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Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi Ciências Naturais

versão impressa ISSN 1981-8114

Bol. Mus. Para. Emilio Goeldi Cienc. Nat. v.4 n.2 Belém ago. 2009

 

Notas adicionais sobre Mabea angularis Hollander (Euphorbiaceae), primeira citação para o estado do Pará, Brasil

 

Additional notes on Mabea angularis Hollander (Euphorbiaceae), first record for the state of Pará, Brazil

 

 

Maria José de Sousa TrindadeI; Ricardo de Souza SeccoII

IInstituto de Pesquisa Socioambiental da Amazônia. Belém, Pará, Brasil (trindademjs@yahoo.com.br)
IIMuseu Paraense Emílio Goeldi. Belém, Pará, Brasil (rsecco@museu-goeldi.br)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Mabea angularis Hollander é citada pela primeira vez no estado do Pará. É apresentada a primeira descrição de flores, que eram desconhecidas da literatura.

Palavras-chave: Euphorbiaceae. Mabea. Taxonomia. PPBio. Amazônia brasileira.


ABSTRACT

Mabea angularis Hollander is a new record for the State of Pará. The first description of its flowers, which were unknown in the literature, is presented.

Keywords: Euphorbiaceae. Mabea. Taxonomy. PPBio. Brazilian Amazon.


 

 

INTRODUÇÃO

O gênero Mabea (Euphorbiaceae) abrange, aproximadamente, 50 espécies e pertence à tribo Hippomaneae, subtribo Mabeinae, subfamilia Euphorboideae (Webster, 1994). Esser (1993, 2001) destaca que esse gênero possui ampla distribuição nos paises neotropicais, apresentando maior diversidade na região amazônica.

Mabea angularis foi descrita por Hollander (Hollander & Berg, 1986) com base apenas em coleção com frutos proveniente do Mato Grosso, Brasil. Esta espécie foi listada nos trabalhos de Vásquez et al. (2003) e Ulloa Ulloa et al. (2004) para a flora do Peru. No guia da Reserva Ducke (Manaus, Brasil), Mabea angularis é citada com breve comentário e ilustrações do fuste e folhas (Ribeiro et al., 1999).

O objetivo deste trabalho é registrar, pela primeira vez, a ocorrência de Mabea angularis no estado do Pará, ampliando sua distribuição geográfica, bem como apresentar a primeira ilustração de suas flores.

 

MATERIAL E MÉTODOS

As coletas de material botânico foram realizadas na área do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) e na Estação Cientifica Ferreira Penna (ECFPn), localizadas nos municipios de Portel e Melgaço, respectivamente, na Floresta Nacional (FLONA) de Caxiuanã (entre 1o 30' e 2o 30' S e 51o 15' e 52o 15' W), no estado do Pará.

O material foi analisado de acordo com metodologia clássica utilizada em taxonomia, por meio da qual tomam-se medidas das folhas, inflorescencias, flores, frutos e sementes, organizando, com estes dados, uma descrição com base na terminologia de Hickey (1973), Lawrence (1977) e Radford et al. (1974).

A descrição foi realizada com base em material coletado na área de estudo e complementada com coleções dos herbários MG e IAN, identificados por especialistas.

O material coletado foi incorporado ao acervo do herbário MG, do Museu Paraense Emilio Goeldi, sendo que as duplicatas foram enviadas ao herbário IAN (Embrapa Amazônia Oriental).

 

RESULTADO

Mabea angularis Hollander - in Hollander & Berg., Proc. Kon. Ned. Akad. Wetensch. C 89: 147. 1986.
Tipo. Brasil. Mato Grosso, B. A. Krukoff 1502 (isótipo, MO). Nov-dez. 1931 (fr) (Figura 1).

 

 

Árvores com 8-20 m de altura, monoicas, com látex leitoso; ramos pendentes, com tricomas dendriticos. Folhas simples, 5-15 cm de comprimento x 3,5-8,5 cm de largura, alternas, oblongas, coriáceas, discolores, com glândulas principalmente no ápice e na base, face abaxial opaca, a adaxial brilhosa, com tricomas dendriticos; ápice curtamente acuminado a agudo, base arredondada a obtusa, margem inteira; venação broquidódroma, 13­16 pares de nervuras secundárias, proeminente na face abaxial, impressas na face adaxial. Estipulas caducas. Peciolo 0,5-2 cm de comprimento, com tricomas dendriticos. Inflorescência em racemo ou panicula, 18 cm de comprimento; bráctea 1, 1 mm de comprimento; raque pilosa, pendente; flores apétalas. Flores estaminadas porção distal da raque; em cimeira, com 5-7 flores, pedicelo 1-5 mm de comprimento, glândulas 2; cálice 4-7 lobado, lobos 0,1-0,2 mm de comprimento, agudos a acuminados; estames 35-45, 0,1 mm de comprimento, reunidos, pistilódio ausente. Flores pistiladas basais, 2-5 flores, pedicelo 4-8 mm de comprimento; cálice 5-6 lobado, lobos 0,5-1 mm de comprimento, acuminados, cobertos de tricomas dendriticos; ovário 3-locular, 2,5­3 mm de comprimento, óvulo 1 por lóculo, estilete 10-15 mm de comprimento, trifido próximo à base, acentuadamente revoluto, estigma piloso. Fruto cápsula, 2-3 cm de diâmetro, elipsóide, velutino, mucronado, pedúnculo 1,5- 2,5 cm de comprimento. Sementes 10-15 mm de comprimento, orbiculares, lisas, opacas, carunculadas, castanho-claras.

