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Epidemiologia e Serviços de Saúde

versão impressa ISSN 1679-4974versão On-line ISSN 2237-9622

Epidemiol. Serv. Saúde vol.31 no.3 Brasília  2022  Epub 10-Ago-2022

http://dx.doi.org/10.1590/s2237-96222022000300003 

Nota de pesquisa

Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua): avaliação da completitude dos dados sobre cobertura de abastecimento, 2014-2020

Sistema de Información de Vigilancia de la Calidad del Agua para Consumo Humano (Sisagua): evaluación de la finalización de los datos de cobertura del abastecimiento de agua, Brasil, 2014-2020

Renan Neves da Mata (orcid: 0000-0002-5200-3225)1  , Aristeu de Oliveira Júnior (orcid: 0000-0002-6825-9129)2  , Walter Massa Ramalho (orcid: 0000-0001-5085-5670)1 

1Universidade de Brasília, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Brasília, DF, Brasil

2 Ministério da Saúde, Departamento de Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, Brasília, DF, Brasil

Resumo

Objetivo:

Avaliar a completitude do conjunto de dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua) referente às informações sobre a cobertura de abastecimento de água para consumo humano no Brasil.

Métodos:

Estudo descritivo, sobre dados de 2014 a 2020. Foi calculada distribuição de frequência relativa de 35 variáveis. A completitude foi mensurada como excelente (≥ 95%), boa (90% a 94%), regular (70% a 89%), ruim (50% a 69%) e muito ruim (≤ 49%).

Resultados:

No período, foram identificados 861.250 registros de formas de abastecimento. O Sisagua, quanto à completitude dos dados, obteve uma classificação excelente para 25 variáveis, boa para duas, regular para três, ruim para uma e muito ruim para quatro.

Conclusão:

O sistema apresentou, em grande parte das variáveis, excelente completitude dos dados. Estudos dessa natureza contribuem para o aperfeiçoamento contínuo do Sisagua e possibilitam a identificação de inconsistências e fragilidades.

Palavras-chave: Água Potável; Sistemas de Informação em Saúde; Vigilância em Saúde Pública; Saúde Ambiental; Epidemiologia Descritiva

Resumen

Objetivo:

Evaluar la completitud del conjunto de datos del Sistema de Información para la Vigilancia de la Calidad del Agua para Consumo Humano (Sisagua), con relación a la información sobre la cobertura de abastecimiento de agua para consumo humano en Brasil.

Métodos:

Estudio descriptivo referido a datos de 2014 a 2020. Se calcularon distribuciones de frecuencias relativas de 35 variables. La completitud se midió como excelente (≥ 95%), buena (90% a 94%), regular (70% a 89%), mala (50% a 69%) y muy mala (≤ 49%).

Resultados:

En el período, hubo 861.250 registros de formas de suministro. Sisagua, en cuanto a la completitud de los datos, obtuvo una clasificación excelente para 25 variables, buena para dos, regular para tres, mala para una y muy mala para cuatro variables.

Conclusión:

El sistema presentó en la mayoría de las variables una excelente completitud de los datos. Estudios de esta naturaleza contribuyen a la mejoría continua de Sisagua y permiten identificar inconsistencias y debilidades.

Palabras clave: Agua Potable; Sistemas de Información en Salud; Vigilancia en Salud Pública; Salud Ambiental; Epidemiología Descriptiva

Contribuições do estudo

Principais resultados

O Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua) apresentou, para grande parte das variáveis, excelente completitude dos dados: excelente (25), boa (2), regular (3), ruim (1) e muito ruim (4).

Implicações para os serviços

A avaliação da completitude do Sisagua possibilita verificar a qualidade dos dados do sistema, bem como identificar pontos a serem melhorados, respaldando seu uso nas ações de vigilância da qualidade da água para consumo humano.

Perspectivas

A incompletitude de algumas variáveis do Sisagua aponta para a necessidade de aprimoramento contínuo do sistema e de investimento no processo de capacitação dos usuários e conscientização da importância do preenchimento adequado dos campos.

