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Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi Ciências Naturais

versão impressa ISSN 1981-8114

Bol. Mus. Para. Emilio Goeldi Cienc. Nat. v.6 n.3 Belém dez. 2011

 

Estudo taxonômico da família Malpighiaceae Juss. das restingas de Algodoal/Maiandeua, Maracanã, Pará, Brasil

 

The taxonomic study of the Malpighiaceae Juss. family of the restingas of Algodoal/Maiandeua, Maracanã, Pará, Brazil

 

 

Vitor Hugo Dias Alexandrino; Julio dos Santos de Sousa; Maria de Nazaré do Carmo Bastos

Museu Paraense Emílio Goeldi. Coordenação de Botânica. Belém, Pará, Brasil

Autor para correspondência

 

 


RESUMO

Este trabalho consiste no tratamento taxonômico das espécies de Malpighiaceae Juss. ocorrentes na Área de Proteção Ambiental (APA) de Algodoal/Maiandeua, Maracanã, Pará. A metodologia desse estudo abrangeu a análise do material proveniente de coletas e exsicatas dos herbários do Museu Goeldi (MG) e do Instituto Agronômico do Norte (IAN), além de literatura especializada. Malpighiaceae está representada por cinco espécies, distribuídas em três gêneros: Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) C.V. Morton., Byrsonima laevis Nied., Byrsonima chrysophylla Kunth, Byrsonima crassifolia (L.) Kunth e Heteropterys nervosa A. Juss. O gênero Byrsonima Rich. ex Kunth foi o mais representativo, apresentando três espécies. Byrsonima laevis e Banisteriopsis caapi são novos registros para o litoral do Pará. A formação floresta de restinga foi o ecossistema que apresentou maior número de espécies. São apresentadas chave de identificação, descrições e ilustrações dos táxons, bem como dados adicionais sobre distribuição geográfica, comentários e hábitat dos mesmos.

Palavras-chave: Amazônia. Morfologia. Taxonomia. Florística.


ABSTRACT

This study deals with the taxonomic treatment of species of the Malpighiaceae Juss. occurring in the Environmental Protection Area (APA) Algodoal/Maiandeua, Maracanã, Pará. The methodology includes the analysis of botanical material originated from new collections and specimens of the herbaria of the Museum Goeldi (MG) and of the Agronomic Institute of the North (IAN), beyond specialized literature. There are five species, distributed across three genera Malpighiaceae: Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) C.V. Morton., Byrsonima laevis Nied., Byrsonima chrysophylla Kunth, Byrsonima crassifolia (L.) Kunth e Heteropterys nervosa A. Juss. The genus Byrsonima Rich. ex Kunth was the most representative, presenting three species. Byrsonima laevis and Banisteriopsis caapi are new records for the sand coast of Pará. Sandbank forest formation was the ecosystem which had the largest number of species. Identification keys, descriptions, and illustrations of the taxa are presented, as well as data concerning geographical distribution, additional comments and habitat of the taxa.

Keyword: Amazonia. Morphology. Taxonomy. Floristics.


 

 

INTRODUÇÃO

As restingas, de acordo com a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) no. 261, de 30 de junho de 1999, são definidas como um conjunto de ecossistemas que compreende comunidades vegetais florísticas fisionomicamente distintas, situadas em terrenos arenosos de origem marinha, fluvial, lagunar, eólica ou combinações destas, de idade quaternária, em geral com solos pouco desenvolvidos (Brasil, 2010).

Atualmente, nas restingas do Pará, encontram-se registradas 420 espécies de angiospermas, distribuídas em 80 famílias, sendo a maioria herbácea, seguidas de arbustos e árvores (Amaral, 2003). Apesar das extensas áreas cobertas por restinga no litoral paraense, ainda são poucos os estudos taxonômicos nesse ecossistema.

Somente em 1999 iniciaram-se os estudos taxonômicos, com a elaboração da flórula fanerogâmica das restingas do estado do Pará, com o tratamento da família Turneraceae DC., ocorrente na restinga da Princesa, em Algodoal, Maracanã, elaborado por Vicente et al. (1999). Outros trabalhos podem ser citados, como os de Rocha & Bastos (2004), com Eriocaulaceae, Rosário et al. (2005), com Myrtaceae, e Sousa et al. (2009), com Leguminosae-Mimosoideae.

