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Epidemiologia e Serviços de Saúde

versión impresa ISSN 1679-4974versión On-line ISSN 2237-9622

Epidemiol. Serv. Saúde vol.30 no.4 Brasília dic. 2021  Epub 05-Nov-2021

http://dx.doi.org/10.1590/s1679-49742021000400015 

NOTA DE PESQUISA

Registros nacionais de anomalias congênitas no mundo: aspectos históricos e operacionais

Registros nacionales de anomalías congénitas en el mundo: aspectos históricos y operativos

Augusto César Cardoso-dos-Santos (orcid: 0000-0002-1499-9105)1  , Ruanna Sandrelly de Miranda Alves (orcid: 0000-0002-2786-3207)1  , Ana Cláudia Medeiros-de-Souza (orcid: 0000-0001-9317-6424)1  , João Matheus Bremm (orcid: 0000-0002-2150-9426)1  , Julia do Amaral Gomes (orcid: 0000-0002-0674-0494)1  , Ronaldo Fernandes Santos Alves (orcid: 0000-0002-8358-0519)1  , Valdelaine Etelvina Miranda de Araujo (orcid: 0000-0003-1263-1646)1  , Giovanny Vinícius Araújo de França (orcid: 0000-0002-7530-2017)1 

1Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Brasília, DF, Brasil

Resumo

Objetivo:

Identificar registros de anomalias congênitas com cobertura nacional existentes no mundo, destacando suas principais características históricas e operacionais.

Métodos:

Revisão documental, mediante busca na base Medline/Pubmed e consulta a dados provenientes de relatórios, documentos oficiais e sítios eletrônicos. Foram incluídos trabalhos com relato de pelo menos um registro nacional.

Resultados:

Foram identificados 40 registros nacionais de anomalias congênitas em 39 países diferentes. Todos os registros incluídos no estudo localizavam-se em países de renda alta ou média superior, com concentração na Europa. A maior parte dos registros foi de base populacional, de notificação compulsória e com tempo limite para notificação de até 1 ano de idade. O registro brasileiro apresentou a maior cobertura anual.

Conclusão:

Os registros discutidos apresentaram características diversas, relacionadas à realidade de cada país. Os resultados apresentados fornecem subsídios para a temática da vigilância das anomalias congênitas, sobretudo em locais onde se deseja implementar tal atividade.

Palavras-chave: Anormalidades Congênitas; Declaração de Nascimento; Vigilância Epidemiológica; Revisão; Cooperação Internacional; Serviços de Saúde.

Resumen

Objetivo:

Identificar registros de anomalías congénitas con cobertura nacional existentes en el mundo, destacando sus principales características históricas y operativas.

Métodos:

Revisión documental de literatura en la base de datos Medline/Pubmed y datos de informes, documentos oficiales y sitios web. Se incluyeron trabajos con informes de al menos un registro nacional.

Resultados:

Se identificaron 40 registros nacionales de anomalías congénitas en 39 países diferentes. Todos los registros incluidos se ubicaron en países de ingresos altos y medianos altos, con una concentración en Europa. La mayoría de los registros eran de base poblacional, con notificación obligatoria y un límite de tiempo de notificación de hasta 1 año. El registro brasileño presentá la cobertura anual más alta.

Conclusión:

Los registros discutidos presentaban características diferentes y relacionadas con la realidad de cada país. Los resultados presentados proporcionan subsidios para la vigilancia de anomalías congénitas, especialmente en lugares que deseen implementar dicha actividad.

Palabras-clave: Anomalías Congénitas; Certificado de Nacimiento; Monitoreo Epidemiológico; Revisión; Cooperación Internacional; Servicios de Salud.

