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Epidemiologia e Serviços de Saúde

versão impressa ISSN 1679-4974versão On-line ISSN 2237-9622

Epidemiol. Serv. Saúde vol.31 no.1 Brasília  2022  Epub 22-Abr-2022

http://dx.doi.org/10.1590/s1679-49742022000100025 

Artigo original

Associação entre supervisão parental, vitimização e perpetração de bullying em adolescentes brasileiros, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2015

Asociación entre la supervisión de los padres y la victimización y perpetración de la intimidación en adolescentes brasileños, Encuesta Nacional de Salud Estudiantil 2015

Marcelle de Paula Figueira (orcid: 0000-0002-9938-9751)1  , Letícia Martins Okada (orcid: 0000-0001-7947-2112)2  , Tatiana Henriques Leite (orcid: 0000-0002-2861-4480)3  , Catarina Machado Azeredo (orcid: 0000-0002-6189-4429)2  , Emanuele Souza Marques (orcid: 0000-0002-8633-7290)3 

1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Nutrição, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

2 Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Medicina, Uberlândia, MG, Brasil

3 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Medicina Social, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Resumo

Objetivo:

Analisar a associação entre características de supervisão parental e diferentes papéis de bullying entre adolescentes escolares brasileiros.

Métodos:

Estudo transversal, com dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2015. Realização frequente de refeições com os pais ou responsáveis, conhecimento sobre o tempo livre e verificação dos deveres de casa foram as práticas parentais avaliadas. Utilizou-se regressão logística para associação entre essas práticas e bullying (perpetração e vitimização), apresentada como razão de odds (RO) e intervalos de confianças de 95% (IC95%).

Resultados:

Entre 102.072 escolares, a realização frequente de refeições com os pais ou responsáveis [ROvitim = 0,86 (IC95% 0,84;0,89); ROperp = 0,85 (IC95% 0,82;0,88)], a verificação dos deveres de casa [ROvitim = 0,95 (IC95% 0,92;0,97); ROperp= 0,76 (IC95% 0,74;0,78)] e o conhecimento dos pais ou responsáveis sobre o tempo livre dos escolares [ROperp = 0,70 (IC95% 0,68;0,73)] foram inversamente associadas ao bullying.

Conclusão:

Maior supervisão parental reduziu a chance de vitimização e perpetração do bullying entre adolescentes escolares.

Palavras-chave: Relações Pais-Filho; Poder Familiar; Bullying; Adolescente; Estudo Observacional

Resumen

Objetivo:

Analizar la asociación entre las características de la supervisión parental y los diferentes roles del bullying entre adolescentes brasileños.

Métodos:

Estudio transversal con datos de la Encuesta Nacional de Salud Escolar de Adolescentes (PeNSE) 2015. Las comidas frecuentes con los padres/tutores, el conocimiento sobre el tiempo libre y la verificación de la tarea fueron las prácticas parentales evaluadas. Se utilizo regresión logística para la asociación entre prácticas y bullying (perpetración y victimización), presentada como razón de probabilidades (RP) e intervalos de confianza del 95% (IC95%).

Resultados:

Entre 102.072 estudiantes, comidas frecuentes [RPvitim = 0,86 (IC95% 0,84;0,89); RPperp = 0,85 (IC95% 0,82;0,88)] y verificación de la tarea [RPvitim = 0,95 (IC95% 0,92;0,97); ORperp = 0,76 (IC95% 0,74;0,78)] y conocimiento de los padres/tutores sobre el tiempo libre [RPperp= 0,70 (IC95% 0,68;0,73)] se asociaron inversamente con el acoso.

Conclusión:

Una mayor supervisión de los padres redujo el acoso en los estudiantes.

Palabras clave: Relaciones Padres-Hijo; Responsabilidad Parental; Acoso Escolar; Adolescente; Estudio Observacional

Contribuições do estudo

Principais resultados

A adoção de práticas de supervisão parental (realização frequente de refeições com os pais ou responsáveis, verificação dos deveres de casa e conhecimento dos pais ou responsáveis sobre o tempo livre dos escolares) reduziram as chances de bullying.

