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Epidemiologia e Serviços de Saúde

versão impressa ISSN 1679-4974versão On-line ISSN 2237-9622

Epidemiol. Serv. Saúde vol.29 no.4 Brasília  2020  Epub 14-Ago-2020

http://dx.doi.org/10.5123/s1679-49742020000400012 

Artigo Original

Câncer de tireoide no Brasil: estudo descritivo dos casos informados pelos registros hospitalares de câncer, 2000-2016*

Cáncer de tiroides en Brasil: estudo descriptivo de los casos informados por los registros hospitalarios, 2000-2016

Anne Karin da Mota Borges (orcid: 0000-0003-1322-3986)1  , Jeniffer Dantas Ferreira (orcid: 0000-0002-6724-5614)2  , Sérgio Koifman (orcid: 0000-0003-1769-3985)3  , Rosalina Jorge Koifman (orcid: 0000-0002-2746-7597)3 

1Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, Coordenação de Gestão de Pessoas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

2Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, Coordenação de Prevenção e Vigilância, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

3Fundação Instituto Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Resumo

Objetivo

Descrever o perfil clínico-epidemiológico de casos hospitalares de câncer primário de tireoide no Brasil.

Métodos

Estudo descritivo dos casos informados pelos registros hospitalares de câncer que tiveram primeira consulta para tratamento no período 2000-2016 e cujo acompanhamento foi realizado pela instituição do registro informante.

Resultados

Dos 52.912 casos, 83,4% eram femininos e 96,9% eram carcinomas diferenciados. Apresentaram menor tempo mediano para diagnóstico os casos anaplásicos (11 dias) e os residentes da região Sul do país (5 dias). O tratamento foi iniciado em até 60 dias em 88,8% dos casos que chegaram à instituição do registro sem diagnóstico e em 34,9% dos que chegaram com diagnóstico.

Conclusão

Os achados são consistentes com a epidemiologia do câncer de tireoide, com predominância do sexo feminino e do carcinoma diferenciado. A análise do tempo para início do tratamento sugere dificuldades de acesso para aqueles que chegaram às instituições dos registros com diagnóstico.

Palavras-Chave: Neoplasias da Glândula Tireoide; Sistemas de Informações em Saúde; Perfil de Saúde; Epidemiologia Descritiva; Tempo para o Tratamento

Resumen

Objetivo

Describir el perfil clínico y epidemiológico de los casos de cáncer de tiroides en Brasil.

Métodos

Estudio descriptivo de casos reportados por los registros hospitalarios de cáncer que tuvieron su primera consulta de tratamiento en el período 2000-2016 y el monitoreo fue realizado por la institución del registro.

Resultados

De los 52.912 casos, 83,4% eran mujeres y 96,9% era de carcinomas diferenciados. El tiempo promedio hasta el diagnóstico fue menor en los anaplásicos (11 días) y en la región Sur (5 días). El tratamiento se inició dentro de los 60 días en 88.8% de los casos que llegaron a la institución de registro sin diagnóstico y en 34.9% de los que llegaron con diagnóstico.

Conclusión

. Los resultados son consistentes con la epidemiología del cáncer de tiroides, con predominio del sexo femenino y carcinomas diferenciados. El análisis del tiempo de tratamiento sugiere dificultades de acceso para casos que llegaron con diagnóstico.

Palabras-clave: Neoplasias de la Tiroides; Sistemas de Información en Salud; Perfil de Salud; Epidemiología Descriptiva; Tiempo de Tratamiento

Introdução

O câncer de tireoide é a neoplasia maligna mais comum do sistema endócrino e sua incidência tem aumentado a partir da década de 1990, sem repercussões consideráveis na mortalidade e na sobrevida das populações estudadas em todo o mundo.1 A diferença entre as magnitudes de incidência e a mortalidade pode estar associada à ocorrência de um diagnóstico mais oportuno e do prognóstico favorável dos tipos histológicos mais comumente detectados, os carcinomas diferenciados.2

Segundo projeção norte-americana,8 o câncer de tireoide ocupará a quarta posição entre as neoplasias malignas mais frequentes em 2030, e possivelmente esse padrão também será verificado em outros países. Apontado como possível hipótese para o aumento da incidência, o sobrediagnóstico – atribuído à introdução de novas tecnologias diagnósticas3 – implica a detecção e o tratamento de tumores de baixo risco, além de gerar uma morbidade permanente, associada à tireoidectomia e à reposição hormonal.4, Essas questões conferem relevância à situação do câncer de tireoide para a Saúde Pública, ainda que, no Brasil, os estudos acerca do perfil de casos atendidos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) sejam escassos. Os registros hospitalares de câncer (RHCs) fornecem informações que possibilitam conhecer a situação dos casos tratados nos hospitais habilitados no SUS e avaliar as questões relacionadas à assistência pública oncológica no país. O presente estudo teve como objetivo descrever o perfil clínico-epidemiológico dos casos hospitalares de câncer primário de tireoide no Brasil.

