INTRODUÇÃO
Os aparelhos celulares são acessórios indispensáveis para os indivíduos no âmbito social e profissional, sendo utilizados com frequência pelos profissionais de saúde como uma das ferramentas que auxiliam no diagnóstico, monitoramento e tratamento de pacientes no ambiente nosocomial1. Nesse contexto, o manuseio inadequado desses objetos favorece o crescimento e a propagação de microrganismos, podendo ocorrer de duas formas: indireta, por aerossóis; ou direta, pelo contato com a boca, orelhas ou pele2,3,4.
A utilização de telefones móveis em ambientes hospitalares é constante entre os profissionais. Quando associada a uma higienização inadequada das mãos e dos fômites, resulta na contaminação desses objetos, o que aumenta o risco de infecções relacionadas à assistência em saúde (IRAS)2,5,6,7. As IRAS ocorrem no ambiente hospitalar ou em outras unidades prestadoras de assistência e estão relacionadas com o procedimento realizado pelo profissional e o período de internação nesses locais, independente da duração1,8.
Dentre os locais de assistência à saúde, destacam-se as Unidades Básicas de Saúde (UBS), responsáveis por fornecer atenção primária e diversos serviços, desde ações educativas até pequenos procedimentos cirúrgicos1,9,10. Dessa forma, esses ambientes são propícios à proliferação microbiológica, em razão das atividades executadas que expõem tanto os profissionais quanto os pacientes a riscos de desenvolvimento de IRAS10,11,12.
No Brasil, estudos têm sido realizados para investigar a prevalência de bactérias em superfícies de aparelhos celulares dos profissionais em ambientes hospitalares. Nesses foram encontradas bactérias patogênicas, tais como espécies do gênero Staphylococcus, sendo as principais Staphylococcus aureus1,4,6,13,14, Staphylococcus epidermidis4 e Staphylococcus saprophyticus4; Streptococcus spp.14; e enterobactérias, como Escherichia coli4,14, Enterobacter spp.4, Salmonella sp.4, Shigella sp.4, Pseudomonas sp.4,14, Proteus sp.4 e Klebsiella sp.4,14. No entanto, não há estudos realizados em UBS no Brasil, o que reforça a necessidade de investigação em locais prestadores de serviços de assistência à saúde.
É importante destacar que, em diversas UBS, protocolos de normas e rotinas a respeito da lavagem de mãos, curativos, esterilização e limpeza dos ambientes não são adequadamente aplicados10,11,12. Assim, os objetivos do presente estudo são: realizar a análise bacteriológica de aparelhos celulares da equipe multiprofissional de saúde de uma Unidade Municipal de Saúde (UMS) de Belém, estado do Pará; estabelecer o perfil de sensibilidade das espécies encontradas; avaliar as práticas e medidas de higienização adotadas e o nível de conhecimento desses profissionais sobre contaminação microbiana.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo analítico transversal, realizado com os profissionais de saúde da UMS do Benguí II, localizada em Belém, no Distrito Administrativo do Benguí (DABEN), entre setembro e novembro de 2020. Foram aplicados questionários e coletadas amostras dos aparelhos celulares dos respondentes. O número amostral foi obtido por meio da técnica de amostragem aleatória.
Apenas os profissionais que estavam presentes e utilizavam telefone celular na unidade foram incluídos na pesquisa.
A figura 1 ilustra os procedimentos de coleta e análise laboratorial adotados, os quais foram descritos detalhadamente a seguir.

TSA: Teste de sensibilidade antimicrobiana.
Figura 1 - Fluxograma das atividades para identificação bacteriana das amostras de aparelhos celulares coletadas na UMS do Benguí II, em Belém, Pará, Brasil, de setembro a novembro de 2020
COLETA
Os participantes foram submetidos a um questionário de múltipla escolha, abrangendo questões sociodemográficas (gênero, idade e profissão), sobre o uso e a higienização do celular e quanto ao nível de conhecimento sobre contaminação microbiana.
A coleta foi realizada utilizando um swab estéril, o qual foi friccionado nas superfícies frontal, laterais e traseira e nas capas de proteção dos aparelhos celulares de cada profissional15. Em seguida, as amostras foram armazenadas em tubos contendo o meio de transporte Stuart, identificadas e imediatamente transportadas em uma caixa térmica em temperatura ambiente ao Laboratório de Microbiologia do UNIFAMAZ16.
ANÁLISE LABORATORIAL
Os swabs foram inoculados nos meios de cultura ágar sangue e MacConkey, através de semeadura qualitativa por técnica de esgotamento15,17. Após o semeio, as placas de cultura foram incubadas em estufa a 37 °C por 24 h. Posteriormente, o crescimento bacteriano foi analisado, e os testes que apresentaram no mínimo uma colônia bacteriana foram validados como positivos. Nos casos em que não ocorreu crescimento, houve o retorno para a estufa por mais 24 h15.