Implicações para os serviços

Os achados reforçam a importância da criação de medidas na escola e/ou no setor da saúde que fortaleçam o vínculo entre pais e filhos, de modo a se orientar a adoção de práticas de supervisão parental positivas, democráticas e interativas.

Perspectivas

Estudos futuros sobre práticas parentais e bullying em diferentes contextos e populações, de preferência com inclusão de instrumentos mais robustos, fazem-se necessários para melhor compreender essa relação.

Introdução

O bullying, um tipo de violência que ocorre entre pares, apresenta três características principais: a intencionalidade, a repetição e o desequilíbrio de poder entre agressor e vítima, sendo um evento comum para adolescentes escolares.1 O bullying é considerado um importante problema de saúde pública, devido a sua magnitude e às sérias consequências que traz para a saúde e o bem-estar de crianças e adolescentes.2 A prevalência desse problema em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil, é alta: a prevalência de vitimização do bullying foi de 36%, e a de perpetração, de 35%, no ano de 2014.3 No Brasil, as três edições da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) mostraram uma tendência crescente de bullying entre adolescentes escolares, de 14,2% em 2009, para 16,5% em 2012 e 21,7% em 2015.4

A maior parte da literatura existente sobre bullying enfoca a descrição do perfil de suas vítimas e perpetradores, bem como os fatores de risco individuais e contextuais relacionados à vivência desses papéis.5 A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em seu documento Behind the numbers: ending school violence and bullying, publicado em 2019, e na revisão sistemática sobre fatores preditores para a perpetração do bullying realizada por Álvarez-Garcia et al., publicada no ano de 2015, mostram que meninos mais velhos, vivendo em locais violentos, com menos amigos, possuem maior probabilidade de serem vítimas e/ou perpetradores de bullying.2,6 Estudos nacionais e internacionais, ao observarem a influência do contexto familiar no bullying, principalmente a relação que os pais estabelecem com seus filhos, são recentes e abordam, em sua maioria, a vitimização.7-9

As práticas parentais são comportamentos e atitudes dos pais no sentido de cuidar, educar e controlar seus filhos.10 Os hábitos e os vínculos estabelecidos entre pais e filhos são fundamentais para o crescimento destes, seu desenvolvimento e a construção de sua autonomia.11 De acordo com a revisão realizada por Oliveira et al. em 2018, a supervisão parental, o estabelecimento de regras, o acompanhamento e a comunicação positiva são fatores de proteção contra o bullying. Em contraponto, o uso da violência para resolução de conflitos entre pais e filhos é um fator de risco para o bullying.12 Assim, torna-se evidente a importância da família e dos pares no processo de socialização do adolescente. Nesse contexto, a escola constitui um lócus essencial para a reflexão e discussão das vulnerabilidades, do desenvolvimento e formação do adolescente.13 No Brasil, o Programa Saúde na Escola (PSE)14 apresenta, como um de seus componentes norteadores, a promoção da saúde e a realização de atividades de prevenção. Nessa perspectiva, destaca-se a promoção da cultura de paz e o repúdio a qualquer manifestação de violência, enquanto estratégias de promoção da saúde.

Considerando-se a importância da supervisão parental na forma do adolescente se relacionar com seus pares, ademais da escassez de estudos nacionais e internacionais que enfocam sua influência na perpetração do bullying,7-9 este estudo pretende contribuir para a ampliação do conhecimento sobre a influência dos pais nos diferentes papéis do bullying, e para a elaboração e implementação de ações de promoção da saúde e prevenção do bullying que envolvam a família, os pares e a escola.

O objetivo deste estudo foi analisar a associação entre características da supervisão parental e diferentes papéis de bullying entre adolescentes escolares brasileiros.

Métodos

Trata-se de um estudo transversal, baseado em dados da PeNSE de 2015, data da terceira edição da pesquisa - um inquérito de base populacional, realizado a cada três anos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação.15

A seleção da amostra utilizou o procedimento de amostragem por conglomerados, em múltiplos estágios, com o propósito de estimar parâmetros populacionais em diversos domínios geográficos. Para a seleção das escolas participantes da PeNSE, foram utilizados dados do Censo Escolar de 2013, tendo como critério de inclusão a presença de turmas do 9º ano do ensino fundamental; as escolas com uma ou duas turmas matriculadas neste nível de ensino tiveram apenas uma turma selecionada, ao passo que aquelas com três ou mais turmas tiveram duas turmas selecionadas.15 Todos os adolescentes das turmas selecionadas presentes no dia da coleta foram considerados elegíveis para o estudo.