Métodos

Estudo descritivo com dados dos casos de câncer de tireoide informados pelos RHCs do Brasil.

As informações dos casos foram extraídas do Integrador RHC (IRHC), um sistema web desenvolvido pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), responsável pela consolidação das bases de dados enviadas pelos estabelecimentos de saúde habilitados na atenção especializada em oncologia no âmbito do SUS, e de instituições que fornecem informações da assistência oncológica de forma espontânea. O estudo utilizou a base de dados atualizada no IRHC em setembro de 2019.

Cabe ressaltar que o envio de bases de dados para o IRHC é considerado um processo dinâmico, visto que as habilitações e desabilitações ocorrem ao longo do tempo. Além disso, embora os RHCs coletem as informações de maneira prospectiva, também podem enviar bases com casos registrados retrospectivamente. Por esse motivo, a quantidade de RHCs informantes variou no decorrer do período de estudo.

Foram selecionadas as seguintes variáveis:

  1. sexo (feminino; masculino);

  2. idade (registrada em anos completos, categorizada em faixas etárias: ≤19; 20-29; 30-39; 40-49; 50-59; 60-69; ≥70);

  3. escolaridade (nenhuma; ensino fundamental; ensino médio; ensino superior);

  4. Unidade da Federação (UF) de residência do caso;

  5. tipo histológico (diferenciado; medular; anaplásico);

  6. classificação de tumores malignos (TNM);

  7. estadiamento clínico do tumor (I; II; III; IV; IVA; IVB; IVC);

  8. diagnóstico e tratamento anterior (refere-se ao status de chegada do caso na instituição do RHC informante, sendo possíveis as categorias: sem diagnóstico e sem tratamento; com diagnóstico e sem tratamento; com diagnóstico e com tratamento; outros);

  9. protocolo terapêutico (estratificado segundo os tratamentos mais relevantes, entre os quais foram considerados: cirurgia [somente]; cirurgia + radioiodoterapia; cirurgia + radioterapia; radioiodoterapia [somente]; radioterapia [somente]; protocolos terapêuticos múltiplos; nenhum tratamento);

  10. data de primeira consulta (considerada como aquela de atendimento pelo serviço responsável pelo diagnóstico/tratamento, desconsiderando-se as consultas de triagem ou de orientação e as entrevistas sociais);

  11. data do diagnóstico;

  12. data de início do tratamento; e

  13. Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) dos RHCs (utilizado para consultar a UF do RHC informante).12

O tipo histológico refere-se aos códigos morfológicos do tumor segundo a Classificação Internacional de Doenças para a Oncologia, 3ª edição (CID-O3),13 sendo considerados aqueles relacionados aos carcinomas diferenciados (8050; 8260; 8340-8344; 8350; 8450-8460; 8290; 8330-8335), medulares (8345; 8510-8513) e anaplásicos (8020-8035).

As variáveis ‘estadiamento clínico do tumor’ e ‘TNM’, normalmente disponíveis no banco de dados, representam o estádio do caso no momento de chegada à instituição do RHC informante. Para os casos cuja informação sobre estadiamento estava ausente e a informação sobre o TNM estava presente, optou-se por fazer a correspondência entre estadiamento e TNM, respeitando-se a edição vigente no ano de primeira consulta do caso (5ª edição14 para os casos de 2000 a 2004; 6ª edição15 para os casos de 2005 a 2012; e 7ª edição16 para os casos de 2013 a 2016), tal como se realizasse pelo RHC. Uma particularidade a ser mencionada é a de que, na 5ª edição da TNM, o estádio IV não apresentava subdivisões como nas edições 6ª e 7ª (IVA, IVB e IVC).

