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Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi Ciências Humanas

Print version ISSN 1981-8122

Bol. Mus. Para. Emilio Goeldi Cienc. Hum. vol.4 no.1 Belém Apr. 2009

 

A etnoarqueologia na Amazônia: contribuições e perspectivas

 

The ethnoarchaeology in Amazon: contributions and perspectives

 

 

Fabíola Andréa Silva

Museu de Arqueologia e Etnologia. Universidade de São Paulo. Brasil (faandrea@usp.br)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Desde a década de 1970, a etnoarqueologia tem sido realizada na região amazônica com diferentes temas, problemas e objetivos. Independentemente das suas perspectivas, esses trabalhos têm contribuído para o entendimento da pré-história amazônica, ampliando as possibilidades para interpretar o registro arqueológico. Além disso, contribuem na crítica e na revisão dos paradigmas tradicionais que dominaram por muito tempo as explicações sobre os modos de vida das populações amazônicas do presente e do passado. Esse artigo apresenta um panorama desses trabalhos etnoarqueológicos, salientando sua importância para o entendimento da pré-história amazônica e para a continuidade das pesquisas arqueológicas na região.

Palavras-chave: Etnoarqueologia. Transformações culturais. Amazônia.


Abstract Since the 1970s, the ethnoarchaeology was held in the Amazon region with different issues, problems and goals. Regardless of their perspectives, these works have contributed to the views of prehistory of Amazon, expanding the possibilities to analyze the archaeological record. They also contribute to criticism and revision of traditional paradigms that have dominated since for long time the explanations about the ways of life of present and past Amazonians populations. This paper presents a review of ethnoarchaeological research in Amazon emphasizing the importance of ethnoarchaeology to knowledge of prehistory of Amazon as well as to the continuity of archaeological research in Amazon region.

Keywords: Ethnoarchaeology. Cultural transformations. Amazon.


 

 

INTRODUÇÃO

A etnoarqueologia trabalha com sociedades contemporâneas, buscando dados etnográficos para responder problemas de interesse arqueológico. Esses dados possibilitam a construção de modelos, a proposição de hipóteses e inferências interculturais sobre a relação entre comportamento humano e mundo material. Sua existência resulta do fato da arqueologia sempre ter empregado dados etnográficos na interpretação da cultura material. Seu desenvolvimento deve-se ao contínuo aperfeiçoamento dos métodos de obtenção dos dados etnográficos pelos arqueólogos, ao refinamento das interpretações e, especialmente, à ampliação dos temas de pesquisa sobre populações contemporâneas.

O termo etnoarqueologia data do final do século XIX, mas a abordagem começou a ser desenvolvida como método de pesquisa a partir da década de 1960. Desde então, vários trabalhos foram produzidos especificamente para coletar dados etnográficos com o objetivo de contribuir na interpretação arqueológica (Narrol, 1962; Heider, 1967; Lee, 1968; Gould, 1968). Para Binford (1967, 1968), contudo, os dados não deveriam ser utilizados para estabelecer analogia etnográfica entre o presente e o passado. O uso da analogia na interpretação do registro arqueológico usualmente servia para aproximar o contexto do passado ao observado no presente. Para Binford, tal procedimento resultaria na compreensão simplificada, distorcida e etnocêntrica do registro arqueológico. Para ele, introduzindo uma nova perspectiva teórica, "o entendimento do passado não é simplesmente uma questão de interpretar o registro arqueológico através da analogia com sociedades vivas"; seria necessário desenvolver métodos que permitam "relacionar os fenômenos arqueologicamente observados às variáveis que, embora sejam observadas de diferentes formas entre as populações vivas, possuam valor explanatório" (Binford, 1968, p. 269).