A população estudada, portanto, contemplou escolares que frequentavam o nono ano (antiga 8ª série) do ensino fundamental, matriculados em escolas públicas e privadas, situadas nas zonas rurais e urbanas das 26 capitais e do Distrito Federal, entrevistados na PeNSE 2015.

A coleta de dados aconteceu no ano de 2015, mediante questionário multitemático autoaplicável, disponibilizado em smartphone. O instrumento apresentou questões referentes ao contexto socioeconômico, demográfico, familiar, violências, segurança e acidentes, entre outras, e pautou-se em pesquisas internacionais com adolescentes escolares, tais como Global School-Based Student Health Survey, Health Behavior in School-Aged Children e The Youth Risk Behavior Surveillance System, e inquéritos nacionais anteriores, de base populacional.15

Os dados da PeNSE 2015 foram acessados, em 11 de junho de 2020, no sítio eletrônico do IBGE (https://bit.ly/ressn1_376B6LC).

As práticas de supervisão parental analisadas foram i) a frequência de refeições com os pais ou responsáveis, ii) o conhecimento dos pais ou responsáveis sobre o tempo livre dos escolares e iii) a verificação dos deveres de casa pelos pais ou responsáveis. Tais exposições de interesse foram avaliadas mediante as perguntas: Você costuma almoçar ou jantar com sua mãe, pai ou responsável?; Nos últimos 30 dias, com que frequência seus pais ou responsáveis sabiam realmente o que você estava fazendo em seu tempo livre?; e Nos últimos 30 dias, com que frequência seus pais ou responsáveis verificaram se os seus deveres de casa (lição de casa) foram feitos? Para a análise descritiva e analítica, a variável referente à frequência de refeições foi categorizada em até duas vezes por semana, 3 a 4 vezes por semana e 5 ou mais vezes por semana. As variáveis sobre conhecimento do tempo livre e verificação de deveres escolares também foram categorizadas: 0 (nunca); 1 (raramente); 2 (sim - às vezes/na maior parte do tempo/ sempre).

Em relação aos desfechos - vitimização e perpetração de bullying -, estes foram mensurados por meio das seguintes questões: Nos últimos 30 dias, com que frequência os colegas de sua escola trataram você bem e/ou foram prestativos contigo?; Nos últimos 30 dias, com que frequência seus colegas da escola te esculacharam, zoaram, mangaram, intimidaram ou caçoaram tanto que você ficou incomodado, aborrecido, ofendido ou humilhado?; e Nos últimos 30 dias, você esculachou, zombou, mangou, intimidou ou caçoou de algum de seus colegas da escola tanto que ele ficou magoado, aborrecido, ofendido ou humilhado? Na análise de dados, essas variáveis foram utilizadas na forma dicotômica (sim; não).

Já as variáveis utilizadas para a caracterização da população e ajuste nas análises multivariadas foram: sexo (masculino; feminino); idade (em anos: menos de 15; 15 ou mais); raça/cor da pele (branca; preta; amarela; parda/mista; indígena brasileiro nativo); morar com a mãe (sim; não); morar com o pai (sim; não); morar com ambos os pais (sim; não); tipo de escola (pública; privada).

O poder do estudo foi calculado levando-se em consideração o desenho da pesquisa, a quantidade de expostos e não expostos, a prevalência das práticas de supervisão parental nesses grupos e o intervalo de confiança de 95% (IC95%). O poder de estudo post hoc foi de 99,9%.