A família Malpighiaceae Juss. está representada por 75 gêneros e 1.300 espécies, com distribuição tropical e subtropical (Souza & Lorenzi, 2008). Cerca de 80% dos gêneros e 90% das espécies ocorrem na região compreendida entre o Caribe, sul dos Estados Unidos, até a Argentina (Anderson & Anderson, 2010).

No Brasil, ocorrem 38 gêneros e aproximadamente 300 espécies. A família é facilmente reconhecida pela presença de nectários extraflorais, dispostos aos pares nas bases das sépalas da maioria das espécies (Souza & Lorenzi, 2008). Apresenta grande potencial econômico, como fonte de produtos alimentícios, medicinais, madeireiros, ornamentais, além de outros (Ribeiro et al., 1999).

Portanto, levando-se em conta as especificidades do ambiente de restinga e a necessidade de estudos que facilitem o reconhecimento e o estado de conservação das espécies de Malpighiaceae na área, optou-se pelo tratamento taxonômico das mesmas, a fim de fornecer uma melhor compreensão e identificação dos táxons, contribuindo para o avanço no conhecimento da flora litorânea e para os planos de manejo das APA nesse ecossistema.

 

MATERIAL E MÉTODOS

LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A APA de Algodoal/Maiandeua localiza-se no município de Maracanã, litoral nordeste do estado do Pará, ocupando uma área de 385 ha, entre as coordenadas geográficas de 00o 34' 4" a 00o 34' 30" S e 47o 31' 05" a 47o 34' 12" W. O litoral nordeste do estado do Pará destaca-se por suas formas recortadas com ilhas, penínsulas e baías, situadas nas desembocaduras de rios de curto percurso, falésias, praias de sedimentos arenosos e sílticos, mangues, dunas e restingas (Franzinelli, 1992).

O clima é do tipo Awi da classificação de Köppen, caracterizado por precipitação alta e constante (> 1.500 mm/ano), temperaturas elevadas (> 20 oC) e baixa amplitude térmica (Souza Filho et al., 2005).

A cobertura das restingas do estado do Pará está distribuída em seis formações vegetais distintas: halófila, psamófila reptante, brejo herbáceo, campo de dunas, formação aberta de moitas e floresta de restinga (Amaral et al., 2008).

 

METODOLOGIA

O estudo foi baseado em materiais herborizados que estão incorporados nos Herbários do Museu Paraense Emílio Goeldi (MG) e do Instituto Agronômico do Norte (IAN). A terminologia utilizada para as estruturas morfológicas está baseada nos trabalhos de Lawrence (1973), Radford et al. (1974), Ribeiro et al. (1999) e Rizzini (1977). A identificação dos táxons foi realizada através de literatura especializada, exemplares-tipo e coleções identificadas por especialistas. As descrições morfológicas e suas respectivas ilustrações foram feitas com o auxílio de uma câmara clara acoplada a estereomicroscópio ZEISS.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

DESCRIÇÃO DE MALPIGHIACEAE JUSS. GENERA PLANTARUM 252. 1789.

Liana, arbusto ou árvore de até 5 m de altura. Ramos lenticelados ou não. Estípulas com até 4 mm de comprimento. Folha oposta dística ou decussada, concolor ou discolor, cartácea a coriácea, ovalada, elíptica ou obovada. Nervuras secundárias glandulares ou não. Inflorescencia em racemo ou panícula, axilar ou terminal. Pedúnculo cilíndrico ou canaliculado, velutino, seríceo ou tomentoso. Brácteas e bractéolas localizadas na base ou na parte intermediária do pedicelo, caducas, eglandulares. Flor pedicelada, 16-48 por inflorescencia. Sépalas 5, com 1-6 mm de comprimento, velutinas, canescentes, seríceas, pilosas ou tomentosas; biglandulares ou todas eglandulares. Pétalas 5, livres, róseas, brancas ou amarelas, unguiculadas, margem inteira ou fimbriada; pétalas eglandulares; pétala estandarte biglandular ou eglandular. Estames 10, exsertos, apresentando (1,2)2-4,5 mm de comprimento, heterodínamo; conectivo eglandular, ultrapassando ou não ou igualando-se às tecas da antera. Antera biteca, com 0,5-2,5 mm de comprimento, glabra, vilosa a tomentosa; filete glabro, viloso ou tomentoso na base. Ovário com 0,7-2 mm de comprimento, elíptico a ovalado, tomentoso, viloso, velutino, piloso ou glabro, trilocular. Estilete 3, com 1-4 mm de comprimento, cónico, exserto, inferior, igual ou superior aos estames; estigma simples, truncado ou uncinado. Fruto esquizocarpo (cada mericarpo é um samarídeo) ou nuculânio.