O problema da analogia gerou um longo e polêmico debate, sem consenso entre os pesquisadores (Gould, 1990; Gould e Watson, 1982; Hodder, 1982; Wylie, 1985; Kent, 1987). Ao fim e ao cabo, a discussão centrou-se na definição de como o dado etnográfico seria utilizado para interpretar o registro arqueológico. Atualmente, como salientou David (1992, p. 330), a etnoarqueologia reflete a diversidade teórica da arqueologia, sendo "caracterizada por uma diversidade de produtos que muitas vezes parecem ter pouco em comum". Até os anos 1980, a etnoarqueologia foi dominada pelas abordagens processualistas e comportamentais, interessadas na compreensão dos sistemas de assentamento/subsistência, produção/utilização da cultura material e formação do registro arqueológico. A década seguinte foi marcada pelo pós-processualismo, que incorporou novos temas e problemas, dedicados a compreender os aspectos simbólicos da relação humana com o mundo material, enfatizando, por exemplo, estratégias de poder, cosmologia e vida ritual (David, 1992).

Para vários pesquisadores (Silva, 2000; Roux, 2007), as diferentes perspectivas etnoarqueológicas não são irreconciliáveis. Todas têm por objetivo a construção de uma base de dados etnográficos úteis às interpretações arqueológicas. Além disso, a pesquisa precisa ser realizada considerando os fenômenos culturais, tanto em nível particular como em geral, abrindo espaço para as comparações. Em ação, o etnoarqueólogo está interessado em compreender um contexto específico e, nesse caso, oferecer uma descrição particularizada sobre determinado comportamento humano. Ele é orientado pelo entendimento atual da antropologia de que não é mais possível considerar o comportamento humano e a realidade material isolados da relação dialética entre prática e simbolismo. Finalmente, existe a compreensão de que a etnoarqueologia está consolidada como disciplina de pesquisa e que os arqueólogos estão, definitivamente, convencidos de que é necessário realizar, eles próprios, pesquisas etnográficas, pois somente assim os dados de interesse arqueológico serão devidamente coletados.

Na Amazônia, os primeiros contornos da pesquisa etnoarqueológica podem ser encontrados desde 1876, nos trabalhos daqueles que se dedicaram a resgatar dados etnográficos para interpretar as evidências arqueológicas, como Barbosa Rodrigues (1876, 1892), Goeldi (1906), Koch-Grünberg (2005[1909]) e Frickel (1961, 1964). Entre eles, preponderou o uso da analogia, relacionando as populações do presente com as do passado. Por exemplo, Barbosa Rodrigues (1876, p. 102), inspirado na teoria do "uniformitarismo", acreditava na analogia, como seus colegas do século XIX, partindo do pressuposto: "como na geologia, na etnografia, os fatos modernos nos explicam os antigos".

Desde a década de 1970, a etnoarqueologia foi realizada na região amazônica com diferentes temas, problemas e objetivos. Alguns privilegiaram a reflexão e o entendimento sobre a trajetória histórica de longa duração, como Heckenberger (1996, 2001) e Neves (1998, 2001, 2006). Outros buscaram apreender a relação das populações com o meio físico e material, elaborando referenciais sistemáticos e modelos interpretativos sobre os processos de formação do registro arqueológico (DeBoer e Lathrap, 1979; Carneiro, 1979; Politis, 1996a; Silva, 2000, 2008). Independentemente das perspectivas, esses trabalhos têm contribuído para o entendimento da pré-história amazônica, ampliando as possibilidades para interpretar o registro arqueológico. Além disso, contribuem na crítica e na revisão dos paradigmas tradicionais que dominaram por muito tempo as explicações sobre os modos de vida das populações amazônicas do presente e do passado. Esse artigo apresenta um panorama desses trabalhos etnoarqueológicos, salientando sua importância para o entendimento da pré-história amazônica e para a continuidade das pesquisas arqueológicas na região.

 

A CONTRIBUIÇÃO DAS PESQUISAS ETNOARQUEOLÓGICAS NA AMAZÔNIA

Durante décadas, a partir da teoria do determinismo ecológico, as populações amazônicas foram vistas como limitadas pelo ambiente da floresta tropical. Para alguns autores, essa é uma interpretação que repousa nas representações colonialistas sobre os povos e a cultura dos chamados "países periféricos", um legado da teoria da degeneração que foi persistente desde Georges-Louis Leclerc, Conde de Buffon (1707-1788), nas interpretações sobre a relação das populações indígenas com seu meio físico e material, especialmente na Amazônia (Noelli e Ferreira, 2007).

