A Epidemiologia tem historicamente assumido papel relevante na produção de informação para o processo de decisão no âmbito da saúde pública. Com base em seus fundamentos e por meio da aplicação de seus métodos, tem contribuído para a melhor compreensão dos fenômenos de saúde da coletividade e fornecido informações que auxiliam os gestores e profissionais dos serviços no processo de tomada de decisão, permitindo a definição de políticas, intervenções e práticas voltadas à prevenção, ao monitoramento e à redução do impacto de eventos de saúde na população.1
No Brasil, a epidemiologia experimentou expressivo desenvolvimento a partir da década de 1980, e sofreu forte impulso nos seus campos científico e prático, com a redemocratização do país e a promulgação da Constituição Federal de 1988.2 Desde então, esta disciplina, forjada no compromisso com a redução das iniquidades de saúde e a melhoria das condições de vida da população brasileira,2 tem fornecido contribuições relevantes para o conhecimento dos processos saúde-doença, o diagnóstico da situação de saúde da população, para a definição de políticas de saúde e de práticas voltadas ao enfrentamento dos problemas de saúde. Cita-se como exemplo recente o protagonismo e dinamismo de cientistas e profissionais da área no enfrentamento da emergência global da epidemia de Zika no Brasil, que, com a cooperação de centros de pesquisas e instituições governamentais nacionais e internacionais, conseguiu prover, em curto período de tempo, evidências epidemiológicas sobre a relação entre a epidemia de microcefalia e a infecção pelo vírus,3 elaborar e estruturar sistemas de vigilância e modelos de atenção dirigidos ao evento.4, 5
A revista Epidemiologia e Serviços de Saúde (RESS), como os demais periódicos brasileiros da área da saúde coletiva, vem acompanhando e participando desse desenvolvimento há quase três décadas. Inicialmente, como Informe Epidemiológico do SUS, objetivava a organização e ampla divulgação de informações epidemiológicas do Ministério da Saúde; 6 a partir de 2003, este informe deu lugar à RESS, que desde então visa ao aprimoramento dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), pela difusão do conhecimento epidemiológico aplicável às ações de vigilância, prevenção e controle de doenças e agravos de interesse da saúde pública.7
A emergência sanitária global, advinda com a pandemia de COVID-19, tem imposto novos e complexos desafios às sociedades e, neste contexto, a resposta da ciência tem se mostrado rápida e contundente.8 No Brasil, até o dia 7 de outubro de 2021, a Plataforma Brasil registrava 13.781 projetos aprovados cujos títulos incluíam ‘COVID-19’. Essa produção acelerada de pesquisas, associada à demanda por maiores informações sobre a nova doença, tem se refletido no expressivo volume de publicações científicas sobre o problema nos periódicos científicos brasileiros da área da saúde coletiva, ressaltando-se a publicação de pesquisas originais. Até setembro de 2021, estes periódicos nacionais haviam publicado cerca de 400 artigos em diversas modalidades (Tabela 1).
Revista | Artigos publicados | |
---|---|---|
2020a | 2021a | |
n | n | |
Ciência & Saúde Coletiva | 118 | 62 |
Cadernos de Saúde Pública | 66 | 42 |
Revista de Saúde Pública | 13 | 11 |
Epidemiologia e Serviços de Saúde | 27 | 11 |
Saúde em Debate | 48 | 2 |
Total | 272 | 128 |
aInformações extraídas do SciELO, excluídas as erratas, em 7 de outubro de 2021
bCinco primeiras revistas, segundo o ranking do Google Scholar.
Nesse cenário, a RESS lançou uma chamada para manuscritos sobre COVID-19 e acelerou seus processos de avaliação (fast-track), o que contribuiu para a disseminação oportuna de evidências. Além de 22 artigos originais, também foram publicados na RESS artigos nas modalidades nota de pesquisa, revisão e opinião, entre outras, os quais, de acordo com pesquisa de dados altimétricos das plataformas SciELO e Plum analítica, registravam mais de 250 mil visualizações e mais de 700 citações até setembro de 2021, demonstrado a elevada visibilidade e impacto dessas publicações.
Neste último número de 2021 da RESS, os artigos sobre COVID-19 novamente se destacam. São sete artigos originais abordando diferentes temas relacionados à doença, como o seu perfil epidemiológico, repercussões na oferta e organização dos serviços de saúde; mas outras modalidades também aludem à crise sanitária.
A manutenção do elevado volume de submissões e de manuscritos em fase de processamento editorial sobre COVID-19, nestes últimos meses, sugere que ainda estamos longe de uma saturação temática. Com as novas evidências, diferentes atributos são incorporados à discussão e, com seu alcance, a RESS fortalece sua missão de difusora do conhecimento epidemiológico e contribui para o fortalecimento dos serviços de saúde do SUS e para a melhoria das condições de saúde do brasileiro.