DESCRIÇÃO DAS ESPÉCIES DE MALPIGHIACEAE JUSS. DAS RESTINGAS DE ALGODOAL/MAIANDEUA

Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) Morton. Journal of the Washington Academy of Sciences 21(20): 486. 1931 (Figura 1)

 

 

Nome vernacular: cipó mariri, jagube, caapi, daime.

Liana. Ramos lenticelados. Estípulas intrapeciolares, com 1-2 mm de comprimento, densamente tomentosas, persistentes. Folhas 3,6-13(-14,8) cm x 1,7-8 cm, opostas dísticas, discolores, cartáceas, ovaladas a elípticas; ápice agudo a acuminado, eglandular; base arredondada. Nervuras secundárias eglandulares. Inflorescências em umbelas. Pedúnculo cilíndrico, tomentoso a velutino. Brácteas localizadas na base do pedúnculo; bractéolas localizadas na parte intermediária do pedicelo. Sépalas 5, com 2-3 mm de comprimento, seríceas, biglandulares somente em quatro sépalas ou todas eglandulares. Pétalas 5, róseas, unguiculadas, margem fimbriada; pétalas eglandulares; pétala estandarte eglandular. Estames 10, com 1,2-4,5 mm de comprimento; conectivo não ultrapassando, igualando-se ou raramente ultrapassando as tecas da antera. Anteras com 0,5-1,5 mm de comprimento; tecas glabras; filete glabro na base. Ovário com 1-1,5 mm de comprimento, elíptico a ovalado, tomentoso a velutino, trilocular. Estilete com 1,6-3 mm de comprimento, cônico, exserto, inferior ou igualado aos estames, estigma truncado. Fruto esquizocarpo, cada mericarpo é um samarídeo; formação da asa dorsal em cada um dos carpelos, glabras; núcleo seminífero rugoso, verde quando imaturo e marrom quando maduro, lenhoso, seríceo, apresentando um acúleo oriundo do estilete.

Distribuição: Argentina, Bolívia, Brasil (Amazonas, Acre, Rondônia, Pará), Colômbia, Costa Rica, Equador, Panamá, Peru, Venezuela (MOBOT 2010; Mamede, 2010).

Material selecionado: Brasil. Pará: Maracanã, ilha de Algodoal, campo de dunas, 01.08.1992, bot. & fr., Lobato, L. C. et al. 491 (MG).

De acordo com Vásquez (1997), Banisteriopsis caapi pode apresentar antera com lóculos pilosos, pistilo seríceo e estigma capitado. Entretanto, nas amostras da restinga de Algodoal/Maiandeua, a espécie apresentou anteras glabras, ovário com indumentos tomentosos a velutinos e estigma truncado, concordando com Anderson (2001), que descreve a espécie com antera variando de pilosa a glabra. Segundo Gates (1982), a espécie possui folhas eglandulares ou um par de glândulas próximo ao ápice foliar, entretanto nas amostras do litoral paraense foram encontradas somente folhas eglandulares. Na área, a espécie pode ser confundida com Heteropterys nervosa por apresentar sépalas biglandulares somente em quatro sépalas ou todas eglandulares e fruto esquizocárpico, porém, diferencia-se desta última espécie principalmente por possuir pétala rosa, ápice foliar e nervuras secundárias eglandulares, pedúnculo cilíndrico, estigma truncado, fruto com alas glabras e, principalmente, por ser a única que possui inflorescências em umbelas. Trata-se de uma planta tóxica utilizada na preparação de bebida alucinógena, popularmente conhecida como chá de Santo Daime, que, de acordo com Matos et al. (2011), serve para viabilizar a ação central psicoativa por via oral. Na área, a espécie pode ser encontrada na formação vegetal classificada como campo de dunas.