Os estudos de ecologia histórica e as novas abordagens arqueológicas (Balée, 1998; Heckenberger, 1996, 2001, 2006) trouxeram uma alternativa para o entendimento dessa relação entre as populações amazônicas e o ambiente. Eles evidenciaram que, ao invés de limitadas pelo ambiente, as populações vinham transformando e manejando o meio onde viviam e criando paisagens a partir de seus próprios objetivos, percepções e visões de mundo. O que elas fizeram ao longo do tempo e de várias gerações foi a domesticação da paisagem. Segundo Erickson (2008, p. 158):

Domesticação da paisagem implica todas as práticas e atividades intencionais e não intencionais dos humanos que transformam o ambiente em uma paisagem produtiva para os humanos e as outras espécies. Paisagens domesticadas são o resultado de uma cuidadosa criação e do manejo de recursos com implicações para a diversidade, distribuição e disponibilidade das espécies.

Aqueles que questionam o paradigma da limitação procuram alternativas investigando a transformação e o manejo das paisagens amazônicas. Tentam identificar os elementos que podem servir de índice da prática da construção das paisagens no passado e no presente: queimas antropogênicas, assentamentos e paisagens do entorno, ilhas de florestas antropogênicas, trincheiras e construções de barreiras no solo, plataformas de cultivo, redes de estradas e de manejo de água, estruturas de manejo de pesca, manejo agroflorestal, mounds e depósitos de 'terra preta' (Erickson, 2008).

Na busca pelo entendimento da interação de longa duração entre populações e ambientes amazônicos, merece destaque a pesquisa interdisciplinar que tem somado dados arqueológicos, históricos, etnográficos e das ciências naturais. Nesse contexto, a etnoarqueologia tem contribuído para o entendimento de alguns processos culturais responsáveis pela domesticação das paisagens.

Os estudos sobre populações caçadoras-coletoras têm mostrado como elas manejam os ambientes com suas atividades cotidianas de forrageio e com o que alguns autores chamam de "cultivo itinerante". Durante a procura de alimentos e outros recursos, tais populações alteram a paisagem, abrindo clareiras para a instalação de seus acampamentos e realizando queimadas para eliminar as espécies de plantas indesejadas e/ou facilitar as estratégias de caça. Ao mesmo tempo, suas atividades de preparação e consumo de alimentos, bem como suas constantes mudanças de acampamento, geram a concentração de determinadas espécies, como as palmeiras, formando verdadeiras ilhas de recursos para os grupos humanos e que, ao mesmo tempo, atraem determinadas espécies de animais de caça (Politis, 1996a, 1996b, 2001; Erickson, 2008, p. 165, 176; Oliver, 2008, p. 198-206).

As populações agricultoras e ribeirinhas também manejam os ambientes das mais diferentes formas, gerando transformações bastante persistentes e permanentes. Um exemplo é o conjunto de assentamentos e a paisagem de entorno. Os etnoarqueólogos têm revelado que esses conjuntos podem variar de tamanho e morfologia (por exemplo, aldeias circulares ou de traçado irregular) e apresentar estruturas e áreas de atividades diversas (por exemplo, estruturas de habitação, casas comunais, praças cerimoniais, estruturas de armazenagem, locais de atividades específicas, montículos) (Heckenberger, 1996; Silva, 2000; Hecht, 2003; Mazz, 2008). No seu entorno, podem existir áreas de descarte de lixo, de plantio e vias de acesso interligando os assentamentos aos locais de atividades específicas, como roças, pesqueiros, locais de coleta, bem como a outros assentamentos (Heckenberger, 1996; Silva, 2000). Nas áreas de entorno podem aparecer ilhas ou corredores de vegetação que são manejados e apresentam alta biodiversidade (Posey, 1983, 1987; Silva, 2000; Hecht, 2003; Machado, 2008). As áreas de roça são locais de intenso manejo, pois implicam a abertura de clareiras, o preparo e a transformação dos solos. Com o intuito de limpar, preparar e fertilizar essas áreas de plantio, as populações praticam queimadas que são controladas em sua intensidade e extensão (Hecht, 2003). Normalmente, as áreas de antigas roças tornam-se locais de concentração de certas espécies vegetais e se caracterizam por apresentar uma vegetação secundária, com grande concentração de lianas e/ou espécies de palmeiras (Balée, 1988, 1994; Silva, 2000).