O intervalo de tempo mediano entre a primeira consulta e o diagnóstico foi mensurado para os casos que chegaram à instituição do RHC sem diagnóstico e sem tratamento. Também foi calculado o intervalo de tempo mediano entre o diagnóstico e o início do tratamento para (i) os casos que chegaram sem diagnóstico e sem tratamento e para (ii) os que chegaram com diagnóstico e sem tratamento, excluindo-se aqueles que tiveram a informação do tratamento ignorada e os que não receberam nenhum tratamento. O tempo entre o diagnóstico e o tratamento, mensurado em valor absoluto, foi estratificado em ≤60 dias e >60 dias, considerando-se o preconizado pela Lei no 12.732, de 2012.17

Foi realizada uma análise descritiva dos dados por meio da distribuição das variáveis na população de estudo. Foram calculadas medidas de tendência central e de dispersão para as variáveis contínuas. Com o intuito de não sofrer influência de outliers, optou-se por utilizar a mediana e o respectivo intervalo interquartil (IIQ). Para as variáveis categóricas, foram calculadas proporções, sendo a comparação entre os grupos realizada pelos testes do qui-quadrado de Pearson, considerando-se o nível de significância de 5%. Uma matriz com o número absoluto de casos segundo UF de residência versus UF do RHC informante foi construída, sendo calculada a proporção de casos atendidos na própria UF de residência. A razão entre os sexos feminino e masculino (F/M) foi calculada, igualmente analisada segundo tipos histológicos e faixas etárias. Todas as análises foram realizadas com uso do software R, versão 3.6.1.

O projeto do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/Fundação Oswaldo Cruz (Cep/ENSP/Fiocruz): Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) no 62062116.8.0000.5240, em 31 de janeiro de 2017.

Resultados

Entre os 83.151 casos primários de câncer de tireoide informados pelos RHCs do Brasil, 80.463 tiveram a primeira consulta para tratamento do tumor no período de 2000 a 2016, e 56.394 foram acompanhados na instituição do RHC informante. Destes, 51.291 eram carcinomas diferenciados, 1.042 eram medulares e 579 anaplásicos, totalizando 52.912 casos selecionados para o estudo.

A distribuição proporcional de casos informados pelos RHCs aumentou ao longo dos anos, de 1,1% em 2000 para 11,0% em 2014. Houve declínio na proporção de casos em 2015 (8,5%) e 2016 (7,3%), embora também se observasse redução no número de RHCs informantes após 2014 (Figura 1).

Figura 1 – Proporção de casos de câncer de tireoide e número de registros hospitalares de câncer (RHC) informados por ano, Brasil, 2000-2016 

Dos 52.912 casos, 83,4% era do sexo feminino: a razão entre os sexos (F/M) foi de 5:1, com mediana de idade de 46 anos (IIQ = 35-56). Segundo o tipo histológico, a razão F/M foi de 5,3 para o carcinoma diferenciado, 1,5 para o medular e 2,2 para o anaplásico. Para o carcinoma diferenciado, a razão F/M segundo faixas etárias foi de: 3,7 para ≤19 anos; 5,7 para 20-29 anos; 5,5 para 30-39 anos; 6,1 para 40-49 anos; 5,3 para 50-59 anos; 4,4 para 60-69 anos; e 3,7 para ≥70 anos.

Em relação aos tipos histológicos, 96,9% dos casos tinham o diagnóstico de carcinoma diferenciado (inclui os carcinomas papilífero e folicular), 2,0% medular e 1,1% anaplásico, cujas idades medianas foram, respectivamente, 45 (IIQ = 35-56), 49 (IIQ = 36-60) e 66 (IIQ = 56-76) anos.

Para o carcinoma diferenciado, observou-se aumento na proporção de casos até a faixa etária de 40-49 anos, e para o medular, até 50-59 anos. O crescimento foi progressivo ao longo dos grupos etários para o carcinoma anaplásico (Tabela 1).

Tabela 1 – Características sociodemográficas e do tumor segundo tipo histológico dos casos de câncer de tireoide informados pelos registros hospitalares de câncer (RHCs), Brasil, 2000-2016 