Byrsonima laevis Nied. Arbeiten aus dem Botanischen Institut des Königl. Lyceums Hosianum in Braunsberg 1: 34. 1901 (Figura 2)

 

 

Nome vernacular: muricizinho.

Arbusto ou árvore com até 5 m de altura. Ramos não lenticelados. Estípulas inferiores a 1 mm de comprimento, intrapeciolares, velutinas, persistentes. Folhas (1,5-)2,5-7(-8,5) cm x (1-)1,5-3,6(-5) cm, opostas decussadas, concolores, cartáceas a coriáceas, elípticas a obovadas; ápice retuso a emarginado, eglandular; base cuneada. Nervuras secundárias eglandulares. Inflorescências racemosas. Pedúnculo cilíndrico, seríceo. Brácteas localizadas na base do pedicelo; bractéolas localizadas na base do pedicelo. Sépalas 5, 1-2(2,5) mm de comprimento, pilosas, biglandulares em todas. Pétalas 5, róseas, brancas ou amarelas, unguiculada, margem inteira; pétalas eglandulares; pétala estandarte eglandular. Estames 10, 3,5-4 mm de comprimento; conectivo ultrapassando as tecas da antera. Antera com 1-1,5 mm de comprimento; tecas esparsamente vilosas a tomentosas; filete densamente viloso a tomentoso na base. Ovário com 1-1,5 mm de comprimento, elíptico a ovalado, glabro a piloso, trilocular. Estilete com 2-4,5 mm de comprimento, cónico, exserto, igualado ou ultrapassando os estames, estigma simples. Fruto nuculânio, globoso, rugoso, verde quando imaturo, não observado quando maduro, glabro, não alado, ápice arredondado a pouco apiculado.

Distribuição: Brasil (Roraima, Amazonas, Acre), Colômbia e Venezuela (MOBOT, 2010; Mamede, 2010).

Material selecionado: Brasil. Pará: Maracanã, ilha de Maiandeua, floresta de restinga, 30.01.1988, bot., Araújo, D. et al. 8494 (MG); Maracanã, Fortalezinha, floresta de restinga, 22.01.1994, bot., Lobato, L.C. 1576 (MG); ibidem, 05-20.12.1999, bot., Lobato, L.C. et al. 2477 (MG); Maracanã, ilha de Algodoal, ilha de Maiandeua, floresta de restinga, 01.03.1988, fr., Bastos, M.N.C. et al. 540 (MG); Maracanã, ilha de Maiandeua, formação aberta de moitas, 15.02.2002, bot., Lobato, L.C. 2913 (MG).

Na restinga de Algodoal/Maiandeua, Byrsonima laevis assemelha-se morfologicamente a B. crassifolia. Entretanto, vegetativamente, pode ser facilmente distinguida desta última por apresentar o ápice foliar retuso a emarginado e, reprodutivamente, por possuir sépala pilosa, pétala com margem inteira e conectivo ultrapassando as tecas da antera. Na área, a espécie é encontrada na formação aberta de moitas e na floresta de restinga.

Byrsonima chrysophylla Kunth Nova Genera et Species Plantarum (quarto ed.) 5: 150. 1821 [1822] (Figura 3)

 

 

Nome vernacular: murici pitanga.

