos da base do SIM estadual. As informações provenientes dos dados primários e secundários foram consolidadas por região de saúde e estado, e integraram os indicadores que subsidiaram a avaliação do grau de implantação e sua influência sobre os resultados.

Etapa 3 - Classificação do grau de implantação

Para definição do grau de implantação, foram utilizados indicadores de estrutura e processo. A classificação se deu por componente e, ao final, definiu-se o grau de implantação do SIM no estado e suas regiões de saúde. Cada indicador foi obtido pela razão dos valores alcançados e esperados quanto ao número de municípios com recursos físicos ou materiais e atividades realizadas. O grau de implantação do SIM correspondeu à razão entre as somas dos graus de implantação alcançados e dos esperados, por componente do sistema.

O grau de implantação foi classificado como ‘implantado’ quando alcançou percentuais de 80,0 a 100,0%, ‘parcialmente implantado’ (60,0 a 79,9%), ‘incipiente’ (40,0 a 59,9%) e ‘não implantado’ (<40,0%), arbitrado pelos autores com base em estudo prévio sobre o SIM.14

Etapa 4 - Análise dos resultados produzidos e da influência do grau de implantação sobre estes resultados

Para avaliar os resultados produzidos, foi calculada a razão entre os valores alcançados e os esperados para cada indicador de resultado, e sua análise foi realizada a partir da observação do desfecho por componente do sistema, tendo como referência a matriz de indicadores (Figura 2). O grau de implantação, observado por componente do SIM na etapa 3, foi comparado aos indicadores de resultado, com base no modelo lógico do sistema, estabelecendo-se relações plausíveis para a identificação de elementos que exerceram influência no alcance dos resultados produzidos.

Considerando-se o controle de vieses, a estratégia utilizada para ampliar o rigor do estudo foi a triangulação das informações referentes às dimensões de estrutura e de processo, mediante (i) a aplicação de questionário aos participantes e (ii) a observação direta dos locais de operacionalização do SIM nas secretarias municipais de saúde, a partir de checklist.

O projeto do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira: Parecer no 2.457.367, de 27 de dezembro de 2017; Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) n° 79846017.3.0000.5201.

Resultados

O SIM estava parcialmente implantado em Pernambuco (70,6%) - variando, segundo a região de saúde, entre 66,3 e 74,8%; da mesma forma, parcialmente implantados, encontravam-se seus componentes ‘gestão’ (75,1%), ‘emissão e preenchimento’ (79,1%) e ‘processamento’ (71,7%). A ‘coleta’ encontrava-se ‘implantada’ no estado (80,7%) e na maioria das regiões de saúde, à exceção de cinco: três ‘parcialmente implantadas’ e duas com implantação ‘incipiente’. O componente ‘distribuição e controle’ estava com sua implantação ‘incipiente’ no estado (49,7%) e ‘não implantado’ em três regiões, enquanto a ‘análise e divulgação’ ‘incipiente’ no estado (58,0%) e parcialmente implantada em cinco regiões (Tabela 1).

Tabela 1 - Grau de implantação (%) do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) por componentes e âmbito integral, no estado e regiões de saúde, Pernambuco, 2012 

Componente Regiões de saúde Pernambuco
I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII
Gestão 67,4 83,9 78,0 67,9 76,7 79,5 76,2 72,2 80,3 74,3 82,2 70,0 75,1
Distribuição e controle 51,0 64,0 25,5 67,5 51,0 52,3 17,1 51,4 23,6 60,0 52,0 44,0 49,7
Emissão e preenchimento 88,8 77,1 89,2 72,2 78,3 75,3 78,6 81,8 80,6 75,0 75,0 73,8 79,1
Coleta 63,5 80,0 100,0 83,3 75,0 51,7 61,9 93,3 100,0 91,2 57,7 96,4 80,7
Processamento 74,7 67,6 71,8 75,3 68,3 70,3 68,7 69,0 81,3 75,3 66,7 64,3 71,7
Análise e divulgação 70,2 53,2 52,5 61,5 50,9 50,0 68,4 61,5 66,2 50,0 51,3 56,1 58,0
SIM 70,5 73,2 71,1 70,5 69,3 69,4 67,0 70,2 74,8 71,9 70,0 66,3 70,6

Nota: Grau de implantação - implantado (80,0 a 100,0%); parcialmente implantado (79,9 a 60%); implantação incipiente (40,0 a 59,9%); não implantado (<40,0%).