Variáveisa Diferenciadosb Medular Anaplásico Total p-valorc
N % N % N %
Sexo                
Feminino 43.081 84,0 623 59,8 400 69,1 44.104 < 0,001
Masculino 8.205 16,0 419 40,2 179 30,9 8.803
Total 51.286 100,0 1.042 100,0 579 100,0 52.907
Faixa etária (em anos)                
≤19 1.377 2,7 61 5,9 6 1,0 1.444 < 0,001
20-29 5.837 11,4 93 8,9 10 1,7 5.940
30-39 11.014 21,5 161 15,5 19 3,3 11.194
40-49 12.728 24,8 212 20,3 45 7,8 12.985
50-59 11.040 21,5 235 22,6 102 17,6 11.377
60-69 6.272 12,2 183 17,6 155 26,8 6.610
≥70 3.019 5,9 97 9,3 242 41,8 3.358
Total 51.287 100,0 1.042 100,0 579 100,0 52.908
Escolaridade                
Nenhuma 1.819 5,0 57 7,2 71 18,6 1.947 < 0,001
Ensino fundamental 16.277 44,4 464 58,8 230 60,4 16.971
Ensino médio 10.930 29,8 171 21,7 51 13,4 11.152
Ensino superior 7.645 20,8 97 12,3 29 7,6 7.771
Total 36.671 100,0 789 100,0 381 100,0 37.841
Região de residência dos casos          
Norte 1.762 3,4 29 2,8 12 2,1 1.803 < 0,001
Nordeste 21.027 41,1 247 23,8 152 26,3 21.426
Centro-Oeste 1.184 2,3 40 3,9 16 2,8 1.240
Sudeste 20.249 39,6 536 51,7 267 46,2 21.052
Sul 6.892 13,5 185 17,8 131 22,7 7.208
Total 51.114 100,0 1.037 100,0 578 100,0 52.729
Diagnóstico e tratamento anteriores          
Sem diagnóstico e sem tratamento 31.979 62,9 674 65,9 366 64,1 33.019 < 0,001
Com diagnóstico e sem tratamento 14.277 28,1 275 26,9 167 29,2 14.719
Com diagnóstico e com tratamento 3.996 7,9 68 6,6 35 6,1 4.099
Outros 584 1,1 6 0,6 3 0,5 593
Total 50.836 100,0 1.023 100,0 571 100,0 52.430
Estadiamento                
I 23.521 73,6 159 25,0 23.680 < 0,001
II 2.729 8,5 120 18,8 2.849
III 3.969 12,4 141 22,1 4.110
IV 130 0,4 19 3,0 70 21,7 219
IVA 1.025 3,2 107 16,8 134 41,6 1.266
IVB 160 0,5 17 2,7 55 17,1 232
IVC 418 1,3 74 11,6 63 19,6 555
Total 31.952 100,0 637 100,0 322 100,0 32.911
Protocolo terapêutico                
Cirurgia (somente) 27.424 53,5 654 62,9 177 30,6 28.255 < 0,001
Cirurgia + radioiodoterapia 5.879 11,5 31 3,0 9 1,6 5.919
Cirurgia + radioterapia 6.068 11,8 79 7,6 47 8,1 6.194
Radioiodoterapia (somente) 3.688 7,2 11 1,1 12 2,1 3.711
Radioterapia (somente) 1.216 2,4 31 3,0 89 15,4 1.336
Protocolos terapêuticos múltiplos 5.906 11,5 187 18,0 177 30,6 6.270
Nenhum tratamento 1.037 2,0 46 4,4 67 11,6 1.150
Total 51.218 100,0 1.039 100,0 578 100,0 52.835

a) Missings: sexo (N=5; 0,01); faixa etária (N=4; 0,01%); escolaridade (N=15.071; 28,5%); região de residência dos casos (N=183; 0,4%); estadiamento (N=20.001; 37,8%); diagnóstico e tratamento anterior (N=482; 0,9%); protocolo terapêutico (N=63; 0,2%).

b) Inclui os carcinomas papilífero e folicular.

c) Teste do qui-quadrado de Pearson.

A maioria dos casos cursou até o ensino fundamental, independentemente do tipo histológico. Entretanto, 18,6% dos carcinomas anaplásicos não possuíam nenhuma escolaridade, seguidos por 7,2% dos medulares e 5,0% dos diferenciados. Entre os carcinomas diferenciados, 50,6% cursaram o ensino médio e/ou superior. Contudo, a ausência de informação nessa variável foi de 28,5% (Tabela 1).

A grande maioria dos casos era residente nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul. O Sudeste era a região de residência de 51,7% dos carcinomas medulares e 46,2% dos anaplásicos. As regiões Nordeste e Sudeste, juntas, concentram aproximadamente 80,0% dos carcinomas diferenciados (Tabela 1).

Mais de 60,0% dos casos chegaram às instituições sem diagnóstico e sem tratamento, e um percentual acima de 20,0% foi encontrado na categoria com diagnóstico e sem tratamento, para quaisquer tipos histológicos (Tabela 1).