Cabe ressaltar que a utilização do fogo não se restringe às áreas de roça, pois também é utilizado para incinerar o lixo depositado nas imediações das aldeias e evitar a proliferação de insetos e vermes por causa do acúmulo de detritos orgânicos, bem como para inibir a ação de animais indesejados em torno dos assentamentos, como cães, ratos e cobras (Hecht, 2003; Silva, 2000, 2003). As diferentes formas de utilização do fogo, além de serem responsáveis por certas mudanças nos ecossistemas florestais e na produtividade dos solos, poderiam contribuir para a formação da 'terra preta' e 'terra mulata' (Pedroso Jr. et. al., 2008; German, 2003; Hecht, 2003). As 'terras pretas' são solos que se caracterizam por apresentarem coloração muito escura, alta quantidade e densidade de nutrientes e materiais orgânicos e que, normalmente, estão associados a sítios arqueológicos com alta densidade de vestígios cerâmicos e de outros artefatos (Lehmann et. al., 2003). Esses sítios de 'terras pretas' têm sido interpretados como testemunhos de práticas intensivas ou semi-intensivas de cultivo, especialmente da mandioca, do aumento da densidade demográfica, da ocupação prolongada dos assentamentos e de diversidade e concentração de atividades humanas em determinados locais (Petersen et. al., 2001). É importante ressaltar, como dizem Neves e colegas (2003, p. 29), que:

Nosso principal argumento é que embora as práticas sócio-culturais e econômicas particulares que geraram as 'terras pretas' no passado ainda não sejam entendidas em detalhe, o início da formação das 'terras pretas' pode ser intimamente relacionado aos tempos pré-coloniais na Amazônia. A formação das 'Terras Pretas' é então vista como o correlato de profundas mudanças sociais que tiveram lugar pela Amazônia e outras porções das terras baixas da América do Sul desde aproximadamente o começo do primeiro milênio AD em diante. Estas mudanças trouxeram novas relações entre as sociedades humanas e a natureza, definindo dramática e permanentemente as formas de transformação da paisagem, incluindo o aparecimento das 'Terras Pretas', entre outras.

Inspirando-se nessas interpretações, as comunidades contemporâneas têm sido estudadas com o objetivo de procurar apreender os possíveis processos culturais que teriam gerado a formação das 'terras pretas'. Esses processos culturais dizem respeito, por exemplo, aos etnoconhecimentos e às práticas tradicionais de manejo e uso dos solos (Hecht, 2003; German, 2003; Hiraoka et. al., 2003), aos comportamentos cotidianos de produção, uso e descarte dos materiais cerâmicos nas áreas do assentamento e seu entorno (Silva, 2003) e ao modo como as populações se utilizam das diferentes áreas de atividades nos assentamentos (Silva e Rebellato, 2003; Schmidt, 2008). Esses trabalhos são fundamentais na discussão sobre a origem antropogênica das 'terras pretas', pois permitem fundamentar as hipóteses que tentam associar certas "assinaturas dos solos" com os comportamentos humanos no passado. Segundo Fraser e Clement (2008, p. 176-178), a associação entre a formação das 'terras pretas' e 'terras mulatas' e a intensificação das práticas de cultivo, especialmente, da mandioca (Manihot esculenta), e o grau de intencionalidade humana nesse processo, ainda implica muitos questionamentos e é um tema que necessita de mais investigação etnográfica e etnoarqueológica.

Como se pode perceber, essas questões relativas aos processos de manejo ambiental e à formação das 'terras pretas' e 'terras mulatas' estão relacionadas com problemas de pesquisa cruciais da pré-história amazônica, ou seja, com o surgimento e desenvolvimento da agricultura, o crescimento demográfico e o movimento das populações amazônicas e, conseqüentemente, a dispersão espacial e temporal das chamadas 'fases' e 'tradições' arqueológicas.