Introdução

Anomalias congênitas são alterações estruturais ou funcionais que ocorrem durante a vida intrauterina.1 Além de importantes causas de óbito perinatal e neonatal, elas podem levar a incapacidades crônicas, impactando significativamente a vida dos indivíduos afetados, suas famílias e os sistemas de saúde.1,2 Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 295 mil bebês morrem nas primeiras quatro semanas de vida por conta de anomalias congênitas, a cada ano.1

A coleta sistemática e contínua de informações sobre casos de anomalias congênitas em uma população bem definida configura um registro.3 No mundo, diferentes registros de anomalias congênitas foram criados a partir da segunda metade do século XX, após o episódio conhecido como “tragédia da talidomida”, quando mais de 10 mil crianças, em 46 países, nasceram com graves anomalias congênitas em decorrência do uso desse fármaco durante a gravidez.4 Os registros de anomalias congênitas são úteis para monitorar tendências temporais ou geográficas dessas alterações, auxiliar na identificação de fatores de risco, delinear grupos populacionais vulneráveis, planejar e avaliar ofertas de cuidado à saúde, entre outras finalidades.3,5

Conhecer o perfil epidemiológico das anomalias congênitas, por meio do sistema de registro de notificação com cobertura nacional e do monitoramento com cobertura nacional, proporciona aos países a possibilidade de entender seu impacto na população e em seus sistemas de saúde. Esse conhecimento também produz informações úteis no sentido de advogar por medidas de prevenção e cuidado adequadas ao cenário específico de cada local.6-8

Os registros de anomalias congênitas podem cobrir países inteiros ou uma parcela representativa da população nacional (registros nacionais), ou ainda, lugares específicos dentro de um país (registros locais ou subnacionais). Além disso, eles podem abranger todos os nascimentos de determinada área geográfica (base populacional) ou cobrir apenas nascimentos em um único hospital ou hospitais selecionados (base hospitalar).9,10 Todavia, inexistem dados na literatura científica sobre o panorama global e atualizado dos registros nacionais de anomalias congênitas e suas particularidades.

Este trabalho teve como objetivo identificar registros de anomalias congênitas com cobertura nacional existentes no mundo, destacando suas principais características históricas e operacionais.

Métodos

Trata-se de uma nota de pesquisa de caráter documental, cuja estratégia metodológica foi detalhada em um trabalho de revisão narrativa, sobre redes internacionais para a vigilância de anomalias congênitas, anteriormente publicado.6 Em resumo, para mapear e documentar os registros de anomalias congênitas com cobertura nacional existentes ao redor do mundo, buscou-se por referências bibliográficas indexadas na base Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (Medline)/PubMed (disponibilizada pela National Library of Medicine, dos Estados Unidos) em 10 de janeiro de 2020, a partir da chave de busca especificada na Figura 1. Além dessa busca, informações relevantes, relacionadas ao tema deste trabalho, foram obtidas de relatórios, documentos oficiais e sítios eletrônicos disponibilizados pelas redes, registros e instituições que trabalham com a vigilância de anomalias congênitas.

As principais etapas metodológicas, assim como as informações extraídas de cada um dos trabalhos ou documentos encontrados, apresentam-se detalhadas na Figura 1. As informações extraídas foram analisadas por dois revisores (Cardoso-dos-Santos AC e Alves SRM), de maneira independente. Informações sobre a renda nacional bruta per capita de cada um dos países relacionados foram obtidas do relatório World Economic Situation and Prospects, elaborado pela Organização das Nações Unidas.7

Resultados

Ao todo, foram identificados 40 registros de anomalias congênitas com cobertura nacional em 39 países, cujas principais características se encontram no Quadro 1. À exceção da África, todos os continentes apresentaram pelo menos um registro nacional de anomalias congênitas. A maior parte desses países se concentrava no continente europeu, todos nas categorias socioeconômicas de renda alta (28) e média superior (12), como mostrado na Figura 2. Vinte e seis registros foram de base populacional e 12 de base hospitalar; tal informação não foi encontrada para Chile e Panamá.

O registro nacional húngaro (Hungarian Congenital Abnormality Registry) foi o mais longevo - suas atividades oficiais iniciaram-se em 1962 - enquanto o mais recente foi o escocês, criado em 2018. A maioria dos registros nacionais (29/40) fazia parte de pelo menos uma rede internacional para vigilância de anomalias congênitas. O registro brasileiro foi o que apresentou maior número de nascimentos anuais - em torno de 3 milhões - e cobria 98% dos nascimentos do país. No total, 19 registros apresentaram mais de 98% de cobertura, quase todos de base populacional; dois deles, Cuba e República Dominicana, na América Central, eram de base hospitalar.