A identificação morfológica das bactérias isoladas no meio ágar sangue foi realizada por meio da técnica de coloração de Gram15. Em relação aos microrganismos identificados como cocos Gram-positivos, realizou-se a prova da catalase, e, para aqueles que apresentaram positividade, foi feito o teste de coagulase. Nos casos de coagulase negativa, foi realizada a prova de sensibilidade à novobiocina18.
As colônias isoladas em ágar MacConkey foram submetidas à coloração de Gram para determinação morfológica e, posteriormente, à prova da oxidase. Os bacilos Gram-negativos que obtiveram resultado negativo ou positivo, foram semeados no meio de Rugai com lisina (Laborclin®, Pinhais, Brasil)15. Nos casos inconclusivos, foram utilizados os sistemas Bactray I (oxidase negativa) e III (oxidase positiva) (Laborclin®, Pinhais, Brasil) para realização de provas bioquímicas adicionais.
O teste de sensibilidade antimicrobiana (TSA) dos isolados foi desenvolvido pelo método de difusão em disco, seguindo as recomendações do Clinical Laboratory Standard Institute. Os discos foram selecionados de acordo com os antibióticos mais usados para o tratamento das bactérias com maior prevalência16, sendo eles: cefalotina (30 µg), ciprofloxacina (5 µg), clindamicina (2 µg), cloranfenicol (30 µg), gentamicina (10 µg) e penicilina G (10 µg), para as bactérias Gram-positivas; e ampicilina (10 µg), cefepime (30 µg), imipenem (10 µg), meropenem (10 µg), norfloxacino (10 µg), tetraciclina (30 µg), para as bactérias Gram-negativas.
O controle de qualidade negativo foi realizado através da incubação dos meios de cultura utilizados em estufa a 37 °C por 24-48 h, de modo a verificar a ocorrência de crescimento. O controle de qualidade positivo foi feito por meio da detecção de cepa sensível a vários antibióticos (E. coli ATCC 29522) e resistente a todos os antibióticos (Klebsiella pneumuniae ATCC 700603D-5).
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva, utilizando o programa Microsoft Excel® 2016. O teste qui-quadrado (χ2) foi realizado no programa BioEstat® v5.0 para verificar se havia diferença estatística significativa entre as variáveis pesquisadas no questionário e os percentuais de contaminações bacteriológicas encontradas nos celulares dos profissionais de saúde. O nível de significância adotado foi p < 0,05.
ASPECTOS ÉTICOS
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Metropolitano da Amazônia (UNIFAMAZ), sob parecer nº 4.287.148, em 18 de setembro de 2020. Os profissionais de saúde que aceitaram participar do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual foi assegurado o sigilo e privacidade das informações obtidas.
RESULTADOS
Dentre os 40 profissionais de saúde que atendem na UMS do Benguí II, 38 aceitaram participar deste estudo, obtendo-se uma taxa de resposta de 95,0%. Quanto aos fatores sociodemográficos, foi possível observar um predomínio do sexo feminino (94,7%), da faixa etária de 22 a 39 anos (55,3%) e da categoria profissional técnico em enfermagem (34,3%) (Tabela 1).
Tabela 1 - Informações sociodemográficas dos profissionais de saúde entrevistados na UMS do Benguí II, em Belém, Pará, Brasil, de setembro a novembro de 2020
Variáveis | N | % |
---|---|---|
Gênero | ||
Feminino | 36 | 94,7 |
Masculino | 2 | 5,3 |
Faixa etária (anos) | ||
22 a 39 | 21 | 55,3 |
40 a 50 | 12 | 31,6 |
51 a 63 | 5 | 13,1 |
Profissão | ||
Agente comunitário de saúde | 6 | 15,8 |
Biomédico/a | 1 | 2,6 |
Dentista | 1 | 2,6 |
Enfermeiro/a | 7 | 18,5 |
Farmacêutico/a | 1 | 2,6 |
Médico/a | 3 | 7,9 |
Nutricionista | 1 | 2,6 |
Psicólogo/a | 1 | 2,6 |
Técnico/a em enfermagem | 13 | 34,3 |
Técnico/a em saúde bucal | 3 | 7,9 |
Terapeuta ocupacional | 1 | 2,6 |
Foram detectadas bactérias em 94,7% (36/38) dos aparelhos celulares. Dentre esses, 80,6% (29/36) continha uma e 19,4% (7/36) mais de uma espécie bacteriana, totalizando 45 espécies identificadas. Houve um predomínio de espécies Gram-positivas 82,2% (37/45), e a bactéria mais prevalente foi S. aureus (51,1%; 23/45), seguida de S. epidermidis (20,0%; 9/45). Entre as espécies Gram-negativas, Enterobacter spp. (6,7%; 3/45) e Klebsiella pneumoniae (6,7%; 3/45) foram as mais prevalentes (Figura 2).