Introdução

O Ministério da Saúde atua no monitoramento da qualidade da água consumida pela população, por meio do Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua).1 Um dos instrumentos do Vigiagua é o Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), disponibilizado para que secretarias de saúde e empresas prestadoras de serviço de abastecimento de água insiram os respectivos dados de monitoramento.2

No Sisagua, é possível o cadastro de três formas de abastecimento: Sistema de Abastecimento de Água (SAA), cuja instalação é destinada à produção e ao provimento coletivo de água potável, por meio de rede de distribuição; Solução Alternativa Coletiva (SAC), que se trata de uma modalidade de abastecimento coletivo, destinada a fornecer água potável, com ou sem canalização e sem rede de distribuição; e Solução Alternativa Individual (SAI), modalidade de abastecimento de água para consumo humano que atende a domicílios residenciais com uma única família.3

Em 2015, cerca de três a cada dez pessoas (2,1 bilhões de indivíduos, ou 29% da população mundial) ainda não tinham acesso a um serviço de água potável gerenciado de forma segura, e 844 milhões ainda não dispunham sequer de um serviço básico de água potável.4,5

Os dados do Sisagua permitem obter informações, em nível nacional, sobre a cobertura de abastecimento de água para consumo humano no país; no entanto, são escassos estudos que avaliem a qualidade desses dados. O objetivo do presente estudo foi avaliar a completitude dos registros do Sisagua no período de 2014 a 2020.

Métodos

Estudo descritivo, sobre a completitude dos dados do Sisagua referentes à cobertura de abastecimento do sistema no Brasil. Esse conjunto de dados conta com informações sobre quantitativos de domicílios abastecidos por sistemas e soluções alternativas de abastecimento de água.

O período analisado foi o de 2014 a 2020, cujos dados são disponibilizados no Portal Brasileiro de Dados Abertos6 e foram consultados em 19 de maio de 2021. A análise em tela seguiu critérios do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), segundo o qual a completitude de um sistema de informações em saúde consiste no grau de preenchimento de cada campo analisado e é mensurada pela proporção entre campos preenchidos e campos não preenchidos.7

Para o processamento dos dados, utilizou-se o aplicativo Excel 365. A completitude de 35 variáveis foi calculada como a proporção de campos preenchidos em relação ao total dos registros para cada ano; posteriormente, foi feita a média dos resultados para representar o período analisado.

Na completitude inicial, o cálculo não considerou qualquer regra do Sisagua; o ordenamento das variáveis seguiu de forma decrescente, de acordo com esse resultado. Na completitude final, foram consideradas as regras do dicionário de variáveis6 e dos manuais do Sisagua;8,9 isto permitiu uma análise mais fidedigna, desde que foram aplicados os filtros necessários para verificar a pertinência ou não do preenchimento dos campos. A análise das variáveis ocorreu de forma individual; no entanto, os resultados agrupados devem-se às regras e à estrutura do sistema.

A incompletitude final correspondeu à subtração de 100% pelo valor encontrado no percentual médio da completitude final. A completitude foi classificada como excelente (≥ 95%), boa (90% a 94%), regular (70% a 89%), ruim (50% a 69%) e muito ruim (≤ 49%).10

Resultados

Entre 2014 e 2020, foram identificados 861.250 registros referentes às formas de abastecimento de água no Brasil, sendo 96.723 registros para SAA, 354.091 para SAC e 410.436 para SAI.

Tabela 1 Percentual anual de completitude final dos registros das formas de abastecimento de água, Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), 2014-2020 