Quatorze registros nacionais eram de caráter compulsório, e desses, 12 de base populacional; e entre os 11 de caráter voluntário, apenas cinco eram de base populacional. A idade cronológica limite para notificar um indivíduo com anomalia congênita também se revelou bem diferente entre os registros, variando desde a alta hospitalar (6) até um mês (5), ou maior ou igual a 1 ano de idade (23).

Um total de 16 registros nacionais notificavam unicamente anomalias congênitas maiores, e 14 notificavam anomalias maiores e menores. A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID, 9ª e 10ª revisões) foi o principal sistema de codificação empregado (32); porém, dez registros nacionais acrescentaram modificações à CID (sobretudo a British Pediatric Association Classification of Diseases).

Com relação aos desfechos gestacionais, 33 sistemas notificavam registros de nascidos vivos e natimortos, e desses, 20 incluíam interrupções de gestação em seu escopo. Os registros da Tailândia e do Brasil foram os únicos a incluir apenas nascidos vivos. Entre os registros pesquisados, pelo menos 19 também realizavam o processo de vigilância de anomalias congênitas em sua área de cobertura.

Legenda: AC: anomalias congênitas; CID: Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde; PubMed/Medline: Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (Medline)/PubMed, serviço disponibilizado pela National Library of Medicine dos Estados Unidos.

Figura 1 - Fluxograma das principais etapas metodológicas para a identificação e seleção de registros de anomalias congênitas com cobertura nacional existentes no mundo 

Quadro 1 - Principais características dos registros de anomalias congênitas com cobertura nacional ao redor do mundo, 10 de janeiro de 2020 