Figura 2 - Espécies bacterianas encontradas nos celulares dos profissionais de saúde da UMS do Benguí II, em Belém, Pará, Brasil, de setembro a novembro de 2020
A partir da realização do TSA, observou-se uma maior sensibilidade das espécies Gram-positivas em relação aos antibióticos testados, exceto à penicilina G, em que a taxa de resistência se sobressaiu em todas as espécies. Por outro lado, as bactérias Gram-negativas K. pneumoniae, E. coli e Enterobacter spp. apresentaram-se mais resistentes à ampicilina. Enterobacter spp. também foi mais resistente à cefepime e norfloxacino. K. pneumoniae e Enterobacter spp. apresentaram resistência aos carbapenêmicos imipenem e meropenem. Pseudomonas spp. foi sensível a todos os antibióticos testados (Tabela 2).
Tabela 2 - Perfil de sensibilidade das bactérias identificadas nas amostras de celulares de profissionais da UMS do Benguí II, em Belém, Pará, Brasil, de setembro a novembro de 2020
Bactérias Gram-positivas | Antibióticos | ||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
CFL | CIP | CLI | CLO | GEN | PEN | ||||||||
N | % | N | % | N | % | N | % | N | % | N | % | ||
S. aureus | S | 18 | 78,2 | 20 | 86,9 | 17 | 73,9 | 22 | 95,6 | 18 | 78,2 | 2 | 8,7 |
I | 1 | 4,4 | 1 | 4,4 | 1 | 4,4 | - | - | 1 | 4,4 | - | - | |
R | 4 | 17,4 | 2 | 8,7 | 5 | 21,7 | 1 | 4,4 | 4 | 17,4 | 21 | 91,3 | |
S. epidermidis | S | 9 | 100,0 | 8 | 88,9 | 4 | 44,4 | 8 | 88,9 | 9 | 100,0 | 2 | 22,2 |
I | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | |
R | - | - | 1 | 11,1 | 5 | 55,6 | 1 | 11,1 | - | - | 7 | 77,8 | |
S. saprophyticus | S | 3 | 100,0 | 2 | 66,7 | 3 | 100,0 | 3 | 100,0 | 3 | 100,0 | - | - |
I | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | |
R | - | - | 1 | 33,3 | - | - | - | - | - | - | 3 | 100,0 | |
Staphylococcus spp. | S | 1 | 50,0 | 2 | 100,0 | 1 | 50,0 | 1 | 50,0 | 1 | 50,0 | - | - |
I | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | |
R | 1 | 50,0 | - | - | 1 | 50,0 | 1 | 50,0 | 1 | 50,0 | 2 | 100,0 | |
Bactérias Gram-negativas | Antibióticos | ||||||||||||
AMP | CPM | IMP | MPM | NOR | TET | ||||||||
N | % | N | % | N | % | N | % | N | % | N | % | ||
K. pneumoniae | S | 1 | 33,3 | 2 | 66,7 | 1 | 33,3 | 2 | 66,7 | 2 | 66,7 | 2 | 66,7 |
I | - | - | - | - | 1 | 33,3 | - | - | - | - | - | - | |
R | 2 | 66,7 | 1 | 33,3 | 1 | 33,3 | 1 | 33,3 | 1 | 33,3 | 1 | 33,3 | |
E. coli | S | - | - | 1 | 100,0 | - | - | 1 | 100,0 | 1 | 100,0 | 1 | 100,0 |
I | - | - | - | - | 1 | 100,0 | - | - | - | - | - | - | |
R | 1 | 100,0 | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | |
Enterobacter spp. | S | - | - | - | - | 2 | 66,7 | 2 | 66,7 | 1 | 33,3 | 1 | 33,3 |
I | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | 1 | 33,3 | |
R | 3 | 100,0 | 3 | 100,0 | 1 | 33,3 | 1 | 33,3 | 2 | 66,7 | 1 | 33,3 | |
Pseudomonas spp. | S | 1 | 100,0 | 1 | 100,0 | 1 | 100,0 | 1 | 100,0 | 1 | 100,0 | 1 | 100,0 |
I | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | |
R | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - |
S: Sensível; I: Intermediário; R: Resistente; CFL: Cefalotina; CIP: Ciprofloxacina; CLI: Clindamicina; CLO: Cloranfenicol; GEN: Gentamicina; PEN: Penicilina G; AMP: Ampicilina; CPM: Cefepime; IMP: Imipenem; MPM: Meropenem; NOR: Norfloxacino; TET: Tetraciclina. Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero, não resultante de arredondamento.