Na procura por alimentos e outros recursos, os seres humanos começaram a alterar a paisagem muito antes de praticarem técnicas de cultivo mais sistemáticas. Alguns autores acreditam que o surgimento da agricultura pode ser buscado desde as práticas de cultivo itinerante que têm sido documentadas entre populações caçadoras-coletoras e que são responsáveis, entre outras coisas, pela distribuição de sementes nas áreas de deslocamentos e assentamentos dessas populações. Do cultivo itinerante à intensificação da agricultura e à formação das 'terras pretas' e 'terras mulatas', vai uma longa história de domesticação do ambiente e de processos de sedentarismo. Essa história inicia-se com os caçadores-coletores (desde 11.000 AP), exploradores de diversos recursos vegetais e animais da floresta tropical (frutos, sementes, moluscos, peixes, tartarugas e mamíferos terrestres). Depois, temos os semi-sedentários pescadores-coletores do Período Arcaico (7.800 AP a 4.500 AP) e os seus diferentes conjuntos cerâmicos (Paituna, Taperinha, Mina, Uruá-Tucumã), que parecem indicar o processamento de plantas - não necessariamente domesticadas e/ou cultivadas. No Período Formativo (4.500 AP a 2.000 AP), surgem os assentamentos de populações sedentárias com vestígios cerâmicos que poderiam ter sido empregados no processamento, consumo, estocagem de alimentos e outras atividades. Esses vestígios cerâmicos se caracterizam por serem bastante elaborados (por exemplo, Tradições Saladóide, Hachurada-Zonada, Barrancóide) e se distribuem por todas as terras baixas da Amazônia. Após esse período, teria ocorrido uma crescente intensificação da agricultura e o aparecimento dos grandes assentamentos com complexidade e diversidade regional, apresentando alta densidade de material cerâmico de diferentes conjuntos (por exemplo, Tradições Borda Incisa, Policroma, Inciso Ponteado), outros artefatos, estruturas e 'terras pretas'. Esses contextos estariam relacionados com o incremento da vida sedentária, o crescimento e movimento das populações e o surgimento de diferentes tradições culturais (Oliver, 2008; Neves, 2008).

Estudos etnoarqueológicos mais recentes são desenvolvidos para procurar entender os processos de mobilidade e ocupação territorial de diferentes populações (indígenas e ribeirinhas), tentando evidenciar as diferentes causas dos processos de ocupação, re-ocupação e abandono dos locais de atividade específica e assentamentos. Nesses trabalhos, foi evidenciado que, normalmente, os locais preferencialmente escolhidos para a ocupação e reocupação como moradia, área de cultivo ou outra atividade são aqueles previamente antropizados. Nesse caso, as marcas de antropização foram encontradas, por exemplo, na diferenciação da vegetação, ou seja, com a presença de ilhas ou corredores de vegetação secundária e manejada, circundados por floresta primária; na ocorrência de vestígios materiais testemunhos de antigos assentamentos históricos ou arqueológicos; e na presença de solos de 'terras pretas'. As causas do abandono dos assentamentos ou de seus desdobramentos, por outro lado, vêm sendo associadas a questões de ordem social, como aumento da população, casamentos, mortes; política, como desacordo entre lideranças ou surgimento de novas; conflitos com invasores; econômica, como busca por áreas mais produtivas para o cultivo, preservação e manutenção do território; e simbólica (por exemplo, ancestralidade mítica) (Machado, 2008; Silva et.al., 2008; Stuchi, 2008).

Estudos sobre o uso do espaço e sobre a subsistência são fundamentais para que se possa tentar apreender, em pequena escala local e regional, os possíveis processos culturais que foram responsáveis pela implantação dos sítios arqueológicos na paisagem, pelo manejo dos recursos naturais e pela movimentação territorial das populações amazônicas no passado. Nesse sentido, as pesquisas trazem subsídios para importantes questões relativas à dispersão e expansão de populações amazônicas, como é o caso das populações Aruak, há muito estudadas arqueológica e etnoarqueologicamente por Heckenberger (1996, 2001). Também é o caso de algumas populações Tupi, cujas pesquisas arqueológicas e etnoarqueológicas sobre a ocupação e territorialidade na Amazônia ainda são escassas (Pereira et al., 2008; Silva et al., 2008; Stuchi, 2008).