País Renda Nome do registro Ano de início Tipo de registro Redes Milhares de nascimentos anuais (% de cobertura) Compulsório Período limite Tipo de anomalia congênita Codificação Desfechos gestacionais Vigilância Fonte das informações
Arábia Saudita Alta Medical Service Department- Birth Defect Registry (MSD-BDR) 2010 Base hospitalar ICBDSR - Sim 2 anos Maiores CID-BPA - - https://bit.ly/2XHWSNm
Argentina Média superior National Registry of Congenital Anomalies of Argentina (RENAC) 2009 Base hospitalar ICBDSR, ReLAMC 300 (40%) Não Alta hospitalar Maiores CID-BPA NV e NM Sim https://bit.ly/3bCBph4 http://dx.doi.org/10.5546/aap.2013.484
Austrália Alta Australian Congenital Anomalies Monitoring System (ACAMS) 1981 Base populacional - - Híbrido Varia entre as diferentes coleções Maiores CID-BPA e AM NV e NM Sim https://bit.ly/2LqbnTQ https://bit.ly/2Ke5JmZ
Brasil Média superior Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) 1999 Base populacional ReLAMC 3.000 (100%) Sim Alta hospitalar Maiores CID NV Não https://bit.ly/3nId7VA
Canadá Alta Canadian Congenital Anomalies Surveillance System (CCASS) 1966 Base populacional ICBDSR 330 (98%) - 1 mês Maiores CID-CA NV e NM Sim https://bit.ly/3bEVm6U https://bit.ly/2LMLUDV
Chile Alta Registro Nacional de Anomalías Congénitas de Chile (RENACH) 2016 - ReLAMC 220 - - - - - - https://bit.ly/38Gs1Hq https://bit.ly/3qyZ7iq
China Média superior Birth Defects Surveillance System for the Collaborative Project-China (BDSS-China) 1992 Base populacional - 260 - 42 dias Maiores CID NV e NM Sim https://doi.org/10.1002/ajmg.c.31690 https://doi.org/10.1007/s12519-011-0326-0
China Média superior Chinese Birth Defects Monitoring Network (CBDMN) 1988 Base hospitalar - 1.380 (8,51%) Não 7 dias Maiores CID NV, NM e IG Sim https://doi.org/10.1007/s12519-011-0326-0 https://doi.org/10.1046/j.1365-3016.2003.00478.x
Colômbia Média superior Vigilancia de los Defectos Congénitos 2010 Base populacional ReLAMC 661 (100%) - 1 ano Maiores CID - - https://doi.org/10.26633 /RPSP.2019.44
Costa Rica Média superior Costa Rican Birth Defects Register Centre (CREC) 1985 Base populacional ICBDSR, ReLAMC 70 (100%) Sim 1 ano Maiores e menores CID-BPA NV e NM Sim https://bit.ly/3bPXdWL https://doi.org/10.26633 /RPSP.2019.44 https://doi.org/10.1007/s10995-014-1542-8
Cuba Média superior Cuban Register of Congenital Malformation (RECUMAC) 1985 Base hospitalar ICBDSR, ReLAMC 120 (100%) Não Alta hospitalar Maiores e menores CID-BPA NV, NM e IG - https://doi.org/10.26633 /RPSP.2019.44 http://doi.org/10.26633/RPSP.2017.174
Dinamarca Alta Danish Medical Birth Registry 1973 Base populacional - - - 1 ano - CID NV, NM e IG - https://bit.ly/3quYJ4D https://doi.org/10.1080/ 14034940210134194 https://doi.org/10.3402/ijch.v68i5.17376
Emirados Árabes Unidos Alta National Congenital Anomalies Register 1999 Base populacional - 63 (100%) - 1 ano Maiores CID com modificações NV e NM Sim https://bit.ly/39LKphk
Escócia Altab The Scottish Linked Routine Data Congenital Anomaly Register 2018 Base populacional EUROCAT 50-55 (100%) Híbrido 1 ano Maiores CID NV, NM e IG - https://bit.ly/3oUI0Y1 https://bit.ly/39FYiO5
Eslováquia Alta Teratologic Information Centre, Slovak Medical University 1964 Base populacional ICBDSR 55 (100%) Sim Alta hospitalar - - NV, NM e IG - https://bit.ly/2XHWSNm http://dx.doi.org/10.1136/bmjopen-2018-028139
Espanha Alta Spanish Collaborative Study of Congenital Malformations (ECEMC) 1976 Base hospitalar ICBDSR, EUROCAT 90 (20%) Não 3 dias Maiores e menores CID NV e NM (IG em alguns hospitais) Sim https://bit.ly/3imtzto, https://doi.org/10.2165/00002018-200831060-00008 https://doi.org/10.1016/j.jpedsurg.2008.07.002
Estados Unidosa Alta National Birth Defects Prevention Network (NBDPN) 1997 Base populacional - - Não - Maiores CID e CDC/BPA NV, NM e IG Sim https://bit.ly/3sxskMG https://doi.org/ 10.1002/bdr2.1607 https://doi.org/ 10.1155/2014/212874
Finlândia Alta Register of Congenital Malformations 1963 Base populacional ICBDSR, EUROCAT 60 (100%) Sim 1 ano Maiores CID NV, NM, IG Sim https://bit.ly/3nUTRUH https://bit.ly/2XHWSNm https://doi.org/10.3402/ijch.v68i5.17376 https://doi.org/10.1093/ije/11.3.239
Guatemala Média superior Protocolo de Vigilancia de Anomalías Congénitas 2017 Base hospitalar - 155 (40%) - 1 mês Maiores CID - Sim https://doi.org/10.26633 /RPSP.2019.44
Hungria Alta Hungarian Congenital Abnormality Registry (HCAR) 1962 Base populacional ICBDSR, EUROCAT 100 (100%) Sim 1 ano Maiores e menores CID com modificações NV, NM e IG - https://bit.ly/2XHWSNm https://doi.org/10.1111/cga.12025
