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Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi Ciências Humanas

Print version ISSN 1981-8122

Bol. Mus. Para. Emilio Goeldi Cienc. Hum. vol.3 no.2 Belém Aug. 2008

 

Agricultura de corte e queima e florestas tropicais em um mundo em mudança

 

 

Cristina AdamsI; Rui Sérgio Sereni MurrietaII

IEscola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo
IIInstituto de Biociências da Universidade de São Paulo

 

 

Nas florestas tropicais, a influência humana sobre o processo de sucessão vegetal e sobre a biodiversidade está freqüentemente associada a estratégias de manejo agroflorestal que incluem a agricultura itinerante ou de corte e queima. Embora tenha sido parte das práticas de cultivo de inúmeros povos desde o neolítico em todo o globo, esse sistema agrícola está nos dias de hoje quase que exclusivamente ligado às estratégias de subsistência de populações indígenas ou de baixa renda vivendo em áreas florestadas.

Para muitos, tais práticas são uma ameaça aos recursos florestais e à estabilidade ambiental, tanto pelo fato de substituírem áreas de floresta primária por vegetação secundária, como por contribuírem para as emissões de carbono e para o aquecimento global. Entretanto, o interesse acadêmico pelo processo de sucessão secundária vem crescendo nos últimos anos, mudando o foco da discussão para a importância da expansão das florestas sucessionais no processo de seqüestro de carbono, na conservação da biodiversidade e na manutenção de outras funções ecológicas importantes. Por outro lado, os sistemas tradicionais de manejo agroflorestal são dinâmicos e sujeitos a alterações, sendo influenciados por mudanças socioeconômicas, tecnológicas, demográficas e ecológicas.

Nas últimas décadas, estas mudanças estão se acelerando devido às pressões resultantes da globalização da economia. A imposição de restrições à agricultura de corte e queima como medida de preservação das florestas, em vários países, é uma das pressões externas que vêm afetando esses sistemas, resultando na redução da diversidade de espécies submetidas ao manejo, no aumento da insegurança alimentar e, conseqüentemente, da pobreza entre as populações humanas que dependem deles, desvinculando conservação e desenvolvimento. Apesar da importância destas mudanças, tanto para a conservação das florestas tropicais quanto para o manejo agroflorestal e para a subsistência das populações envolvidas, seus impactos ainda não foram adequadamente compreendidos.

Tendo como ponto de partida algumas dessas preocupações, foram reunidos, durante a XV Conferência Internacional da Sociedade de Ecologia Humana, em outubro de 2007, no Rio de Janeiro, alguns especialistas em agricultura itinerante ou de corte e queima nas terras baixas da America do Sul para discutir as tendências atuais do debate sobre esse tema. Este dossiê é uma pequena amostra, porém representativa, de alguns dos trabalhos e temas discutidos naquela ocasião.

Assim, definimos como o objetivo deste dossiê discutir o papel da agricultura de corte e queima em relação às mudanças que vêm ocorrendo nas estratégias de subsistência e nos padrões locais de uso da terra nas florestas tropicais das terras baixas sul-americanas. Somado a isso, gostaríamos que os artigos aqui publicados contribuíssem de alguma maneira para a elaboração de futuras políticas públicas que tenham maior efetividade na conservação florestal e na melhoria da qualidade de vida dos pequenos produtores rurais que vivem nesses ecossistemas.