Arbusto ou árvore com 2-4 m de altura. Ramos não lenticelados. Estípulas menores do que 1 mm de comprimento, intrapeciolares, seríceas, persistentes. Folhas 4-9,5 cm x (2-)3-4(-5) cm, opostas decussadas, discolores, coriáceas, elípticas a ovaladas; ápice agudo, acuminado ou emarginado, eglandular; base cuneada. Nervuras secundárias eglandulares. Inflorescencias racemosas. Pedúnculo canaliculado, seríceo. Brácteas localizadas na base do pedicelo; bractéolas localizadas na base do pedicelo. Sépalas 5, com 1-2 mm de comprimento, seríceas, bigladulares em todas. Pétalas 5, amarelas, unguiculadas, margem fimbriada; pétala eglandular; pétala estandarte biglandular, glabra. Estames 10, com 2,5-3,5(-4) mm de comprimento; conectivo ultrapassando ou não as tecas da antera. Antera com 1,5-2 mm de comprimento; tecas esparsamente vilosas a tomentosas; filete densamente viloso a tomentoso na base. Ovário com 1-1,5 mm de comprimento, ovalado, tomentoso ou glabro, trilocular. Estilete com 2,5-4 mm de comprimento, cônico, exserto, igual ou superior aos estames, estigma simples. Fruto nuculânio, globoso, rugoso, verde quando imaturo e amarelo quando maduro, carnoso, glabro, não alado, ápice arredondado a pouco apiculado.

Distribuição: Bolívia, Brasil (Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Tocantins, Maranhão, Bahia, Sergipe, Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais), Colômbia, Peru, Suriname, Venezuela (MOBOT, 2010, Mamede, 2010).

Material selecionado: Brasil. Pará: Maracanã, floresta de restinga, 13.12.1977, fr. & fl., Oliveira, E. 6726 (MG); Maracanã, ilha de Maiandeua, restinga, 21.12.1993, fr., Bastos, M.N.C. et al. 1490 (MG).

Byrsonima chrysophylla é facilmente reconhecida na restinga de Algodoal/Maiandeua por ser a única espécie de Malpighiaceae que apresenta um par de glândulas na pétala estandarte. De acordo com Anderson (2001), a espécie possui estípulas com 2-3 mm de comprimento e anteras seríceas. Nas amostras da área de estudo, entretanto, foram constatadas apenas estípulas inferiores a 1 mm de comprimento e anteras esparsamente vilosas a tomentosas. Trata-se de uma espécie predominantemente de floresta de restinga.

Byrsonima crassifolia (L.) Kunth. Nova Genera et Species Plantarum 5: 149. 1821[1822] (Figura 4)

 

 

Nome vernacular: murici, muruci, murii.

Arbusto ou árvore de até 5 m de altura. Ramos não lenticelados. Estípulas com 3-4 mm de comprimento, intrapeciolares, tomentosas, persistentes. Folhas 5,5-10(-11) cm x 2-5(-5,5) cm, opostas dísticas, discolores, coriáceas, ovaladas a elípticas; ápice agudo, acuminado, arredondado ou obtuso, eglandular; base atenuada ou cuneada. Nervuras secundárias eglandulares. Inflorescências racemosas. Pedúnculo canaliculado, densamente tomentoso. Brácteas localizadas na base do pedicelo; bractéolas localizadas na base do pedicelo. Sépalas 5, com 2-3 mm de comprimento, densamente tomentosas, biglandulares em todas. Pétalas 5, amarelas, unguiculadas, margem fimbriada; pétalas eglandulares; pétala estandarte eglandular. Estames 10, com 3-4 mm de comprimento; conectivo ultrapassando ou não as tecas da antera. Antera 1-2,5 mm de comprimento; tecas esparsamente vilosas a tomentosas; filete densamente viloso a tomentoso na base. Ovário com 1-2 mm de comprimento, elíptico a ovalado, viloso ou glabro, trilocular. Estiletes 3, com 2-3 mm de comprimento, cônico, exserto, igualado ou ultrapassando aos estames, estigma simples. Fruto nuculânio, globoso, rugoso, verde quando imaturo e amarelo quando maduro, carnoso, glabro, não alado, ápice arredondado a pouco mucronado.

Distribuição: Belize, Bolívia, Brasil (Roraima, Amapá, Pará, Amazonas, Tocantins, Maranhão, Piauí, Pernambuco, Ceará, Bahia, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, São Paulo), Caribe, Costa Rica, El Salvador, Estados Unidos da América, Guiana Francesa, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguaia, Suriname, Venezuela (MOBOT, 2010; Mamede, 2010).