Inglaterra Altab National Congenital Anomaly and Rare Disease Registration Service (NCARDRS) 2015 Base populacional BINOCAR, ICBDSR 610 (100%) Não - Maiores e menores CID NV, NM, IG - https://bit.ly/38UlJEb http://dx.doi.org/ 10.1136/archdischild -2017-312833
Islândia Alta Icelandic Register of Births - Base populacional - - - - - CID NV e NM - https://doi.org/10.3402/ijch.v68i5.17376
Itália Alta Italian Multicenter Register for Congenital Malformations (IPIMC) 1977 Base hospitalar - 116 (20%) Não 5 dias Maiores - NV e NM Sim http://doi.wiley.com/10.1002/ajmg.1320460425 https://doi.org/10.1007/BF00162315
Japão Alta Japan Association of Obstetricians and Gynaecologists (JAOG) 1972 Base hospitalar ICBDSR 100 (9%) - 7 dias - - NV e NM - https://bit.ly/2XTwSyV https://bit.ly/2XHWSNm
Letônia Alta Register of Patients Suffering from Certain Diseases 1987 Base populacional EUROCAT 19,2 (100%) Sim 18 anos - - NV, NM e IG - https://bit.ly/3oUI0Y1 https://doi.org/10.1186/s13023-014-0147-z
Malta Alta Malta Congenital Anomalies Register (MCAR) 1985 Base populacional ICBDSR, EUROCAT 4 (100%) Não 1 ano Maiores e menores CID NV e NM - https://bit.ly/2XHWSNm https://bit.ly/3oUI0Y1
México Média superior Registro y Vigilancia Epidemiológica de Malformaciones Congénitas (RYVEMCE) 1978 Base hospitalar ICBDSR 62 (3,5%) Não Alta hospitalar Maiores e menores - NV e NM Sim https://doi.org/10.26633/ RPSP.2019.44 https://bit.ly/2XHWSNm https://doi.org/10.1016/j.bmhimx.2017.02.003 https://bit.ly/3qqzz76
Noruega Alta Medical Birth Registry of Norway (MBRN) 1967 Base populacional ICBDSR, EUROCAT 60 (100%) Sim 1 ano - CID-BPA NV, NM e IG Sim https://bit.ly/35OTZyM http://doi.wiley.com/ 10.1034/j.1600-0412. 2000.079006435.x https://doi.org/10.1111/ dmcn.13552
Nova Zelândia Alta New Zealand Birth Defects Registry (NZBDR) 1975 Base populacional ICBDSR 58 (100%)c Sim Sem limite Maiores e menores - NV, NM e IG - https://bit.ly/2XRvhK4 https://bit.ly/2XHWSNm
País de Gales Altab Congenital Anomaly Register & Information Service for Wales (CARIS) 1998 Base populacional BINOCAR, ICBDSR, EUROCAT 35 (100%) Não 1 ano Maiores e menores CID NV, NM e IG - https://bit.ly/3nUENXh https://bit.ly/2XHWSNm http://doi.wiley.com/ 10.1002/bdra.23336
Panamá Alta Programa Nacional de Malformaciones Congénitas de Panamá (PNMC) - - ReLAMC - - - - - - - https://bit.ly/3qyZ7iq
Paraguai Média superior Programa Nacional de Prevención de Defectos Congénitos del Ministerio de Salud Pública del Paraguay (PNPDC) 2016 Base hospitalar ReLAMC Sim 1 ano Maiores e menores CID - - https://bit.ly/3qwW9LG https://bit.ly/3qyZ7iq
Polônia Alta Polish Registry of Congenital Malformations (PRCM) 1997 Base populacional EUROCAT 300 (85%) Sim 2 anos Maiores e menores CID NV, NM e IG Sim https://bit.ly/3oVZp2G https://bit.ly/3oUI0Y1 https://bit.ly/3oWRSAL
Portugal Alta Portuguese national registry of congenital anomalies (RENAC) 1995 Base populacional EUROCAT - Não Fim do período neonatal Maiores CID NV, NM e IG Sim https://bit.ly/2NgJ7DC http://doi.wiley.com/ 10.1002/bdra.23530
República Checa Alta National Registry of Congenital Anomalies (NRCA) of the Czech Republic 1964 Base populacional ICBDSR, EUROCAT 110 (100%) Sim 15 anos - CID NV, NM e IG Sim https://bit.ly/35QVI6U https://bit.ly/2XHWSNm https://doi.org/10.21101/cejph.a4201
República Dominicana Média superior Sistema Nacional de Vigilancia Epidemiológica 2016 Base hospitalar - 193 (100%) - Alta hospitalar Maiores e menores CID - - https://doi.org/10.26633/RPSP.2019.44
Singapura Alta National Birth Defects Registry 1992 Base populacional - - - 18 anos Maiores e menores CID NV, NM e IG - http://doi.org/10.3389/fped.2014.00060 https://bit.ly/38S57Nk
Suécia Alta Swedish Medical Birth Registry (MBR) 1964 Base populacional ICBDSR, EUROCAT 100-120 (100%) Sim 1 ano - CID NV, NM e IG Sim http://doi.wiley.com/10.1080/ 00016340902934696 http://doi.wiley.com/ 10.1111/j.1651-2227.1989.tb11122.x
Tailândia Média superior Thailand Birth Defects Registry 2014 Base hospitalar SEAR-NBBD 67 (8,3%) - 1 ano Cinco tipos prioritáriosd CID NV - https://bit.ly/2NgKfqQ https://doi.org/10.1002/ ajmg.c.31690
Uruguai Alta Registro Nacional de Defectos Congénitos y Enfermedades Raras de Uruguay (RNDCER) 2011 Base populacional ReLAMC 28 (58%) Sim 6 anos Maiores e menores CID NV, NM e IG Sim https://bit.ly/2KumQRM https://doi.org/10.26633/RPSP.2019.44 https://bit.ly/3qyZ7iq