Variável Percentual de completitude
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Região geográficaa 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Unidade da Federação 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Regional de saúdea 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Municípioa 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Código IBGEa,b 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Tipo da forma de abastecimentoa 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Código da forma de abastecimentoa 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Nome da forma de abastecimentoa 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Ano de referênciaa 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Data de registroa 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Data de preenchimentoa 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Captação superficiala 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Captação subterrâneaa 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Razão habitantes/domicílioa 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Número de economias residenciais (domicílios permanentes)a 99,9 100,0 99,9 99,9 100,0 100,0 100,0
Filtraçãoc 94,2 94,0 94,8 95,7 95,3 96,0 96,3
Desinfecçãoc 93,5 93,1 94,5 95,3 94,9 95,6 96,0
Cisternad 84,7 87,7 88,3 90,1 89,4 89,5 89,4
Captação de água de chuvad 84,7 87,7 88,3 90,1 89,4 89,5 89,4
Caixa d'águad 44,9 47,7 46,4 52,4 46,5 47,1 47,0
Sem reservaçãod 44,9 47,7 46,4 52,4 46,5 47,1 47,0
População que recebe água de SAA/SACc,e,f 44,9 47,7 46,4 52,4 46,5 47,1 47,0
Carro-pipad 39,9 40,0 41,8 37,7 42,9 42,4 42,4
Chafarizd 39,9 40,0 41,8 37,7 42,9 42,4 42,4
Fonted 39,9 40,0 41,8 37,7 42,9 42,4 42,4
Canalizaçãod 39,9 40,0 41,8 37,7 42,9 42,4 42,4
População que recebe água de SAAc,e 39,9 40,0 41,8 37,7 42,9 42,4 42,4
Número de economias residenciais (de uso ocasional)d 33,9 33,4 38,8 38,2 44,6 43,2 43,7
Tipo da instituiçãod 40,2 38,0 38,9 35,3 39,7 39,3 39,6
Nome da instituiçãod 40,2 38,0 38,9 35,3 39,7 39,3 39,6
CNPJ da instituiçãod 40,2 38,0 38,9 35,3 39,7 39,3 39,6
Sigla da instituiçãod 10,1 9,0 8,9 7,7 8,3 7,9 7,8
Nome do escritório regional/locald 10,1 9,0 8,9 7,7 8,3 7,9 7,8
CNPJ do escritório regional/locald 10,1 9,0 8,9 7,7 8,3 7,9 7,8
Outro tipo de suprimentod 3,2 3,9 4,3 11,1 4,9 5,2 5,3

a) Preenchimento obrigatório para qualquer forma de abastecimento; b) IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; c) Preenchimento obrigatório para pelo menos uma das formas de abastecimento; d) Preenchimento não obrigatório; e) SAA: Sistema de Abastecimento de Água; f) SAC: Solução Alternativa Coletiva.

Os resultados (Tabelas 1 e 2) mostram que 14 variáveis (n = 35) foram classificadas como excelentes, pois tiveram 100,0% de completitude. Trata-se de variáveis de preenchimento obrigatório, com informações essenciais sobre o cadastro das formas de abastecimento.

Tabela 2 Percentual médio de completitude inicial e final dos registros das formas de abastecimento de água, Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), 2014-2020 

Variável Média de completitude inicial (%) Qualidade Média de completitude final (%) Incompletitude final (%) Qualidade
Região geográficaa 100,0 Excelente 100,0 0,0 Excelente
Unidade da Federação 100,0 Excelente 100,0 0,0 Excelente
Regional de saúdea 100,0 Excelente 100,0 0,0 Excelente
Municípioa 100,0 Excelente 100,0 0,0 Excelente
Código IBGEa,b 100,0 Excelente 100,0 0,0 Excelente
Tipo da forma de abastecimentoa 100,0 Excelente 100,0 0,0 Excelente
Código da forma de abastecimentoa 100,0 Excelente 100,0 0,0 Excelente
Nome da forma de abastecimentoa 100,0 Excelente 100,0 0,0 Excelente
Ano de referênciaa 100,0 Excelente 100,0 0,0 Excelente
Data de registroa 100,0 Excelente 100,0 0,0 Excelente
Data de preenchimentoa 100,0 Excelente 100,0 0,0 Excelente
Captação superficiala 100,0 Excelente 100,0 0,0 Excelente
Captação subterrâneaa 100,0 Excelente 100,0 0,0 Excelente
Razão habitantes/domicílioa 100,0 Excelente 100,0 0,0 Excelente
Número de economias residenciais (domicílios permanentes)a 100,0 Excelente 99,9 0,1 Excelente
Filtraçãoc 95,2 Excelente 91,1 8,9 Bom
Desinfecçãoc 94,7 Bom 90,2 9,8 Bom
Cisternad 88,4 Regular 100,0 0,0 Excelente
Captação de água de chuvad 88,4 Regular 100,0 0,0 Excelente
Caixa d'águad 47,4 Muito ruim 100,0 0,0 Excelente
Sem reservaçãod 47,4 Muito ruim 100,0 0,0 Excelente
População que recebe água de SAA/SACc,e,f 47,4 Muito ruim 100,0 0,0 Excelente
Carro-pipad 41,0 Muito ruim 100,0 0,0 Excelente
Chafarizd 41,0 Muito ruim 100,0 0,0 Excelente
Fonted 41,0 Muito ruim 100,0 0,0 Excelente
Canalizaçãod 41,0 Muito ruim 100,0 0,0 Excelente
População que recebe água de SAAc,e 41,0 Muito ruim 100,0 0,0 Excelente
Número de economias residenciais (de uso ocasional)d 39,4 Muito ruim 52,5 47,5 Ruim
Tipo da instituiçãod 38,7 Muito ruim 73,8 26,2 Regular
Nome da instituiçãod 38,7 Muito ruim 73,8 26,2 Regular
CNPJ da instituiçãod 38,7 Muito ruim 73,8 26,2 Regular
Sigla da instituiçãod 8,5 Muito ruim 15,9 84,1 Muito ruim
Nome do escritório regional/locald 8,5 Muito ruim 15,9 84,1 Muito ruim
CNPJ do escritório regional/locald 8,5 Muito ruim 15,9 84,1 Muito ruim
Outro tipo de suprimentod 5,4 Muito ruim 6,4 93,6 Muito ruim

