INTRODUÇÃO
Os linfomas são neoplasias do sistema imunitário com procedência em linfócitos que envolvem os tecidos linfoides com desenvolvimento de massas tumorais. Estão distribuídos em dois grupos principais: linfomas de Hodgkin (LH) e linfomas não Hodgkin. Alguns fatores de risco têm sido descritos, tais como: história de linfoma na família, imunossupressão (casos de transplante de órgãos), doenças autoimunes, exposição à radiação, contatos com herbicidas e doenças infecciosas1. Segundo Diehl2, os linfomas geralmente apresentam sintomas inespecíficos como febre, suores noturnos, perda de peso, prurido e astenia. O LH é uma neoplasia linfoproliferativa caracterizada histopatologicamente pela presença de células neoplásicas com variada morfologia denominadas Reed-Sternberg3.
Nos países industrializados, tem sido descrito que o LH possui uma distribuição bimodal quanto à idade, com infecção inicial aos 20 anos e o segundo pico por volta dos 50 anos de idade. Dados da Europa e Estados Unidos citam uma incidência de aproximadamente 3% dos investigados. De acordo com Abreu et al4, no Estado do Ceará, Brasil, os casos de LH foram mais descritos na faixa infanto-juvenil, aos 10 anos de idade e na fase adulta, em menores de 49 anos de idade.
Os casos da doença em países desenvolvidos correspondem ao segundo lugar, ficando atrás apenas das leucemias. Estima-se que, aproximadamente, 15% das neoplasias infantis são representadas por esse grupo, sendo o mais frequente tumor sólido na faixa etária pediátrica5.
No Brasil, dados registram a evolução do câncer em escala progressiva, caracterizando-se como agravo relevante em termos de saúde pública. Relatos divulgados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), por meio dos dados de registros de base populacional brasileiros, informam que, quanto à localização primária de câncer no Estado do Pará, os linfomas correspondem ao terceiro tipo de câncer mais comum5.
O objetivo deste estudo foi determinar o perfil epidemiológico e subtipos dos casos de LH diagnosticados no período de 1996 a 2005 em um hospital de referência do Estado do Pará, Brasil.
MATERIAIS E MÉTODOS
PACIENTES
Estudo retrospectivo, descritivo, envolvendo 65 pacientes de ambos os sexos residentes em Belém e cidades vizinhas, com diagnóstico histopatológico confirmado no período de 1996 a 2005. A partir dos prontuários dos pacientes, foi possível a obtenção dos seguintes dados: idade, sexo, procedência e ano de diagnóstico. A análise anatomopatológica dos casos de LH foi realizada pelo Departamento de Oncologia do Hospital Ophir Loyola (HOL) em Belém.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Evandro Chagas, com parecer n° 0025/07, em 11 de outubro de 2007.
ANÁLISES ESTATÍSTICAS
Para a análise dos dados, utilizou-se o recurso do software Epi Info™ 2003 (Centers for Disease Control and Prevention, Atlanta, Georgia, EUA) e BioEstat v.5.06. As médias aritméticas, desvios padrões e medianas dos grupos amostrais foram estimados para as diferentes categorias analisadas.
A comparação entre idade, diagnóstico e prevalência dos subtipos de LH foi realizada utilizando-se o teste t de Student. Os valores de p < 0,05 foram considerados estatisticamente significantes.
RESULTADOS
Quanto ao diagnóstico do padrão histopatológico dos 65 casos, as idades dos pacientes variaram de 2 a 84 anos (média de idade de 28,3 anos). A maioria era do sexo masculino (64,6%; n = 42), com idade mediana de 25 anos (mínimo de 2 anos e máximo de 59 anos). No sexo feminino (35,4%; n = 23), a idade mediana foi de 20 anos (mínimo de 4 anos; máximo de 84 anos), conforme tabela 1.
Características | Casos de LH N = 65 | % | |
---|---|---|---|
Sexo | Masculino | 42 | 64,6 |
Feminino | 23 | 35,4 | |
Ratio Masculino/Feminino | 1,8/1 | - | |
Idade | Mediana (anos) | 24 | - |
Máximo/Mínimo | 2-84 | - | |
Idade mediana (anos) | Masculino | 25 | - |
Feminino | 20 | - | |
Máximo/mínimo (anos) | Masculino | 2-59 | - |
Feminino | 4-84 | - |
Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento.
Todos os anos da série estudada (1996 a 2005) apresentaram casos de LH. No entanto, a distribuição de casos por ano de estudo não foi uniforme. De fato, o ano de 1997 foi o que registrou maior número de casos diagnosticados (18,4%; n = 12) e o ano de 1996 foi o que apresentou menor número de casos (1,5%; n = 1). A distribuição completa da série com o número de casos diagnosticados por ano de ocorrência está apresentada na figura 1.
Quanto à procedência, os casos de LH analisados, 50,7% (33/65) foram procedentes da área metropolitana de Belém e Mosqueiro e 33,8% (22/65) de várias localidades do Estado do Pará, tais como: Benevides e Benfica com 6,2% (4/65); Limoeiro de Ajuru, Altamira, Pacajá, Bragança, Castanhal, Irituia, Marajó e Marituba com dois casos cada; Oeiras do Pará, Paragominas, Primavera e Viseu com um caso; e Ananindeua registrou taxa de 12,3% (8/65) dos casos (Tabela 2).