a) NBDPN é, propriamente, uma rede de base voluntária dos sistemas estaduais ao redor dos Estados Unidos;

b) A informação é relacionada ao Reino Unido; c) Cobre todos os nascidos vivos entregues ou tratados em um hospital público da Nova Zelândia; d) Síndrome de Down, defeitos de tubo neural, fissuras labiopalatinas, anomalias de membros e distrofia muscular de Duchenne.

Legenda: BINOCAR: British and Irish Network of Congenital Anomaly Researchers; BPA: British Pediatric Association Classification of Diseases; CDC: Centers for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos; CID: Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde; EUROCAT: European surveillance of congenital anomalies; ICBDSR: International Clearinghouse for Birth Defects, Surveillance and Research; IG: interrupção de gestação; NM: natimorto; NV: nascido vivo; ReLAMC: Red Latinoamericana de Malformaciones Congénitas; SEAR-NBBD: South-East Asia Region New-born and Birth Defects

Nota: Os registros da Inglaterra, Escócia e País de Gales foram representados, em conjunto, pelo Reino Unido, e a cobertura anual foi representada pela soma dos nascimentos nos três registros de anomalias congênitas. Polígonos com preenchimento representam os países que possuem pelo menos um registro nacional de anomalias congênitas de base populacional, hospitalar ou ambas. O tamanho do círculo é proporcional ao número (em milhares) de nascimentos cobertos anualmente, em cada registro.

Figura 2 - Distribuição mundial e cobertura anual dos registros incluídos no presente trabalho (A), com destaque para o continente europeu (B), 10 de janeiro de 2020 

Discussão

Em todo o mundo, apenas 40 registros de anomalias congênitas com cobertura nacional foram encontrados em 39 diferentes países. Os registros identificados se localizavam exclusivamente em países de rendas alta e média superior, grande parte deles concentrada na Europa. Desse modo, as estimativas globais das anomalias tendem a super-representar esses lugares, em detrimento dos demais. Entretanto, trata-se de uma importante contribuição dos registros presentes nesses países a produção de uma série de materiais técnico-científicos de orientação das diferentes etapas da vigilância de anomalias congênitas.

A ausência de representatividade em países de renda média inferior e baixa é importante porque, nesses contextos, o impacto das anomalias em saúde pode ser maior, devido à baixa oferta de serviços assistenciais adequados para o cuidado de crianças afetadas.8 Além disso, nesses países, as demais causas de mortalidade infantil, como desnutrição, baixas condições de saneamento e suscetibilidade a infecções, dificuldade de acesso aos serviços de saúde, entre outras, ainda são comuns, o que pode ajudar a “mascarar” a real magnitude das anomalias congênitas, em termos epidemiológicos 8,11