a) Preenchimento obrigatório para qualquer forma de abastecimento; b) IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; c) Preenchimento obrigatório para pelo menos uma das formas de abastecimento; d) Preenchimento não obrigatório; e) SAA: Sistema de Abastecimento de Água; f) SAC: Solução Alternativa Coletiva.

A variável ‘número de economias residenciais (domicílios permanentes)’ apresentou 402 (0,1%) registros com campo vazio, sendo classificada como excelente. Para a variável ‘filtração’, foram identificados 40.306 (8,9%) registros vazios, e para a variável ‘desinfecção’, 44.061 (9,8%), sendo ambas, portanto, de boa completitude.

‘Cisterna’ e ‘captação de água de chuva’ são variáveis existentes apenas para SAC e SAI. As variáveis ‘caixa d'água’, ‘sem reservação’ e ‘população recebe água de SAA/SAC’ são variáveis presentes apenas em SAI. As variáveis ‘carro-pipa’, ‘chafariz’, ‘fonte’, ‘canalização’ e ‘população recebe água de SAA’ são exclusivas de SAC. Após filtrar essas variáveis, conforme suas regras de preenchimento, verificou-se uma completitude excelente (100,0%).

A variável ‘número de economias residenciais (de uso ocasional)’, presente apenas para SAA e SAC, possuía 105.354 registros vazios, 47,5% de incompletitude. As variáveis ‘tipo da instituição’, ‘nome da instituição’ e ‘CNPJ da instituição’ não continham registros para a forma de SAI e apresentaram incompletitude dos dados de 26,2% (118.279 registros) cada, tendo sido classificadas como de completitude regular.

As variáveis ‘sigla da instituição’, ‘nome do escritório regional/local’ e ‘CNPJ do escritório regional/local’, que são usadas apenas para as empresas estaduais e não estão presentes em SAI, possuíam 378.976 (84,1%) registros não preenchidos, configurando uma completitude muito ruim. Para a variável ‘outro tipo de suprimento’, a classificação também foi muito ruim, com 715.403 (93,6%) registros vazios.

Do total de 35 variáveis, 15 tiveram sua classificação ajustada após considerações das regras de preenchimento do Sisagua; e dessas 15, dez variáveis tiveram sua reclassificação para excelente após as devidas considerações sobre as regras de preenchimento.

Discussão

Considerando-se as regras de funcionamento do Sisagua, o sistema apresentou classificação excelente para 25 variáveis, boa para duas, regular para três, ruim para uma e muito ruim para quatro variáveis. O sistema apresentou, para grande parte das variáveis, uma excelente completitude dos dados. Semelhantemente à avaliação da completitude dos sistemas de informações sobre orçamentos públicos em saúde,11 o presente estudo abordou uma dimensão da vigilância em saúde ainda não explorada. Diversas pesquisas verificaram a completitude de bases de dados epidemiológicos,11-19 porém não foi encontrado estudo que tenha avaliado esse atributo para os dados do Sisagua.

A variável ‘número de economias residenciais (domicílios permanentes)’ apresentou registros vazios, mesmo sendo uma variável de preenchimento obrigatório, situação apresentada em todos os anos. Possivelmente, trata-se de uma falha persistente, de difícil identificação do problema e aplicação de uma resolução definitiva. Entretanto, o quantitativo de registros inconsistentes foi pouco e essa variável manteve a classificação como excelente; fato também observado na avalição da completitude das notificações de dengue (2007-2015) em Fundão/ES, onde foi identificado preenchimento abaixo de 100,0% nos campos obrigatórios.19

A adoção de medidas corretivas para dados inconsistentes dos sistemas de informações em saúde (SIS) é essencial no sentido de melhorar a credibilidade das informações, aperfeiçoando a veracidade dos indicadores e contribuindo para otimizar o planejamento das ações de saúde pública.20

Os registros em branco das variáveis ‘filtração’ e ‘desinfecção’ são resultantes de perguntas booleanas (sim; não), indicando sua existência ou não no processo de tratamento da água. Contudo, trata-se de um campo opcional para SAI: quando não é selecionada uma das opções, o campo não é preenchido e permanece vazio, ou seja, permanece em banco.