O tema da origem, ocupação e expansão dos povos Tupi é debatido desde o século XIX, sendo revisado e ampliado até hoje. Desenvolveu-se a partir da percepção da unidade lingüística Tupi e da posterior demonstração das relações genéticas entre as línguas da família Tupi-Guarani, bem como da constatação da semelhança da sua cultura material e da incorporação dos dados arqueológicos a partir dos quais foram estabelecidos conjuntos cerâmicos regionais e horizontes arqueológicos, possíveis locais de origem e rotas de migração ou expansão Tupi (Noelli, 1996). Na Amazônia, o tema foi tratado a partir de diferentes paradigmas explicativos: 1) Donald Lathrap e José Brochado, unindo dados lingüísticos, etnográficos, botânicos e arqueológicos, entenderam a origem, ocupação e expansão Tupi como sendo o resultado do processo de sistematização dos cultivos e do aumento contínuo da pressão demográfica que teria resultado na dispersão dessas populações e de seus traços culturais (por exemplo, a cerâmica); 2) na década de 1950, Betty Meggers, considerando os mesmos dados, entendeu a dispersão desses povos em função de possíveis limitações ambientais e do empobrecimento cultural. Em um primeiro momento, Meggers defendeu a idéia de que esses povos não tinham uma origem amazônica e não eram ceramistas na sua gênese - ao tempo do proto-Tupi. Na década de 1970, Meggers modificou parcialmente seus argumentos e passou a adotar os critérios lingüísticos para tratar da origem e dispersão desses povos (Noelli, 2008).

A contribuição da etnoarqueologia na pesquisa sobre a expansão Tupi na Amazônia deve considerar os seguintes temas: 1) transmissão e manutenção inter-gerações dos etnoconhecimentos Tupi; 2) ocupação, exploração e transformação dos territórios; 3) continuidade e mudança da tecnologia cerâmica.

Trabalhos de ecologia histórica mostram que os povos Tupi transmitem e preservam conhecimentos tradicionais etnobotânicos de longa duração e que estes são comparativamente semelhantes no âmbito da família lingüística Tupi-Guarani (Balée, 2000). Essas semelhanças também foram observadas com relação à nomenclatura e funcionalidade das vasilhas cerâmicas (Noelli, 1999-2000). Isso demonstra a relação lingüística, cultural e histórica entre os Tupi e, ao mesmo tempo, reforça a teoria da origem comum e da preservação e manutenção de seus traços culturais. A preservação e manutenção de traços culturais, no entanto, não pode ser compreendida sem a percepção de uma dialética entre continuidade e transformação cultural, que ocorre dentro de um processo histórico de longa duração.

Estudos etnoarqueológicos sobre cerâmica Tupi mostram que a reprodução e transmissão do saber cultural são realizadas, entre outras coisas, a partir da confecção e decoração da cultura material e que esse processo é dinâmico e sempre sujeito às transformações culturais. O conhecimento da tecnologia é passado de geração em geração pelo engajamento do aprendiz. Ele incorpora, no sentido da expressão embodiement, o conhecimento. É a conjunção do corpo e da mente que define a habilidade para reproduzir um objeto. Ao longo do processo, o artesão faz determinadas escolhas tecnológicas, que se refletem na configuração final do objeto de forma visível ou não. Essas escolhas são definidas a partir de uma série de fatores de ordem prática e simbólica, sendo correto afirmar que definem o estilo tecnológico da cerâmica, ou seja, o modo de fazer alguma coisa, que é próprio de um tempo e lugar, e que resulta da dinâmica entre os preceitos da tradição, a criatividade dos artesãos e os processos históricos de transformação cultural (Silva, 2000, 2007, 2008). Esses estudos etnoarqueológicos sobre tecnologia cerâmica e estilo tecnológico deixam evidente aos arqueólogos que, ao se analisar a variabilidade formal dos conjuntos artefatuais cerâmicos, não se pode ficar restrito à forma (por exemplo, contorno e decoração). Deve-se perceber toda a gama de escolhas conduzidas durante a produção dos artefatos, da qual a forma é resultante. Deve-se considerar que a variabilidade formal resulta dos diferentes processos de socialização e organização da produção, bem como da utilização e distribuição dos bens materiais.