Procedência | Casos de LH | % |
---|---|---|
Altamira | 2 | 3,1 |
Ananindeua | 8 | 12,3 |
Belém e Mosqueiro | 330 | 50,7 |
Benevides e Benfica | 4 | 6,2 |
Bragança | 2 | 3,1 |
Castanhal | 2 | 3,1 |
Irituia | 2 | 3,1 |
Limoeiro do Ajuru | 2 | 3,1 |
Marajó | 2 | 3,1 |
Marituba | 2 | 3,1 |
Oeiras do Pará | 1 | 1,5 |
Pacajá | 2 | 3,1 |
Paragominas | 1 | 1,5 |
Primavera | 1 | 1,5 |
Viseu | 1 | 1,5 |
Total | 650 | 100,0 |
No tocante à distribuição dos subtipos histológicos dos 65 casos de LH estudados no período de 1996 a 2005, o padrão histológico de esclerose nodular resultou em 33 (50,8%) pacientes, seguindo-se do padrão de celularidade mista com 17 (26,2%) casos, depleção linfocitária com dez (15,4%) casos e com menor ocorrência o padrão de predominância linfocitária com cinco (7,6%) casos.
A análise de distribuição desses padrões histológicos por faixa etária mostrou, de forma global, a maior ocorrência no grupo etário de 0 a 15 anos de idade com 20 casos e menor prevalência na faixa de idade de maiores de 45 anos com 12 casos. Sendo que, na faixa de 31 a 45 anos de idade não se observou casos histológicos no padrão de predominância linfocitária (Figura 2).
DISCUSSÃO
Em 2008, segundo a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (International Agency for Research on Cancer - IARC) da Organização Mundial da Saúde (OMS), foi estimado que cerca de 12 milhões de casos novos de câncer e 7 milhões de óbitos ocorreriam no mundo ao ano. A IARC/OMS estimou que, em 2008, metade dos casos novos e cerca de dois terços dos óbitos por câncer ocorreriam nos países em desenvolvimento7. No Brasil, dados do Ministério da Saúde (2012-2013) citam 518.510 casos novos de câncer8.
A incidência dos casos de LH em 2014 foi estimada para o sexo masculino em 1.300 novos casos e 800 para o feminino; com taxas de risco de 1,28 e 0,83 em cada 100 mil homens e mulheres, respectivamente9.
Dados do INCA citam uma distribuição heterogênea dos casos novos de câncer, segundo a localização primária da infecção, sendo evidenciado conforme registros das diferentes taxas brutas de incidência. Fato que pode ser determinado por diferentes possibilidades, tais como os fatores de risco, a disponibilidade de tratamento e a qualidade das práticas médicas nas diferentes regiões brasileiras10.
Diante deste cenário, fica clara a necessidade de priorizar os investimentos no que tange a ampliação de ações abrangentes para o controle do câncer nos diferentes níveis de atuação, ajustado para a promoção da saúde, detecção precoce, assistência aos pacientes, na vigilância epidemiológica, bem como para formação de recursos humanos, comunicação e mobilização social, pesquisa e gestão do Sistema Único de Saúde8.
A característica bimodal dos LH quanto à idade tem sido relatado por Kim et al11 em países desenvolvidos com elevada incidência em adultos jovens na faixa dos 20 anos e em adultos após os 50 anos de idade. Nos países em desenvolvimento, o LH geralmente ocorre na infância e adolescência12,13.
O presente estudo possibilitou identificar que, no Estado do Pará, a ocorrência de LH teve um ligeiro predomínio do sexo masculino sendo mais prevalente na primeira e segunda década de vida com taxas de 20% (13/65) e 23% (15/65), respectivamente. No estudo de Thomas et al14, cita-se o sexo feminino sendo mais previsível para este agravo.
Quanto às taxas demográficas, foram mais evidentes os casos diagnosticados procedentes da capital (Belém), o que pode inferir o acesso da demanda aos centros especializados e a divulgação dos serviços oncológicos que geralmente estão disponíveis nos grandes centros urbanos.
As taxas dos subtipos de LH, quanto às faixas etárias, corroborou significativa ocorrência do subtipo esclerose nodular em 45% (9/20) dos menores de 15 anos de idade, padrão local que difere daquele descrito em outros estudos conduzidos no Brasil com predominância do tipo celularidade mista15,16.
Nesta investigação com base nos achados anatomopatológicos, o subtipo esclerose nodular foi mais presente, assim como, nos estudos conduzidos por Oliveira e colaboradores16 em metade dos LH pesquisados. No entanto, Ekstrand e Horning17 mencionaram que o subtipo depleção linfocitária predominou entre aqueles pertencentes à fase adulta.
CONCLUSÃO
No período de investigação (1996-2005), os linfomas de Hodgkin subtipo esclerose nodular evidenciaram expressiva frequência (45%) em menores de 15 anos de idade. Esses achados reforçam a necessidade de notificação, prevenção e controle de novos casos de LH nos diferentes grupos da população, quer seja na fase infantil ou fase adulta, merecem atenção as políticas de saúde voltadas para os segmentos de menor suporte socioeconômico para que tenham acesso ao diagnóstico, controle e tratamento imediato desse agravo.