Para o carcinoma diferenciado, 73,6% dos casos foram classificados como estádio I. O medular apresentou 25,0% dos casos no estádio I e 22,1% no estádio III. E nos anaplásicos, foram observados 41,6% do estadiamento IVA e 19,6% do estadiamento IVC. Os casos anaplásicos cuja primeira consulta foi realizada entre os anos 2000 e 2004 foram registrados como estádio IV (21,7%), sem subdivisões. No entanto, essa variável apresentou 37,8% de informações ausentes (Tabela 1).

Em relação ao tratamento, somente cirurgia foi o protocolo terapêutico recebido na maioria dos casos, sendo realizada em 62,9% dos carcinomas medulares e 53,5% dos diferenciados. Entre os anaplásicos, 30,6% dos casos foram submetidos somente a cirurgia e 15,4% somente a radioterapia, representando esta última uma maior proporção quando comparada às dos demais tipos histológicos: 2,4% dos diferenciados e 3,0% dos medulares. O mesmo comportamento foi observado para nenhum tratamento, encontrado em 11,6% dos carcinomas anaplásicos frente a 2,0% dos diferenciados e 4,4% dos medulares (Tabela 1).

A análise dos intervalos de tempo por tipos histológicos (Tabela 2) apontou, entre os casos que chegaram sem diagnóstico e sem tratamento, os carcinomas anaplásicos com menor tempo mediano entre a primeira consulta e o diagnóstico (11 dias). Da mesma maneira, os casos anaplásicos que chegaram com diagnóstico e sem tratamento apresentaram tempo mediano menor (38 dias) entre o diagnóstico e o primeiro tratamento. Portanto, 74,7% dos carcinomas anaplásicos foram tratados em até 60 dias após o diagnóstico, frente a 34,5% dos diferenciados e 32,1% dos medulares.

Tabela 2 – Tempo (em dias) entre a primeira consulta e o diagnóstico e entre o diagnóstico e o início do tratamento segundo status de chegada do caso à instituição do registro hospitalar de câncer (RHC) e tipos histológicos, Brasil, 2000-2016 

Intervalo de tempo (dias) Tipos histológicos Sem diagnóstico e sem tratamento Com diagnóstico e sem tratamento
N Mediana (IIQª) ≤60 dias (%) >60 dias (%) N Mediana (IIQª) ≤60 dias (%) >60 dias (%)
Entre a primeira consulta e o diagnóstico Diferenciados 31.751 28 (6 - 84)
Medular 671 35 (9 - 88)
Anaplásico 363 11 (3 - 33)
Todos 32.785 28 (6 - 84)
Entre o diagnóstico e o tratamento Diferenciados 26.020 0 (0 - 1) 27.535 (88,8) 3.467 (11,2) 12.707 91 (48 - 165) 4.442 (34,5) 8.447 (65,5)
Medular 580 0 (0 - 14) 563 (86,7) 86 (13,3) 539 92 (47 - 182) 77 (32,1) 163 (67,9)
Anaplásico 287 0 (0 - 16) 290 (92,4) 24 (7,6) 146 38 (20 - 62) 109 (74,7) 37 (25,3)
Todos 26.887 0 (0 - 2) 28.388 (88,8) 3.577 (11,2) 13.092 90 (47 - 164) 4.628 (34,9) 8.647 (65,1)

a) Intervalo interquartil.

A distribuição dos intervalos de tempo por regiões brasileiras (Tabela 3) evidenciou que os casos que chegaram sem diagnóstico e sem tratamento apresentaram um tempo mediano de 28 dias entre a primeira consulta e o diagnóstico. Esse tempo mediano variou entre as regiões brasileiras, sendo o menor intervalo encontrado no Sul (5 dias) e o maior no Norte (73 dias). O tempo mediano entre diagnóstico e tratamento foi zero para todas as regiões, exceto a região Norte (1 dia), significando que diagnóstico e tratamento foram concomitantes. Já para os casos que chegaram com diagnóstico e sem tratamento, o tempo mediano foi de 90 dias entre o diagnóstico e o tratamento, encontrando-se o menor intervalo na região Sul (72 dias) e o maior na região Norte (142 dias). Nesse sentido, observou-se uma maior proporção de casos cujo tratamento foi empregado em tempo superior a 60 dias, variando de 55,2% na região Sul a 73,3% no Nordeste. Observou-se que o estado de São Paulo prestou atendimento a 66,9% dos casos residentes em Goiás, 33,0% dos residentes no Distrito Federal e 18,5% dos residentes no Acre (Tabela 4).