Inicialmente, realizou-se uma análise descritiva para identificar a distribuição das variáveis e caracterizar a população estudada. Foram calculadas as prevalências de vitimização e perpetração de bullying em alguns subgrupos da amostra (idade; sexo; raça/cor da pele; morar com a mãe; morar com o pai; tipo de escola) e estimaram-se os ICs. O perfil de co-ocorrência das práticas parentais foi representado graficamente, utilizando-se o diagrama de Venn, de acordo com o papel do adolescente no bullying (vitimização ou perpetração). Para esta análise, as variáveis de supervisão parental foram dicotomizadas: a variável referente à frequência de refeições foi categorizada em ≤4 vezes por semana e ≥5 vezes por semana, enquanto as demais práticas de supervisão foram categorizadas em 'não' e 'sim'.

As estimativas brutas e ajustadas de associação de cada prática parental (realização frequente de refeições com os pais ou responsáveis, conhecimento sobre o tempo livre e verificação dos deveres de casa dos filhos) com a vitimização [razão de odds (ou razão de chances) = ROvitim] e a perpetração (ROperp) do bullying, e seus respectivos IC95%, foram obtidos por regressão logística, simples e múltipla. Em todos os modelos analisados, a significância das estimativas foi verificada pelo teste de Wald, considerando-se estatisticamente significante o valor de p<0,05. A análise multivariável foi norteada pelo modelo teórico-conceitual, previamente elaborado pelos pesquisadores (Figura 1), e ajustada pelas variáveis demográficas, socioeconômicas, familiares e de contexto escolar citadas anteriormente. Todas as análises foram realizadas utilizando-se o pacote estatístico Stata em sua versão 15.0, considerando-se a estrutura amostral e os pesos para a obtenção de estimativas populacionais, por meio da suíte svy.

Figura 1 Modelo teórico-conceitual representativo das variáveis relacionadas às práticas de supervisão parental e bullying em adolescentes  

O projeto da PeNSE 2015 foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde (CONEP/CNS/MS), por meio do Parecer nº 1.006.467, emitido em 30 de março de 2015. Somente participaram do estudo os alunos que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Ressalta-se que o estudo, ao utilizar dados abertos de acesso público e sem identificação, foi dispensado de apreciação por Comitê de Ética em Pesquisa.

Resultados

A população do estudo contemplou 102.072 escolares que frequentavam o 9º ano de escolas públicas e privadas das 26 capitais e do Distrito Federal (3.160 escolas e 4.159 turmas). A Tabela 1 apresenta o perfil dos participantes da pesquisa. A distribuição da amostra segundo sexo foi semelhante, a maioria dos estudantes eram menores de 15 anos (69,3%), autodeclararam-se pardos (43,1%), residiam com ambos os pais (59,3%) e frequentavam escolas públicas (85,5%). Sobre a experiência de bullying, 46,6% (IC95% 45,9;47,3) relataram serem vítimas, enquanto 19,8% (IC95% 19,2;20,3) afirmaram serem perpetradores desse tipo de violência. Sobre as práticas de supervisão parental, a maioria dos estudantes realizava suas refeições com os pais ou responsáveis 5 vezes ou mais na semana (73,9%), afirmaram que os pais ou responsáveis estavam cientes de suas atividades em tempo livre (80,5%) e tinham seus deveres de casa verificados por eles (55,9%).

Tabela 1 Características dos estudantes brasileiros (n=102.072), Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), 2015 