Sobre o uso dos aparelhos celulares, a maioria dos profissionais (97,4%) relatou a utilização em todos os lugares que frequenta, e 78,9% confirmaram o uso durante o atendimento aos pacientes. Além disso, esses dispositivos estavam significativamente mais contaminados em comparação aos que não realizavam tais condutas (p < 0,0001; p = 0,0005, respectivamente) (Tabela 3).
Tabela 3 - Hábitos de uso e higienização do aparelho celular dos profissionais da UMS do Benguí II, em Belém, Pará, Brasil, de setembro a novembro de 2020
Variáveis | Total | Amostras positivas | Valor de p* | ||
---|---|---|---|---|---|
N | % | N | % | ||
Uso do aparelho celular em todos os lugares que frequenta | |||||
Sim | 37 | 97,4 | 35 | 97,2 | < 0,0001 |
Não | 1 | 2,6 | 1 | 2,8 | |
Uso do aparelho celular durante o atendimento aos pacientes | |||||
Sim | 30 | 78,9 | 29 | 80,6 | 0,0005 |
Não | 8 | 21,1 | 7 | 19,4 | |
Compartilhamento do aparelho celular com outras pessoas de convívio | |||||
Sim | 29 | 76,3 | 28 | 77,8 | 0,0015 |
Não | 9 | 23,7 | 8 | 22,2 | |
Lavagem das mãos antes ou depois da utilização do celular | |||||
Sim | 26 | 68,4 | 24 | 66,7 | 0,0668 |
Não | 12 | 31,6 | 12 | 33,3 | |
Lavagem das mãos antes do atendimento aos pacientes | |||||
Sim | 35 | 92,1 | 33 | 91,7 | < 0,0001 |
Não | 3 | 7,9 | 3 | 8,3 | |
Frequência de higienização do aparelho celular | |||||
Mais de uma vez ao dia | 11 | 28,9 | 10 | 27,8 | 0,0133 |
Mais de uma vez na semana | 15 | 39,4 | 14 | 38,9 | |
Semanalmente | 5 | 13,2 | 5 | 13,9 | |
Mensalmente | 2 | 5,3 | 2 | 5,5 | |
Nunca | 5 | 13,2 | 5 | 13,9 | |
Modo de limpeza do aparelho celular | |||||
Nenhum | 4 | 10,5 | 4 | 11,1 | 0,0023 |
Com álcool 70% | 22 | 57,9 | 21 | 58,3 | |
Outro | 12 | 31,6 | 11 | 30,6 |
* Valor de p obtido pelo teste qui-quadrado (p < 0,05).
O compartilhamento do celular com outras pessoas de convívio era uma prática recorrente entre 76,3% dos entrevistados. Esses aparelhos apresentaram uma maior contaminação bacteriana em comparação aos que não eram compartilhados (p = 0,0015) (Tabela 3).
A maioria dos participantes (68,4%) declarou higienizar as mãos antes ou depois da utilização do aparelho celular; porém, não houve diferença significativa nas amostras positivas entre aqueles que realizavam ou não a higienização (p = 0,0668). Houve um predomínio de profissionais (92,1%) que reportaram lavar as mãos antes do atendimento aos pacientes, mas o nível de contaminação foi significativamente maior quando comparado aos que não faziam esse procedimento (p < 0,0001) (Tabela 3).
Quanto à frequência de higienização dos celulares, 39,4% efetuavam mais de uma vez por semana essa prática. O número de amostras positivas foi maior nos aparelhos que eram higienizados mais de uma vez por semana, em relação aos que eram limpos mais de uma vez por dia ou com menor frequência (p = 0,0133). Embora a maioria tenha afirmado que executava a limpeza do aparelho com álcool 70% (57,9%), os celulares desses estavam significativamente contaminados por bactérias em comparação aos que não seguiam essa conduta (p = 0,0023) (Tabela 3).
De forma geral, 42,1% dos entrevistados (16/38) acertaram cinco das seis questões referentes ao conhecimento sobre a contaminação microbiana e 23,7% (9/38) obtiveram o número máximo de acertos.
Ao analisar as questões de baixa complexidade, 100,0% dos profissionais sabiam quais equipamentos de proteção individual deveriam ser utilizados durante a rotina (p < 0,0001) e conheciam a maneira correta de higienização das mãos no seu ambiente de trabalho (p < 0,0001). Nas questões de média complexidade, 78,9% responderam que o celular pode ser uma forma de transmissão de doenças (p = 0,0015), e 81,6% conheciam quais as bactérias são frequentemente encontradas nesse objeto (p = 0,0005). Todavia, os aparelhos celulares desses indivíduos apresentaram uma maior prevalência de bactérias quando comparados aos que não responderam corretamente (Tabela 4).