Tabela 3 – Tempo (em dias) entre a primeira consulta e o diagnóstico e entre o diagnóstico e o início do tratamento segundo status de chegada do caso à instituição do registro hospitalar de câncer (RHC) e a região de residência, Brasil, 2000-2016 

Intervalo de tempo (dias) Regiões Sem diagnóstico e sem tratamento Com diagnóstico e sem tratamento
N Mediana (IIQa) ≤60 dias (%) >60 dias (%) N Mediana (IIQa) ≤60 dias (%) >60 dias (%)
Entre a primeira consulta e o diagnóstico Norte 570 73 (18 - 164)
Nordeste 12.495 36 (10 - 100)
Centro-Oeste 552 22 (5 - 80)
Sudeste 14.505 28 (4 - 76)
Sul 4.663 5 (0 - 55)
Brasil 32.785 28 (6 - 84)
Entre o diagnóstico e o tratamento Norte 341 1 (0 - 74) 471 (83,5) 93 (16,5) 579 142 (70 - 270) 124 (38,6) 457 (61,4)
Nordeste 8.803 0 (0 - 7) 10.616 (88,7) 1.350 (11,3) 4.389 115 (61 - 205) 1.206 (26,7) 3.309 (73,3)
Centro-Oeste 520 0 (0 - 0) 486 (86,7) 72 (13,3) 251 95 (37 - 194) 97 (38,6) 154 (61,4)
Sudeste 13.022 0 (0 - 9) 12.478 (87,4) 1.794 (12,6) 6.490 77 (42 - 141) 2.564 (39,4) 3.941 (60,6)
Sul 4.201 0 (0 - 0) 4.355 (94,2) 268 (5,8) 1.383 72 (30 - 125) 637 (44,8) 786 (55,2)
Brasil 26.887 0 (0 - 2) 28.388 (88,8) 3.577 (11,2) 13.092 90 (47 - 164) 4.628 (34,9) 8.647 (65,1)

a) Intervalo interquartil.

Tabela 4 – Matriz do número absoluto de casos de câncer de tireoide por Unidade da Federação (UF) de residência e UF do registro hospitalar de câncer (RHC) informante e proporção de casos atendidos na respectiva UF de residência, Brasil, 2000-2016 

UF de residência dos casosa UF do RHC informante % de casos atendidos na UF de residência
AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO Total
AC 42 1 1 22 15 81 51,9
AL 650 6 1 9 1 5 9 681 95,4
AM 440 1 2 1 50 494 89,1
AP 26 1 26 3 4 60 43,3
BA 1 7.727 1 8 9 6 1 1 0 7 1 2 1 1 25 44 7.835 98,6
CE 8 2.578 1 1 3 1 1 1 6 2.600 99,2
DF 3 164 1 3 1 1 85 258 63,6
ES 1 573 3 1 10 13 601 95,3
GO 2 22 15 3 1 1 89 133 11,3
MA 1 1 1.594 2 2 1 2 128 1 3 13 4 1.752 91,0
MG 7 1 5 2 3.487 1 1 6 8 1 2 383 3.904 89,3
MS 1 363 1 1 8 1 137 512 70,9
MT 1 1 273 60 2 337 81,0
PA 30 1 2 2 704 16 1 29 6 791 89,0
PB 8 2 1 3 1.084 19 2 1 2 10 2 2 1 4 1.141 95,0
PE 1 15 22 2 7 2.672 2 2 1 1 1 27 2.753 97,1
PI 1 2 1 1 714 10 729 97,9
PR 2 1 1 2 1 2.059 2 17 33 2.118 97,2
RJ 1 2 19 1.769 1 1 3 23 1.819 97,3
RN 4 6 1 1 3.480 3.492 99,7
RO 1 4 1 2 164 1 34 207 79,2
RR 8 1 1 1 1 10 2 24 41,7
RS 1 1 3 2.099 3 1 3 2.111 99,4
SC 1 1 34 27 2.894 22 2.979 97,1
SE 27 406 10 443 91,6
SP 12 1 20 1 7 2 2 2 1 14.680 14.728 99,7
TO 1 1 1 1 12 130 146 89,0
Total 42 652 479 26 7.827 2.617 202 585 15 1.598 3.553 369 285 735 1.095 2.710 866 2.126 1.803 3.494 192 10 2.137 2.926 446 15.797 142 52.729
Missing: UF de residência (N=183; 0,4%).

