CARTA DO EDITOR

Hilton Tulio Costi

Editor Científico

O Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Naturais tem, como uma de suas metas editoriais, a publicação de trabalhos originais na área de Paleontologia. Dentro deste escopo, a editoria do Boletim, tendo em vista a realização em Belém do XXI Congresso Brasileiro de Paleontologia, organizado pela Sociedade Brasileira de Paleontologia, Universidade Federal do Pará e pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, convidou o Dr. Vladimir de Araújo Távora (UFPA) e a Dra. Valéria Gallo (UERJ) a organizarem um número especial, a ser composto por trabalhos apresentados durante o evento.

Os organizadores submeteram ao Boletim um conjunto de textos que trata de eventos relacionados a períodos geológicos que se distribuem do Devoniano ao Quaternário. Dentro desta ótica, os três primeiros textos do presente número tratam de efeitos causados por transgressões marinhas do Devoniano, enfocando braquiópodes e crinóides.

O primeiro trabalho, de autoria de Elvio Pinto Bosetti, Rodrigo Scalise Horodyski, Carolina Zabini, Willian Mikio Kurita Matsumura, Luiz Carlos Godoy e Andressa Carla Penteado, relata a ocorrência, na Formação Ponta Grossa, de fenótipos de invertebrados marinhos fósseis com dimensões anormalmente reduzidas, que caracterizam uma fauna remanescente de provável crise biótica, causada por drásticas mudanças ambientais.

O segundo trabalho, de autoria de Elvio Pinto Bosetti, Rodrigo Scalise Horodyski, Carolina Zabini, Willian Mikio Kurita Matsumura e Luiz Carlos Godoy, registra a ocorrência de uma nova espécie de braquiópode, Lingulepis wagoneri sp. nov. (Linguliformea - Lingulata - Obolidae), na sucessão devoniana da bacia do Paraná, sendo esta também a primeira ocorrência deste gênero no Brasil.

O terceiro trabalho, escrito por Sandro Marcelo Scheffler, Cleber Fernandes da Silva, Antonio Carlos Sequeira Fernandes e Vera Maria Medina da Fonseca, descreve a ocorrência de crinóides devonianos relacionados à Formação Cabeças, no estado do Piauí.

Os três trabalhos seguintes referem-se a processos ocorridos no Cretáceo. O artigo de Mitsuru Arai e Sarah Gonçalves Duarte descreve tricomas fósseis obtidos em registros sedimentares cretáceos das bacias de Campos e Santos, classificando-os em doze morfotipos básicos e citam a potencial aplicação desta classificação na bioestratigrafia, especialmente em intervalos afetados pela ocorrência de paleoincêndios originados por vulcanismo, onde os palinomorfos convencionais são escassos. Em sequência, dois trabalhos tratam de fósseis cretáceos obtidos em ambientes relacionados à fase sinrifte de formação do Atlântico Sul. No quinto artigo, Paulo Roberto de Figueiredo Souto e Cibele Schwanke relatam a atividade predadora de espécies de mar aberto sobre comunidades litorâneas durante fases de transgressão marinha. O sexto trabalho, escrito por Valéria Gallo, Marise Sardenberg Salgado de Carvalho e Hugo Ricardo Secioso Santos, descreve uma nova ocorrência de †Mawsoniidae na Formação Morro do Chaves, Cretáceo Inferior da bacia de Sergipe-Alagoas.

Os eventos miocênicos, relacionados à transgressão marinha no Gondwana equatorial, são representados no sétimo artigo deste número. O trabalho, de autoria de Vladimir de Araújo Távora, André Augusto Rodrigues dos Santos e Raphael Neto Araújo, é uma detalhada compilação de todas as ocorrências de localidades fossilíferas da Formação Pirabas.

O período Quaternário está representado no oitavo trabalho, de autoria de Marcelo de Oliveira Soares, Carlos Augusto Oliveira de Meirelles e Valesca Brasil Lemos, no qual os autores abordam a distribuição espacial de moluscos vermetídeos nos recifes do Atol das Rocas.

Em nome do corpo editorial do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Naturais agradeço penhoradamente ao Dr. Vladimir e à Dra. Valéria pela dedicação e empenho com que realizaram a organização desta edição; aos autores, pela confiança com que nos honraram, aceitando as normas editoriais e as avaliações dos seus artigos pelos revisores; aos vários pareceristas, que generosamente concordaram em dedicar parcelas preciosas de seu tempo à revisão dos textos; à Dra. Dilce de Fátima Rossetti e ao MSc. Rolf Junior Ferreira Silva, pela ajuda dada ao editor em assuntos nos quais ambos são experts; à equipe editorial do Boletim, formada pela Assistente Editorial Rafaele Lima e pela Editora de Arte Elaynia Ono, ambas coordenadas pela Editora Executiva Andréa Sanjad, cuja eficiência e dedicação compensam, por enquanto, o pequeno efetivo.

Acredito que os artigos deste número temático permitirão aos leitores ter uma visão geral do atual estágio da Paleontologia brasileira, além dos amplos campos ainda abertos para a pesquisa científica ligada a este tema, tão importante na Geologia.