Tabela 4 - Análise do conhecimento dos profissionais da UMS do Benguí II sobre contaminação microbiana, Belém, Pará, Brasil, de setembro a novembro de 2020
Variáveis | Nível de complexidade | Total | Amostras positivas | Valor de p* | ||
---|---|---|---|---|---|---|
N | % | N | % | |||
Equipamentos de proteção individual que devem ser utilizados pelos profissionais de saúde durante uma rotina de trabalho | Baixo | |||||
Alternativa correta | 38 | 100,0 | 36 | 100,0 | < 0,0001 | |
Alternativa incorreta | - | - | - | - | ||
Forma correta da higienização das mãos em um serviço de saúde | Baixo | |||||
Alternativa correta | 38 | 100,0 | 36 | 100,0 | < 0,0001 | |
Alternativa incorreta | - | - | - | - | ||
Aparelho celular como uma forma de transmissão de doenças | Médio | |||||
Alternativa correta | 30 | 78,9 | 28 | 77,8 | 0,0015 | |
Alternativa incorreta | 8 | 21,1 | 8 | 22,2 | ||
Tipos de bactérias encontradas no aparelho celular | Médio | |||||
Alternativa correta | 31 | 81,6 | 29 | 80,6 | 0,0005 | |
Alternativa incorreta | 7 | 18,4 | 7 | 19,4 | ||
Importância da higienização do celular durante o trabalho | Alto | |||||
Alternativa correta | 26 | 68,4 | 24 | 66,7 | 0,0668 | |
Alternativa incorreta | 12 | 31,6 | 12 | 33,3 | ||
Implementação de normas de biossegurança voltadas ao uso do celular nos serviços de saúde | Alto | |||||
Alternativa correta | 19 | 50,0 | 18 | 50,0 | 1,000 | |
Alternativa incorreta | 19 | 50,0 | 18 | 50,0 |
* Valor de p obtido por meio do teste qui-quadrado (p < 0,05). Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero, não resultante de arredondamento.
Nas questões de alta complexidade, constatou-se que 68,4% consideraram importante a higienização do aparelho celular durante a rotina de trabalho (p = 0,0668), e 50,0% sabiam o motivo da implementação de normas de biossegurança voltadas ao uso de celulares nos serviços de saúde (p = 1,000). No entanto, a contaminação microbiana nas amostras foi similar em todos os aparelhos, independente da alternativa marcada no questionário (Tabela 4).
DISCUSSÃO
O aparelho celular é um objeto capaz de albergar microrganismos, tornando-se uma possível forma de transmissão de bactérias entre os profissionais e seus pacientes5,14. Dessa forma, o presente estudo identificou uma alta taxa de contaminação bacteriana em 94,7% (36/38) dos dispositivos móveis de profissionais que atuam em uma UMS de Belém.
Esta foi a primeira investigação desenvolvida na Região Norte do Brasil, em um ambiente de assistência à saúde, quanto à detecção de bactérias nesses objetos. Estudos com resultados semelhantes, conduzidos com profissionais de saúde no âmbito hospitalar, nos países da Etiópia e Colômbia, apresentaram uma taxa de contaminação bacteriana de 94,2% (213/226)14 e 97% (38/39)1, respectivamente. No Brasil, uma pesquisa realizada com estudantes e profissionais da saúde de uma Unidade de Terapia Intensiva, no Rio de Janeiro, também evidenciou um resultado similar, com 100% (50/50) dos telefones contaminados6, reforçando a importância da adoção de medidas de controle para evitar a ocorrência de IRAS associadas ao contato com esses fômites.
Neste estudo, verificou-se um predomínio de bactérias Gram-positivas (82,2%; 37/45) em relação às Gram-negativas 17,8% (8/45), o que corrobora um estudo realizado em aparelhos celulares de profissionais da saúde de um hospital, na Etiópia, no qual a frequência de Gram-positivas foi de 79,2% (171/216) e o de Gram-negativas, 20,8% (45/216)14. Da mesma forma, Nunes e Siliano15, ao investigarem telefones celulares de estudantes universitários de São Paulo, identificaram uma maior proporção de bactérias Gram-positivas quando comparadas às bactérias Gram-negativas.
A alta prevalência de bactérias Gram-positivas nos aparelhos está possivelmente relacionada a sua presença na microbiota normal humana, além de apresentarem resistência a ressecamento, fator que favorece a aderência e a sobrevivência no ambiente. Por outro lado, a baixa frequência de bactérias Gram-negativas pode ser explicada pelo fato de serem microrganismos transitórios, que podem ser facilmente removidos ao realizar a higienização adequada das mãos com água e sabão2.