Discussão

Os resultados deste estudo mostraram um aumento do número de casos de câncer de tireoide informados pelos RHCs do país, ao longo dos anos. Enquanto o número de RHCs informantes aumentou mais de 3 vezes, entre os anos 2000 e 2014, o número de casos informados nesse período cresceu aproximadamente 10 vezes. A redução no número de casos observada nos anos subsequentes pode estar relacionada ao atraso no envio de bases de dados pelas instituições.18

Apesar de o presente estudo não tratar da morbidade populacional, vale ressaltar que um aumento substancial da incidência do câncer de tireoide vem sendo descrito a partir da década de 1990, em diversos países, inclusive no Brasil.2 Alguns autores sugerem que o padrão de crescimento da incidência seja real, considerando-se que: esse aumento ocorre em quaisquer tamanhos de tumores e estádios, embora seja mais notável em nódulos pequenos; afeta quase exclusivamente o tipo histológico papilífero; ele é maior para o sexo feminino que para o masculino; e exibe um efeito de coorte de nascimento, possivelmente reflexo de mudanças nos fatores de risco relacionados às exposições ambientais.4 Entretanto, outros autores defendem a hipótese de esse aumento refletir o sobrediagnostico, devido à melhora na capacidade de detectar malignidade em nódulos tireoidianos milimétricos, proporcionada pela maior disponibilidade de exames de ultrassonografia e viabilidade da citologia com material obtido por punção aspirativa com agulha fina.3

Por se tratar de um estudo de base hospitalar, a razão observada entre os sexos feminino e masculino, de 5:1, é maior que a descrita nos estudos populacionais, de cerca de 3:1, principalmente para os carcinomas diferenciados.11 No entanto, a razão encontrada no estudo em tela é bastante consistente com o fato de o câncer de tireoide ser um dos poucos cânceres de dominância feminina.24 Além disso, quando analisada por grupos etários e tipos histológicos, especificamente para o carcinoma diferenciado, essa razão entre os sexos apresentou crescimento durante os anos reprodutivos e declínio após a menopausa,11 achado sugestivo da possibilidade de os hormônios sexuais femininos desempenharem um importante papel na patogênese da doença, qual seja: o potencial dos hormônios endógenos e dos disruptores endócrinos, como os hidrocarbonetos aromáticos polihalogenados, particularmente os éteres difenila polibromados, no desenvolvimento do câncer de tireoide.26

A análise da idade segundo os tipos histológicos apresenta-se em consonância com a literatura, que descreve a média de idade ao diagnóstico entre 45-55 anos para o carcinoma diferenciado, de 50 anos para o medular e, de 60 anos ou mais para o anaplásico.25

O preenchimento inadequado do prontuário por parte dos profissionais de saúde dificulta o registro fidedigno dos dados pelos RHCs, impactando diretamente na qualidade da informação. Neste estudo em particular, a ausência de informações foi pontual para as variáveis ‘escolaridade’ e ‘estadiamento clínico do tumor’. O nível de escolaridade não é um fator de risco consolidado na literatura,2 embora alguns estudos descrevam maior incidência da doença entre pessoas com ensino médio ou superior,30 sugerindo um viés de detecção ocasionado pela maior vigilância médica e acesso às tecnologias diagnósticas.25Já o estadiamento clínico do tumor é imprescindível, e a existência de tantos casos com ausência dessa informação impossibilitou levantamento de suposições e análises mais aprofundadas sobre essa variável.

O primeiro tratamento recebido nas instituições possui estrita relação com o estadiamento, motivo pelo qual tumores diagnosticados em estádios iniciais tendem a ser submetidos à cirurgia. Com exceção do carcinoma anaplásico, mais de 70,0% dos demais tipos histológicos receberam tratamento cirúrgico como parte do protocolo terapêutico. Nos carcinomas diferenciados, a principal abordagem terapêutica consiste em tireoidectomia, seguida de ablação do tecido tireoidiano com iodo radioativo (I131), esta com excelente prognóstico, mesmo quando a ablação não é bem-sucedida.25Assim, as implicações de se tratar um número considerável de neoplasias malignas que não afetariam a saúde, tampouco a sobrevida dos indivíduos, devem ser levadas em consideração: além de conferir pouco benefício, esses tratamentos geram morbidade permanente relacionada à tireoidectomia e à reposição do hormônio tireoidiano. Entretanto, diante da incerteza da evolução do câncer de tireoide, independentemente do perfil clínico-epidemiológico, o tratamento de escolha tem sido a cirurgia imediata, em detrimento da observação vigilante.4