É importante ressaltar que a pesquisa etnoarqueológica sobre a cerâmica que objetiva entender temas relativos à criação, manutenção, transformação e distribuição no tempo e no espaço não deve ser restrita aos casos Tupi e Aruak. Ao contrário, as pesquisas precisam influenciar as interpretações dessas dinâmicas em relação a todos os conjuntos artefatuais amazônicos.

Projetando esses dados para o passado e para as análises dos conjuntos cerâmicos arqueológicos, seria possível refinar - e até mesmo rever - algumas classificações tipológicas que deram origem às fases e tradições amazônicas. Refinar, no sentido de contemplar de forma mais aprofundada os diferentes atributos cerâmicos, além dos contornos da forma, acabamento de superfície e decoração. Rever, no sentido de melhor contextualizar esses conjuntos no tempo e no espaço e, ao mesmo tempo, estabelecer suas conexões com outros conjuntos contemporâneos ou de tempos e espaços diferentes.

Alguns pesquisadores chamam a atenção para esse problema, criticando as simplificações e limitações apresentadas na definição e interpretação de certas fases e tradições. Segundo Schaan (2007), algumas fases cerâmicas foram utilizadas para definir grupos sociais e étnicos que apareciam e desapareciam junto com as fases. Ao mesmo tempo, a mudança nos conjuntos cerâmicos, muitas vezes, foi entendida como migração e/ou desaparecimento de populações. Nesse sentido, as fases arqueológicas podem mascarar processos relativos à dinâmica cultural dos povos e/ou às mudanças sociopolíticas por eles vividas - no contexto local ou regional. Segundo Schaan (2007, p. 78):

(...) um dos grandes problemas enfrentados pela arqueologia da Amazônia hoje é compatibilizar as classificações herdadas de fases e tradições cerâmicas com a necessidade de produzir uma história do passado que seja dinâmica e abranja os processos de mudança sociocultural pelos quais as sociedades amazônicas passaram.

 

 

Em parte, a arqueologia amazônica ainda é exploratória. Nesse sentido, para alguns, a finalidade do trabalho arqueológico não é estabelecer a continuidade entre contextos arqueológicos e culturais, e sim revelar a extensão geográfica, cronologia e tipologia das tradições e fases arqueológicas. Em outras palavras, posicionar no espaço, descrever, datar e classificar os registros do passado (Noelli, 2008). É importante salientar que realizar uma pesquisa exploratória não é incorreto, ao contrário, é uma necessidade científica. A região amazônica ainda necessita de arqueologia exploratória, mas, ao mesmo tempo, já apresenta um conjunto de dados que possibilitam rever e refinar velhos paradigmas. Além disso, a atuação mais intensa das populações amazônicas em busca da autodeterminação e da construção da sua própria história obriga o pesquisador a rever a interpretação do registro arqueológico, no sentido de refinar as relações entre os contextos do passado e do presente.

A etnoarqueologia em terra indígena revela que as populações têm suas próprias interpretações cosmológicas e científicas sobre os vestígios arqueológicos, bem como sobre os significados da própria pesquisa. Nesse caso, a importância da arqueologia e da etnoarqueologia na Amazônia transcende os espaços acadêmicos e se torna uma ferramenta além do conhecimento, reforçando a luta indígena pela soberania territorial, autonomia e manutenção da sua identidade cultural (Silva, 2002; Hernando et al., 2007; Silva et al., 2008; Valle, 2008).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há muito tempo a interface entre arqueologia e etnologia está estabelecida na pesquisa das trajetórias histórico-culturais das populações amazônicas. No entanto, ainda será necessário investir muitos esforços na pesquisa etnoarqueológica para contribuir de forma mais intensa com as interpretações relativas à pré-história amazônica. Mais estudos etnoarqueológicos sobre os significados da variabilidade artefatual devem ser realizados para entender melhor os processos de produção, uso e distribuição no tempo e no espaço. Considerando o que ocorre em outras partes do mundo (Stark, 1998), esses estudos poderão contribuir para o entendimento de problemas relativos à delimitação de fronteiras culturais e aos processos de continuidade e mudança cultural no tempo e no espaço.