Em relação às espécies identificadas, S. aureus foi prevalente em 51,1% (23/45) das amostras, assim como em estudos desenvolvidos com estudantes universitários, profissionais da saúde e manipuladores de alimentos4,5,15. Essas bactérias estão presentes na microbiota da pele dos indivíduos e podem colonizar diversos objetos, como telefones, maçanetas e outros. Ademais, é o patógeno Gram-positivo mais frequente em infecções hospitalares, ocasionando desde problemas cutâneos e subcutâneos, como carbúnculo, furúnculo, impetigo e celulite, a comprometimento sistêmico, incluindo bacteremia, endocardite, pneumonia, septicemia e outros18.
A ocorrência de S. epidermidis (20,0%; 9/45) e S. saprophyticus (6,7%; 3/45) foi um achado importante, o que também foi constatado em aparelhos celulares de universitários, profissionais da saúde e manipuladores de alimentos do estado de Rondônia, onde essas espécies foram observadas em 11,7% (7/60) e 40,0% (24/60) das amostras, respectivamente4. A bactéria S. epidermidis pode ser encontrada na pele e mucosas, além de ser considerada um patógeno oportunista, podendo ocasionar infecções sistêmicas18. O S. saprophyticus é mais encontrado na região genitourinária, desencadendo infecções no trato urinário17,18.
Entre as bactérias Gram-negativas isoladas neste estudo, foram identificadas Enterobacter spp., E. coli e K. pneumoniae, pertencentes à família Enterobacteriaceae. As enterobactérias são capazes de ocasionar infecções em humanos e podem ser encontradas em águas, solos, vegetais e alimentos19. A presença dessas bactérias pode indicar uma contaminação de origem fecal19, o que reforça a importância da higienização das mãos e dos aparelhos celulares.
Em uma análise realizada com profissionais e estudantes de um centro de saúde em Alexandria, Egito, K. pneumoniae foi identificada em 7,5% (3/40) das amostras de celulares e E. coli em 12,5% (5/40)20. Esses dados diferem do presente estudo, o qual encontrou 6,7% (3/45) e 2,2% (1/45) das espécies, respectivamente.
K. pneumoniae é um patógeno oportunista, pois apresenta fatores de virulência como cápsula, lipopolissacarídeos e fímbrias, estando associado a quadros de pneumonia, infecções do trato urinário e infecções hospitalares21.
Cepas de E. coli residem no cólon sem causar dano ao organismo de indivíduos saudáveis. Porém, existem cepas patogênicas capazes de desencadear problemas intestinais e extraintestinais nos hospedeiros, como gastroenterites, infecções urinárias e até mesmo septicemia18.
Enterobacter spp. estão presentes no trato intestinal humano e de animais, podendo provocar pneumonias e infecções do trato urinário18. No presente estudo, 6,7% (3/45) das amostras estavam contaminadas por essa bactéria, assim como na investigação de Araújo et al.4, que identificou 38% (8/21) desse microrganismo em aparelhos celulares, indicando uma contaminação entérica.
No presente estudo, outro achado relevante foi a identificação de Pseudomonas spp. em 2,2% (1/45) das amostras. Essa bactéria também foi encontrada por Bodena et al.14 em 3,7% (8/216) das amostras de aparelhos celulares dos profissionais de saúde de um hospital na Etiópia. Apesar de ter sido encontrada com menor frequência nesta análise, a detecção de uma bactéria considerada oportunista é um alerta, por ser um patógeno com capacidade de adaptação ao meio ambiente, o que está relacionado aos fatores de virulência, como a capacidade de adesão e formação de biofilme, favorecendo a elevada resistência a desinfetantes e antibióticos18,22.
A resistência antimicrobiana é um problema de saúde pública, principalmente em relação às infecções recorrentes em ambientes hospitalares23,24,25. Quanto ao perfil de sensibilidade aos antimicrobianos, todas as espécies bacterianas isoladas foram resistentes a pelo menos um antibiótico. Esse achado pode ser um reflexo da utilização indiscriminada de antibióticos por diferentes motivos, tais como a automedicação, dosagens inapropriadas, erros durante a prescrição dos medicamentos, ou ainda a presença de resistência intrínseca26,27.
Quanto aos resultados do TSA, o antimicrobiano cloranfenicol, o qual tem ação bacteriostática26, foi eficaz contra a maioria das bactérias Gram-positivas detectadas nos aparelhos celulares, com as maiores taxas de sensibilidade. Esse perfil de sensibilidade foi observado em outros estudos realizados com os dispositivos móveis de profissionais da saúde de hospitais14,20.