Variáveis n % (IC95%a)
Idade (em anos)
<15 68.871 69,3 (68,2;70,3)
≥15 33.201 30,7 (29,7;31,8)
Sexo
Masculino 42.290 48,7 (48,1;49,3)
Feminino 52.782 51,3 (50,7;51,9)
Raça/cor da pele
Branca 33.775 36,1 (35,1;37,2)
Preta 12.849 13,4 (12,9;13,9)
Amarela 4.580 4,1 (3,9;4,4)
Parda/mista 46.935 43,1 (42,2;43,9)
Indígena brasileiro nativo 3.825 3,3 (3,1;3,5)
Mora com a mãe
Não 11.543 10,1 (9,7;10,4)
Sim 90.458 89,9 (89,6;90,3)
Mora com o pai
Não 38.341 36,3 (35,6;37,0)
Sim 63.600 63,7 (63,0;64,4)
Mora com ambos os pais
Não 43.367 40,7 (40,0;41,5)
Sim 58.669 59,3 (58,5;60,0)
Tipo de escola
Pública 81.154 85,5 (83,4;87,5)
Privada 20.918 14,5 (12,5;16,6)
Frequência de refeições com os pais ou responsáveis
≤2 vezes por semana 23.980 22,6 (22,0;23,2)
3-4 vezes por semana 3.963 3,5 (3,3;3,7)
≥5 vezes por semana 74.129 73,9 (73,3;74,6)
Conhecimento dos pais ou responsáveis sobre o tempo livre dos escolares
Nunca 11.057 10,8 (10,4;11,3)
Raramente 8.884 8,7 (8,3;9,0)
Às vezes/na maior parte do tempo/sempre 82.131 80,5 (79,9;81,1)
Verificação dos deveres de casa pelos pais ou responsáveis
Nunca 26.191 25,1 (24,5;25,7)
Raramente 19.836 19,0 (18,5;19,5)
Às vezes/na maior parte do tempo/sempre 56.045 55,9 (55,1;56,5)
Vitimização por bullying
Não 56.584 53,4 (52,7;54,1)
Sim 44.921 46,6 (45,9;47,3)
Perpetração de bullying
Não 82.595 80,2 (79,7;80,8)
Sim 19.002 19,8 (19,2;20,3)

a) IC95%: Intervalo de confiança de 95%.

A Tabela 2 apresenta o perfil dos estudantes entrevistados segundo seu papel no bullying. Os adolescentes vítimas de bullying eram, em sua maioria, do sexo feminino (50,6%), menores de 15 anos (72,2%) e estudantes de escolas públicas (85,0%). Os estudantes que perpetraram o bullying foram, majoritariamente, do sexo masculino (59,5%), menores de 15 anos (66,7%), autodeclararam-se pardos (42,0%), referiram morar com a mãe (89,1%), morar com o pai (60,2%), e frequentavam escolas públicas (84,4%).

Tabela 2 Prevalência de vitimização e perpetração de bullying segundo variáveis independentes, entre estudantes brasileiros (n=102.072), Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), 2015 

Variáveis Vitimização por bullying Perpetração de bullying
n % (IC95%a) n % (IC95%a)
Idade (em anos)
<15 31.366 72,2 (71,1;73,3) 12.273 66,7 (65,0;68,3)
≥15 13.555 27,8 (26,7;28,9) 6.729 33,3 (31,7;35,0)
Sexo
Masculino 22.035 49,4 (48,4;50,3) 11.399 59,5 (58,2;60,9)
Feminino 22.886 50,6 (49,7;51,6) 7.603 40,5 (39,1;41,9)
Raça/cor da pele
Branca 14.848 36,6 (35,3;37,9) 5.960 35,7 (34,0;37,5)
Preta 5.593 13,2 (12,5;13,8) 2.670 14,5 (13,5;15,6)
Asiática 2.148 4,2 (3,9;4,5) 962 4,4 (3,9;4,9)
Parda/mista 20.536 42,6 (41,4;43,7) 8.620 42,0 (40,4;43,6)
Indígena brasileiro nativo 1.763 3,4 (3,2;3,9) 775 3,4 (3,0;3,9)
Mora com a mãe
Não 5.184 10,1 (9,5;10,6) 2.403 10,9 (10,1;11,8)
Sim 39.719 89,9 (89,4;90,5) 16.587 89,1 (88,2;89,9)
Mora com o pai
Não 7.250 36,9 (35,9;37,9) 7.755 39,8 (38,5;41,2)
Sim 7.633 63,1 (62,2;64,1) 1.230 60,2 (58,8;61,5)
Tipo de escola
Pública 5.216 85,0 (82,5;87,1) 14.927 84,4 (81,7;86,8)
Privada 1.407 15,0 (12,9;17,5) 16.800 15,6 (13,2;18,3)

a) IC95%: Intervalo de confiança de 95%.