Material selecionado: Brasil. Pará: Maracanã, Mocooca, vila de Martins Pinheiro, formação aberta de moitas, 09.09.2001, bot. & fl., Oliveira, J. et al. 293 (MG); Maracanã, ilha de Algodoal, campo de dunas, 02.02.1992, fl. & fr., Lobato, L.C. et al. 451 (MG); Maracanã, ilha de Algodoal, praia da Princesa, floresta de restinga, 11.04.1991, fl. & fr., Bastos, M.N.C. et al. 68 (MG); Maracanã, formação aberta de moitas, 26.02.2003, fl., Rocha, A.E.S. et al. 130 (MG); Maracanã, ilha de Algodoal, floresta de restinga, 20-24.09.1994, fl., Bastos, M.N.C. et al. 1744 (MG); Maracanã, campo de dunas, 13.01.1992, Bastos, M.N.C. et al. 1162 (MG); Maracanã, vila de Algodoal, ilha de Maiandeua, floresta de restinga, 01.03.1988, fl. & fr., Bastos, M.N.C. et al. 518 (MG).

Byrsonima crassifolia difere-se das demais cogenéricas aqui tratadas, principalmente, por apresentar filotaxia oposta dística e estípulas com 3-4 mm de comprimento. Segundo Anderson (2001), a espécie possui sépalas glabras ou raras vezes esparsamente tomentosas. Nas espécies da restinga de Algodoal/Maiandeua, porém, tal estrutura apresentou-se densamente tomentosa, evidenciando uma estratégia de adaptabilidade da espécie para diminuir a transpiração, uma vez que se trata de um ambiente extremamente quente. Essa espécie mostrou-se bastante adaptada ao ambiente de restinga, ocorrendo na formação aberta de moitas, campo de dunas e floresta de restinga.

Heteropterys nervosa A. Juss. Flora Brasiliae Meridionalis 3: 21. 1832 (Figura 5)

 

 

Nome vernacular: cipó-de-morcego.

Liana. Ramos lenticelados. Estípulas inferiores a 1 mm de comprimento, intrapeciolares, tomentosas, persistentes. Folhas (4,5-)7-8,5(-10) cm x 3-4(-6) cm, opostas dísticas, discolores, cartáceas, elípticas a ovaladas; ápice agudo a acuminado, com um par de glândulas sésseis; base cuneada, obtusa ou arredondada. Nervuras secundárias com 4-7 glândulas, próximo à margem foliar. Inflorescências em panícula. Pedúnculo canaliculado, densamente piloso a densamente viloso. Brácteas localizadas na base do pedicelo; bractéolas localizadas na parte mediana do pedicelo. Sépalas 4, 2,5-5(-6) mm de comprimento, velutinas a canescentes, biglandulares ou todas eglandurares. Pétalas 5, amarelas, unguiculadas, margens fimbriadas; pétalas eglandulares; pétala estandarte eglandular. Estames 10, com (1,5-)2-3,5 mm de comprimento. Conectivo não ultrapassando as tecas da antera. Anteras com 0,5-1,5 mm de comprimento, tecas glabras; filete glabro na base. Ovário com 0,7-2 mm de comprimento, elíptico a ovalado, tomentoso, trilocular. Estilete com 1-2(-2,5) mm, cônico, exsertos, igualado ou ultrapassando os estames, estigma uncinado. Fruto esquizocarpo; cada mericarpo é um samarídeo; formação da asa dorsal em cada um dos carpelos, esparsamente pubescentes; núcleo seminífero rugoso; quando imaturo verde e quando maduro róseo ou marrom, lenhoso, pubescente; apresenta acúleo oriundo do estilete.

Distribuição: Bolívia, Brasil (Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo), Caribe, Colômbia, Guiana Francesa, Guiana, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname, Venezuela (MOBOT, 2010; Mamede, 2010).