No que diz respeito à penicilina G, foi detectado um alto perfil de resistência nas espécies Gram-positivas. Esse dado concorda com estudos realizados em diferentes partes do mundo13,23. Stuchi et al.13 relataram mais de 70% de cepas isoladas de S. aureus e S. epidermidis resistentes a esse antibiótico, tanto no ambiente hospitalar quanto na comunidade, confirmando a redução da sua eficácia contra infecções estafilocócicas.
Em relação aos antibióticos testados contra as bactérias Gram-negativas, observou-se maiores taxas de sensibilidade ao meropenem, um β-lactâmico de amplo espectro da classe dos carbapenens28. Contrastando com esse resultado, em aparelhos celulares de profissionais de uma sala cirúrgica, no Paquistão, foi detectado um perfil de resistência em 100% (3/3) e 80% (8/10) nas espécies Enterobacter sp. e Pseudomonas sp., respectivamente, para esse antibiótico29. Isso evidencia a presença de um mecanismo de resistência adquirida, associado à expressão de enzimas β-lactamases capazes de hidrolizar os carbapenêmicos30.
Por outro lado, a maioria das espécies Gram-negativas se mostraram resistentes à ampicilina, um β-lactâmico de amplo espectro da classe das aminopenicilinas25. Do mesmo modo, um estudo feito com profissionais da saúde de um hospital na Nigéria obteve um perfil de resistência equivalente a 100,0% (33/33) para ampicilina16, sugerindo um aumento da aquisição de resistência, motivado pelo amplo uso desse antibiótico de forma descontrolada31.
Foram detectadas ainda duas espécies (K. pneumoniae e Enterobacter spp.) resistentes aos carbapenêmicos imipenem e meropenem, simultaneamente. A presença desse tipo de resistência é considerada um problema de saúde pública, em razão das infecções causadas por enterobactérias representarem um alto risco de mortalidade, bem como uma limitação nas opções terapêuticas30.
Sobre a utilização dos aparelhos celulares, constatou-se que 97,4% (37/38) dos profissionais faziam uso recorrente em todos os lugares. Esse dado está em concordância com o estudo de Muñoz Escobedo et al.5, feito com funcionários e alunos da unidade acadêmica de Odontologia de uma clínica multidisciplinar no México, e com uma pesquisa realizada com estudantes de uma instituição de ensino superior em Teresina, estado do Piauí31, os quais obtiveram uma taxa de 81% (42/52) e 75% (41/55), respectivamente. Além disso, 78,9% (30/38) afirmaram utilizar os telefones celulares no decorrer do atendimento aos pacientes. Esse dado difere do estudo de Muñoz Escobedo et al.5, no qual 21% (11/52) dos pesquisados possuíam o hábito de usar os dispositivos até mesmo com luvas durante o atendimento.
A maioria dos entrevistados (76,3%) declarou compartilhar o celular com outras pessoas de convívio, corroborando o achado feito por Bodena et al.14, no qual 74,8% (169/226) dos profissionais de saúde da Etiópia tinham o costume de compartilhar o aparelho com os colegas de trabalho.
Essas práticas podem ser facilitadoras da proliferação microbiológica nos telefones móveis, uma vez que, ao utilizar o aparelho em banheiros e durante a alimentação ou ao compartilhá-lo com outras pessoas, aumenta-se o risco de contaminação microbiana2. Esse fato foi confirmado pela positividade das amostras daqueles indivíduos que afirmaram utilizar o celular em todos os lugares, durante o atendimento e compartilhá-lo com outras pessoas. Isso demonstra a importância de se evitar o uso desses dispositivos durante o atendimento, minimizando as formas de contaminação, principalmente no momento em que estiverem com luvas, uma vez que há o contato com o paciente e, consequentemente, com possíveis microrganismos2.
Quanto à higienização das mãos, 68,4% (26/38) afirmaram realizá-la antes ou após a utilização do aparelho celular, e 92,1% (35/38) declararam lavar as mãos antes do atendimento aos pacientes. Em contraste, no estudo realizado na Etiópia, 26,1% (59/226) possuíam o hábito de higienização e 76,5% (173/226) não aderiam à prática de lavagem das mãos antes de entrar em contato com os pacientes14.
Apesar dos profissionais de saúde terem afirmado lavar as mãos antes do atendimento aos pacientes, o número de amostras positivas foi elevado entre esses investigados (91,7%), sugerindo que a contaminação possa ser intrínseca ou associada a outros hábitos. Esse dado ressalta a necessidade de higienização tanto pessoal quanto do aparelho celular antes e após cada atendimento, a fim de reduzir a contaminação microbiana2.