Material examinado: Brasil, Pará: municipio Melgaço, FLONA de Caxiuanã, área da ECFPn, 10/01/1993 (fr), S. S. Almeida et al. 639 (MG); municipio de Portel, FLONA de Caxiuanã, grade PPBio P25 (200-210m) Ld, 16/07/2007 (fr), M. J. S. Trindade et al. 395 (MG).

Material adicional consultado: Brasil, Amazonas, Manaus: Reserva Florestal Ducke, rodovia Manaus-Itacoatiara, km 26, 02/02/1996 (fl), J. E. L. S. Ribeiro et al. 1801 (IAN, MG); Reserva Ducke, km 26, 16/10/1997 (fl), P A. C. L. Assunção et al. 697 (MG); km 75-70 da rodovia Manaus-Itacoatiara, 18/10/1963 (fr), E. Oliveira 2729 (IAN). Pará, Oriximiná, Porto de Trombetas, 16/01/2003 (fr); R. P. Salomão et al. 900 (MG).

Comentários: Mabea angularis é reconhecida pelas folhas coriáceas, discolores, oblongas, com a região abaxial mais clara, exibindo algumas glândulas, principalmente no ápice e base; a inflorescencia é do tipo racemo ou panícula, com 18 cm de comprimento; as flores estaminadas têm 35-45 estames, as flores pistiladas apresentam o ovário com estilete de 10-15 mm de comprimento e as sementes são castanho-claras.

Foram observados espécimes com frutos no mês de janeiro, em mata de terra firme, na área da grade do PPBio .

Distribuição geográfica: Essa espécie tem ocorrência restrita ao bioma Amazônia nos países: Guiana, Colômbia, Peru e Brasil - nos estados do Amazonas, Acre, Pará, Mato Grosso e Rondônia (Hollander & Berg, 1986; Ulloa Ulloa et al., 2004; Mobot, 2008).

 

AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Hans-Joachim Esser, do Nationaal Herbarium Nederland (NHN), Utrecht, Holanda, pela confirmação da identificação da espécie; à Coordenação do PPBio, pelo financiamento das excursões para coletas; ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelas bolsas concedidas (Programa de Capacitação de Taxonomia - PROTAX e Produtividade em Pesquisa).

 

REFERÊNCIAS

ESSER, H. J., 1993. New Species and a new combination in Mabea (Euphorbiaceae) from South America. Novon 3(4): 341-351.

ESSER, H. J., 2001. Tribes Hippomaneae, Pachystromateae & Hureae. In: A. RADCLIFFE-SMITH (Ed.): Genera Euphorbiacearum: 352­397. Royal Botanic Gardens, Kew.

HICKEY, L. J., 1973. Classification ofthe architecture of dicotyledonous leaves. American Journal of Botany 60(1): 17-33.

HOLLANDER, C. DEN & C. C. BERG, 1986. Studies on the flora of the Guianas, Mabea species (Euphorbiaceae) of the Guianas. Proceedings of the Koninklijke Nederlandse Akademie van Wetenschappen, Series C 89: 147-157.

LAWRENCE, G. H. M., 1977. Taxonomia das plantas vasculares: 2: 1-855. Calouste-Gulbenkian, Lisboa.

MOBOT, 2008. Missouri Botanical Garden, W3 Specimen Data Base. Disponível em: <http:/www.mobot.org/plantscience/W3T/ Search/vas.html>. Acesso em: 09 janeiro 2008.

RADFORD, A. E., W. C. DICKISON, J. R. MASSEY & C. R. BELL, 1974. Vascular plant systematics: 1-891. Harper & Row, New York.

RIBEIRO, J. E. L., M. J. G. HOPKINS, A. VINCENTINI, C. A. SOTHERS, M. A. COSTA, J. M. BRITO, M. A. D. SOUZA, L. H. P. MARTINS, L. G. LOHMANN, P. A. C. L. ASSUNÇÃO, E. C. PEREIRA, C. F. SILVA, M. MESQUITA & L. C. PROCÓPIO, 1999. Flora da Reserva Ducke: guia de identificação das plantas vasculares de terra firme na Amazônia Central. Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, Manaus.

ULLOA ULLOA, C., J. L. ZARUCCHI & B. LEÓN, 2004. Diez años de adiciones a la flora del Perú, 1993-2003. Arnaldoa 1: 1-242.

VASQUEZ, R., R. ROJAS & E. RODRÍGUEZ, 2003. Adiciones a la Flora Peruana: especies nuevas, nuevos registros y estados taxonómicos de las Angiospermas para el Perú. Arnaldoa 9(2): 43-110.

WEBSTER, G. L., 1994. Synopsis ofthe genera and suprageneric taxa of Euphorbiaceae. Annals of the Missouri Botanical Garden 81: 33-144.

 

 

Endereço para correspondência:
Museu Paraense Emílio Goeldi
Editor do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Naturais
Av. Magalhães Barata, 376
São Braz – CEP 66040-170
Caixa Postal 399
Telefone/fax: 55-91- 3249 -1141
E-mail:boletim@museu-goeldi.br

Recebido: 17/12/2008
Aprovado: 31/08/2009