Após mais de uma década da elaboração e publicação dos Principais Itens para Relatar Revisões Sistemáticas e Meta-Análises (PRISMA), em 2009, a declaração PRISMA 2020 foi revisada, com vistas à atualização e incorporação de recomendações que refletem os avanços metodológicos da área.1 A partir da revisão de 60 documentos, foram identificados os itens da declaração PRISMA 2009 que necessitariam de modificação. As alterações foram analisadas por 110 pesquisadores e a versão aprovada foi avaliada em reunião presencial para a revisão da redação dos itens e outros refinamentos para clareza da diretriz.2
A declaração PRISMA objetiva assegurar o relato transparente de revisões sistemáticas, seus métodos e achados. A diretriz PRISMA 2020 define a relação mínima de itens baseados em evidências para a publicação de revisões sistemáticas e meta-análises, dispostos em: i) lista de checagem de 27 itens; ii) lista de checagem expandida; iii) lista de checagem para resumos; e iv) fluxogramas para revisões novas e revisões atualizadas.2 A declaração se destina principalmente a revisões que avaliam efeitos das intervenções, podendo, entretanto, ser utilizada como guia de relato em revisões que envolvam estudos observacionais, como os de prevalência. Para autores de revisões sistemáticas e meta-análises, a declaração contribui diretamente na redação do manuscrito. Ajuda, também, na avaliação de revisões sistemáticas candidatas a publicação, ao informar os itens mínimos que determinado manuscrito deveria relatar, podendo com isso subsidiar a revisão por pares e a apreciação editorial. O endosso da declaração PRISMA por periódicos, com a inclusão nas instruções aos autores destes, é encorajada pelo grupo elaborador, e contribui com os objetivos finais da declaração de melhorar a comunicação de revisões sistemáticas.1
Cabe enfatizar que o instrumento PRISMA não se presta à avaliação crítica de revisões sistemáticas. Tampouco é um guia para a condução de revisões sistemáticas, que oriente os procedimentos metodológicos a serem adotados nesse tipo de pesquisa. Ao aderir à declaração PRISMA, a transparência e a reprodutibilidade de revisões sistemáticas são privilegiadas. Essas características de forma não asseguram a boa condução metodológica da pesquisa, que pressupõe rigor nos processos de elaboração da pergunta e dos critérios de elegibilidade, seleção, extração e avaliação crítica dos artigos incluídos, síntese e apreciação da certeza da nova evidência.3-7 A ferramenta A measurement tool for Assessment of Multiple Systematic Reviews (AMSTAR) foi desenvolvida para esse fim,8 e sua versão atualizada (AMSTAR-2) é recomendada para o julgamento metodológico de revisões sistemáticas.
Por um lado, o endosso da declaração por periódicos por si só não garante melhora na qualidade do relato de revisões sistemáticas,11 e estratégias para melhorar a adesão ao relato completo e transparente dessas pesquisas precisam ser testadas e implementadas. Por outro lado, pressupõe-se que o relato completo dos procedimentos empregados e resultados encontrados em revisões sistemáticas aumente a qualidade dessas pesquisas indiretamente. A adesão à lista de checagem PRISMA 2009 e a conformidade com o instrumento AMSTAR foram significativamente maiores em periódicos de gastroenterologia e hepatologia que endossavam o PRISMA.9 As revisões sistemáticas que seguiram as diretrizes PRISMA 2009 tiveram melhor qualidade do relato nas revisões sobre intervenções de enfermagem em indivíduos com Alzheimer, e aquelas com meta-análises e protocolo registrado (itens presentes no PRISMA) tiveram maior qualidade metodológica avaliada pelo AMSTAR.10
No contexto brasileiro, a adoção do PRISMA 2020 potencialmente contribuirá com a melhor disseminação de evidências provenientes de revisões sistemáticas na língua portuguesa e, dessa forma, poderá colaborar com a construção de diretrizes mais sólidas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
A Epidemiologia e Serviços de Saúde: revista do SUS (RESS) endossa a declaração PRISMA desde sua primeira versão, e inclui, nas suas instruções aos autores, a orientação para adesão a esse guia de redação em caso de submissão de revisões sistemáticas. Em 2015, a RESS publicou a versão em português da declaração, após viabilizar sua tradução e retrotradução, que foram validadas pelo grupo elaborador da declaração.12 Quando da tradução do PRISMA 2009, uma série de artigos metodológicos explicando o processo de elaboração de revisões sistemáticas foi viabilizada pela RESS e nela publicada,3-8 apoiando pesquisadores na condução dessas pesquisas. No esforço de disponibilização da versão do PRISMA 2020 em português, as etapas de tradução e retrotradução foram realizadas e submetidas para apreciação do grupo elaborador, que aprovou a declaração PRISMA 2020 em português, ora publicada no site da RESS, acompanhada das listas de checagem para download.13
A RESS reafirma seu compromisso com a qualidade das pesquisas e seus relatos, e contribui para a disseminação dessa ferramenta de redação de revisões sistemáticas em português, pesquisas que subsidiam a incorporação de tecnologias e demais recomendações baseadas em evidências científicas no SUS.