Grandes eventos, envolvendo consequências teratogênicas, como a tragédia da talidomida,4,12 o desastre de Chernobyl13 e a epidemia de síndrome congênita associada à infecção pelo vírus Zika,14 vêm mobilizando as nações e seus territórios para o monitoramento das anomalias congênitas. A despeito do registro húngaro ser o mais antigo encontrado neste trabalho (1962), o programa da República Tcheca iniciou suas atividades em 1961, mas o monitoramento regular teve início em 1964.15

Os registros com cobertura nacional apresentaram diferentes características entre si. A maior parte deles foi de base populacional, o que torna as prevalências obtidas de tais sistemas menos suscetíveis a vieses, comparadas àquelas obtidas a partir de registros hospitalares.5,16 Registros de base hospitalar podem ser uma escolha interessante, sobretudo em países com registros incipientes e/ou recursos financeiros limitados; além disso, existe a possibilidade, no futuro, destes registros de anomalias se expandirem para programas de base populacional.5,17 Também é importante mencionar que alguns registros complementam suas informações por meio da busca ativa de dados, a exemplo da revisão de relatórios de alta hospitalar (caso de alguns estados dos Estados Unidos),18 auditoria perinatal (Austrália e Nova Zelândia)19 e rotinas de vinculação (linkage) entre bases de dados (Escócia).20

O que, até quando e como notificar as anomalias congênitas também foram questões revisadas. A maior parte dos registros mostrou notificação de caráter compulsório, sobretudo de anomalias maiores de acordo com a CID, em nascidos vivos, natimortos e crianças com idade máxima notificada igual ou abaixo de 1 ano.

Embora o trabalho tenha investigado apenas registros com cobertura nacional, a proporção de nascimentos cobertos anualmente variou bastante. O registro brasileiro - Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) - foi aquele que apresentou o maior número absoluto de nascimentos cobertos anualmente. O documento básico do Sinasc é a Declaração de Nascido Vivo, na qual, desde 1999, constam dados sobre a presença e o tipo de anomalia congênita.21,22

Apesar de a vigilância hospitalar ser realizada em alguns poucos hospitais do Brasil, por meio do Estudo Colaborativo Latino-Americano de Malformações Congênitas (ECLAMC), a vigilância de anomalias congênitas ainda não acontece sistematicamente, em todo o território nacional. Entretanto, um modelo de vigilância nacional vem sendo estruturado na Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde brasileiro, em articulação com demais secretarias do órgão, membros da comunidade acadêmica e sociedades médicas.23-25

Este trabalho apresentou algumas limitações, como a possibilidade de haver registros com cobertura nacional não capturados pela abordagem metodológica utilizada, devido, por exemplo, à inexistência de material publicado online. Ademais, os registros são dinâmicos e características como a cobertura podem mudar ao longo do tempo.

Em conclusão, este trabalho revisou os principais registros de anomalias congênitas com cobertura nacional ao redor do mundo. Os 40 registros analisados apresentaram diferentes características, constituindo-se em material de consulta para profissionais interessados pela temática e, sobretudo, fornecendo subsídios à reflexão sobre atividades de vigilância e quais características são desejáveis ou possíveis de serem implementadas, considerando-se a realidade de cada nação.

Referências

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Editora associada: Bárbara Reis-Santos - orcid.org/0000-0001-6952-0352

Recebido: 04 de Fevereiro de 2021; Aceito: 24 de Maio de 2021

Correspondência: Augusto César Cardoso-dos-Santos - Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Unidade Técnica de Vigilância das Anomalias Congênitas, SRTVN 701, Via W5 Norte, Ed. PO700, 6º andar, Brasília, DF, Brasil. CEP: 70723-040 E-mail: augusto.cesar@saude.gov.br

Contribuição dos autores Cardoso-dos-Santos AC, Alves RSM, Medeiros-de-Souza AC, Bremm JM, Gomes JA, Alves RFS, Araujo VEM e França GVA participaram da concepção, delineamento do estudo, redação ou revisão crítica relevante do conteúdo intelectual do manuscrito. Cardoso-dos-Santos AC, Alves RSM e França GVA participaram da análise e interpretação dos dados. Todos os autores aprovaram a versão final desta nota de pesquisa e assumem responsabilidade por todos os aspectos do trabalho, incluindo a garantia de sua precisão e integridade.

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