Além disso, a associação entre etnoarqueólogos, etnólogos e pesquisadores ambientais pode contribuir para que se continue revendo os paradigmas deterministas sobre a relação do homem com o ambiente. O reflexo desses trabalhos é sentido nas interpretações sobre as paisagens antropogênicas amazônicas. Esses dados têm impacto direto sobre as populações tradicionais, dando a elas um papel fundamental na tarefa de construção e preservação da biodiversidade. Além disso, esses estudos mudaram a perspectiva da pesquisa arqueológica sobre assentamentos isolados e incentivaram a realização de observações mais amplas e contextuais sobre a implantação dos assentamentos na paisagem. Todos esses dados, obviamente, foram pensados a partir de escalas diferentes entre contexto etnográfico versus contexto arqueológico.

A percepção da diferença de escala dos fenômenos, por sua vez, tem possibilitado melhor compreensão do impacto da colonização européia sobre as populações amazônicas, evidenciando a complexidade dos processos de transformação nas suas redes sociais e econômicas e, ao mesmo tempo, da manutenção de profundas estruturas de significado cultural. Como lembra Neves (2006, p. 100):

Percebe-se, assim, que se a conquista européia provocou profundas modificações sobre os modos de vida das populações indígenas da Amazônia, mantêm-se no presente estruturas antigas, profundas, que têm se reproduzido ao longo dos séculos. Continuidade e mudança são ainda temas fundamentais para a arqueologia amazônica.

Nesse sentido, a etnoarqueologia torna-se um instrumento fundamental para que se consiga apreender, no presente, as "estruturas antigas, profundas, que têm se reproduzido ao longo dos séculos". No entanto, isso não poderá ser realizado a partir da concepção da etnoarqueologia como analogia, pois se corre o risco de construir uma "visão simplificada, distorcida e etnocêntrica do registro arqueológico" e, ainda, das populações amazônicas do passado e do presente. É preciso considerar a etnoarqueologia na Amazônia como uma abordagem que ultrapassa a elaboração de modelos interpretativos para relacionar comportamentos do presente com os do passado. Ela deve ser vista como um instrumento que permite a constatação das possíveis variabilidades e transformações culturais ocorridas ao longo do tempo nos modos de vida dos povos amazônicos.

 

AGRADECIMENTOS

A Lúcio Menezes Ferreira e Nelson Sanjad, pelo convite para integrar esse número e pelos comentários ao artigo. A Francisco Noelli, pelos comentários e pela revisão do texto. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pelo apoio às minhas pesquisas etnoarqueológicas na Amazônia desde 1995. Aos Xikrin-Kayapó, aos Assurini do Xingu, aos Kaiabi do Teles-Pires e aos Terena da aldeia Lalima, pelo contínuo apoio aos meus estudos e aos generosos intercâmbios de idéias e conhecimentos.

 

REFERÊNCIAS

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BALÉE, W (Ed.). Advances in Historical Ecology. New York: Columbia University Press, 1998.

BALÉE, W. Footprints of the Forest: Ka´apor Ethnobotany. The Historical Ecology of Plant utilization by an Amazonian People. New York: Columbia University Press, 1994.

BALÉE, W. Indigenous adaptation to Amazonian palm forest. Principles, v. 32, n. 2, p. 47-58, 1988.

BARBOSA RODRIGUES, J. Antigüidades amazônicas. A necrópole de Mirakangüéra, Vellosia, Contribuições do Museu Botânico do Amazonas (Arqueologia e Paleontologia, 1885-1888), n. 2, p. 1-40, 1892.

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Endereço para correspondência:
Museu Paraense Emílio Goeldi
Editor do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas
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Recebido: 17/12/2008
Aprovado: 18/03/2009