O perfil de ocorrência das práticas parentais segundo o papel do adolescente no bullying está apresentado na Figura 2. Quando se comparou a ocorrência das práticas parentais entre vítimas e não vítimas de bullying, os adolescentes vítimas apresentaram menor percentual de práticas positivas de supervisão parental (refeição frequente com os pais, conhecimento do tempo livre e verificação dos deveres), em relação àqueles que não foram vítimas de bullying (37,0% versus 42,0%). Verificou-se o mesmo padrão quando foram avaliados perpetradores e não perpetradores (28,0% versus 42,0%) de bullying. Observou-se que os adolescentes perpetradores de bullying apresentaram menores frequências de práticas positivas de supervisão parental (28,0%), quando comparados aos demais grupos - vítimas (37,0%), não vítimas (42,0%) e não perpetradores (42,0%). Os adolescentes que não foram vítimas e não foram perpetradores do bullying apresentaram os maiores percentuais dessas três práticas (42,0%).

Figura 2 Modelo teórico-conceitual representativo das variáveis relacionadas às práticas de supervisão parental e bullying em adolescentes 

Conforme apresentado na Tabela 3, após o ajuste, a realização frequente de refeições com os pais ou responsáveis [ROvitim= 0,86 (IC95% 0,84;0,89); ROperp= 0,85 (IC95% 0,82;0,88)] e a verificação dos deveres de casa pelos pais ou responsáveis [ROvitim= 0,95 (IC95% 0,92;0,97); ROperp= 0,76 (IC95% 0,74;0,78)] apresentaram relação inversa estatisticamente significativa com a vitimização e perpetração de bullying; ou seja, os adolescentes cujos pais adotaram tais práticas de supervisão parental apresentam menos chance de serem vítimas e perpetradores de bullying. Já o conhecimento dos pais ou responsáveis sobre o tempo livre dos escolares associou-se de forma inversa apenas com a perpetração de bullying [ROperp= 0,70 (IC95% 0,68;0,73)], ou seja, tal prática mostrou-se um fator de proteção contra a perpetração de bullying.

Tabela 3 Análises bruta e ajustada da associação entre supervisão parental e vitimização e perpetração de bullying, entre estudantes brasileiros (n=102.072), Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), 2015 

Características de supervisão parental Vitimização por bullying Perpetração de bullying
Bruta Ajustadac Bruta Ajustadac
ROa (IC95% b) p-valord ROa (IC95%b) p-valord ROa (IC95%b) p-valord ROa (IC95%b) p-valord
Realização frequente de refeições com os pais ou responsáveis 0,89 (0,85;0,89) <0,001 0,86 (0,84;0,89) <0,001 0,84 (0,81;0,87) <0,001 0,85 (0,82;0,88) <0,001
Conhecimento dos pais ou responsáveis sobre o tempo livre dos escolares 1,04 (1,00;1,09) 0,035 1,02 (0,98;1,06) 0,260 0,70 (0,67;0,73) <0,001 0,70 (0,68;0,73) <0,001
Verificação dos deveres de casa pelos pais ou responsáveis 0,95 (0,93;0,98) <0,001 0,95 (0,92;0,97) <0,001 0,75 (0,73;0,78) <0,001 0,76 (0,74;0,78) <0,001

a) RO: Razão de odds (razão de chances); b) IC95%: Intervalo de confiança de 95%; c) Ajuste para idade, raça/cor da pele, morar com a mãe, morar com o pai, tipo e turno de escola; d) Teste de Wald para heterogeneidade.

Discussão

Os resultados do presente estudo mostraram associação inversa estatisticamente significativa entre as práticas positivas de supervisão parental e os comportamentos de bullying (vitimização e perpetração) entre adolescentes brasileiros. Os alunos que realizavam frequentemente as refeições com os pais ou responsáveis e que tinham seus deveres de casa verificados por eles tiveram menor probabilidade de sofrer e perpetrar o bullying. Os estudantes cujos pais ou responsáveis tinham conhecimento sobre o que faziam com seu tempo livre tiveram menos chances de perpetrar o bullying.

