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Revista Pan-Amazônica de Saúde

Print version ISSN 2176-6215On-line version ISSN 2176-6223

Rev Pan-Amaz Saude vol.2 no.4 Ananindeua Dec. 2011

http://dx.doi.org/10.5123/S2176-62232011000400001 

EDITORIAL | EDITORIAL | EDITORIAL

 

Entre o antropocentrismo e o biocentrismo: colisão ou aproximação?

 

Between anthropocentrism and biocentrism: opposition or approximation?

 

Entre el antropocentrismo y el biocentrismo: ¿colisión o aproximación?

 

 

Manoel do Carmo Pereira Soares

Editor Científico da Rev Pan-Amaz Saude, Instituto Evandro Chagas/SVS/MS, Belém, Pará, Brasil

 

 

O biocientista contemporâneo há tempos passou a questionar o antropocentrismo - situação na qual o homem se faz o protagonista do mundo. As exigências ditadas pelo próprio percurso do conhecimento levaram o homem de ciência a se aproximar do biocentrismo - situação na qual o homem consta apenas como um elemento a mais na natureza.

Aqueles que ainda se ancoram no antropocentrismo alegam, dentre outros argumentos, que o próprio arcabouço ético de suas práticas só se justifica levando em conta o homem, único ser a agir de modo ético-moral. Mas mesmo nesses vislumbra-se uma atenuação da, antes, arrogante posição antropocêntrica. Sobressai-se atualmente todo um senso de reverência científica, inclusive para com os deveres e responsabilidades inerentes às questões ambientais, por exemplo, mesmo que ainda careçam de melhor ajuizamento. Colabora para isso a razoável certeza de que a espécie humana tem claudicado na construção de seu futuro no planeta.

Aqueles que defendem o biocentrismo mais literal rejeitam o tratamento diferente dado aos seres vivos humanos, em detrimento daquele dado aos não humanos. Lançam-se, pois, na direção de uma percepção ecológica da ética, uma percepção que dilui o homem na natureza.

Faz-se de certa clareza a consonância de diversas outras vertentes e outros cofatores, como a cultura, a geopolítica e a socioeconomia das populações, todos com grandes implicações para o presente tema. Decerto que caiu por terra a ideologia segundo a qual a natureza poderia ser explorada indefinidamente e que os eventuais problemas daí advindos seriam facilmente resolvidos com o desenvolvimento da tecnologia.

Diante disso, abriu-se o caminho para pensamentos e procedimentos biocêntricos alternativos, como a conservação (conservar os limitados recursos naturais para as gerações futuras) e a preservação (preservar o patrimônio natural para o crescimento e realização dos seres humanos) da natureza. É assim que se sobressaem algumas posições nas discussões de cunho ético frente aos usos e estudos de seres vivos na natureza. Citemos, brevemente, três delas.

A primeira posição é defendida por Tom Regan1 e discorre sobre o direito moral extensivo aos 'animais não humanos'. Regan define todos esses seres como 'sujeitos de vida' e, nessa perspectiva, merecedores de respeito por direito e justiça, jamais por compaixão. Todos os mamíferos, por exemplo, a partir do início de suas vidas, atendem a esse critério.

Outro pensador, o filósofo Peter Singer2, ancora a sua defesa nas sensações de dor e prazer dos animais. Segundo Singer, aquele que experimenta o sofrimento deve ter direitos morais. A capacidade de falar e a racionalidade não seriam atributos obrigatórios para definir aqueles que devem merecer cuidados morais.

Bem mais radical é o ponto de vista apoiado por Paul W. Taylor, ampliando a sua defesa para além dos mamíferos e do mundo animal. Segundo esse estudioso3, basta que um organismo tenha certas características (células, processos funcionais, relações com outros organismos e ritmos próprios de crescimento e desenvolvimento) para merecer tutela ética e moral. Poucos hoje acreditam na viabilidade dos princípios defendidos por Taylor, mas ele tem seguidores.

A Revista Pan-Amazônica de Saúde constata que esses e outros posicionamentos têm sido colocados aos pesquisadores no dia a dia de suas tarefas. Lançando mão de princípios, diretrizes, resoluções ou leis, os editores e as comissões de ética tentam encontrar o razoável. De um lado ou de outro, onde está o bom senso e onde está o exagero?

 

REFERÊNCIAS

1 Regan T. The case for animal rights. California: University of California Press; 1983. 310 p.

2 Singer P, Xavier A, tradutor. Vida ética. Rio de Janeiro: Ediouro; 2002. 420 p.

3 Taylor PW. Respect for nature: a theory of environmental ethics. New Jersey: Princeton University Press; 1986. 331 p.