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Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi Ciências Humanas

versión impresa ISSN 1981-8122

Bol. Mus. Para. Emilio Goeldi Cienc. Hum. v.4 n.1 Belém abr. 2009

 

CARTA DO EDITOR

 

Nelson Sanjad

Editor Científico

 

 

Nos últimos meses, os editores científicos de revistas brasileiras enfrentam a dura tarefa de assimilar os novos critérios de avaliação de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Infelizmente, o debate público sobre a reformulação do sistema Qualis foi insuficiente e inócuo. Há uma consternação geral entre os editores em razão do destaque dado às revistas estrangeiras, do ranking nacional de periódicos ter sido mantido com base em parâmetros não qualitativos, da mobilidade no interior do ranking ter sido engessada – o que exclui por princípio a maior parte das revistas brasileiras dos estratos mais elevados, independentemente de sua qualidade – e de terem sido deixadas em aberto questões importantes para os cursos de pós-graduação, como a distribuição da produção científica pelos estratos do ranking. Não faltou quem apontasse a incongruência da CAPES, que, por um lado, financia muitas revistas brasileiras e, por outro, incentiva os pesquisadores a publicarem em revistas estrangeiras ou a concentrarem a sua produção em algumas poucas revistas brasileiras consideradas de qualidade elevada pelos critérios do órgão.

Enquanto os novos critérios da CAPES não nos deixam dormir com sua numerologia, prosseguimos tentando manter a companhia de quem faz ciência com qualidade. A presente edição do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas reúne vários trabalhos em torno do tema "Arqueologia amazônica: história e identidades". Esse tema, que aproxima arqueologia, história e etnologia, vem ganhando espaço em fóruns internacionais, incluindo os latinoamericanos, mas pouco repercutiu no Brasil. Cristóbal Gnecco (Universidade de Cauca, Colômbia), Fabíola Silva (MAE/USP), Juliana Machado (MN/UFRJ), Martijn van den Bel (Institute National de Recherches Archéologiques Préventives/Guiana Francesa) e Lúcio Ferreira (UFPEL) fazem reflexões epistemológicas e críticas teóricas, algumas vezes acompanhadas de estudos de caso, demonstrando como os debates sobre a arqueologia e suas relações com a política e a sociedade vem amadurecendo na América do Sul.

Este número do Boletim também apresenta aos leitores vários textos na seção "Memória", todos remetendo à história da arqueologia amazônica e com boa divulgação de fontes bibliográficas e documentais. O primeiro é uma compilação de três textos arqueológicos e etnológicos de Emílio Goeldi (1859-1917), publicados originalmente na língua alemã e que seguem, pela primeira vez, traduzidos para o português por João Batista Poça da Silva (UFPA). Um deles, apresentado no Congresso de Americanistas de 1904, vai ilustrado com 20 estampas inéditas, impressas ainda pelo ex-diretor do Museu Paraense, mas nunca divulgadas como havia planejado. No seu conjunto, textos e estampas representam fontes históricas e científicas da maior importância para a ciência brasileira.

Em seguida, Klaus Hilbert (PUC-RS) apresenta uma biografia de seu pai, Peter Paul Hilbert (1914-1989), pesquisador do Museu Goeldi entre o final da década de 1940 e o início da de 1960, cuja vida e obra merecem ser melhor conhecidas. O texto de Klaus Hilbert inclui a relação da obra científica e ficcional do pai. Por sua vez, Anna Roosevelt (Universidade de Illinois, Chicago, USA) apresenta uma memória pessoal de sua trajetória na arqueologia amazônica, desde sua formação até as mais recentes pesquisas. Roosevelt contextualiza sua produção científica, permitindo a aproximação do leitor com as motivações e questões teóricas que a mobilizaram. Por fim, Edithe Pereira (MPEG/MCT) apresenta a recente produção científica da área de arqueologia do Museu Goeldi, relacionando-a a questões institucionais como o desenvolvimento da agenda de pesquisas, a inclusão de preocupações educacionais nessa agenda, a formação de pesquisadores e a gestão do acervo arqueológico. Em todos os textos, as fontes citadas formam um conjunto notável de referências para os interessados no assunto.

O número finaliza com três resenhas que mantêm o foco na relação entre a história e outras disciplinas. Ângela Domingues (Instituto de Investigação Científica Tropical, Portugal) faz uma reflexão sobre a publicação de fontes históricas a partir da edição do roteiro da viagem de José Monteiro de Noronha (1723-1794), organizada por Antônio Porro. Heloisa Bertol Domingues (MAST/MCT) destaca o valor das contribuições de Constant Tastevin (1880-1958) para a etnologia amazônica, publicadas e analisadas em livro organizado por Priscila Faulhaber e Ruth Montserrat. E Marinus Hoogmoed (MPEG/MCT) destaca as contribuições de Emílio Goeldi à ciência brasileira, a partir da biografia do zoólogo escrita por Nelson Sanjad.

Agradeço a Lúcio Menezes Ferreira, da Universidade Federal de Pelotas (RS), pela organização desse número especial; a Lucas Bueno, editor de arqueologia do Boletim, pela parceria e pelo apoio na edição dos trabalhos; a Elaynia Ono, pelo permanente cuidado no trabalho de editoração dos textos e pela criação da bela capa deste número; e a toda a equipe do Boletim, que disciplinadamente mantém os trâmites editoriais com seriedade e pontualidade. Com este número, pretendemos homenagear os 150 anos de nascimento de Emílio Goeldi, que criou o Boletim em 1894 e dele se ocupou como editor até 1907.