Muitos estudos, desenvolvidos em países de alta, média e baixa renda, entre os anos de 1990 e 2015, têm avaliado a associação entre monitoramento/supervisão parental e o envolvimento de adolescentes em comportamentos de risco,16-19 incluindo o bullying.7,8,10,20,21 De maneira geral, a falta de monitoramento parental mostrou-se associada a vitimização ou perpetração do bullying. Um estudo multicêntrico, realizado em 83 países de seis diferentes continentes, entre os anos de 2003 e 2015, sugere que o maior envolvimento e apoio dos pais poderia facilitar a detecção precoce de relações problemáticas dos adolescentes com seus pares. Segundo o mesmo estudo, esse conhecimento permitiria aos pais ajudar os filhos a resolverem problemas e manterem interações adequadas e assertivas, prevenindo assim o bullying.7 Ter uma relação próxima com os pais (vínculo pais-filho) pode melhorar a capacidade dos filhos para selecionar amigos pró-sociais, o que está diretamente relacionado à diminuição do envolvimento em situações de violência.22,23

No presente trabalho, verificou-se que a realização frequente de refeições com os pais ou responsáveis se associou negativamente ao bullying, semelhantemente a outros estudos realizados nos Estados Unidos em 1996/1997 e na Escócia em 2018.24,25 Fazer as refeições em família pode indicar uma prática de monitoramento parental,8 já que fazer as refeições juntos oportuniza a comunicação entre pais e filhos, propicia momentos para discussão de questões sociais e emocionais e, possivelmente, o apoio parenteral ao desenvolvimento de estratégias de enfrentamento durante as relações interpessoais dos filhos.26 Não somente o apoio familiar, mas também o dos amigos e da escola seriam capazes de propiciar ao adolescente maior bem-estar e capacidade de resiliência, em resposta ao bullying.25-27

Adolescentes cujos pais ou responsáveis tinham conhecimento sobre seu tempo livre apresentaram menor probabilidade de perpetrar o bullying. Outro estudo de base escolar, este realizado na Turquia em 2005/2006, mostrou que a menor supervisão parental foi um fator de risco para a perpetração e vitimização de bullying [RO = 1,36 (IC95% 1,05;1,76)].8 Espelage et al., em mais um estudo de base escolar realizado nos Estados Unidos, no ano de 1996, também encontraram resultados semelhantes, ou seja: à medida que o tempo sem supervisão parental aumentava, os adolescentes se envolviam mais em comportamentos de bullying (β = 0,16; p<0,001), na comparação com adolescentes cujos pais sabiam de seu paradeiro e com quem estavam.9 Em 2005, Gage et al.,28 utilizando-se de dados do inquérito nacional norte-americano Health Behaviors of School-Aged Children Survey, realizado no período de 2001/2002, encontraram que passar pelo menos cinco noites fora de casa associou-se ao envolvimento frequente em violência e agressão entre jovens. Mesmo que os pais ou responsáveis não saibam com quem e o que os adolescentes fazem quando não estão sob sua supervisão, existe a possibilidade de estes aproveitarem seu tempo livre para perpetrar o bullying, envolvendo-se com outros adolescentes que também costumam intimidar seus pares.8

Houve associação negativa entre a verificação dos deveres de casa pelos pais ou responsáveis e o envolvimento do adolescente em comportamentos de bullying. Ajudar os filhos com o dever de casa é um dos itens capazes de medir o apoio dos pais relacionado às atividades escolares, o que pode ser aceito como uma medida indireta de monitoramento parental.8 Desde que o bullying ocorre frequentemente na escola, os pais precisam se envolver mais com questões relacionadas ao ambiente escolar do filho, e a verificação dos deveres ou lições de casa pode ser um bom começo.8 Segundo Hagan e McCarthy,29 pais que prestam atenção aos filhos e os monitoram de perto, atendem a suas necessidades e estão disponíveis para os ajudar nas dificuldades, são fundamentais para reduzir o comportamento agressivo na escola, incluindo o bullying.