A variável ‘número de economias residenciais (de uso ocasional)’ apresentou completitude muito ruim, um resultado possivelmente relacionado ao fato de ser um dado de preenchimento opcional, além de muitas formas de abastecimento não apresentarem valor para essa variável. Algumas variáveis relacionadas às instituições responsáveis pelo abastecimento de água obtiveram resultados de completitude ruim ou muito ruim, o que pode estar relacionado ao fato de, para SAC, nem sempre haver uma instituição responsável pela forma de abastecimento.

A variável ‘outro tipo de suprimento’ apresentou o pior percentual de completitude. Essa variável faz parte de um conjunto de informações relacionadas ao tipo de suprimento da SAC ou SAI, tratando-se de um campo de preenchimento aberto e não obrigatório.

Assim como verificado neste estudo, outras pesquisas, a exemplo de uma avaliação dos registros de tuberculose no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), em Santa Catarina (2007-2016),11 e outra sobre as notificações de violências perpetradas contra crianças no Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva), em Pernambuco (2009-2012),14 apontaram que, apesar de um número expressivo de variáveis ser de preenchimento obrigatório, o que corrobora uma excelente completitude dos dados, as variáveis de preenchimento opcional apresentam uma taxa elevada de incompletitude no banco de dados. Este achado torna necessária a adoção de medidas para melhorar tal resultado, pelo que vale considerar a obrigatoriedade de preenchimento dos campos, bem como investimentos na conscientização sobre a importância do preenchimento completo dos campos e a relevância das informações produzidas com esses dados.

A boa qualidade dos dados existentes nos SIS é crucial para o planejamento, tomada de decisões e monitoramento das ações de saúde. O Ministério da Saúde realiza investimentos permanentes para garantir sua operacionalização,12-15 e todo esse esforço e o investimento realizado são desperdiçados quando não ocorre a inserção das informações corretas nos sistemas.19 No caso do Sisagua, a ausência de informações prejudica a caracterização do abastecimento de água no país.

Este estudo apresenta, como limitações, diversas versões de estrutura de variáveis, dificultando a construção de séries históricas. Outrossim, trata-se de um sistema razoavelmente recente, até então com baixa produção científica a respeito, o que dificulta comparabilidades. O Sisagua possui uma construção lógica particular, diferentemente de outros sistemas, por não ser direcionada a um agravo, o que ainda pode trazer uma dificuldade no constructo epidemiológico tradicional.

Conclui-se que o Sisagua apresenta excelente completitude dos dados, embora revele pontos passíveis de aperfeiçoamento. Por ser tratar de um sistema complexo, é mister conhecer seu funcionamento e respectivas regras, visando a uma análise e interpretação fidedigna dos dados. Estudos dessa natureza contribuem para o aprimoramento contínuo do Sisagua e possibilitam a identificação de inconsistências e fragilidades na qualidade de seus dados.

Referências

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Trabalho acadêmico associado Artigo derivado de tese de doutorado acadêmico intitulada ‘Avaliação do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano no Brasil, 2014-2020’; trata-se de um título provisório, pois a tese, a ser apresentada por Renan Neves da Mata no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (PPGSC/UnB), ainda está em elaboração.

Recebido: 27 de Dezembro de 2021; Aceito: 21 de Junho de 2022

Correspondência Renan Neves da Mata. renanrn@gmail.com

Editora associada

Amanda Coutinho de Souza

Contribuição dos autores

Mata RN, Oliveira Júnior A e Ramalho WM contribuíram com a concepção e delineamento do estudo, análise e interpretação dos resultados, redação e aprovação da versão final do manuscrito. Os autores são responsáveis por todos os aspectos do trabalho, incluindo a garantia de sua precisão e integridade.

Conflitos de interesse

Os autores declararam não haver conflitos de interesse.

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