Observou-se ainda que 39,4% (15/38) dos participantes faziam a higienização dos celulares mais de uma vez por semana. Diferentemente, apenas 1,8% (1/55) dos estudantes e profissionais de fisioterapia entrevistados por Sousa et al.31 e 13% (7/52) dos alunos de uma clínica multidisciplinar no México5 realizavam essa prática. Essa frequência não se mostrou adequada, pois os aparelhos desses profissionais estavam significativamente contaminados (14/15), assim como os daqueles que realizavam mais de uma vez por dia essa limpeza (10/11), o que indica a necessidade de executar esse procedimento diariamente, antes e após o atendimento dos pacientes e ao final do expediente, de modo a reduzir a contaminação bacteriana nesses dispositivos.
A correta higienização dos aparelhos celulares com a utilização de álcool 70% é um procedimento considerado eficaz, em razão de ser um bactericida muito efetivo que atua na desnaturação das proteínas dos microrganismos, incluindo fungos e vírus2,32.
Dos profissionais entrevistados, 57,9% (22/38) afirmaram utilizar álcool 70% na higienização do celular, similar ao estudo de Sousa et al.31, no qual 51% (18/35) limpavam o aparelho dessa forma. Entretanto, 58,3% (21/36) das amostras deste estudo encontraram-se contaminadas, evidenciando que essa higienização pode estar sendo feita de maneira inadequada.
Quanto ao nível de conhecimento dos profissionais sobre a contaminação microbiana em aparelhos celulares, há poucos estudos na literatura que avaliam essa problemática14,33. No presente estudo, 42,1% (16/38) dos entrevistados acertaram cinco das seis questões, correspondendo a um bom rendimento desses participantes. No entanto, esse resultado satisfatório não se refletiu no nível de contaminação bacteriana das amostras, o que pode estar relacionado à dificuldade de interpretação das questões de maior grau de complexidade e que exigiam conhecimentos específicos, evidenciando a necessidade de realizar capacitação e treinamento sobre o tema.
O estudo mostrou que 100,0% (38/38) dos profissionais conheciam os equipamentos de proteção individual e a maneira correta de higienização das mãos durante sua rotina na unidade de saúde. Entretanto, 100,0% (36/36) das amostras dos aparelhos foram positivas, demonstrando que o conhecimento dessas informações não foi suficiente para a redução da contaminação.
Além disso, 78,9% (30/38) dos entrevistados sabiam que o celular pode ser uma forma de transmissão de doenças. Esse resultado foi correspondente a uma investigação realizada com profissionais da saúde, na qual 80,1% (181/226) afirmaram que o dispositivo móvel pode transportar bactérias e ocasionar doenças14, e a um estudo feito com estudantes de Medicina de um hospital, no Irã, em que 100% (30/30) afirmaram ter esse conhecimento33.
Constatou-se que 81,6% (31/38) dos entrevistados souberam quais são as principais bactérias isoladas nos aparelhos celulares. Essas foram também as mais encontradas nesta análise, ratificando os dados encontrados na literatura sobre a contaminação desses objetos por bactérias1,4,6,13,14.
Quanto à importância da higienização e da implementação de normas de biossegurança voltadas ao uso do celular nos serviços de saúde, 68,4% (26/38) e 50,0% (19/38) dos profissionais consideraram importante a realização dessas práticas, respectivamente. Nesse sentido, é importante destacar que diversas UBS não apresentam protocolos de normas e rotinas das limpezas dos ambientes10,11,12, o que pode explicar a presença de contaminação bacteriana nos celulares analisados.
Vale destacar ainda as limitações do estudo, caracterizadas pelo pequeno número amostral, justificado devido ao tempo delimitado para a pesquisa, que se deu de forma pontual, não havendo a possibilidade da realização de análises temporais; além da pandemia de COVID-19, que impactou na logística de funcionamento da UMS, culminando em equipes reduzidas, interferindo assim na amostragem.
CONCLUSÃO
Este estudo evidenciou uma alta frequência de contaminação bacteriana nas superfícies dos telefones móveis dos profissionais da UMS do Benguí II, apesar de a população investigada afirmar que realiza e conhece as práticas de higienização adequadas. Embora a maioria das espécies encontradas faça parte da microbiota normal, bactérias de importância clínica foram detectadas, o que traz um alerta para a comunidade.
Os achados reforçam a importância da conscientização e da adoção de protocolos padronizados sobre medidas de higiene pessoal e dos dispositivos celulares, para controlar a propagação bacteriana entre os profissionais e pacientes e, assim, reduzir os riscos de infecções relacionadas à assistência em saúde nas UBS. A limpeza pode ser realizada de forma simples, com a utilização de álcool 70%, antes e após cada atendimento. Por fim, salienta-se a necessidade de mais estudos no contexto das UBS, contendo um número amostral maior e uma análise temporal, tendo em vista a escassez dos mesmos na literatura.