É importante mencionar que o estudo em tela trouxe à tona mais elementos para a reflexão crítica sobre as práticas de supervisão parental e a vivência de bullying entre adolescentes. Os achados encontrados, além de ampliarem a compreensão do assunto, podem ser utilizados pelos gestores e tomadores de decisão na elaboração e implementação de políticas intersetoriais (da Saúde e da Educação) dirigidas ao enfrentamento do bullying e, consequentemente, à prevenção de suas consequências negativas nessa população. Ressalta-se que, apesar de uma nova edição da PeNSE ter-se realizado no ano de 2019, a não disponibilização dos microdados pelo IBGE impossibilitou a realização deste estudo com dados mais recentes.30

Este estudo deve ser avaliado considerando-se suas limitações e pontos fortes. O desenho transversal da pesquisa pode ser visto como uma limitação: não é o desenho mais adequado para o estudo de relações causais, na medida em que as exposições (práticas parentais) e os desfechos (vitimização e perpetração de bullying) foram avaliados no mesmo momento do tempo, dificultando a clareza da ordem dos fatos.

Apesar da possibilidade de bidirecionalidade na relação supervisão parental-bullying, a literatura tem mostrado ser mais plausível a supervisão parental como exposição e os diferentes papéis do bullying como desfecho.7,8,20,21 Nesse sentido, reforça-se a importância da realização de estudos longitudinais para avaliar essa relação. Outra limitação refere-se à forma como os eventos de interesse (exposições e desfechos) foram mensurados. Ambos foram avaliados por meio de perguntas únicas, referentes aos 30 dias anteriores à pesquisa, podendo resultar em erros de classificação, uma vez que o uso de questões únicas tende a subestimar a estimativa. Estudos futuros, utilizando-se de instrumentos de aferição válidos e confiáveis (bullying - Bullying-Behaviour Scale, Olweus’s Bully/Victim Questionnaire, and Peer Relations Questionnaire; práticas parentais - Child Feeding Questionnaire, and Parenting Practices Scales) fazem-se necessários, para maior compreensão dessas relações.

Outra possível limitação do estudo encontra-se no fato de incluir na amostra apenas os alunos matriculados em ensino regular e presentes em sala de aula no dia da entrevista, o que pode gerar um viés de seleção, uma vez que os adolescentes não matriculados em ensino regular e os ausentes no dia da entrevista não estão representados. Por exemplo, é possível que os ausentes sejam os alunos que mais praticam ou são vítimas de bullying. Como pontos positivos, o estudo apoia-se sobre dados de uma amostra representativa de adolescentes matriculados em escolas públicas e privadas de 26 capitais e do Distrito Federal, com elevada taxa de resposta, o que minimiza o viés de seleção enquanto diminui a possibilidade de perdas desproporcionais/diferenciais.

O presente estudo aponta que a maior supervisão parental está inversamente associada ao comportamento de bullying em adolescentes, tanto na vitimização quanto na perpetração desse tipo de violência. O monitoramento (conhecimento dos pais ou responsáveis sobre o tempo livre e sua verificação dos deveres do estudante), o maior vínculo (realização frequente de refeições com os pais ou responsáveis) e o diálogo entre pais e filhos são características da supervisão parenteral que podem facilitar a identificação de relações conflituosas dos adolescentes com seus pares, de forma a contribuir para a prevenção do problema. Reforça-se, outrossim, a importância da criação, no âmbito escolar, de medidas que fortaleçam o vínculo afetivo entre pais e filhos, permitindo incluir práticas de supervisão parental positivas, democráticas, interativas e acalentadas.

Fazem-se necessários mais estudos sobre práticas parentais e bullying, em diferentes contextos e populações, de preferência com a inclusão de instrumentos mais robustos para mensuração desses fenômenos. Finalmente, sugere-se que as estratégias de enfrentamento do bullying direcionados aos estudantes adolescentes sejam intensificadas no ambiente escolar.

Referências

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Recebido: 31 de Agosto de 2021; Aceito: 01 de Fevereiro de 2022

Correspondência: Emanuele Souza Marques. emanuelesm.ims@gmail.com

Editora associada

Thaynã Ramos Flores

Contribuição das autoras

Marques ES contribuiu na concepção e delineamento do estudo. Figueira MP, Marques ES e Azeredo CM contribuíram na análise dos resultados. Todas as autoras contribuíram com a interpretação dos resultados, redação e revisão crítica do conteúdo, aprovaram a versão final e declaram sua responsabilidade por todos os aspectos do trabalho, incluindo a garantia de sua precisão e integridade.

Conflitos de interesse

As autoras declararam não haver conflitos de interesse.

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