Os intervalos de tempo decorridos entre a primeira consulta, o diagnóstico e o início do tratamento consistem em um aspecto relevante, que aponta prováveis dificuldades de acesso à assistência oncológica. Cabe ressaltar que a Lei nº 12.732, de 22 de novembro de 2012, determina o direito da pessoa de receber o primeiro tratamento pelo SUS em até 60 dias contados a partir do diagnóstico.17 Nesse sentido, para os casos de câncer de tireoide que chegaram à instituição do RHC sem diagnóstico e sem tratamento, foram identificadas divergências no tempo mediano entre a primeira consulta e a confirmação diagnóstica, tanto entre os tipos histológicos como entre as regiões brasileiras. Os carcinomas anaplásicos apresentaram tempo mediano mais baixo, o que também foi observado no Sul do Brasil, ao ser comparado às demais regiões.

Considerando-se ainda os casos que chegaram sem diagnóstico e sem tratamento à instituição do RHC, o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento foi pequeno, sendo bastante similar entre os tipos histológicos e regiões do país. Destaca-se que a maior proporção dos casos recebeu o primeiro tratamento em até 60 dias, a partir do diagnóstico. Em contrapartida, para os casos que chegaram à instituição do RHC com diagnóstico e sem tratamento, o tempo mediano para início do tratamento é mais elevado, superior a 60 dias na maioria dos casos, possivelmente reflexo das dificuldades de acesso daqueles que receberam o diagnóstico em unidades não habilitadas a realizar o tratamento oncológico. Além disso, o fato de os casos anaplásicos receberem o diagnóstico e o tratamento em menor tempo pode estar associado à característica mais letal do tumor.

A distribuição dos casos de acordo com as UFs de residência e do RHC informante evidenciou um fluxo migratório, provavelmente não previsto pelos planos de atenção oncológica dos respectivos estados; é o caso de residentes dos estados do Acre e Goiás, e no Distrito Federal, que foram buscar assistência oncológica em São Paulo. Possivelmente, problemas de acesso aos serviços de saúde ou falhas na rede de atenção oncológica podem contribuir para a migração em busca de atendimento, dificultando o início do tratamento em até 60 dias após o diagnóstico.

Algumas limitações relacionadas às informações dos RHCs podem ser apontadas, entre as quais a ausência de informação para algumas variáveis e um possível sub-registro de casos. Erros na codificação morfológica dos tumores malignos da tireoide poderiam, igualmente, responder pela não inclusão de alguns casos na população de estudo. A carência de publicações com base nas informações dos RHCs dificulta a comparação dos resultados. Não obstante essas limitações, os achados desta investigação são consistentes com a epidemiologia do câncer de tireoide descrita na literatura.25

A análise da situação de morbidade hospitalar do câncer pode viabilizar um planejamento de saúde que facilite o fluxo de atendimento na rede, propiciando o diagnóstico e o tratamento em tempo oportuno, além de reduzir o deslocamento em busca de assistência oncológica. Espera-se que este estudo contribua para a Saúde Pública, no sentido de sensibilizar os gestores de saúde a se aprimorarem das informações geradas a partir dos Registos Hospitalares de Câncer, para subsidiar o processo de construção e avaliação do plano de atenção oncológica, identificar os possíveis obstáculos na rede assistencial e avaliar a qualidade da informação dos prontuários, bem como da assistência prestada no âmbito do SUS.

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*Manuscrito com base na tese de doutorado intitulada ‘Câncer de tireoide: estudo do efeito idade-período-coorte na incidência, análise do perfil da atenção oncológica no Sistema Único de Saúde e sobrevida de uma coorte hospitalar do Rio de Janeiro’, apresentada por Anne Karin da Mota Borges junto ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz), em 2017.

Recebido: 26 de Dezembro de 2019; Aceito: 23 de Maio de 2020

Endereço para correspondência: Anne Karin da Mota Borges – Rua Marquês de Pombal, no 125, 12º andar, Centro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CEP: 20230-240 E-mail: annekarinmm@gmail.com

Editor associado: Bruno Pereira Nunes - orcid.org/0000-0002-4496-4122

Contribuição dos autores

Borges AKM e Koifman S contribuíram com a concepção e delineamento do artigo, análise e interpretação dos dados e redação da primeira versão do manuscrito. Ferreira JD e Koifman RJ contribuíram com a análise e interpretação dos dados e revisão crítica do manuscrito. Todos os autores aprovaram a versão final e são responsáveis por todos os aspectos do trabalho, incluindo a garantia de sua precisão e integridade.

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