O componente ‘gestão’ mostrou que 69,6% dos municípios monitoravam pelo menos 50,0% dos indicadores operacionais; e que 62,0% realizavam educação permanente no estado, com variações de 35,0 a 100,0% entre as regiões (Tabela 2). O componente ‘distribuição e controle’ mostrou que, entre as declarações de óbito distribuídas e cadastradas, 90,1% das utilizadas foram informadas ao SIM, com resultado superior ou igual a 79,0% entre as regiões de saúde. O componente ‘emissão e preenchimento’ do SIM estadual mostrou 94,9% de óbitos com causa básica definida, e valores semelhantes para as regiões de saúde - à exceção de três destas. A completude das DOs gerais consolidada para o estado foi de 51,7%; e quanto ao bloco IV, referente aos óbitos infantis, de 66,8%, com resultados maiores em três regiões. O componente ‘coleta’ do SIM evidenciou cobertura de 100% no estado, valor equivalente para as regiões; a proporção de municípios com cobertura do SIM superior a 90% foi de 82,1%.

Tabela 2 - Grau de implantação (%) e indicadores de resultado (%) do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) por componente, no estado e regiões de saúde, Pernambuco, 2012 

GI Indicador Regiões de saúde Pernambuco
I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII
Componente - Gestão
75,1 % de municípios que monitora ≥50% dos indicadores operacionais do SIM 90,0 45,0 45,5 100,0 15,0 100,0 85,7 85,7 72,7 100,0 100,0 10,0 69,6
% de municípios com educação permanente realizada contabilizada 35,0 70,0 95,5 50,0 50,0 61,5 100,0 57,1 54,5 75,0 70,0 50,0 62,0
Componente - Distribuição e controle
49,7 % de municípios com quantitativo de Declarações de Óbito (DOs) distribuídas contabilizadas 40,0 100,0 72,7 90,6 85,0 69,2 42,9 42,9 9,1 75,0 80,0 30,0 68,5
Razão entre DOs distribuídas cadastradas no SIM e DOs utilizadas informadas no SIM 91,4 90,9 88,1 90,2 86,4 85,9 84,4 92,1 79,0 86,5 90,1 89,7 90,1
Componente - Emissão e preenchimento
79,1 % de DOs de óbitos infantis com ≥90% de preenchimento do bloco IV 75,7 62,7 53,5 74,0 59,3 62,0 44,4 53,3 60,2 50,0 55,8 68,2 66,8
% de DOs de óbitos gerais com ≥90% de preenchimento 59,6 45,8 48,5 54,4 40,9 41,8 50,1 43,3 23,9 30,8 32,5 52,2 51,7
% de óbitos com causa básica definida 98,4 96,3 95,8 93,5 86,7 84,3 90,7 79,5 94,4 96,6 94,2 94,2 94,9
Componente - Coleta
80,7 Razão entre óbitos captados pelo SIM e estimados 98,3 103,0 97,9 99,7 105,6 105,9 96,4 92,9 104,7 99,8 97,7 102,0 100,0
% de municípios com ≥90% de cobertura do SIM 95,0 75,0 81,8 75,0 90,0 92,3 42,9 85,7 81,8 83,3 70,0 100,0 82,1
Componente - Processamento
71,7 % de municípios com, no mínimo, um (1) envio de arquivo de transferência por mês no período de análise 97,1 93,3 91,7 95,3 95,4 91,0 97,6 94,0 93,9 87,5 98,3 97,5 94,3
% de DOs digitadas e enviadas no prazo oportuno, até 60 dias do mês de ocorrência 90,0 86,1 82,4 92,1 87,3 88,7 94,0 91,9 98,6 91,5 92,2 89,0 90,1
% de municípios com ≥80% das DOs digitadas e enviadas no prazo oportuno 85,0 50,0 54,5 75,0 80,0 69,2 71,4 85,7 90,9 83,3 90,0 80,0 73,9
% de óbitos de mulheres em idade fértil notificados ao SIM até 30 dias da ocorrência 31,8 39,5 32,1 51,1 32,9 47,3 78,0 75,5 56,0 54,4 57,0 29,8 40,2
% de óbitos maternos notificados ao SIM até 30 dias da ocorrência 18,8 NA 22,2 - - NA 100,0 100,0 62,5 NA - - 26,2
% de óbitos fetais notificados ao SIM até 30 dias da ocorrência 33,1 36,0 37,6 66,7 24,7 61,5 90,6 92,1 51,6 66,7 82,9 42,2 48,1
% de óbitos infantis notificados ao SIM até 30 dias da ocorrência 25,5 23,2 26,8 50,2 22,2 48,8 80,9 89,2 62,5 27,5 64,9 19,7 38,6
Componente - Análise e divulgação
58,0 % de municípios com perfil epidemiológico elaborado 75,0 10,0 18,2 62,5 25,0 38,5 14,3 28,6 36,4 25,0 20,0 10,0 34,8
% de municípios com boletim epidemiológico elaborado 50,0 10,0 13,6 50,0 15,0 38,5 14,3 57,1 36,4 33,3 30,0 30,0 31,5
% de municípios que divulgam os perfis epidemiológicos elaborados 55,0 10,0 18,2 59,4 25,0 30,8 14,3 28,6 36,4 25,0 20,0 10,0 31,5
% de municípios que divulgam os boletins epidemiológicos elaborados 45,0 10,0 13,6 46,9 15,0 30,8 14,3 57,1 36,4 33,3 30,0 30,0 29,9