Material selecionado: Brasil. Pará: Maracanã, ilha de Maiandeua, formação aberta de moitas, 14.11.1993, fr., Bastos, M.N.C. et al. 1459 (MG); Maracanã, ilha de Algodoal, praia da princesa, campo de dunas, 12.04.1991, fl. & fr., Bastos, M.N.C. et al. 736 (MG); Maracanã, vila de Algodoal, ilha de Maiandeua, floresta de restinga, 02.03.1988, fr., Bastos, M.N.C. et al. 562 (MG). Maracanã, vila de Algodoal, ilha de Maiandeua, campo de dunas, 01.03.1988, fr., Bastos, M.N.C. et al. 529 (MG); Maracanã, ilha de Algodoal, 30.10.1999, fl., Bastos, M.N.C. et al. 2469 (MG).

Segundo Vásquez (1997), Heteropterys nervosa possui folhas com glândulas submarginais, inflorescência do tipo corimbo e uma umbela terminal, porém, nas amostras de Algodoal/Maiandeua, foram observadas somente inflorescências em panícula, que, juntamente com o par de glândulas no ápice foliar, são diagnósticos para a identificação da espécie na área, concordando com Mamede (2004). Na área, a espécie ocorre na formação aberta de moitas, campo de dunas e floresta de restinga.

 

CONCLUSÃO

Nas espécies de Malpighiaceae, na APA de Algodoal/Maiandeua, constatou-se que a presença de glândulas, a forma do ápice foliar, as pétalas, principalmente a estandarte, e os frutos foram os principais caracteres diagnósticos utilizados para identificação dos táxons. O gênero Byrsonima Rich. ex Kunth foi o mais representativo na área, com três espécies, sendo Byrsonima laevis uma nova ocorrência para restinga do litoral paraense. Nesse ambiente, Byrsonima crassifolia e Heteropterys nervosa foram as espécies mais abrangentes, ocorrendo desde o campo de dunas até a floresta de restinga. Esta última formação vegetal foi a mais rica em espécies, abrangendo quatro das cinco espécies citadas na área de estudo.

 

AGRADECIMENTOS

Ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), pela concessão da bolsa. Ao Museu Paraense Emílio Goeldi, por ceder o laboratório de taxonomia. À Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA Amazônia Oriental), por conceder imagens dos exemplares-tipo do Herbário IAN. Ao D. Marques, pela ajuda na arte das pranchas e auxílio durante a realização do trabalho.

 

REFERÊNCIAS

AMARAL, D. D., 2003. A vegetação das restingas amazônicas. Anais do Congresso Nacional de Botânica 54: 146-147.

AMARAL, D. D., M. T. PROST, M. N. C. BASTOS, S. V. COSTA NETO & J. U. M. SANTOS, 2008. Restingas do litoral amazônico, estados do Pará e Amapá, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Naturais 3(1): 35-67.

ANDERSON, W. R., 2001. Malpighiaceae. In: P. E. BERRY, K. YATSKIEVYCH & B. K. HOST (Eds.): FLORA of the Venezuelan Guayana: Liliaceae-Myrsinaceae: 82-185. Missouri Botanical Garden Press, St. Louis, Missouri.

ANDERSON, W. R. & C. ANDERSON, 2010. Herbarium University of Michigan Family Discription – Malpighiaceae. Disponível em: <http://lsa.umich.edu/herb/malpigh/index.html/>. Acesso em: 24 abril 2010.

BRASIL, 2010. Resolução CONAMA no 261, de 30 de junho de 1999: vegetação de restinga. Disponível em: <http://portal.pmf.sc.gov.br/arquivos/arquivos/pdf/17_01_2011_17.24.13.b7a8adfb91c7a7711cab5aa901ca3f99.pdf >. Acesso em: 15 junho 2010.

FRANZINELLI, E., 1992. Evolution of the geomorfology of the coast of the state of Pará, Brazil. In: PROST, M. T. Évolution des littoraux de Guyane et de la zone Caribe méridionale pendant le quaternaire, Paris: 203-230. ORSTOM, Cayenne.

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Autor para correspondência:
Julio dos Santos de Sousa.
Museu Paraense Emílio Goeldi/MCTI.
Coordenação de Botânica.
Av. Perimetral, 1901 - Terra Firme.
Belém, PA, Brasil.
CEP 66017-970
(jssousa27@yahoo.com.br)

Recebido em 13/08/2010
Aprovado em 27/12/2011

Responsabilidade editorial: Ana Cristina Andrade de Aguiar Dias