Nota:

GI: grau de implantação.

NA: não se aplica.

O componente ‘processamento’ evidenciou 94,3% de municípios com transferência de dados mensal e 90,1% de DOs digitadas e enviadas no prazo oportuno, com resultados semelhantes entre as regiões. Os indicadores de notificação dos óbitos de mulheres em idade fértil, maternos, fetais e infantis em até 30 dias da ocorrência permaneceram abaixo de 50% no estado. Quatro regiões não notificaram o óbito materno oportunamente. Os indicadores de ‘análise e divulgação’ apresentaram proporção inferior a 40%, no estado e na maioria das regiões (Tabela 2).

Discussão

Em Pernambuco, o SIM mostrou-se parcialmente implantado, com variações entre os componentes do sistema segundo regiões de saúde, revelando coerência com os resultados encontrados: tanto melhores quanto maior seu grau de implantação. O atendimento incompleto dos objetivos do SIM provém de inadequações na distribuição, controle, análise e divulgação dos dados, apesar de o sistema ter se constituído há mais de 30 anos e do reconhecimento de sua relevância para a análise, monitoramento e avaliação da situação de saúde.1-3

A atualização do modelo lógico e a elaboração da matriz de indicadores do SIM pela gestão estadual, sem a participação da instância federal do sistema, pode condicionar uma transitoriedade nos critérios de julgamento e, assim, necessitar de revisões periódicas. Apesar da impossibilidade de os resultados do estudo serem extrapolados, a validade interna do modelo lógico do sistema é explicitada por meio de um constructo teórico que mostra as relações de interdependência entre os componentes e seus conteúdos, historicamente construídos, podendo ser replicado em outros contextos, com ajustes.12,13

Os componentes ‘distribuição e controle’ e ‘análise e divulgação’ mostraram reduzida adesão dos indicadores processuais às normas estabelecidas, apontando para um processo de trabalho pouco satisfatório. O achado, semelhante ao encontrado para o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) nos municípios mineiros,9 é oposto aos do Sinasc em Pernambuco, onde prevaleceram os problemas estruturais.6

A análise por componente identificou falhas, a exemplo de municípios com baixo controle das Declarações de Óbito distribuídas, utilizadas e canceladas, o que pode favorecer o uso indevido, extravio e desvio de fluxo. Esse controle insuficiente sobre os formulários não só aumenta o custo para produzir e suprir as necessidades do sistema, como também revela sua reduzida capacidade de gestão. Da mesma maneira, pesquisas de busca ativa sinalizam problemas de operacionalização dos sistemas de informações vitais, como fluxos inadequados e utilização de formulários não oficiais, reflexo de pouco conhecimento normativo, sinalizando necessidades de aperfeiçoamento dos profissionais responsáveis pela operacionalização desses sistemas.4,6,7,15

Ainda que se revelem diferenças intra e inter-regionais na cobertura do SIM nos municípios avaliados, a elevada captação do sistema aponta para um acentuado processo de trabalho de coleta dos dados. Este achado ratifica as evidências sobre a ampliação da cobertura do SIM no estado de Pernambuco, com repercussões na confiabilidade do uso de seus dados para o cálculo dos indicadores de mortalidade,16-18 possibilitando o adequado monitoramento de pactos nacionais e internacionais.19

Os melhores resultados encontrados para os indicadores de transferência de lotes e envio de dados com regularidade, vinculados à liberação de recursos, em detrimento da notificação oportuna dos óbitos de mulheres em idade fértil, maternos, fetais e infantis, expressam a preponderância da racionalidade financeira sobre a epidemiológica, no processamento do SIM. São achados similares ao de estudo anterior, focado em municípios de pequeno porte do estado do Rio Grande do Sul.20 O retardo no conhecimento de eventos notificáveis dificulta o desencadeamento da vigilância, a reorientação da assistência e dos serviços de saúde para responder às necessidades da população,21,22 limitando, com frequência, o escopo de ações municipais, inadequadamente direcionadas à coleta e transmissão de dados às demais esferas gestoras.23

A incompletude das DOs, a escassa disseminação das informações e a reduzida educação permanente observada nas regiões de saúde de Pernambuco, resultantes da supervalorização das rotinas de coleta e transmissão de dados, relacionam-se à insuficiência de equipes e de qualificação técnica, dificultando a consolidação do sistema.20,23 Como esperado, o melhor preenchimento das DOs, encontrado nas áreas mais desenvolvidas da região metropolitana do Recife, capital do estado, seus contíguos territoriais e municípios-polo do estado, contrastou com a completude no preenchimento do documento nas regiões e localidades de menor acesso aos serviços de saúde, às capacitações dos profissionais e à atuação da vigilância no resgate de variáveis.24-26

Os resultados dos componentes do SIM estadual, ‘emissão e preenchimento’, ‘coleta’ e ‘processamento’, concatenaram-se com a influência do grau de implantação obtido, refletindo a adesão dos municípios às rotinas operacionais do sistema. Inversamente, a menor coerência dos componentes ‘gestão’, ‘distribuição e controle’ e ‘análise e divulgação’ sinaliza restrições às atividades gerenciais, dada a insuficiente capacitação da equipe técnica, de planejamento e monitoramento das ações e disseminação da informação. Esses achados refletem a concepção centralizadora e fragmentada dos sistemas de informações em saúde, historicamente concebidos para estabelecer uma rede de produção local da informação que respondesse às políticas nacionais.1,27

Não obstante o papel executor das ações promover empoderamento da gestão municipal,23 essa descentralização não significa apenas desconcentração de atividades mas o compartilhamento de poder decisório, com a promoção de autonomia da gestão e do processo de trabalho.27 Conferir poder técnico e administrativo às regiões de saúde e municípios seria uma alternativa apropriada à consolidação do SIM. Esse procedimento, aliado à incorporação de novas rotinas, favoreceria a operacionalização do sistema, com redução de omissão, sobreposição ou execução parcial das ações.6,28

O SIM mostrou-se parcialmente implantado no estado de Pernambuco, em razão de inadequações na distribuição, controle, análise e divulgação de dados, influenciando desfavoravelmente os efeitos observados, enquanto a coleta e a emissão e preenchimento dos dados obtiveram os melhores escores. Os objetivos do SIM poderão ser alcançados a partir da reorganização de todo o processo de produção dos dados, particularmente no âmbito dos serviços, onde a assistência à saúde das pessoas é prestada, e onde os óbitos ocorrem. Para tanto, são necessários investimentos adicionais na infraestrutura dos serviços de saúde, no fortalecimento dos núcleos hospitalares de epidemiologia e no aperfeiçoamento do processo de trabalho. Tais iniciativas, aliadas a avaliações periódicas, são imprescindíveis para a qualificação dos sistemas de informações vitais e, por conseguinte, para a acurácia nas análises das condições de saúde da população.29

Referências

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*Artigo originado de tese de doutorado intitulada ‘Avaliação da efetividade de intervenção para aprimoramento do Sistema de Informações sobre Mortalidade em Pernambuco: estudo quase experimental’, apresentada por Barbara de Queiroz Figueirôa junto ao Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente, da Universidade Federal de Pernambuco, em 8 de junho de 2018. Estudo financiado pelo Ministério da Saúde: Convênio no 779427/2012.

Recebido: 09 de Novembro de 2018; Aceito: 26 de Dezembro de 2018

Endereço para correspondência: Barbara de Queiroz Figueiroa - Estrada do Arraial, no 2385/2104, Tamarineira, Recife, PE, Brasil. CEP: 52051-380. E-mail: barbarafigueiroa@gmail.com

Contribuição dos autores

Figueirôa BQ, Frias PG e Lira PIC participaram da concepção, delineamento, análise e interpretação dos resultados. Figueirôa BQ contribuiu com a coleta dos dados. Figueirôa BQ, Frias PG e Lira PIC participaram da redação do manuscrito. Vanderlei LCM, Vidal AS, Carvalho PI, Pereira CCB, Barreto IC e Santa Maria LFB participaram da interpretação dos resultados. Todos os autores são responsáveis pela revisão crítica do conteúdo intelectual do manuscrito e todos os aspectos do trabalho, inclusive a exatidão e integridade do manuscrito, respondendo por ele em quaisquer circunstâncias solicitadas.

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